quarta-feira, 31 de outubro de 2012

MostraSP: Uma conversa com Kiarostami

Rin Takanashi, protagonista de Um Alguém Apaixonado

Foi a Mostra que possibilitou ao cinéfilo paulistano conhecer o cinema de Abbas Kiarostami. Lá no fim dos anos 1980, o esforço de Leon Cakoff tornou o diretor iraniano uma figura corriqueira, seja para quem gosta dos filmes que ele faz, seja para os que desgostam (acho difícil desgostar do conjunto da obra de Kiarostami, mas enfim...).

Kiarostami veio à Mostra deste ano para exibir Um Alguém Apaixonado e receber o Troféu Leon Cakoff (antigo Troféu Humanidade) -- ano passado o agraciado foi o também iraniano Mohsen Makhmalbaf. Tive a oportunidade de entrevistar Kiarostami, ao lado dos amigos João Nunes e Paulo Henrique Silva, sobre Um Alguém Apaixonado.

Uma prosa boa, rápida e intermediada pela tradução do também diretor Adel Yaraghi. Algumas frases são interessantes para acessar seu novo filme e aspectos de sua obra -- a narrativa em constante mutação, alterando as premissas iniciais, ponto que Jean-Claude Bernardet desenvolveu com profundidade na série de quinze crônicas publicadas entre a primeira exibição de Cópia Fiel e sua estreia comercial.

A entrevista foi publicada na edição desta quarta-feira (31/10) no Valor Econômico. O conteúdo, porém, só está disponível para assinantes. Um resumo pode ser conferido neste link [clique aqui].

domingo, 28 de outubro de 2012

MostraSP: Laurence Anyways, de Xavier Dolan

Laurence Anyways, de Xavier Dolan, na programação da Mostra de Cinema de São Paulo


Laurence Anyways é filmado como se a câmera fosse embalsamada, antes de cada diária, numa poção de histeria e afetação. Antes mesmo de falar sobre a estabanação no exagero ou da confusão entre poesia e comercial de perfume chique, é preciso começar pelo óbvio: Xavier Dolan filma muito mal, constatação que a duração de Laurence Anyways só torna ainda mais evidente.

Seu jeito de filmar se divide entre Quando Quero Ser Intenso e Quando Quero Ser Poético, ambos desastrosos. No primeiro, a fórmula é colocar dois atores fazendo duelo de diálogos e passar grosseiramente da cara de um para a de outro – com alguns sobre-enquadramentos para refrescar. No segundo, prefere planos abertos ou médios, câmera lenta, figurino bonito, música cool, joias etc – ou seja, Lady Gaga aplicada à gramática cinematográfica

Juntos, enfiados goela abaixo, esse entendimento sobre intensidade e poesia formam um cinema sem nuances. Se em Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários dava para tapear a caminhada em mão única, em Laurence Anyways o caso é mais sério: a protagonista é um homem que inicia um processo de transexualidade, que se mostra ainda mais rico porque sua orientação sexual é hetero.

Continue lendo a crítica de Laurence Anyways na Revista Interlúdio.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

MostraSP: Miguel Gomes, uma entrevista e um artigo

Tabu, de Miguel Gomes, premiado em Berlim e uma das atrações da Mostra

Miguel Gomes é o cineasta contemporâneo, ao lado de Losnitza, que Mostra Internacional de Cinema de São Paulo decidiu destacar. Uma retrospectiva com seus três longas e seis curtas está em exibição no festival paulistano. Gomes também veio ao Brasil acompanhar e apresentar as sessões de seus filmes.

Figura muito irônica, cujo humor molda boa parte de seus filmes. Tive a chance de conversar com ele não só sobre Tabu, mas sobre o restante da carreira. O texto, aos interessados, foi publicado na edição impressa do Valor Econômico desta quinta-feira (25/10), mas também está disponível na online [leia aqui a entrevista].

