De Paulínia
Pena que não tenho tanto tempo para falar sobre “O Beijo da Mulher Aranha”. Festival é sempre uma correria e sempre fica aquela sensação de que você está perdendo alguma coisa. Mas o filme de Hector Babenco, exibido com uma cópia restaurada ontem à noite, pede um comentário à cada camada. Fala-se de muita coisa naquele filme. Vou pegar apenas uma.
Méritos sejam divididos à direção de Babenco, ao texto original do livro de Manuel Puig e à adaptação do roteiro de Leonard Scharader, “O Beijo da Mulher Aranha” tem a maestria de captar a dificuldade de social de ser gay entre os anos 70 e 80.
William Hurt interpreta Luis Molina, preso por ter feito sexo com um adolescente, que divide cela com Vicente Arregui, preso político. O personagem de Molina transpira dignidade, mas se afasta da representação idealizada.
Em linhas muito rápidas, um dos aspectos brilhantes do filme está na feitura do personagem homossexual. O filme de Babenco é irmão de “Romance”, de Sérgio Bianchi (no sentido de falar da impossibilidade do amor), da canção “Ideologia”, de Cazuza (“o meu prazer/agora é risco de vida), e do curta-megragem “Bailão”, de Marcelo Caetano (que reconta a história da famosa boate paulistana sob uma perspectiva política).
Existe muita coisa para se falar de “O Beijo da Mulher Aranha”, seja pelo olhar onírico ou pelo realista. Mas, só para começar a conversa, o personagem gay merece o registro pela habilidade do filme em entender uma época.
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