A primeira página do caderno de cultura do diário campineiro Correio Popular desta segunda-feira (31/1) estampa uma matéria sobre o lançamento do livro Pedro e Os Lobos, biografia do ex-guerrilheiro Pedro Lobo, um dos fundadores da VPR.
A história de Lobo seguiu o roteiro tradicional dos que escolheram a luta armada como forma de oposição à ditadura no Brasil (1964-85): teve formação política e de guerrilha, resistiu, foi capturado, torturado e fugiu para o exílio. Voltou com a abertura.
O biógrafo João Roberto Laque conta ao repórter Bruno Ribeiro que decidiu escrever o livro pelo desconhecimento dos jovens sobre o que é a História recente do Brasil e pela ausência de obras pouco herméticas sobre o período. “Através da trajetória de vida do Pedro, procurei traçar, numa linguagem acessível aos jovens, o painel do período político entre a posse de Jânio Quadros e o fim do governo militar”.
Sem tirar o mérito de Pedro e Os Lobos, é equivocada a análise de que não existem obras “numa linguagem acessível aos jovens”. Sobre a ditadura e focando num personagem para contar um momento histórico temos Cale-se, de Caio Túlio Costa. O livro é de 2003 e toma a vida de Alexandre Vanucchi Leme como ponto de partida para uma narrativa eletrizante, regada de suspense e com informações jornalisticas e históricas diluídas.
Ou seja, prato cheio para os jovens. Se não me engano, li Cale-se com 19 anos, no meio do cursinho.
Cinema
Existem dezenas de filmes com olhares diversos da ditadura militar brasileira: a aventura (O Que é Isso, Companheiro?), a tortura e seus traumas (Batismo de Sangue), o guerrilheiro (Cabra Cega), o infantil (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias), o futebolístico (Pra Frente Brasil), o musical (Uma Noite em 67, Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei), drama histórico (Zuzu Angel), o racial (Quase Dois Irmãos), a memória afetiva (Eu Me Lembro).
Mas ainda faltam filmes a serem feitos, especialmente a confrontar onde estão os torturadores, quem financiou a ditadura dentro da elite e o que aconteceu com a estrutura repressora após o fim da ditadura. O único longa-metragem a chegar perto da espinha dorsal é Cidadão Boilesen, ótimo documentário sobre Henning Albert Boilesen, ex-presidente do Grupo Ultra, um dos maiores financiadores do regime no Brasil.
Outro projeto que pretende chegar no ponto mais complicado do assunto é o novo documentário de Rodrigo Siqueira (diretor de Terra Deu, Terra Come). Rodrigo ainda não quer falar muito do futuro filme, mas me disse que vai colocar em xeque a anistia “geral e irrestrita”. A ver.
Em tempo: Chaim Litewski meu deu uma elucidadora entrevista à época do lançamento de Cidadão Boilesen [clique aqui].
Em tempo 2: Noutra matéria, Helvécio Ratton e Toni Venturi, dois diretores que trataram da ditadura em ficções, analisam como o cinema brasileiro encara seu passado [clique aqui].
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
Sobre todas as coisas (odiosas)
-- de Tiradentes, Minas Gerais
Sobe o realizador no palco do Cine Tenda. “Meu filme é uma animação em stop-motion, vocês sabem como é difícil fazer isso no Brasil”. Depois vem a função educativa de seu filme. “É baseado num cordel, o cinema é diferente: você precisa ser letrado para acompanhar um cordel, o cinema é também para os iletrados”.
Promete, hein? Não cumpre, pelo contrário: A Saga de um Corno é um curta-metragem odioso. Numa mostra de cinema como a de Tiradentes, janela para um cinema brasileiro (ainda) fora das salas, a presença dessa animação de Wllyssys Wofgang é uma afronta.
