quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Alexandre Desplat: o compositor mais quente de cinema nos EUA
Por quatro vezes o compositor francês Alexandre Desplat passou perto de abocanhar uma estatueta do Oscar como compositor. Em 2008, seu trabalho em A Rainha perdeu para Gustavo Santaloalla em Babel. Em 2009, foi um dos 13 indicados de O Curioso Caso de Benjamin Button a sair de mãos abanando – perdeu para A.R. Rahman, de Quem Quer Ser um Milionário?.
Em 2010, suas músicas para O Fantástico Sr. Raposo perderam para o carisma de Up – Altas Aventuras. Em 2011, nem a vitória de O Discurso do Rei nas quatro principais categorias ajudou a Desplat levar a sua também.
Para a edição de 2012 do Oscar, os trabalhos em A Árvore da Vida, de Terrence Malick, e Harry Potter e as Relíquias da Morte colocam o músico de 50 anos como provável indicado à premiação da Academia. “Nunca se sabe, pois o Oscar pode ser um ser um senhor cheio de humores”, brincou em entrevista ao Cineclick. Desplat está no Brasil para apresentar alguns de seus trabalhos para o cinema como regente da Jazz Sinfônica. O evento acontece no Sesc Pinheiros, em São Paulo, às 21h.
Desplat começou compondo para curtas-metragens há 26 anos, passou a ser comentado fora do meio musical a partir da primeira parceria com Jacques Audiard em Regarde les hommes tomber (1994), mas é apenas quando George Clooney o convida para Syriana – A Indústria do Petróleo que Desplat deixa de ser um homem das sombras para o público de cinema.
A matéria completa pode ser lida neste link no Cineclick – Tudo Sobre Cinema.
Ouça a um trecho da trilha de Desplat para A Árvore da Vida
Ouça L'abandon, uma das peças mais bonitas de Desplat
Ouça The Household, composição de Desplat para O Discurso do Rei
domingo, 20 de novembro de 2011
Blaxploitation: o gênero que obrigou o mundo a notar os negros
Mais do que inverter a ordem e encher a tela de atores e atrizes negras, o Blaxploitation, gênero cinematográfico que surgiu no início dos anos 1970 sintonizado com a breve abertura de Hollywood e às transformações políticas, ainda encanta pelo atrevimento de seus heróis. Ser protagonista e conduzir o enredo não é suficiente: é preciso tirar um sarro, ser agressivo, colocar-se no ataque, espezinhar, sentar na cara dos adversários.
Ser um bad ass como dizem os americanos. A mostra Tela Negra – O Cinema do Blaxploitation, que ocupou o CCBB de São Paulo e do Rio de Janeiro há duas semanas e domina o CineSesc paulistano até quinta-feira (24/11), joga luzes numa pequena parte da volumosa produção do gênero que desapareceu tão meteoricamente quanto surgiu.
O Blaxploitation é um cinema que responde ao seu tempo, um gênero composto de filmes que tiram os negros dos papeis coadjuvantes serviçais e idealizam a figura do herói. Homens (Richard Roundtree, Melvin Van Peebles) e mulheres (Tamara Dobson, Pam Grier) gostosos, desejados, atrevidos, que flertam, mergulham ou trabalham com a lei e a marginalidade. Personagens reflexo de uma romantização da inversão do status quo: os policiais, ponta final do iceberg de opressão, são os mais espezinhados no Blaxploitation.
Nos filmes que integram a mostra Tela Negra, mas também em muitos outros que ficaram de fora, tamanha a prolífica produção entre 1970-79, o pé de um negro na mesa de um cop é uma vitória tão significativa quanto uma condenação na Justiça por racismo. É com esse atrevimento que os personagens do Blaxploitation jogam na cara de quem não quer ver: está na hora de os negros serem notados, queiram ou não. Entre filmes bons e ruins, o gênero vai ao menos ficar na História por cumprir essa função.
