Conversando com meu amigo João Nunes, crítico do “Correio Popular”, reclamava como me repetia em alguns textos. Escrevendo hoje sobre o norueguês “Um Homem Chato”, que está na Mostra integrando a retrospectiva do cinema do país que põe traços no “o”, me peguei sendo repetitivo novamente.
Na minha leitura, “Um Homem Chato” usa os mesmos mecanismos cômicos do sueco “Vocês, Os Vivos”. Logo após a sessão, uma senhora disse à sua amiga: “É... um humor bem nórdico, né?”. Pois bem, ela tem razão.
Hoje percebi como esse tal “humor nórdico” me encanta! Tanto que todas as vezes que assisto a algum filme que tenha essa pegada (e geralmente eles falam do estado das coisas ou da condição humana), penso sempre em “Vocês, os Vivos” como medida de comparação.
No Festival de Curtas, em agosto, foi a mesma coisa. Numa sessão tinha a sequência “Eu Sou Helmut”, “Incidente no Banco” e “Esquerda Direita”. Advinha qual longa os três curtas me lembraram? Nem preciso falar!!!
Nenhum dos filmes com o tal “humor nórdico” (seja lá o que isso signifique) conseguiu superar a relação emocionante que tenho com “Vocês, os Vivos” – talvez porque o filme de Roy Anderson não é só engraçado, mas muito inventivo cinematograficamente, ousado na forma.
Mas, vira e mexe volto a “Vocês, os Vivos”. Que filmão!
sábado, 23 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
A reconciliação com “Vincere”
Assisti a “Vincere” pela primeira em outubro de 2008, numa sessão no Estação Gávea do Festival do Rio. Não me lembro se estava cansado – acho que não –, mas não achei nada demais no filme. A não ser pelas inserções do material documental, não havia enxergado algo que justificasse uma histeria pelo filme.
Bom, isso rendeu algumas conversas com meu amigo Sergio Alpendre, que urgia para eu rever o filme do Bellochio, numa telona de cinema, em condições adequadas. “O filme merece”, dizia Sergio. Passou o tempo e fui rever o filme, na sala 4 do Reserva Cultural (aliás, o cinema do Jean Thomas Bernardini só passa filme em digital?!).
É sempre muito gostoso rever filmes, os que não gostamos ou os que idolatramos. Rever duas vezes “Tudo Sobre Minha Mãe” foi encontrar vários artifícios de Almodóvar, mas assistir novamente a “Volver” foi perceber que ali existe um filmão. No caso de “Vincere”, é isso: encontrar um filmão ali, na minha frente, que tinha passado despercebido da primeira vez.
Acho que há um fortíssimo diálogo entre o filme de Bellochio e “Katyn”, de Andrzej Wajda. Ambos falam de como personagens em situações ditatoriais optaram por bradar a verdade mesmo que isso custasse suas vidas. Bom, no caso de Wajda, é mais por ideal político, enquanto que em “Vincere” isso é misturado com a visão de uma mulher profundamente apaixonada, que sustenta a verdade inicialmente por um desejo de ter seu amor, Mussolini, de volta aos seus braços, mas posteriormente segue esse caminho porque é o único a ser seguido.
É isso, uma mulher contra todos, assim como em “Katyn” é um soldado contra todos. Mas Wajda é mais sério, seco, sereno. Bellochio é operístico, dramático, barroco. Como Orson Welles, torna o encontro entre Ida Dalser e Benito Mussolini a história de amor mais particular e importante do universo.
O que mais me chama atenção em “Vincere” é que, mesmo percebendo que o filme está a favor desde o começo a Ida Dalser, há muitíssimas portas de entrada. Não sei se necessariamente trata-se de uma polifonia narrativa, mas, acompanhamos com a mesma atenção o ponto de vista dos dois e, para tal, Bellochio usa muitas ferramentas.
A história de Ida, uma mulher apaixonada; a história de um homem que se excitava pelo comando supremo; o clima de ópera que existe na história de amor; a porção psicopata de Mussolini que não hesitou em destruir Ida; a música, um capítulo à parte, tão forte que, se passássemos duas horas na sala só escutando a trilha, saberíamos perfeitamente o que é “Vincere”; as inserções documentais que (quase) inserem um novo personagem (não o Benito, mas o Mussolini que conhecemos da História).
Existem vários filmes dentro de um só ali em “Vincere”. É só escolher qual você prefere e, pimba, boa viagem!
PS: “Vincere” é tão bom que até mesmo a projeção da Rain – quer dizer, agora Auwê – não impede que o filme chegue aos nossos corações.
Bom, isso rendeu algumas conversas com meu amigo Sergio Alpendre, que urgia para eu rever o filme do Bellochio, numa telona de cinema, em condições adequadas. “O filme merece”, dizia Sergio. Passou o tempo e fui rever o filme, na sala 4 do Reserva Cultural (aliás, o cinema do Jean Thomas Bernardini só passa filme em digital?!).
É sempre muito gostoso rever filmes, os que não gostamos ou os que idolatramos. Rever duas vezes “Tudo Sobre Minha Mãe” foi encontrar vários artifícios de Almodóvar, mas assistir novamente a “Volver” foi perceber que ali existe um filmão. No caso de “Vincere”, é isso: encontrar um filmão ali, na minha frente, que tinha passado despercebido da primeira vez.
Acho que há um fortíssimo diálogo entre o filme de Bellochio e “Katyn”, de Andrzej Wajda. Ambos falam de como personagens em situações ditatoriais optaram por bradar a verdade mesmo que isso custasse suas vidas. Bom, no caso de Wajda, é mais por ideal político, enquanto que em “Vincere” isso é misturado com a visão de uma mulher profundamente apaixonada, que sustenta a verdade inicialmente por um desejo de ter seu amor, Mussolini, de volta aos seus braços, mas posteriormente segue esse caminho porque é o único a ser seguido.
É isso, uma mulher contra todos, assim como em “Katyn” é um soldado contra todos. Mas Wajda é mais sério, seco, sereno. Bellochio é operístico, dramático, barroco. Como Orson Welles, torna o encontro entre Ida Dalser e Benito Mussolini a história de amor mais particular e importante do universo.
O que mais me chama atenção em “Vincere” é que, mesmo percebendo que o filme está a favor desde o começo a Ida Dalser, há muitíssimas portas de entrada. Não sei se necessariamente trata-se de uma polifonia narrativa, mas, acompanhamos com a mesma atenção o ponto de vista dos dois e, para tal, Bellochio usa muitas ferramentas.
A história de Ida, uma mulher apaixonada; a história de um homem que se excitava pelo comando supremo; o clima de ópera que existe na história de amor; a porção psicopata de Mussolini que não hesitou em destruir Ida; a música, um capítulo à parte, tão forte que, se passássemos duas horas na sala só escutando a trilha, saberíamos perfeitamente o que é “Vincere”; as inserções documentais que (quase) inserem um novo personagem (não o Benito, mas o Mussolini que conhecemos da História).
Existem vários filmes dentro de um só ali em “Vincere”. É só escolher qual você prefere e, pimba, boa viagem!
PS: “Vincere” é tão bom que até mesmo a projeção da Rain – quer dizer, agora Auwê – não impede que o filme chegue aos nossos corações.
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