Afronta ao estado das coisas que o filme sustenta. Vemos numa animação precária a vida de um marido constantemente traído pela sua companheira da vez. Primeiro, a mulher oficial. Depois, uma prostituta. Em seguida, uma “morena”; Logo após, um “viado”; Pra fechar, um jumento.
Hmmm, então esta é a escala da dignidade humana? O estágio anterior ao animal irracional que só serve para ser domesticado à força é o homossexual? E o gay é uma espécie de step woman, brinquedinho das horas vagas para suprir a falta de mulher?
Não adianta dizer que apontar a lógica discriminadora do filme é coisa de quem defende o reino do politicamente correto. Essa oposição “eles” versus “nós” não cola e é maniqueista. O filme escolhe os que merecem ser respeitados e os que merecem apanhar. Defende sua lógica suavemente e se protege sob uma cortina da cultura popular de que no Nordeste é assim.
A mulher, a prostituta, a “morena” (que o filme sequer tem coragem de chamar de negra, o que ela é de fato) e o “viado” apanham. O tal do Zé Mulato do filme sai ileso, apenas se lamentando da infidelidade das coisas (não seres, coisas) que passam por sua casa e vida.
Um contrassenso a presença desse curta na seleção Panorama da Mostra de Tiradentes, cuja curadoria é de Cássio Starling Carlos e Pedro Maciel. Depois de tantos curtas bons, outros com coisas boas e mais outros tantos que refrescam o olhar, fiquei com vontade de incorporar o espírito Um Dia de Fúria e atirar nesse filme.
Ah, e se você não concorda com nada dessa análise acima, fique só com o mínimo: é ruim mesmo.
Sobe o realizador no palco do Cine Tenda. “Meu filme é uma animação em stop-motion, vocês sabem como é difícil fazer isso no Brasil”. Depois vem a função educativa de seu filme. “É baseado num cordel, o cinema é diferente: você precisa ser letrado para acompanhar um cordel, o cinema é também para os iletrados”.
Promete, hein? Não cumpre, pelo contrário: A Saga de um Corno é um curta-metragem odioso. Numa mostra de cinema como a de Tiradentes, janela para um cinema brasileiro (ainda) fora das salas, a presença dessa animação de Wllyssys Wofgang é uma afronta.
Afronta ao estado das coisas que o filme sustenta. Vemos numa animação precária a vida de um marido constantemente traído pela sua companheira da vez. Primeiro, a mulher oficial. Depois, uma prostituta. Em seguida, uma “morena”; Logo após, um “viado”; Pra fechar, um jumento.
Hmmm, então esta é a escala da dignidade humana? O estágio anterior ao animal irracional que só serve para ser domesticado à força é o homossexual? E o gay é uma espécie de step woman, brinquedinho das horas vagas para suprir a falta de mulher?
Não adianta dizer que apontar a lógica discriminadora do filme é coisa de quem defende o reino do politicamente correto. Essa oposição “eles” versus “nós” não cola e é maniqueista. O filme escolhe os que merecem ser respeitados e os que merecem apanhar. Defende sua lógica suavemente e se protege sob uma cortina da cultura popular de que no Nordeste é assim.
A mulher, a prostituta, a “morena” (que o filme sequer tem coragem de chamar de negra, o que ela é de fato) e o “viado” apanham. O tal do Zé Mulato do filme sai ileso, apenas se lamentando da infidelidade das coisas (não seres, coisas) que passam por sua casa e vida.
Um contrassenso a presença desse curta na seleção Panorama da Mostra de Tiradentes, cuja curadoria é de Cássio Starling Carlos e Pedro Maciel. Depois de tantos curtas bons, outros com coisas boas e mais outros tantos que refrescam o olhar, fiquei com vontade de incorporar o espírito Um Dia de Fúria e atirar nesse filme.