Dos vários aspectos interessantes que tocamos, o principal é sobre como Tabu se insere na história do cinema, tornando-se um filme sobre a perda da juventude. Diz ele: "Ele mexe com o aspecto da memória, da juventude do cinema, de quando os espectadores estavam mais disponíveis para acreditar. O cinema foi envelhecendo e, como espectadores, fomos ganhando consciência da coisa e perdendo a inocência."

Além da entrevista, escrevi um artigo sobre o conjunto da obra de Miguel Gomes. Muito do humor bizarro, da liberdade e coerência dramatúrgica, do tom inclassificável de seus longas já estava rascunhado com os curtas. Casos de Kalkitos ou 31 -- este o seu melhor curta. O texto foi publicado na Revista Interlúdio [leia aqui o artigo].

Falando em portugueses, mas saindo de um novato (40 anos) e indo para um veterano (103), O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira, é maravilhoso. Valeu demais sair correndo de uma seção, fazer o trajeto Frei Caneca-Cinesesc em dez minutos e passar 90 minutos sentados no chão -- a sala estava maravilhosamente lotada. Ver um filme do velhinho serve como boa rememoração do que é tempo cinematográfico, enquadramento, atuação, iluminação.

Voltarei a ele mais vezes, talvez com o mesmo espírito que Jean-Claude Bernardet fez com Cópia Fiel, quando publicou dezenas de posts. Só não garanto a mesma qualidade dos textos dele.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Limite, de Mário Peixoto - EM BLU-RAY



Notícia da CriterionCast: Limite, de Mário Peixoto, será lançado em Blu-ray pelo melhor selo de home video do mundo, a Criterion Collection. Provavelmente em 2013. Mais informações neste link.

Sem mais.

Em tempo: quem deu a dica foi Diego Sapia Maia no Facebook.

MostraSP: Rio, de Ryuchi Hiroki

Não dá para perder muito tempo neste post porque é preciso terminar o texto geral sobre a carreira de Miguel Gomes. Mas é o seguinte: amigos me indicaram a ver o Rio por ser do mesmo diretor de Vibrator, um filme bom, segundo eles.

E percebi o seguinte: Tarkóvski está me acostumando mal. Com seus planos estáticos, enquadramentos sublimes e câmera no tripé, à primeira sacudida de câmera de Rio eu me assustei. Coitado do filme, não faz sentido algum trazer Andrei Rublev na cabeça para assistir a Rio. Mas foi involuntário.

A tal câmera na mão se justifica no longuíssimo plano de abertura do filme de Ryuchi Hiroki. Segue-se uma garota de sobretudo vermelho que misteriosamente caminha pelas ruas de Akihabara. O tal plano longo se justifica: trata-se de uma menina em busca.

O filme joga a personagem nas ruas, esbarrando em tipos -- alguns bizarros, outros emotivos. E o filme vai se mantendo numa pegada razoável até a parte final, o desfecho da história. Aí Hiroki leva o seu filme barranco abaixo. É mensagem edificante, penúltimo plano também longo (mas para outro persoangem) porque Hiroki deve ter achado necessário explicitar o fim de um ciclo.

Se não fosse por terminar seu filme de maneira realmente ruim, Rio valeria como uma das dicas para esta Mostra. Fica, então, na cota Risco, caso você não tenha tempo vago na programação.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

MostraSP: O Que se Move, de Caetano Gotardo

A dor, a surpresa e a música em O Que se Move

Antes da crítica, faço uma viva recomendação de que os cinéfilos da Mostra Internacional de São Paulo incluam O Que se Move em suas respectivas programações. Este filme é parada obrigatória.


Domínio do tempo. Clareza sobre o que mostrar ou esconder, dizer ou omitir. Não temer o ridículo e confiança para sustentar em alto nível os voos atrevidos. Essas são características que fazem de O Que se Move uma promissora estreia de Caetano Gotardo (Areia, O Menino Japonês). Digo promissora mesmo, não dessas legitimações apressadas que nós da crítica por vezes nos sentimos tentados a executar.

