quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Melhores do Ano

Kylie Minogue em Holy Motors

Para os que não tem pressa com listas, estão dispostos a revisão e ao diálogo, dois avisos.

1: A Revista Interlúdio acaba de soltar sua lista de Melhores do Ano de 2012, elaborada pelos redatores fixos. Cada um dos longas do Top 10 ganha uma resenha. Para os que se divertem com listas, elas também estão lá.

O link para a lista de Melhores do Ano e suas respectivas resenhas está aqui. Para acessar as listas individuais, clique aqui. Escrevi sobre Cosmópolis e Drive, meus 3º e 9º colocados, respectivamente.

2: A Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema também soltou seus premiados, segundo os votos dos associados. Deu Febre do Rato como Melhor Filme Brasileiro, A Separação como Filme Estrangeiro e O Duplo como curta-metragem.

O link para o post do blog da Abraccine está aqui.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tiradentes2012, um balanço: o eixo fora do centro

Público comparece em peso à Mostra de Tiradentes

1. Em várias das micro-entrevistas dos realizadores à TV Mostra dizia-se que “Tiradentes está se consolidando…” ou como espaço para a difusão de um cinema mais arriscado ou como palco de discussões. Já é hora de tirar a frase do gerúndio, assumir esse protagonismo da mostra dentro do contexto do cinema brasileiro, pensar seus impactos e caminhos futuros. Após 16 edições, sendo as últimas sete com curadoria definida, priorizando novos realizadores, dá para assumir que a Mostra de Tiradentes, tal como passamos a conhecê-la desde 2008, já está consolidada.

2. A Mostra de Tiradentes não é só a janela para circulação de um certo tipo de cinema. É também um lugar em que esse certo tipo de cinema, que para economizar linhas costumamos chamar de “ousado”, é observado com respeito, sem pré-conceito. Esse é um dos principais méritos da mostra. Em 2013, o melhor exemplo é Doce Amianto, de Guto Parente e Uirá dos Reis, que dificilmente teria tanta repercussão se não fosse pelo clima do evento, propenso a prestar a devida atenção a “filmes-ovni”.

Tal atenção vale para outros longas nos últimos anos. Djalioh e Na Carne e na Alma em 2012; Os Residentes, que veio dos narizes torcidos do Festival de Brasília para a consagração em Tiradentes em 2011; Pacific em 2010, Sábado à Noite em 2008, entre outros. O barulho de Doce Amianto neste ano, ou a vitrine aos três longas da mostra Sui Generis, com destaque a Semana Santa, não é um caso isolado.

Continue lendo o balanço da Mostra de Tiradentes 2012 na Revista Interlúdio.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tiradentes2012: Jards, debate e observações

Jards Macalé no documentário Jards, de Eryk Rocha

Após da mesa de debate sobre o documentário Jards, na qual participei, como crítico convidado, ao lado de Joaquim Castro (montador), Francisco Cesar Filho (mediador), Eryk Rocha (diretor) e Jards Macalé (protagonista) na 16ª Mostra de Tiradentes, algumas pessoas me procuraram pedindo o texto que li na apresentação do debate.

Reproduzo abaixo minha fala, com pequenas alterações, tentando preservar o espírito da oralidade. Não se trata de um texto articulado como crítica de cinema, apenas uma das diversas abordagens possíveis a Jards, concentrando-a num aspecto bastante particular.

Acredito que Jards seja um filme musical para se ouvir com o olho. Uma frase dessas pode parecer clichê porque obviamente um filme se vê com o olho, mas não é. A produção recente de documentários musicais – ainda que eu não ache Jards um documentário musical, mas uma poesia cine-musical – tem se baseado basicamente em: imagens de arquivo; entrevistas; produção musical do documentado.

Entram nessa linha filmes bons e ruins: Tropicália, Uma Noite em 67, os dois filmes sobre Tom Zé, Loki – Arnaldo Batista, Raul etc.

São filmes de natureza distinta, de escopo mais amplo, enquanto Jards tem um recorte de tempo e espaço mais delimitado – a gravação de um álbum. Mas ainda acho interessante ressaltar essa ideia de que é um filme musical para se ouvir com o olho.