Ah, e se você não concorda com nada dessa análise acima, fique só com o mínimo: é ruim mesmo.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
O transbordamento de Tiradentes
-- De Tiradentes, Minas Gerais
Meu amigão reclamão Sérgio Alpendre acaba de chegar à sala de imprensa aqui do Centro Cultural Yves Alves falando que o debate de Os Residentes está cheio, abarrotado. “Tiradentes transbordou”.
Estar aqui na mostra mineira é ter a sensação de que o cinema brasileiro aterrizou de vez aqui. Ontem tivemos três longas exibidos na sequência: o de Tiago Machado, Os Monstros e Santos Dumont – Pré-cineasta?. Gosto muito deste último, um documentário que pensa sobre o desejo humano de voar, fisicamente (aí o Santos Dumont) e com a imaginação (aí vem o cinema).
Mas Os Monstros desperta uma conexão afetiva profunda. É difícil encontrar um filme tão terno, de abraços verdadeiros, de coleguismo e amizade impressas na tela. O longa do quarteto vindo da produtora cearense Alumbramento é uma injeção de jovialidade e uma coleção de ironias cinematográficas. Quem viu o verá o filme vai se deliciar com a “cena do Djavan” e “a cena do Daniel”.
Lembro que em 2010, quando Luiz e Ricardo Pretti, Guto Parente e Pedro Diógenes, os diretores/atores/roteiristas/produtores apresentaram e ganharam Tiradentes com Estrada para Ythaca, não senti que o filme manteve seu fôlego durante toda a projeção (ou eu não mantive o meu). Já com Os Monstros o filme aconteceu do começo ao fim.
O Cine Tenda esteve cheio para as três sessões – especialmente para Os Residentes e Os Monstros. A cobertura da imprensa aumentou. O público continua na cidade. As áreas de convivência do festival estão cheias.
Tiradentes cresceu mesmo.
Meu amigão reclamão Sérgio Alpendre acaba de chegar à sala de imprensa aqui do Centro Cultural Yves Alves falando que o debate de Os Residentes está cheio, abarrotado. “Tiradentes transbordou”.
Estar aqui na mostra mineira é ter a sensação de que o cinema brasileiro aterrizou de vez aqui. Ontem tivemos três longas exibidos na sequência: o de Tiago Machado, Os Monstros e Santos Dumont – Pré-cineasta?. Gosto muito deste último, um documentário que pensa sobre o desejo humano de voar, fisicamente (aí o Santos Dumont) e com a imaginação (aí vem o cinema).
Mas Os Monstros desperta uma conexão afetiva profunda. É difícil encontrar um filme tão terno, de abraços verdadeiros, de coleguismo e amizade impressas na tela. O longa do quarteto vindo da produtora cearense Alumbramento é uma injeção de jovialidade e uma coleção de ironias cinematográficas. Quem viu o verá o filme vai se deliciar com a “cena do Djavan” e “a cena do Daniel”.
Lembro que em 2010, quando Luiz e Ricardo Pretti, Guto Parente e Pedro Diógenes, os diretores/atores/roteiristas/produtores apresentaram e ganharam Tiradentes com Estrada para Ythaca, não senti que o filme manteve seu fôlego durante toda a projeção (ou eu não mantive o meu). Já com Os Monstros o filme aconteceu do começo ao fim.
O Cine Tenda esteve cheio para as três sessões – especialmente para Os Residentes e Os Monstros. A cobertura da imprensa aumentou. O público continua na cidade. As áreas de convivência do festival estão cheias.
Tiradentes cresceu mesmo.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Saraceni e A Mulher de Todos
-- De Tiradentes, Minas Gerais
Durante a projeção de Porto das Caixas, lindo filme de Paulo Cezar Saraceni, homenageado da Mostra de Tiradentes, pensei muito na relação afetuosa que tenho com outros três filmes: A Mulher de Todos, E Deus Criou a Mulher e Anjo do Mal.
Em Porto das Caixas, uma mulher isolada num fim de mundo decadente, começa a se desesperar para sumir das garras do marido (um bundão de marca maior). À frente da linda Irma Alvarez surge um dono de botequim, um soldadeco e um barbeiro e todos acabam se tornando candidatos a atender o pedido sedutor de Irma: matar o marido.