Não fosse um adjetivo surrupiado muitas vezes para a defesa de um cinema picareta, “sensível” seria a primeira qualidade a se ressaltar no longa. Prefiro, então, concentrar-me na solidez do conjunto, o que falta a bons filmes de estreia vistos neste ano, tais como Boa Sorte, Meu Amor, Eles Voltam e As Horas Vulgares.

Essa solidez está fincada na dramaturgia – outro elemento tão maltratado pelo cinema brasileiro. Há também um trabalho casado de direção e fotografia, posteriormente reforçado na montagem, que evidencia e justifica as escolhas.

Continue lendo a crítica de O Que se Move na Revista Interlúdio.

domingo, 21 de outubro de 2012

MostraSP: Brevíssimas notas sobre O Sacrifício

Tarkóvski dedica o filme a seu filho. Sintomático.

Que Tarkóvksi é a maior atração da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo não há dúvida. Nem precisa ser grande fã dele para constatar isso. A chance de ver seus filmes em película, numa sala de cinema, é algo único.

Pois os filmes de Tarkóvski têm um tempo particular e uma relação dos atores com o espaço e com o texto que encontram na telona e na comunhão tácita da sala de cinema o lugar certo para a apreciação. Melhor: para a fruição.

Deu para sentir isso ontem na sessão de O Sacrifício na Cinemateca. Mesmo sendo na sala Petrobras, que é menor que a BNDES, houve algo mágico. É preciso registrar: palmas para a Mostra e para o filho do Tarkóvski, que trouxeram as cópias em película – com exceção de Nostalgia –, num estado de conservação maravilhoso.

A cena da queima da casa, visto na tela de cinema, é algo estupendo, tal como o desespero de Aleksander em entrar e sair da ambulância, fugir da família, correr em direção à Maria, voltar para a ambulância.

Vi em DVD em casa pela primeira vez. Revê-lo no cinema me fez descobrir outro filme, me fez chegar no clímax em outro estado mental e emocional, mais sólido e sensível.

É por momentos como esse que a Mostra sempre fica na memória de cinéfilos mais velhos ou mais jovens.

Pena que a última sessão de O Sacrifício na Mostra é no Cinusp, na terça-feira, às 16h15, um lugar nem tão simples de chegar.

MostraSP: Cine Holliúdy, de Halder Gomes



Cine Holliúdy (2012), de Halder Gomes


Alguns tentam ser cinema popular (leia-se Família Vende Tudo). Outros genuinamente o são. Este é o caso de Cine Holliúdy, um desavergonhado e cômico escancaramento da precariedade em se fazer cinema no Brasil.

É fácil enxergar a tradição da chanchada na qual o filme, voluntariamente ou não, se insere – esse jeito de fazer comédia que parece imortal, vide o que até a novela Guerra dos Sexos tem tentando executar. Além do quê cômico, Cine Holliúdy fala também do próprio cinema. É este seu aspecto mais interessante.

Num momento de ultrarrealismo cultivado por ágeis avanços tecnológicos, sempre há o choque, para um espectador desavisado, com a precariedade. Já foi assim com Na Carne e na Alma, derradeira obra de Alberto Salvá, repleta de coragem e carente de dinheiro. Invariavelmente será assim durante a trajetória de Cine Holliúdy por festivais e, posteriormente, circuito comercial.

Mas por trás da falta de recursos e da engenharia em se fazer um filme de época, ambientado nos anos 1970 no sertão cearense, existe um potência, um discurso e momentos eficazes. Halder Gomes, que recentemente produziu longas bem ruins como As Mães de Chico Xavier e Bezerra de Menezes, mostra um domínio do tempo e do texto cômico. O dialeto “cearencês” e suas expressões bastante atípicas para quem não vem do Ceará é um convite ao riso.

