sexta-feira, 28 de novembro de 2008

“Terra Vermelha” por Luiz Bolognesi

O blog Autores de Cinema, espaço dos roteiristas, publicou uma pequena entrevista com Luiz Bolognesi, roteirista do longa “Terra Vermelha”, que depois de passar por festivais em Veneza, Rio, São Paulo e Amazonas, estréia no circuito comercial.

O filme, dirigido por Marco Becchis, adota o ponto de vista dos índios kaiowá. “Estive em várias reservas kaiowá, convivi com os índios, entrevistei lideranças e pajés, li teses antropológicas e depois desse convívio visceral decidimos fazer um filme do ponto de vista kaiowá, em vez de tentar esquadrinhar a realidade com um painel sociológico”.

Bolognesi, que já tinha escrito “Chega de Saudade” e “Bicho de Sete Cabeças”, ambos dirigido pela esposa Laís Bodansky, ainda fala do processo de criação, da improvisação dos índios, o ponto de vista do narrador e a recepção no Festival de Veneza.

A entrevista completa está neste link.

A crítica do filme está neste link.

Em tempo: O trailer do filme está na janela abaixo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Pasolini II

Depois de assistir a segunda parte de "Teorema" -- aquela em que toda a família realmente sai dos trilhos -- pergunto:

o sexo é o aspecto mais transgressor que um burguês pode alcançar?

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Teorema, 40 anos

Em setembro, fez quarenta anos que “Teorema” foi lançado na Itália. Ontem à noite eu revi a primeira parte do filme, no qual o Visitante (Terence Stamp) transa com todos os integrantes de uma família burguesa e os deixa em frangalhos.

Cresci ouvindo meu pai, o senhor “Casablanca”, falar sobre esse filme. Vi quando era criança. Só havia entendido mesmo a mensagem mais direta do filme: o bonitão que leva uma família inteira pra cama – até o patriarca.

Ao rever, entre em contato direto com outra camada do filme, quiçá a mais relevante: a burguesia e o cristianismo. Pasolini faz um tratado irônico e crítico à burguesia, utilizando o sexo do Visitante para tal.

Em uma versão muitos mais elaborada, é o mesmo que o Cazuza (“sou burguês, mas eu sou artista”) ao berrar “a burguesia fede/a burguesia quer ficar rica”.

Vou continuar assistindo a segunda parte de “Teorema”. É muito interessante voltar a tomar contato com Pasolini, agora com olhos menos inocentes.

Em tempo: abaixo, a seqüência inicial do filme.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"São Bernardo"

Muito interessante a edição 2008 do Festival de Brasília ser aberta por um filme de Leon Hirzmann, “São Bernardo”. A historiografia do cinema considera Hirszman como um dos “fundadores” do Cinema Novo.

Hirszman pesquisou linguagem. E a marca dos títulos selecionados para a mostra competitiva de longa-metragem em 35mm é justamente o pensamento da linguagem cinematográfica. Exemplo: Kiko Goifman, de “Handerson e as Horas”, é documentarista já habitué de Roterdã e com passagem por Berlim. Seu longa “FilmeFobia” é uma grande brincadeira com a imagem, a manipulação, a atuação tão ou mais eficiente do que o documento. Uma ficção que ironiza os limites do documentário.

Outro que transita na mesma fronteira é “Tudo Isto Me Parece um Sonho”, de Geraldo Sarno. Já “O Milagre de Santa Luzia”, de Sergio Roizenblit, amarra, por meio de diversos personagens, a história da sanfona. Sem contar o barroquismo de Rosemberg Cariry (“Siri-Ará”) e os bons temas de Evaldo Mocarzel (“À Margem do Lixo”) e André Luiz da Cunha (“Ñande Guarani”).

Uma coisa é certa: a edição deste ano certamente não terá os mesmos holofotes das edições anteriores. Afinal, o Festival de Paulínia entrou no pedaço no meio do ano, Gramado se recuperou do fiasco dos cinco anos anteriores e o Festival do Rio continua dividindo flashes/boa programação.