O olho do espectador em Jards é tão importante quanto o ouvido. Em vários momentos, fiquei tentando em fechar os olhos e deixar a música entrar pelo ouvido – porque é assim que eu escuto música em casa, janelas fechadas, na escuridão –, mas relutei porque, conforme o filme foi se desenvolvendo, percebi que meu olho precisava participar dessa cena de apreciação.

Tanto que há uma profusão, uma quantidade grande de planos no olho, quando um filme sobre música ou sobre um fazedor de música costuma se concentrar no ouvido. A gente teve outro filme bom aqui em Tiradentes, Matéria de Composição, que constrói/desconstrói o processo de composição de três músicos eruditos, com muitos planos que tomam o ouvido do personagem como seu porto seguro, seja para começar um plano ou para encerrá-lo. Em Jards, me parece que o porto seguro do plano, quando se filma o Macao cantando, é o olho.

O olho do Jards, o olho da câmera, o olho do espectador. Por ser um filme de intervalos – gravação e momentos fora do estúdio ou do passado –,  me parece haver uma preocupação em estimular o olho não apenas quando a música acontece, mas principalmente quando ela não acontece.

E a minha leitura desse estímulo visual num filme musical está ligada à possibilidade de a imagem não só ilustrar uma música, uma nota, um acorde, mas dela oferecer possibilidades de percepção da música. Essas imagens do intervalo das gravações, assim como a maneira que a câmera registra as gravações, servem não para se tornar a síntese de algo, mas para levar o espectador a um estágio tal de percepção dessa ou daquela música.

Um dos momenos que melhor ilustra isso é o mar em preto e branco que balança suavemente para lá e para cá, embalando o nosso olhar, antecedendo uma canção que é justamente de embalar, Boi da Cara Preta.

O que o filme de Eryk Rocha mostra em muitos momentos é que é possível traduzir com a imagem um estado de espírito que a música causa. Por isso que é um filme para se ouvir com o olho.

Abrindo um parênteses dentro da carreira do próprio Eryk: num filme com imagens apuradas e belas como Transeunte, seu longa anterior, tanto o acesso do personagem ao mundo quanto do espectador ao filme era pelo ouvido, pelos sons que ele, Francisco, ouvia de uma cidade que lhe parecia distante. Agora, num filme em que o som automaticamente chamaria a atenção Eryk propõe um acesso pelo olho.

Nesse acesso à música pelo olho, há um momento de rara felicidade: a primeira canção executada, Só Morto, num arranjo bastante intenso, “descontrolado”, que propõe perder-se, deixar-se levar pela ultrassensibilidade. A imagem deixa a luz estourar, a câmera cola no rosto: em vez de domar a selvageria, ela deixa correr solta. É num momento assim que a gente entende como o filme Jards dá conta pela imagem de um texto musical

Abrindo outro parênteses: o professor Roberto Bozetti classifica a produção pós-tropicalista, que é o contexto em que o Macalé explode para o Brasil, após a maluca apresentação de Gotham City em 1969, como “canção de esgar” – ou seja, canções de sentido esgarçado, de aparente incoerência, de desconforto, de grito, que se opõe à ideia de “canção de confronto”, que caracteriza a tradicional MPB de meados dos anos 60:

(…) Como se o que ali se dizia só pudesse ser dito e só devesse ser percebido em frangalhos [1]

Ao menos para mim, que ouvi e ouço a produção musical do Macao em momentos distintos, foi a primeira vez que vi uma imagem capaz de dar conta, e mais, de me fazer ver e ouvir além do que eu já tinha feito sozinho, em casa, antes de assistir a Jards.

Para encerrar, acredito que tal apreço que o filme Jards tem pela imagem, apesar de ser um filme protagonizado pela música e por um músico, cobre um buraco que pouca gente se dedicou a entender: a influência e o diálogo das artes plásticas na produção de Macalé, um músico que não pode ser visto apenas como um fazedor de música.

