Matéria de Composição, de Pedro Aspahan |
Matéria de Composição, o documentário de Pedro Aspahan sobre o processo criativo de três compositores para a trilha do mesmo vídeo experimental, poderia muito bem se chamar Matéria em Decomposição. Pois o trabalho é de mão dupla: enquanto cada músico escreve, compõe, ensaia e executa, o espectador do filme desconstrói, observa as partes. E se esse mesmo espectador tiver alguma acumulo de música clássica – acúmulo sensível, não necessariamente teórico –, o documentário abre uma janela para, enquanto se assiste ao filme, acessar um cardápio musical acumulado na memória e imaginar como ele foi construído por seus autores.
Por baixo do visível interesse no processo de criação, o que expande o alcance do filme é o que ele permite pensar a respeito da interpretação humana do mundo. A dinâmica do longa: Aspahan fez um curta no qual filma a destruição de uma casa. Azulejos que se quebram, concreto derrubado, muro que cai: o que antes era um todo – a casa – torna-se um acumulado de partes – portas, paredes, tijolos, fechaduras, ferrolho.
A feitura das imagens que servem de base para a criação da trilha dos compositores não é neutra porque o cinema não é neutro. Linguagem mais que consolidada, existe uma carga de sentidos nas aparentemente banais escolhas de Aspahan. Um travelling filmando uma porta entreaberta é repleto de significados, assim como a queda em câmera lenta de um muro.
Continue lendo o texto sobre Matéria de Composição na Revista Interlúdio.
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