Porém, outro lado de Brasília se manterá vivo neste ano: a discussão. Conhecido por ser freqüentado por uma platéia que literalmente quebra o pau pelo cinema, os filmes darão boas discussões de linguagem.

Em tempo: puxando a sardinha pro lado da casa, o Cineclick vai estar lá, cobrindo o dia-a-dia do evento.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

"Advinha Quem Vem Para Jantar"

1955 foi o ano em que a ativista negra norte-americana Rosa Parks foi presa por se recusar a ceder seu acento no ônibus a um branco. Figurava, desde 1896, a segregação do “separados, mas iguais” que, grosso modo, previa que brancos e negros eram iguais perante a justiça, mas não poderiam freqüentar os mesmos locais.

Doze anos depois, o primeiro ator negro com status de pop star, Sidney Poitier, protagonizou “Advinhe Quem Vem Para Jantar”. No filme, um casal de classe média, supostamente liberal, tem de rever seus conceitos após sua filha decidir casar-se com um negro.

Essa mesma linha de abordagem, transportada apenas para a cor local baiana, está em “Tenda dos Milagres”, de Nelson Pereira dos Santos. Lançado em 1985, o jovem promissor engenheiro (Jards Macalé?) enfrenta o preconceito do personagem de Jofre Soares.

Olhar para a vitória de Obama, limpando todo o clima de oba-oba, dá um paralelismo perfeito: parece que foi ele botou a carinha na fresta da porta de entrada dos Estados Unidos pra dizer “adivinhe quem veio pra governar”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mr. Obama

Barack Obama foi eleito ontem. O primeiro negro presidente na história dos Estados Unidos. Enquanto isso, com 95% da apuração completa, 52% da população da Califórnia votou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Justo a Califórnia, considerado o símbolo do progressismo norte-americano.

Trocando em miúdos: a onda “change”, “the first black president”, “communist!” e definições do gênero são relativas. Dentro da extensa lista de besteiras ditas nos últimos dias por comentaristas políticos (e a Fox lidera de longe), a convicção de que a sociedade americana estaria menos à direita tem de ser relativizada.

Eleição de Obama é um avanço. Considerável. Mas, deixemos o oba-oba de lado para observar mais friamente.

Em tempo: “Desejo Proibido”, de 2000, mostra três gerações de casais de lésbicas. O primeiro, na década de 60, totalmente oprimido; o segundo, nos anos 70, em plena discussão do feminismo; o terceiro, nos anos 2000, na perspectiva da união estável entre homossexuais. O terceiro trecho, caso os números da Califórnia se confirmem, teria de ser repensado.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Êxtase dos Anjos

Em 1965, Koji Wamatsu abalou Berlim com “Secrets Behind the Wall”, da linhagem “filmes eróticos baratos”. É muito curioso pensar o efeito da produção de Wamatsu nos anos 60 e 70 e exibi-la a um público jovem hoje. Em seus filmes, pululam defesas anarquistas e em um, especificamente, discute-se a todo tempo algo completamente fora de moda hoje: metodologia revolucionária.

“Êxtase dos Anjos” é de 1972. O diretor, ex-militante, pegou parte da discussão entre as esquerdas e colocou na tela, com um frescor à Godard. Os personagens, cujos nomes são em homenagem à Revolução Russa, não sentam à mesa para falar que o certo é a ação direta e não a tomada do Estado.

Wamatsu é mais sutil que isso. Sua visão anárquica do mundo se transporta para o uso da ferramenta cinematográfica. Ele usa takes bem longos, especialmente no início do filme, para dar tempo ao espectador de tomar contato com toda a ação, não apenas com seu início e seu resultado.

Wamatsu é a atração principal do Indie 2008, que começa nesta sexta-feira, 7. Mais informações, clique aqui.