É um cinema de vingança, de humor e de raiva. Descaradamente aberto e honesto em suas fraquezas. Cinema imperfeito que pulsa. Cinema que joga com crueldade e ironia a discriminação na cara da sociedade norte-americana. Não é um cinema essencialmente de reflexão (apesar de hoje ser possível fazê-la dada a mínima distância histórica) como talvez ansiava a contraditória e notoriamente combativa NAACP, a primeira associação dos Estados Unidos a brigar formalmente, desde 1909, pelos direitos civis dos negros – em 1915, defendeu a proibição da estreia de O Nascimento de Uma Nação, maravilhoso e racista filme de D.W. Grifith.
Após quatro décadas, seria leviano observar a paixão e a rejeição que o Blaxploitation gerou à época como uma disputa de Fla-Flu. Existem muitas áreas cinzas entre o herói na fronteira da bandidagem, a condenação da falta de moralidade desses personagens e os que imputaram a essas produções a culpa por manter a população negra alienada.
Me parece que, naquele momento de urgência, quem xingou e cunhou a esses filmes o pejorativo termo Exploração dos Negros (Blaxploitation, reapropriado com orgulho por seu público consumidor) não percebeu que, assim como o trabalho de formiga dentro da legalidade feito pela NAACP, um herói de um filme-provocação como Shaft também é ferramenta de combate.
São esses heróis às avessas que tentam corroer o sistema com violência e por meio dela explicitam a exclusão. Não são os negros comportados que levam uma vida honesta ou aspiram à pequena burguesia. O traficante Priest, a vingadora Coffy, o detetive “pegador” Shaft, a policial arrasa-quarteirão Cleópatra Jones ou o lutador Leroy (de Operação Dragão Negro/Blackfist, que infelizmente não está na mostra) são tão necessários quanto o bom mocismo domesticado de Sidney Poitier.
Hoje me parece mais simples perceber isso.
Nos anos 70, porém, a crítica não enxergou valor artístico em um cinema irregular e deliberadamente carregado nos clichês. O movimento negro tradicional não entendeu que avançar vagarosamente não era a única tática e que a agressividade do Blaxploitation também era necessária. Quem abraçou esse cinema foram os jovens espectadores, seja pela pura diversão de um filme como Foxy Brown, pela arrepiante trilha de Curtis Mayfield em Super Fly ou por se deliciar com a aparente inversão da ordem (negro protagonista e astuto, branco coadjuvante, tolo e apombocado).
Assim como os papeis de empregada de Hattie McDaniel foram fundamentais para que Halle Berry e Denzel Washington se tornassem estrelas e ganhassem um Oscar, o Blaxploitation abriu indiretamente portas – mesmo não sendo do jeito que o Movimento Negro tradicional gostaria. Ainda me parece necessário ressaltar isso.
Em tempo: a programação da mostra Tela Negra - O Cinema do Blaxploitation está no site do CineSesc.
Ser um bad ass como dizem os americanos. A mostra Tela Negra – O Cinema do Blaxploitation, que ocupou o CCBB de São Paulo e do Rio de Janeiro há duas semanas e domina o CineSesc paulistano até quinta-feira (24/11), joga luzes numa pequena parte da volumosa produção do gênero que desapareceu tão meteoricamente quanto surgiu.
O Blaxploitation é um cinema que responde ao seu tempo, um gênero composto de filmes que tiram os negros dos papeis coadjuvantes serviçais e idealizam a figura do herói. Homens (Richard Roundtree, Melvin Van Peebles) e mulheres (Tamara Dobson, Pam Grier) gostosos, desejados, atrevidos, que flertam, mergulham ou trabalham com a lei e a marginalidade. Personagens reflexo de uma romantização da inversão do status quo: os policiais, ponta final do iceberg de opressão, são os mais espezinhados no Blaxploitation.
Nos filmes que integram a mostra Tela Negra, mas também em muitos outros que ficaram de fora, tamanha a prolífica produção entre 1970-79, o pé de um negro na mesa de um cop é uma vitória tão significativa quanto uma condenação na Justiça por racismo. É com esse atrevimento que os personagens do Blaxploitation jogam na cara de quem não quer ver: está na hora de os negros serem notados, queiram ou não. Entre filmes bons e ruins, o gênero vai ao menos ficar na História por cumprir essa função.