A fábula do filme (mulher seduz amantes para matar marido) me lembrou a sedutora Candy (Jean Peters) de Anjo do Mal (Pick Up on South Street), filme de 1953 dirigido por Samuel Fueller. Não que na produção de Fueller existam maridos e amantes, mas Candy joga seu charme sobre os homens, engando a todos e praticamente os obrigando a matar uns aos outros.
Pensei também num certo tratamento independente da mulher como no francês E Deus Criou a Mulher. No filme de Roger Vadim, Brigitte Bardot destroi os corações que a perseguem. Em Porto das Caixas, Irma brada “eu não sou de ninguém”. Um sentimento um tanto BB no filme de Saraceni.
Esse mesmo sentimento me fez lembrar, em última instância, de A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla. Linda, deslumbrante e poderosa, Helena Ignez esnoba o boçal personagem de Jô Soares nesse filme irônico.
De maneira alguma Porto das Caixas é um agrupamento de referências, mas durante a bela projeção aqui em Tiradentes fiquei pensando nesses filmes que trazem a mulher comandando os homens.
Durante a projeção de Porto das Caixas, lindo filme de Paulo Cezar Saraceni, homenageado da Mostra de Tiradentes, pensei muito na relação afetuosa que tenho com outros três filmes: A Mulher de Todos, E Deus Criou a Mulher e Anjo do Mal.
Em Porto das Caixas, uma mulher isolada num fim de mundo decadente, começa a se desesperar para sumir das garras do marido (um bundão de marca maior). À frente da linda Irma Alvarez surge um dono de botequim, um soldadeco e um barbeiro e todos acabam se tornando candidatos a atender o pedido sedutor de Irma: matar o marido.
A fábula do filme (mulher seduz amantes para matar marido) me lembrou a sedutora Candy (Jean Peters) de Anjo do Mal (Pick Up on South Street), filme de 1953 dirigido por Samuel Fueller. Não que na produção de Fueller existam maridos e amantes, mas Candy joga seu charme sobre os homens, engando a todos e praticamente os obrigando a matar uns aos outros.
Pensei também num certo tratamento independente da mulher como no francês E Deus Criou a Mulher. No filme de Roger Vadim, Brigitte Bardot destroi os corações que a perseguem. Em Porto das Caixas, Irma brada “eu não sou de ninguém”. Um sentimento um tanto BB no filme de Saraceni.
Esse mesmo sentimento me fez lembrar, em última instância, de A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla. Linda, deslumbrante e poderosa, Helena Ignez esnoba o boçal personagem de Jô Soares nesse filme irônico.
De maneira alguma Porto das Caixas é um agrupamento de referências, mas durante a bela projeção aqui em Tiradentes fiquei pensando nesses filmes que trazem a mulher comandando os homens.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Christopher Nolan de fora do Oscar (de novo)
Christopher Nolan não é um nome que a Academia leva muito em conta. Acabam de ser anunciados os indicados ao Oscar para a cerimônia de 2011 e o cineasta britânico não figura entre os cinco postulantes ao Oscar de Direção.
Vejam bem, não sou um ultra defensor de Nolan ou de A Origem. Porém, é o segundo ano em que Nolan chega com chances de indicação, mas é ignorado pela Academia. Em 2009, Batman – O Cavaleiro das Trevas foi lembrado tanto pelo PGA, o sindicato dos Produtores, quanto pelo DGA, o dos Diretores – ambos são fortes termômetros para a Academia.
Em ambas as categorias, perdeu para O Leitor – à época, justificava-se a decisão pela resistência a filmes de aventura e ação. Neste ano, A Origem segue entre os dez que brigam pelo Oscar de Melhor Filme, mas Nolan está fora da corrida pela estatueta de Direção (só conseguiu Roteiro). Entram os irmãos Coen pela refilmagem Bravura Indômita.
