domingo, 28 de setembro de 2008

A câmera (s)em movimento

RIO -- "Na Cidade de Sylvia" é um bom filme para se ver sem dar sequer uma bisbilhotada na sinopse. O título indica uma localização e alguém que faz parte dela. OK, então uma vai se relacionar com a outra, provavelmente elas terão particularidades em si. Talvez a cidade seja até o mundinho de Sylvia. Certo?

Errado! O filme, dirigido por José Luis Guerín, chegou muito (!) comentado aqui no Festival do Rio, onde está sendo exibido na mostra Expectativa. Ele (Xavier Lafitte) se apaixonou por uma garota há seis anos em Estraburgo. Resolve voltar à cidade para buscá-la. Todo o filme é a perseguição do jovem em torno da bela garota.

A mise-en-scène dos atores é o esteio do filme. A câmera segue a garota e, por vezes, substitui o olhar d'Ele para que possamos admirá-la da mesma maneira que o rapaz faz. Em muitos momentos, o filme parte para a exaltação do feminino, do contorno entre as silhuetas d'Ela, combinadas com o desenho moderno e despojado da bolsa e o jeito de andar como se estivesse em uma passarela.

Apesar de diversas cenas em movimentos, elas não conduzem o filme para um movimento. O efeito para o espectador não é de uma aventura one surpresas podem acontecer, mas de um observar -- voyeur -- da garota e do rapaz em sua procura. O cenário é a bela Estrasburgo e suas ruas clássicas.

Com cerca de 30, 35 minutos de filme, uma espectadora do Estação Botafogo levantou-se e, em alto e bom som, protestou: "ah, essa tortura é demais pra mim!". E foi embora. Mesmo assim, o restante do público ficou, aparentemente, envolvido com o filme. Muito diferente do efeito "platéia perturbada" na sessão de ontem no Estação de Cinema no filme "A Fronteira da Alvorada", de Phillipe Garrel. As cenas cadavéricas de aparição de Carole, a amada de François, geraram risos.

Em tempo: "Na Cidade de Sylvia" foi exibido este ano em Veneza. Foi avaliado como o filme "mais autoral" da competição -- isso porque "Erva do Rato", de Julio Bressane, foi exibido fora de competição. Abaixo, o trailer do filme.

Latinidade tecnológica

RIO -- Como o cinema, assim como todas as linguagens artísticas, passam pela subjetividade, os filmes trazem, em maior ou menor quantidade, as experiências e inquietações de seus realizadores. Um tipo de cinema cujas experiências pessoais saltam para as questões colocadas na terra é o de Alex Rivera.

Filho de peruano com americano, ele cresceu em contato com o american way of life e com a latinidade. E por ser fruto tanto do opressor como do oprimido politicamente, a questão da imigração é cara em seu cinema. Com maior experiência em vídeos e docs, Rivera estréia no longa-metragem de ficção com "Sleep Dealer", que integra a Premiére Latina do Festival do Rio.

Pra começo de conversa, um paradigma é posto. Quando se fala da exploração do imigrante, pensa-se em uma ficção com toques realistas, como aconteceu em "Babel", de Alejandro González Iñarritu. Mas Rivera põe o pé no freio do realismo e joga a história no gênero da ficção científica. Nas próprias palavras do diretor: "É uma ficção científica que se passa no México e que, basicamente, usa o gênero sci-fi para olhar para assuntos políticos em voga hoje, mas os imaginando cinco minutos á frente, no futuro"

Memo Cruz (Luis Fernando Peña) mora em Oaxaca, área rural do México, mas é ligado em tecnolgia e sonha em sair do local. A região é assolada pela falta de água depois que uma empresa passou a represá-la. Devido a uma de suas invenções tecnológicas, seu pai é assassinado. Parte então para Tijuana, a cidade conectada, onde os habitantes, se quiserem se conectar à economia global, usam fios que plugam diretamente no corpo. Lá encontra Luz (Leonor Vargas), uma contadora de histórias.