Continue lendo a crítica de Cine Holliúdy na Revista Interlúdio.

sábado, 20 de outubro de 2012

MostraSP: Ingrid Caven - Música e Voz, de Bertrand Bonello

Ingrid Caven, cantora e atriz de filmes do Fassbinder


Ingrid Caven, Música e Voz (Ingrid Caven, Musique et Voix, 2012), de Bertrand Bonello

Ingrid Caven, Musica e Voz não é um filme, mas um show filmado. As impressões deste texto se guiam por essa constatação: o filme-show corresponde mais a um desejo de Bertrand Bonello em registrar Ingrid no palco e dividir com o mundo essas imagens do que fazer um documentário ou retrato de uma artista. É um registro de urgência, já que Bonello a filmou na última apresentação do Cité de la Musique, em Paris.

Só não é de todo descabido procurar resquícios de filme na peça musical de Bonello porque a protagonista, Ingrid, não só é atriz, mas articula seu show como um pequeno teatro. Ela, muito branca, cabeleira loura, atirada no pretume do palco, fazendo malabarismos com a voz, ora lírica, ora artista de cabaré. Ela sozinha justifica o uso do termo cênico nesse filme-show.

A impressão é que Ingrid é uma personagem saída de Berlim Alexanderplatz. Nos momentos em que ela se entrega  ao calor do palco, há uma vaga lembrança da atmosfera, da volúpia e do desequilíbrio do epílogo da antológica série de Fassbinder.

Continue lendo a crítica de Ingrid Caven - Música e Voz na Revista Interlúdio.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Morre Koji Wakamatsu

Êxtase dos Anjos, de Koji Wakamatsu

Pausa na agenda e comentários sobre filmes da Mostra, em vias de começar. Morreu o japonês Koji Wakamatsu, de Êxtase dos Anjos e Anjos Violados. Uma fatalidade: morreu atropelado, aos 76 anos.

Dos filmes pinku eiga, só vi um, o Êxtase dos Anjos, trazido pelo Indie em 2008 - se não me falha a memória, em 2010 a Mostra trouxe também Caterpillar, que havia competido em Berlim.

Para quem se interessar em conhecer um pouco mais sobre os filmes de Wakamatsu, indico a entrevista que ele deu ao The Hollywood Reporter em 5 de outubro [leia aqui], e um texto (capenga) que escrevi sobre o Êxtase dos Anjos há quatro anos para o Cineclick. [leia aqui] - à época conhecia bem pouco do cinema japonês dos anos 60.

Em tempo: como bem lembrou o amigo Rodrigo Grota no Facebook, Wakamatsu morreu da mesma maneira que Angelopoulos: atropelado.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

MostraSP: Cine Holliúdy e Robocop: o pai que dá o exemplo

Cine Holliúdy, de Halder Gomes, que será exibido na Mostra de Cinema de SP

Buscando na memória as reminiscências da sessão de Cine Holliúdy no Festival de Brasília, me veio a lembrança não só da paixão de Francisgleydisson, o protagonista, pelo cinema, mas seu esforço em dar o exemplo ao filho.

O longa de Halder Gomes será exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, esta é a razão para recuperar o filme na memória. Um filme que merece ser visto por diagnosticar, pela comédia, a precariedade de se fazer cinema no Brasil.

Mas esse aspecto eu deixo para ser comentado no texto da Revista Interlúdio, a ser publicado pela semana – aliás, boa parte da minha cobertura da Mostra estará por lá. A razão do post é a questão dos laços familiares e o exemplo ao filho.

Francisgleydisson briga com o poder da televisão numa cidadezinha (o filme se passa nos anos 1970) e luta para manter seu cineminha aberto. Lá passa filmes de kung-fu em cópias precárias. Cabra arretado, ele persiste num cenário adverso.

Em boa parte pelo amor ao cinema, mas não só. É a necessidade em se fazer exemplo para o filho, dando sustentação real aos sonhos do garoto, que serve também de combustível na travessia de Francisgleydisson. É aí que Cine Holliúdy, uma comédia chanchadeira, e Robocop, obra-prima de ação de Paul Verhoeven, se encontram.

É por saber que o filho tem como herói um policial de seriado que devolve com malabarismo de caubói a arma ao coldre que o também policial Murphy se arrisca a encarar os bandidões sozinho. E paga por isso. Perde não só seu corpo e sua autonomia como ser humano, mas especialmente a família.

