domingo, 28 de fevereiro de 2010

Semelhanças entre "Avatar" e "O Nascimento de uma Nação"

Estou lendo talvez o melhor livro sobre “O Nascimento de Uma Nação”, filme do D.W. Grifith que, além de racista, condensou uma série de técnicas apresentadas em outros filmes e revolucionou o cinema do ponto de vista comercial.

Deixo para falar do primeiro em uma outra hora. Há um trecho do livro que o autor, Melvyn Stokes, fala apenas sobre o inovador esquema de distribuição do filme que, grosso modo, foi o primeiro a organizar exibições em uma escala nacional e a munir a imprensa (resumida a revistas semanais nacionais e jornais diários locais) de “informações”.

Stokes diz assim: “Quase tudo relacionado a ‘O Nascimento de Uma Nação’ era notícia: o custo para os exibidores manterem a cópia segura, as paradas que aconteceram antes da primeira exibição no local (muitas delas organizadas pela Ku Klux Kan), a presença de personalidades locais na première”, entre outras.

Esse trecho me fez pensar como a trajetória comercial de “O Nascimento de Uma Nação” e “Avatar” se parecem, mesmo com os 94 anos que separam os filmes. Na produção de James Cameron, também praticamente tudo vira notícia:

Como os Na’vi foram idealizados, os featurettes do tipo “conheça Pandora”, a corrida para derrubar “Titanic” do posto de maior arrecadação da história, se os atores vão voltar para a sequência, se esta será um prelúdio, se Cameron vai dirigir "Homem Aranha 4"...

Com isso, a curiosidade do público continua atiçada.

Ambas as produções também ocupam o assento de “ponto de virada da história do cinema”. O filme de Grifith não inventou a roda, mas reuniu diversas inovações estéticas que já tinha frequentado filmes do George Meliès e uma série de curtas-metragens produzidos para os Nickelodeons (entre os quais os próprios filmes de Grifith).

Cameron também não inventou a roda, já que “Avatar” senta sua estrutura no ser humano descobrindo e desbravando/destruindo o desconhecido (conquista do Oeste?). Por outro lado, proporciona uma nova experiência visual e ilusória.

É exatamente nessa curva que ambos os filmes se encontram: são revolucionários do ponto de vista do espetáculo e como produto de entretenimento. Produções que tentam neutralizar a crítica e usar a imprensa como reprodutora de elogios.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Seleção de 82 e o Santos do domingo

No último parágrafo do conto de abertura de “As Mãos de Pelé e outros contos de futebol”, meu grande amigo crítico de cinema João Nunes diz o seguinte sobre um padre que amargurava a derrota do Brasil em 1982:

“A realidade era diferente do sonho, mas eu estava bem. Percebi que a alegria não nasce somente da vitória. A mim bastava, naquele instante, a lembrança da beleza daquelas jogadas para me sentir feliz”.

Pensei exatamente no jogaço entre São Paulo e Santos no domingo quando li esse parágrafo, especialmente sobre “a lembrança da beleza daquelas jogadas”. Desta vez o Santos venceu, mas, mesmo que não o tivesse feito, bastava ver as brincadeiras do alvi-negro praiano para se sentir feliz.

Não falo apenas pelo gol de Robinho – de letra, sim. Falo também da agressividade de Neymar, da falta de pudor de Paulo Henrique Ganso, do dedicado Léo, da ousadia de Arouca de subir ao ataque a toda hora – e forçar Miranda a cometer um pênalti. Falo do bom futebol.

Como corinthiano, acho que fará um bem danado se o Santos ganhar o Paulista. Será um ponto a mais na história do futebol jogado, não brigado e corrido. É muito talento individual junto para ser desperdiçado e penalizado com a perda de um título, de um clássico importante ou algo que o valha. Se esse time não pegar o caneco, é bem provável que surjam cobranças e Dorival Júnior vá parar na cruz.

Por isso, acho simbólica a vitória justamente em cima do São Paulo. Baluarte do pragmatismo, depende demais da visão de jogo de Hernanes e dos dribles do fominha Dagoberto. De resto, é um time de conjunto, que vai precisar de muito entrosamento para suprir a falta de talento individual.

Que venham mais Santos e outros times ousados. Isso faz um bem danado para o futebol.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Estão me xingando!

Coloquei lá no Cineclick a crítica de "High School Musical: O Desafio", a versão brasileira da franquia da Disney. Deixando de lado que é claramente um produto, antes de ser cinema (tanto que a direção de arte das versões brasileiras, mexicanas e argentinas são muito parecidas), acho que há uma tremenda sensação de descolamento com o que vemos.

Os Estados Unidos dominam a cultura e o pessoal da minha geração cresceu com um monte de símbolos norte-americanos na cabeça. O pop como a música que massacra nas rádios, os filmes dublados da TV, os blockbusters que dominam 450, 550 salas de cinema no Brasil etc.

Nesse imaginário, um filme como "High School Musical" é algo "natural". Por tudo isso, como premissa, é estranho ver o mundo colorido da Disney, que associamos especialmente aos contos de fadas, adaptados ao português, ao "samba" e ao Brasil, como ocorre em O" Desafio".

Confesso que, desde o início, já me sinto descolado. Como se fosse uma imagem e atmosfera que vejo há anos, mas com um som e língua que não pertencem a elas.

Hey, isso não significa que High School Musical é Cinema e nem que a versão brasileira não deveria ter sido feita. Se fizer bilheteria, melhor, porque é um pequeno passo a mais para movimentar a proto-indústria brasileira - supondo que isso ajude abrir espaço para filmes que não se colocam como produto.

Minha questão é: como ver um produto que automaticamente associo a outro momento? Será que trocar só basquete por futebol já muda a chave de leitura?

Ah, e por curiosidade, quem quiser ver os xingamentos dos leitores do Cineclick, leia a crítica. Já fui chamado de ridículo, que não deveria cobrar tanto de atores iniciantes, idiota, imbecil. Adoro.

A Todo Volume

Nunca fui um conhecedor de rock'n roll. Na adolescência, enquanto meus futuros amigos conheciam o metal, os Beatles e, no meio disso, um monte de porcaria, eu estava em Caetano, Cartola e um monte de outras porcarias também.

Digo isso para justificar minha imensa distância com A Todo Volume, doc de Guggeinheim sobre The Edge, Page e J. White. Gostei muito do filme, especialmente de descobrir como cada um deles elabora sua música. Pelo menos para mim, ficou claro porque, entre os três, sempre coloquei Page em primeiro, White em segundo e Edge em terceiro.

Aí vem meu grande amigo Sérgio Alpendre a falar sobre o filme e abrir mais uma porta para entendê-lo, a partir da história do rock.

"Esse é um mérito inegável do filme, deixar as coisas bem evidentes, além de estabelecer a devida filiação: The Edge é o irmão mais velho, rebelado pelo punk, que nega o pai para reencontrá-lo no futuro. Jack White é o irmão mais novo, também muito influenciado pelo punk, mas de uma maneira que só o aproxima do pai, porque ambos nutrem uma extrema paixão por rockabilly, blues rústico e rock distorcido e contagiante. O pai Jimmy Page, bonachão, se diverte com a paixão de um e a racionalidade de outro, mas todos ganham algo com esse encontro."

O texto completa está no chip hazard.

Em tempo: quer saber onde está passando?