O documentário de Eryk Rocha não encerra isso, mas inaugura uma possibilidade de percepção e entendimento da música de Macao usando um vocabulário de estímulo do olho, não do ouvido.

[1]. Roberto Bozzetti, Uma Tipologia da Canção no Imediato Pós-tropicalismo. Revista Letras nº34. Universidade de Santa Maria.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Tiradentes2012: Os Dias com Ele

Os Dias Com Ele, de Maria Clara Escobar


Os Dias Com Ele expande as possibilidades do cinema-confessionário de filhos que querem descobrir os pais. Um filme pequeno, já que concentrado na interação (ou falta dela) entre filha e pai e rodado em apenas um espaço físico – a casa dele. Surpreende como a limitação se faz potência nesse documentário de Maria Clara Escobar. É do precário que surgem os momentos mais bonitos e inteligentes do filme.

Carlos Henrique Escobar é o intelectual, filósofo autodidata, autor de Marx – O Filósofo da Potência e Zaratustra (O corpo e os povos da tragédia), preso político e torturado pela Ditadura Militar em 1973. Mas existe outro Carlos: o pai de Maria Clara.

Primeiro ruído do filme: no jogo de encenação que se estabelece entre direção-câmera-personagem, Carlos parece disposto a interpretar apenas o papel do intelectual. Os papeis de pai e de homem que reconta sua história como torturado pesam como um paletó de chumbo. Em vez de domar esse ruído, Os Dias Com Ele dá vasão.

Ela quer que ele fale da tortura, ele lê o trecho de um livro; ela pergunta das imagens da infância, ele pergunta como poderia ter interferido; ela diz que se trata de um filme sobre os dois, ele recua pois não fará o “papel de papaizinho”.

Continue lendo o texto sobre Os Dias com Ele na Revista Interlúdio.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tiradentes2012: Matéria de Composição e a impressão humana

Matéria de Composição, de Pedro Aspahan

Matéria de Composição, o documentário de Pedro Aspahan sobre o processo criativo de três compositores para a trilha do mesmo vídeo experimental, poderia muito bem se chamar Matéria em Decomposição. Pois o trabalho é de mão dupla: enquanto cada músico escreve, compõe, ensaia e executa, o espectador do filme desconstrói, observa as partes. E se esse mesmo espectador tiver alguma acumulo de música clássica – acúmulo sensível, não necessariamente teórico –, o documentário abre uma janela para, enquanto se assiste ao filme, acessar um cardápio musical acumulado na memória e imaginar como ele foi construído por seus autores.

Por baixo do visível interesse no processo de criação, o que expande o alcance do filme é o que ele permite pensar a respeito da interpretação humana do mundo. A dinâmica do longa: Aspahan fez um curta no qual filma a destruição de uma casa. Azulejos que se quebram, concreto derrubado, muro que cai: o que antes era um todo – a casa – torna-se um acumulado de partes – portas, paredes, tijolos, fechaduras, ferrolho.

A feitura das imagens que servem de base para a criação da trilha dos compositores não é neutra porque o cinema não é neutro. Linguagem mais que consolidada, existe uma carga de sentidos nas aparentemente banais escolhas de Aspahan. Um travelling filmando uma porta entreaberta é repleto de significados, assim como a queda em câmera lenta de um muro.


Continue lendo o texto sobre Matéria de Composição na Revista Interlúdio.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tiradentes2012: Mostra Panorama 3 e Ventos de Valls

Ventos de Valls, de Pablo Lobato

Se a segunda-feira começou bem com o debate sobre Doce Amianto à altura da vontade de cinema do filme de Uirá dos Reis e Guto Parente – com destaque para a exposição inicial do professor Denilson Lopes –, o restante do dia, salvo exceções, não confirmou expectativas.


Não incluo Sudoeste no grupo, já que visto e revisto em São Paulo. Mas tanto a Mostra Panorama – Série 3 e o primeiro longa da Mostra Aurora nivelam-se, no geral, por baixo.