O grande tema do filme é a condição do migrante. Mas dentro do gênero sci-fi. Memo não precisa ir aos Estados Unidos para conseguir um sub-emprego. Basta apenas que trabalhe em empresa que o emprega em uma obra em San Diego (EUA). Memo precisa apenas conectar-se a uma máquina e... tcha-ram: está controlando um robô que trabalha em uma construção cível. Ao seu lado, uma jovem controla um robô que colhe laranjas na Flórida. Privacidade e liberdade são duas palavras inexistentes em Tijuana.

Rivera tem uma postura de esquerda. Como é muito ligado à internet e ao mundo cyber, não propõe a Revolução, mas a sabotagem, a ação direta como mecanismo de resistência. Justamente essa ação direta vai unir Memo, o piloto Rudy (que assassinou o pai de Memo) e Luz. O diretor propõe uma lição com o filme: mesmo com uma realidade de conexão total e irrestrista, vai haver sempre aquele aparentemente contectado, mas que não passa de um membro da periferia explorado.

Em tempo: o site de Rivera (clique aqui) tem detalhes da carreira, vídeos, links de cyberativismo. E no vídeo abaixo, o diretor, Leonor e Jacob Vargas explicam detalhadamente seus personagens.

A construção de um estilo

RIO -- Alguns cineastas apresentam diferentes "fases", períodos em que se interessam por temas e abordagens diferentes. Certamente é possível encontrar, quando olhamos mais profundamente, elos entre os filmes. Como Lírio Ferreira, que com "Baile Perfumado" falou do olhar estrangeiro por meio de um líbanês e em "Árido Movie" com o homem do tempo radicado em São Paulo e que tem de voltar para o sertão.

Mas, para além do diálogo nas entrelinhas, há diretores, como Phillipe Garrel, que nos deixam com a sensação de "hmm, eu já vi isso antes...". Ao assistir "A Fronteira da Alvorada", da mostra Panorama Mundial do Festival do Rio, muito do já apresentado em "Amantes Constantes" (2004) é retomado. Não me refiro especificamente apenas à fotografia em preto e branco, mas também a enquadramentos, o close nas musas e no muso (Louis Garrel). E a retomada do tema do amor.

Entre os pontos de diálogos dos dois filmes, ambos exigem mergulho total (!) do espectador. Como é relativamente previsível o desfecho das histórias dos personagens principais, o espectador têm de se apegar aos detalhes e as surpresas mínimas de situações que o diretor propõe. Senão, a história não passa de um começo, um fim com um recheio no meio.

Assim como em "Amantes Constantes", o protagonista é interpretado por Louis Garrel e se chama François. No filme anterior, o amor e a liberdade frente aos acontecimentos de maio-68 e do ano seguinte eram o motor. Não só o amor também volta para ligar o François de "A Fronteira da Alvorada" à Carole (Clémentine Poidatz), mas a liberdade. Após o suicídio da namorada, ele não consegue se desgrudar da sua imagem, que o perturba e influencia sua decisão final.

Infelizmente, no quesito estilo, os espectadores brasileiros que não são consumidores da Amazon.com ou habitués de downloads do eMule não podem ir além na comparação entre os filmes anteriores de Garrel. "Amantes Constantes" (prêmios de fotografia e direção em Veneza) foi o primeiro longa do diretor a estrear no Brasil. E "Fronteira da Alvorada", que concorreu à Pauma de Ouro em Cannes este ano, será distribuído, novamente, pela Imovision (ainda sem data de estréia definida).

Em tempo: o ator Louis Garrel, o novo rosto bonitinho da França, é filho do diretor Phillipe Garrel. Abaixo, o trailer do filme.

sábado, 27 de setembro de 2008

Paul Newman

RIO - Em meio a movimentação do Festival do Rio, uma notícia realmente muito chata: morreu Paul Newman.

O factual, causa da morte e filmografia, estão neste link do Estadão.

Comentários sobre a carreira do ator estão no blog do Merten (clique aqui).

E, daqui a pouco, aqui no Rio, "Sujos e Sábios", estréia de Madonna na direção. Exibido em Berlim este ano, o filme entrou mudo e saiu calado. Não foi motivo de comoção, nem de reclamação. Vamos ver na seção da Gávea neste sábado.