Em ambos os filmes, o exemplo paterno é um poderoso subtexto. E ambos também compartilham de narizes torcidos. Robocop porque muitos ainda não conseguem aceitar que filmes de ação também são obras-primas; Cine Holliúdy (que não é uma obra-prima, não exageremos) por parecer fútil e apenas “engraçado” nas suas peripécias.

São filmes que não merecem ficar no limbo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

MostraSP: a minha (um rascunho)

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo está chegando. Começa quinta-feira com o No, do Pablo Larraín (de Tony Manero e Post Mortem), cineasta que não me desperta muitos amores. Há delícias para se ver este ano, Tarkóvski em tela grande é a principal delas.

Este ano, o clima de Fla-Flu entre o Festival do Rio e a Mostra está mais acirrado – o que entrou lá não veio para cá, à exceção de alguns brasileiros e do Tabu, de Miguel Gomes, que terá uma retrospectiva. O Globo fez uma matéria boa sobre a disputa, acho que foi Carlos Helí quem escreveu.

(um pitaco: acabo de voltar de mais uma edição do Festival do Rio. A cada ano as diferenças de perfis ficam mais nítidas. Se no Rio, por exemplo, faz sentido a crítica ao oba-oba e badalação, especialmente por conta das pré-estreias na Première Brasil, é o evento carioca que tem topado abraçar retrospectivas de autores que ainda precisam brigar por seu quinhão de importância, casos de Argento e Carpenter. Mas um comentário mais apropriado teria de se estender na questão e não é esse o caso deste post).

A impressão é que a programação dos inéditos está menor – o que não é necessariamente prejudicial, já que em muitos anos a Mostra expandiu os filmes exibidos, mas também o número de coisas ruins. Há mais homenagens, retrospectivas e exibições especiais – Tarkóvski, Gomes, Shibuya, Loznitsa. Mesmo assim, temos inéditos que merecem ser conferidos, seja para confirmar que dali não sai nada (Xavier Dolan) ou ir de olhos fechados sabendo que dali sempre sai coisa boa (Manoel de Oliveira).

Abaixo, um rascunho da minha programação com os filmes que pretendo assistir (há ainda lacunas a serem preenchidas) na primeira semana da Mostra -- não incluo os filmes do programa Novos Diretores, que verei também por conta do júri da Abraccine.

A lista prévia fica como dica para quem precisar de uma mãozinha para se organizar no caos (ah, aceito recomendações também!):

– Do Tarkóvski, O Sacrifício, Solaris, A Infância de Ivan, Andrei Rublev

– Do Miguel Gomes, os curtas e A Cara que Mereces. Tabu já assisti no Rio e Aquele Querido Mês de Agosto (do qual ainda gosto mais que Tabu) revi recentemente.

Ingrid Caven, Música e Voz, do Bertrand Bonello. Me parece um filme menor que L'apollonide – Os Amores na Casa de Tolerância, mas estou curioso para ver o olhar de um diretor com forte pegada musical sobre uma cantora/performer.

O Lago Balaton, de Péter Forgács. Perdi sua retrospectiva do CCBB. Ao menos na Mostra verei um filme dele.

O Que Se Move, de Caetano Gotardo. Gosto de seus curtas (à exceção do recente Os Barcos), quero ver como fará a transição para o longa.

Rio, de Ryuchi Hiroki. Não conheço seus filmes, mas este post de Marcelo Ikeda no blog Cineclausofilia me chamou a atenção.

Super Nada, de Rubens Rewald. Acho Corpo um filme regular e Esperando Telê um divertido não-documentário.

O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira. Precisa justificar?

Mar Calmo, de Volker Schlöndorff. Acho que às vezes tendemos a diminuir o valor dos filmes dele.

Headshot, de Pen-Ek Ratanaruang. Recomendação do amigo cinéfilo David Libeskind Sirota.

