No último parágrafo do conto de abertura de “As Mãos de Pelé e outros contos de futebol”, meu grande amigo crítico de cinema João Nunes diz o seguinte sobre um padre que amargurava a derrota do Brasil em 1982:
“A realidade era diferente do sonho, mas eu estava bem. Percebi que a alegria não nasce somente da vitória. A mim bastava, naquele instante, a lembrança da beleza daquelas jogadas para me sentir feliz”.
Pensei exatamente no jogaço entre São Paulo e Santos no domingo quando li esse parágrafo, especialmente sobre “a lembrança da beleza daquelas jogadas”. Desta vez o Santos venceu, mas, mesmo que não o tivesse feito, bastava ver as brincadeiras do alvi-negro praiano para se sentir feliz.
Não falo apenas pelo gol de Robinho – de letra, sim. Falo também da agressividade de Neymar, da falta de pudor de Paulo Henrique Ganso, do dedicado Léo, da ousadia de Arouca de subir ao ataque a toda hora – e forçar Miranda a cometer um pênalti. Falo do bom futebol.
Como corinthiano, acho que fará um bem danado se o Santos ganhar o Paulista. Será um ponto a mais na história do futebol jogado, não brigado e corrido. É muito talento individual junto para ser desperdiçado e penalizado com a perda de um título, de um clássico importante ou algo que o valha. Se esse time não pegar o caneco, é bem provável que surjam cobranças e Dorival Júnior vá parar na cruz.
Por isso, acho simbólica a vitória justamente em cima do São Paulo. Baluarte do pragmatismo, depende demais da visão de jogo de Hernanes e dos dribles do fominha Dagoberto. De resto, é um time de conjunto, que vai precisar de muito entrosamento para suprir a falta de talento individual.
Que venham mais Santos e outros times ousados. Isso faz um bem danado para o futebol.
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