Na soma das indicações, O Discurso do Rei, britânico que chegou forte no Globo de Ouro, mas praticamente passou em branco (à exceção do prêmio de Melhor Ator a Colin Firth), está presente em 12 categorias. Bravura Indômita foi indicado em 10 categorias e A Rede Social em oito.
Em relação às surpresas, praticamente nenhuma novidade. Nem é possível chamar a troca Nolan-Coen de surpresa, já que os irmãos são habitué do Oscar. Para mim,a maior surpresa é a ausência de Io Sono L'Amore (Eu Sou o Amor), de Luca Guadagnino, entre Filmes em Língua Estrangeira.
Alguns pitacos pontuais:
-- É um exagero a indicação de Foras-da-Lei, do franco-argelino Rachid Bouchareb, em Filme em Língua Estrangeira. É um bom filme, mas inferior a seus trabalhos anteriores, especialmente Dias de Glória.
-- Irrita a obviedade da Academia em relação à Figurino e Direção de Arte. Na primeira, só foram indicados filmes de época ou faroestes. Sutileza zero. Uma indicação como Inverno da Alma representaria um mínimo de ousadia.
-- Falando em Inverno da Alma, fico feliz em ver um filme tão pequeno conseguindo abocanhar indicações a Filme, Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (John Hawkes) e Roteiro Adaptado.
-- Antes de saírem os indicados, apostaria de olhos fechados na estatueta de Ator para Colin Firth. Com a lembrança de Javier Bardem na categoria, o britânico ganhou um concorrente à altura.
-- Desde já, faço lobby para um prêmio a Christian Bale como Ator Coadjuvante por O Vencedor
-- A propósito do filme de David O Russell: Mark Wahlberg pagou o preço da essência de seu personagem, muito discreto em relação a Bale. Resultado: apesar de seu bom trabalho, não foi indicado.
-- Não chegamos ao fim dos tempos: O Mágico (L'Illusioniste) conseguiu resistir ao filtro e ganhou uma indicação a Melhor Animação. Pena que Toy Story 3 deve levar.
-- Por causa dos dúbios critérios de elegibilidade, o trabalho fenomenal de Carter Burwell em Bravura Indômita não foi indicado. O jeito é cruzar os dedos para o gênio francês Alexandre Desplat, que este ano entra por O Discurso do Rei.
Vejam bem, não sou um ultra defensor de Nolan ou de A Origem. Porém, é o segundo ano em que Nolan chega com chances de indicação, mas é ignorado pela Academia. Em 2009, Batman – O Cavaleiro das Trevas foi lembrado tanto pelo PGA, o sindicato dos Produtores, quanto pelo DGA, o dos Diretores – ambos são fortes termômetros para a Academia.
Em ambas as categorias, perdeu para O Leitor – à época, justificava-se a decisão pela resistência a filmes de aventura e ação. Neste ano, A Origem segue entre os dez que brigam pelo Oscar de Melhor Filme, mas Nolan está fora da corrida pela estatueta de Direção (só conseguiu Roteiro). Entram os irmãos Coen pela refilmagem Bravura Indômita.
Na soma das indicações, O Discurso do Rei, britânico que chegou forte no Globo de Ouro, mas praticamente passou em branco (à exceção do prêmio de Melhor Ator a Colin Firth), está presente em 12 categorias. Bravura Indômita foi indicado em 10 categorias e A Rede Social em oito.
Em relação às surpresas, praticamente nenhuma novidade. Nem é possível chamar a troca Nolan-Coen de surpresa, já que os irmãos são habitué do Oscar. Para mim,a maior surpresa é a ausência de Io Sono L'Amore (Eu Sou o Amor), de Luca Guadagnino, entre Filmes em Língua Estrangeira.