O Tradutor tem vontade de enredo e emoção, mas é bastante desafinado em todas suas esferas de composição. Se fosse bem dirigido e com um roteiro menos problemático, seria ao menos um curta bonitinho, ainda que vazio pela premissa primária – espectador que deseja mudar a história do filme que vê.

Outros três curtas da sessão apostam na transformação da imagem particular, privada e em primeira pessoa ao status de imagem para o mundo, para todos. Só Mauro em Caiena consegue satisfazer a proposta satisfatoriamente: a narração dá mais substância afetiva às imagens sobre um lugar distante que acalenta uma alma em transformação.

Continue lendo o texto sobre a Mostra de Tiradentes na Revista Interlúdio.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Tiradentes2012: Doce Amianto e A Balada do Provisório

Doce Amianto, de Guto Parente e Uirá dos Reis

Ir a um universo de signos fortes e sair de lá com um filme que seja seu, que caminhe sem a necessidade de se reconhecer de onde vem cada momento, cada personagem, cada atmosfera. No segundo dia da Mostra de Tiradentes dois longas fazem esse momento de ir e voltar (ou tentar) com algo próprio.

Doce Amianto é o que consegue. Uirá dos Reis e Guto Parente fizeram um desses filmes que você não sabe muito bem em qual posição da cadeira deve se sentar para se relacionar com ele. Não só pelo exagero deliberado em cada componente do filme, que fazem o kitch de Almodóvar parecer um cálculo cinematográfico que esteriliza o desconforto, mas pela própria força de embate, pela frontalidade em se posicionar, pelo crença desmedida no que está no plano – esta, uma percepção subjetiva difícil de traduzir para quem não assistiu ao filme –, além da própria estrutura de boneca russa, de filmes dentro do filme.

Vê-se um traço muito forte de João Pedro Rodrigues, especialmente o de Morrer como um Homem, em Doce Amianto. Há uma conversa entre a cena do café da manhã na floresta e a cena do chá das travestis ricaças no longa de Rodrigues. Ou a cena do fado e a fantasia de morte de Amianto. Dá para enxergar Fassbinder na cena do encontro no bar, cujo rosto do personagem me levou diretamente a O Direito do Mais Forte é a Liberdade.

Mas Doce Amianto vai ao universo simbólico de tais filmes – e a outros que possivelmente deixei passar despercebido – para voltar com algo próprio – o tratamento da canastrice ou da narrativa de fantasia, por exemplo. A jornada da personagem Amianto, que passa o filme inteiro vivendo um sonho de centro, de inclusão, mas que finalmente decide dar uma banana e viver a felicidade própria como dá, sem pedir licença – o enquadramento corajoso da cena de sexo reforça isso –, é muito prazerosa de seguir e transpira muita firmeza nas enunciações do filme.

A Balada do Provisório, de Felipe David Rodrigues
Por outro lado, A Balada do Provisório também vai a um lugar já demarcado, mas volta com menos coisas interessantes. Temos no anti-herói André Provisório um novo respiro do malandro carioca que não esconde suas pretensões sacanas, dentro de um filme com bem-vindas piadas a uma cena cultural cheia de tipos – a bonitinha do teatro "experimental", maconheiro que só gosta de vinis etc.

Nos bons momentos senti que Provisório era uma Angela Carne e Osso, a incontrolável devoradora em A Mulher de Todos, só que de calças. O filme começa bem, especialmente na apresentação do personagem. Aos poucos, porém, torna-se repetitivo. A piada perde a graça, a sátira perde a força de provocação e a paciência com as desventuras de Provisório vai embora.

Com o tempo, só resta a risada vazia e autômata em acessar o lugar simbólico de onde vem os personagens, pois o filme vai, vai, vai, mas não chega.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Morre Walmor Chagas

Walmor Chagas no filme de Ugo Giorgetti

No meio da abertura da Mostra de Tiradentes, descubro que Walmor Chagas morreu. Tiro na cabeça, possivelmente suicídio.