Reality, de Matteo Garrone. Vamos ver se o diretor de Gomorra é bom mesmo ou só fogo de palha.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

John Carpenter, a entrevista

Eles Vivem, um dos grandes filmes de John Carpenter

Foi publicada nesta terça-feira (2/10) no jornal Valor Econômico a entrevista que fiz com o cineasta John Carpenter (Halloween - A Noite do Terror, Eles Vivem, Fuga de Nova York). Carpenter é homenageado no Festival do Rio com uma retrospectiva com 14 de seus longas. Em parceria com o evento, o CineSesc trará a seleção de filmes para São Paulo.

Respostas breves, mas diretas ao ponto. Carpenter falou sobre sentir-se um outsider, o tom crítico de seus filmes ao Sonho Americano, os personagens que se unem para se proteger de um mau maior, a influência de Howard Hawks na sua cinefilia e por aí vai. O mais divertido é a resposta que me deu quando perguntei como se chamaria um terceiro filme, caso o fizesse, com o personagem Snake Plissken? "Fuga da Terra" foi a resposta.

A entrevista pode ser conferida na versão impressa do Valor Econômico ou neste link [clique aqui].

Textos relacionados:
Sobre filmar sem dinheiro (ou Dark Star)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Palavras Mágicas para Quebrar um Feitiço - Festival do Rio




O gato esquálido, de olhos grandes e assustados, pêlo rareando, caminha em direção ao bando de urubus num descampado. Nesse belíssimo plano está contida uma das poderosas metáforas do pequeno, mas vívido, documentário Palavras Mágicas Para Quebrar um Feitiço, um dos achados do Festival do Rio.

Na leitura do filme, o gato esquálido é apenas sombra do bichano peludo, repleto de vida. O gato é Daniel Ortega Saavedra, líder da revolução que derrubou a ditadura de Somoza na Nicarágua em 1979. Os urubus são a direita retrógrada, a elite conservadora, com a qual Ortega se aliou para voltar à presidência em 2006.

Palavras Mágicas não esconde seu pessimismo. Compara as imagens da Nicarágua atual com as esperanças de trinta anos atrás. Emparelha as manifestações de hoje com as posteriores ao 19 de julho. O diagnóstico é melancólico. O documentário põe o antes salvador contra a parede. Abertamente, trata-se de um filme sobre a falência das esperanças de uma geração.

Continue lendo a crítica de Palavras Mágicas para Quebrar um Feitiço na Revista Interlúdio.

Michael Jackson - Bad 25 - Festival do Rio

Michael Jackson no clímax do documentário exibido no Festival do Rio

Se tentássemos fazer uma leitura da sedução, libido e sensualidade nos trabalhos de Michael Jackson, sairia o seguinte: o eixo do álbum Off The Wall é de alguém que parece entrar na puberdade. Thriller vem de alguém mais maduro, que sabe o que é o amor, mas ainda assim o romantiza – tanto que o videoclipe da música-tema é um namorico de portão. Bad é um álbum de quem descobre a força do sexo, da libido, seja na frontalidade da letra ou na sonoridade e na pegada do arranjo. Um trabalho de tomada de posições, de afirmações.


Pois até meados dos anos 1980 Michael Jackson deslizou e escapou dos conflitos, buscou a parte da sala que o holofote não alcançava. Com Bad o papo é outro: um trabalho todo calcado na exposição. Não apenas no ser, mas no colocar para fora, seja a pulsão sexual (“The Way You Make Me Feel”), a macheza (“Bad”), o contra-ataque à mídia (“Leave me Alone”).

Álbum a álbum, há uma escalada da libido. Bad é o ápice, em que a fruição do masculino forma um híbrido com a performance corporal feminina de Michael. Basta observar os primeiros versos das primeiras canções dos três trabalhos. De “Lovely is the feeling now”, caminha-se para “I said you wanna be starting something” e se chega a “Your butt is mine!”. Um fala de amor, outro de um desejo. O terceiro é a libido posta em ação. Em Bad, discurso é ação.

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