É um cinema de vingança, de humor e de raiva. Descaradamente aberto e honesto em suas fraquezas. Cinema imperfeito que pulsa. Cinema que joga com crueldade e ironia a discriminação na cara da sociedade norte-americana. Não é um cinema essencialmente de reflexão (apesar de hoje ser possível fazê-la dada a mínima distância histórica) como talvez ansiava a contraditória e notoriamente combativa NAACP, a primeira associação dos Estados Unidos a brigar formalmente, desde 1909, pelos direitos civis dos negros – em 1915, defendeu a proibição da estreia de O Nascimento de Uma Nação, maravilhoso e racista filme de D.W. Grifith.
Após quatro décadas, seria leviano observar a paixão e a rejeição que o Blaxploitation gerou à época como uma disputa de Fla-Flu. Existem muitas áreas cinzas entre o herói na fronteira da bandidagem, a condenação da falta de moralidade desses personagens e os que imputaram a essas produções a culpa por manter a população negra alienada.
Me parece que, naquele momento de urgência, quem xingou e cunhou a esses filmes o pejorativo termo Exploração dos Negros (Blaxploitation, reapropriado com orgulho por seu público consumidor) não percebeu que, assim como o trabalho de formiga dentro da legalidade feito pela NAACP, um herói de um filme-provocação como Shaft também é ferramenta de combate.
São esses heróis às avessas que tentam corroer o sistema com violência e por meio dela explicitam a exclusão. Não são os negros comportados que levam uma vida honesta ou aspiram à pequena burguesia. O traficante Priest, a vingadora Coffy, o detetive “pegador” Shaft, a policial arrasa-quarteirão Cleópatra Jones ou o lutador Leroy (de Operação Dragão Negro/Blackfist, que infelizmente não está na mostra) são tão necessários quanto o bom mocismo domesticado de Sidney Poitier.
Hoje me parece mais simples perceber isso.
Nos anos 70, porém, a crítica não enxergou valor artístico em um cinema irregular e deliberadamente carregado nos clichês. O movimento negro tradicional não entendeu que avançar vagarosamente não era a única tática e que a agressividade do Blaxploitation também era necessária. Quem abraçou esse cinema foram os jovens espectadores, seja pela pura diversão de um filme como Foxy Brown, pela arrepiante trilha de Curtis Mayfield em Super Fly ou por se deliciar com a aparente inversão da ordem (negro protagonista e astuto, branco coadjuvante, tolo e apombocado).
Assim como os papeis de empregada de Hattie McDaniel foram fundamentais para que Halle Berry e Denzel Washington se tornassem estrelas e ganhassem um Oscar, o Blaxploitation abriu indiretamente portas – mesmo não sendo do jeito que o Movimento Negro tradicional gostaria. Ainda me parece necessário ressaltar isso.
Em tempo: a programação da mostra Tela Negra - O Cinema do Blaxploitation está no site do CineSesc.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1
Mais romance água com açúcar, menos ação. A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1, que já nasce como blockbuster antes de estrear, dominando metade (!) das salas de cinema do Brasil a partir desta sexta-feira (18/11), é enfadonho e tão conservador quanto as outras produções que construíram a franquia, especialmente Lua Nova.
A não ser por razões de mercado, o filme não justifica a divisão em duas partes. O inchaço do enredo transparece na artificialidade das situações dramáticas - diferentemente de Harry Potter e as Relíquias da Morte, cuja extensão do livro tornou aceitável a existência de dois capítulos finais.
A íntegra do texto está no Cineclick - Tudo sobre Cinema.
A não ser por razões de mercado, o filme não justifica a divisão em duas partes. O inchaço do enredo transparece na artificialidade das situações dramáticas - diferentemente de Harry Potter e as Relíquias da Morte, cuja extensão do livro tornou aceitável a existência de dois capítulos finais.
A íntegra do texto está no Cineclick - Tudo sobre Cinema.
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