A morte continua sendo uma coisa estranha. Há dias vi uma entrevista da Simone Zucolotto, do Canal Brasil, com Walmor. Falavam da carreira, especialmente do filme de Ugo Giorgetti, Cara ou Coroa, uma das poucas coisas realmente boas do cinema brasileiro que estreou em circuito ano passado.

Walmor falava de planos para o futuro, papeis que ainda gostaria de fazer. Meses depois, se mata. Difícil compreender inteiramente um ser humano. Por mais que se viva, leia e se veja filmes, persiste a sensação de que há algo do ser humano que sempre nos escapa.

Ficam os filmes que ele fez. São Paulo S/A jamais sairá do imaginário.

Tiradentes2012: A Paraíba vai ao centro

Onde Borges Tudo Vê, de Taciano Valério

Fora do centro é o eixo temático que a curadoria propõe para esta 16ª Mostra de Tiradentes. Estabelecê-lo como tema é mais uma formalização do perfil recente da mostra do que uma descoberta repentina de que algo fora do centro – entendendo-o tanto como localização geográfica como esquema de produção – está sendo feito.


A próxima semana vai responder para onde ainda é possível expandir a compreensão desse conjunto de filmes para além do que já se refletiu desde que a produção coletiva, a ação entre amigos e a divisão da autoria tornaram-se condição sine qua non de sobrevivência de filmes em locais que o hiato é um fantasma próximo.

Trazer para a noite de abertura um longa da Paraíba, estado que voltou a apresentar maior constância na produção, especialmente de curta-metragem, tentando romper com o traço de idas e vindas, de evolução e involução, é bastante interessante, um dado que precisa ser notado. Mas que não surge do acaso, já que desde 2000 aumentou a circulação de curtas, paraibanos.

De Carlos Downling vale lembrar o que há de divertido na filosofia de A Sintomática Narrativa de Constantino. Num outro registro mais sertanejo e tradicionalista há A Canga, de Marcus Villar. Há outros filmes de veteranos, como Homens, de Bertrand Lira e Lucia Caus, e Ikó-Eté, de Torquato Joel.

Continue lendo o texto na Revista Interlúdio.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Morre Nagisa Oshima

Cena de Furyo - Em Nome da Honra

Morreu o provocador Nagisa Oshima, lembrado por um público mais amplo lembra por Império dos Sentidos e citado por um cinéfilo com iniciação mínima na Nouvelle Vague japonesa por Kôshikei e Furyo - Em Nome da Honra.

Deixo aqui três dicas de leitura. Um breve perfil escrito por José Geraldo Couto na Carta Capital, que apresenta Oshima [leia aqui]; o obituário escrito por Peter Bradshaw e publicado no The Guardian, que evita uma abordagem clichê [leia aqui] e o link da Film Studies for Free com uma porção numerosa de ensaios sobre o diretor [leia aqui].

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Oscar 2013 - Indicados

Emmanuelle Riva e Jean-Lois Trintignant em Amor, de Michael Haneke

Abaixo a lista parcial dos indicados ao Oscar 2013 nas principais categorias. A relação completa de todas as indicações pode ser encontrada no site da Academia [clique aqui e acesse].


Filme

Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
O Lado Bom da Vida
A Hora mais Escura
Lincoln
Les misérables
As Aventuras de Pi
Amor
Django Livre
Argo

Direção

David O Russell, por O Lado bom da Vida
Ang Lee, por As Aventuras de Pi
Steven Spielberg, por Lincoln
Michael Haneke, por Amor
Benh Zeitlin, por Indomável Sonhadora (Beasts of the Wouthern Wild)

Ator

Daniel Day-Lewis, por Lincoln
Denzel Washington, por Flight
Hugh Jackman, por Les Misérables
Bradley Cooper, por O Lado Bom da Vida
Joaquim Phoenix, por The Master

Atriz

Naomi Watts, por O Impossível
Jessica Chastain, A Hora mais Escura
Jennifer Lawrence, por O Lado Bom da Vida
Emmanuelle Riva, por Amor
Quvenzhané Wallis, por Indomável Sonhadora

Ator Coadjuvante

Christoph Waltz, por Django Livre
Philip Seymour Hoffman, por The Master
Robert D Niro, por O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
Alan Arkin, por Argo
Tommy Lee Jones, por Lincoln

Atriz Coadjuvante

Sally Field, por Lincoln
Anne Hathaway, por Les Misérables
Hellen Hunt, por The Sessions
Amy Adams, por The Master
Jacki Weaver, por O Lado Bom da Vida

Roteiro Adaptado

Indomável Sonhadora
Argo
Lincoln
O Lado Bom da Vida
As Aventuras de Pi

Roteiro Original

Amor
A Hora mais Escura
Django Livre
Flight
Moonrise Kingdom


Filme em Língua Estrangeira

Amour, de Michael Haneke (Áustria)
No, de Pablo Larraín (Chile)
Rebelle, de Kim Nguyen (Canadá)
O Amante da Rainha, de Nicolaj Arcel (Dinamarca)
Kon-Tiki, de Joachim Rønning e Espen Sandberg (Noruega)


Canção Original

Before My Time (Chasing Ice)
Pi's Lullaby (As Aventuras de PI)
Suddenly (Les Misérables)
Everybody needs a best friend (Ted)
Skyfall (007 Skyfall)

Animação – longa-metragem

Frankenweenie, de Tim Burton
The Pirates! Band of Misfits, de Peter Lord
Wreck-It Ralph, de Rich Moore
ParaNorman, de Sam Fell e Chris Butler
Brave, de Mark Andrews e Brenda Chapman


domingo, 6 de janeiro de 2013

O Som ao Redor – Parte I: Agradável, legal e gângster

O dilema da classe média em O Som ao Redor

Uma quantidade significativa de títulos de matérias e críticas publicadas ao longo da última semana sobre O Som ao Redor ressaltam que o filme é uma crônica de um estado de coisas construído na última década, que vai desde o aparecimento de uma nova classe média ao alastramento da cultura do medo.

O filme é isso mesmo, apesar de não recorrer à verborragia: a radiografia do Brasil pós-Peões – aliás, é um delicioso déja vu assistir ao filme do Coutinho dez anos depois de sua feitura.

Ressaltar o que O Som ao Redor tem de raio-X é uma maneira de atribuir-lhe importância, nobreza. Resumir o filme a esse caráter, porém, é deixar escapar muitas de suas outras dimensões. Vou falar apenas sobre uma neste post: o fato de o longa de Kleber Mendonça Filho ser imensamente divertido de se assistir.

“Divertido”, quando se trata de um filme sério, com aspirações maiores, parece até um demérito. Tal clichê não se encaixa aqui. É agradável e divertido de se assistir por deixar algumas portas abertas com elementos pop, daqueles que grudam como refrão de música de Michael Jackson.

Ou vão dizer que aquele antológico diálogo da cena de condomínio – “O problema é que eu tenho recebido a minha Veja fora do plástico” – já não nasceu clássico? Uma frase como essas poderiam facilmente estar num tumblr como o Classe Média Sofre, uma reunião virtual de pérolas da escrotidão virtual e de “dilemas” desse sofredor estrato social – coisas como “OMG, duas horas no aeroporto esperando para embarcar para Paris. Boooring!”.

Poderia enumerar um bocado de momentos de humor pop como esse – a personagem de Maeve Jenkings fumando maconha e expirando a fumaça dentro do aspirador de pó. Mas não vou estragar a surpresa de um filme que acabou de estrear.

Ao lado do quesito de ser um filme de cinema, questão que claramente é importante a Mendonça Filho, existe o fato de ser uma experiência divertida assistir a O Som ao Redor. Nesse aspecto, tal filme se junta a outro: A Cidade é uma Só?, de Adirley Queirós [o blog já falou sobre ele nesse post aqui].

Queirós fez um filme sobre um episódio de profunda violência: a expulsão de uma fatia pobre de Brasília e a invenção da cidade de Ceilândia, desdobramento da Campanha para a Erradicação de Invasões. Tal como o trabalho de Mendonça Filho, um filme nobre, mas também divertido e, muitas vezes, pop.

Tal como o diálogo da revista fora do plástico, o jingle de Dildu – “Vamo votá, votá legal: 77223 pra Distrital, DILDÚ!” – já nasce clássico. Gruda como chiclete e ilustra com perfeição o esforço do personagem em encontrar uma linguagem política que se comunique com quem é da periferia.

O Som ao Redor e A Cidade é uma Só? são dois vívidos exemplos de cinema político. Mas não podemos perder de vista que são filmes bastante divertidos. Reconhecer isso não é colocá-los um degrau abaixo, mas sim um acima.

Em tempo: a frase que ilustra o título deste post é um trecho da sinopse do filme de Adirley Queirós.

Textos relacionados:
A unanimidade da crítica com O Som ao Redor
Crítica de O Som ao Redor
A política: A Fuga da Mulher Gorila e Esse Amor que nos Consome

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Som ao Redor - estreia e crítica

Uma das cenas sublimes de O Som ao Redor



Estreia hoje O Som ao Redor, após um ano de viagens por festivais, elogios e, quem diria, presença na lista de melhores do ano de A.O Scott (um dos únicos, ao lado de Kenneth Turan, críticos americanos de cinema a escrever regularmente para o impresso que vale ler).

Quando assisti a Recife Frio pela primeira vez há uns três anos defendi que esse curta seria o que Ilha das Flores representou no começo da década retrasada. Alguns amigos viram exagero nisso, mas mantenho a convicção [leia aqui o porquê].

Sobre O Som ao Redor, simplesmente acho que estamos diante de um momento ímpar, paradigmático talvez. Vejo nessa estreia de Kleber Mendonça Filho como diretor de longa-metragem de ficção um avanço gigantesco sobre as possibilidades de um cinema político no contexto da produção brasileira.

Explico os meus porquês na crítica publicada hoje na Revista Interlúdio [clique aqui e leia]. Um trecho do texto: “Pois aí está a maestria de O Som ao Redor como crônica de um estado de coisas: abandonar a tradição didática catequizante que historicamente ronda a produção brasileira e devotar-se ao cinema de gênero como manancial de possibilidades para falar sobre o presente, quebrar expectativas. Ao dar essa escapulida, O Som ao Redor torna-se profundamente político.”

Dito isso e reiterado como vejo o filme num amplo contexto, caminho agora para o outro lado. Quando o assisti pela primeira vez no Festival do Rio, o longa já vinha bastante comentado e praticamente blindado. O prêmio da crítica em Roterdã jogou o filme para cima, assim como a presença em diversos outros festivais internacionais.

Desde então, tenho conversado com amigos também da crítica de cinema – especialmente com Cid Nader, do Cinequanon – sobre como seria maravilhoso que, no momento da estreia, em que o filme finalmente tomaria contato com um público um pouco maior, houvesse o embate, um questionamento qualificado e franco do filme. Seria bom para o debate intelectual e também para os próximos filmes de Kleber.

Não serei eu a reduzir o tamanho do filme, pois, como já reiterei, penso que ele merece ocupar um lugar nobre. Mas gostaria de ver colegas da crítica que desgostam do filme ou que não veem nele nada demais saindo da toca e participando do debate. Há um esboço desse gesto: Miguel Barbieri, da Veja São Paulo, com o qual discordo na preferência de filmes mais do que corinthiano e são-paulino discutindo a legitimidade do Mundial da Fifa de 2000, é o único que, até agora, vi indo contra a corrente [leia aqui]. Pena que o tamanho de sua resenha (1.398 toques) não seja suficiente para um aprofundamento mínimo.

O barco na direção oposta fez muita falta na estreia de Holy Motors, de Leos Carax, em que o debate ficou esvaziado. Os que amaram o filme deram a cara a tapa, fizeram textos a defender seus pontos. Os que o acharam um embuste ficaram ou quietos ou recorreram a frases clichês em textos en passant. Não vi ninguém indo na jugular do filme.

Espero que o barco da discussão não se acanhe agora na estreia de O Som ao Redor.