Alguns pitacos pontuais:
-- É um exagero a indicação de Foras-da-Lei, do franco-argelino Rachid Bouchareb, em Filme em Língua Estrangeira. É um bom filme, mas inferior a seus trabalhos anteriores, especialmente Dias de Glória.
-- Irrita a obviedade da Academia em relação à Figurino e Direção de Arte. Na primeira, só foram indicados filmes de época ou faroestes. Sutileza zero. Uma indicação como Inverno da Alma representaria um mínimo de ousadia.
-- Falando em Inverno da Alma, fico feliz em ver um filme tão pequeno conseguindo abocanhar indicações a Filme, Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (John Hawkes) e Roteiro Adaptado.
-- Antes de saírem os indicados, apostaria de olhos fechados na estatueta de Ator para Colin Firth. Com a lembrança de Javier Bardem na categoria, o britânico ganhou um concorrente à altura.
-- Desde já, faço lobby para um prêmio a Christian Bale como Ator Coadjuvante por O Vencedor
-- A propósito do filme de David O Russell: Mark Wahlberg pagou o preço da essência de seu personagem, muito discreto em relação a Bale. Resultado: apesar de seu bom trabalho, não foi indicado.
-- Não chegamos ao fim dos tempos: O Mágico (L'Illusioniste) conseguiu resistir ao filtro e ganhou uma indicação a Melhor Animação. Pena que Toy Story 3 deve levar.
-- Por causa dos dúbios critérios de elegibilidade, o trabalho fenomenal de Carter Burwell em Bravura Indômita não foi indicado. O jeito é cruzar os dedos para o gênio francês Alexandre Desplat, que este ano entra por O Discurso do Rei.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Faye Dunaway 2
Já havia feito um breve comentário sobre a aniversariante de hoje, Faye Dunaway, que chega aos 70 anos com um gostinho de que poderia ter prolongado seu estrelato em Hollywood. Aos que gostam da atriz de Chinatown, Bonnie e Clyde, Little Big Man, Mamãezinha Querida, entre outros, publiquei um breve perfil de Faye no Cineclick [link aqui].
Vale lembrar que a partir das 22h, o TCM realiza uma maratona com três produções da atriz: Rede de Intrigas, Bonnie e Clyde e O Campeão (disparado, o mais fraco dos três).
Vale lembrar que a partir das 22h, o TCM realiza uma maratona com três produções da atriz: Rede de Intrigas, Bonnie e Clyde e O Campeão (disparado, o mais fraco dos três).
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
As distâncias de O Vencedor e O Lutador
Um dos filmes quentes da temporada pré-Oscar é o drama O Vencedor, de David O. Russell, baseado na vida de Micky Ward, boxeador vindo de uma família neurótica que conseguiu tornar-se campeão do mundo em idade avançada.
Assistir a O Vencedor me vez pensar nas aproximações e diferenças de outro filme aparentemente sobre luta que foi preterido pela Academia há dois anos, O Lutador. Ironicamente, Darren Aronofsky chega a 2011 como um candidato fortíssimo ao Oscar por Cisne Negro.
Aronofsky propôs uma narrativa cíclica sem escapatória para o combalido Randy “The Ram” Robinson, que conseguiu no máximo prolongar sua desastrosa existência. Já O. Russell se dispôs a realizar um filme sobre a segunda chance de um personagem – numa primeira leitura – e, um pouco mais fundo, sobre o quão complicadas são as relações familiares.
Randy é vítima de suas próprias fragilidades e inaptidões. Encarnado por Mickey Rourke, ele se parece com um elefante tentando manusear uma taça de cristal. Destrói o que resta do amor de sua filha e perde a chance de viver com a mulher de sua vida. O que restava, até então, era lutar,honrar o apelido de “O Carneiro” no ringue, mas nem isso a vida lhe permitiu: o corpo o abandona nas horas em que ele precisa, deixando Randy sem o único que ainda fazia sentido.
Já o Micky (isso, sem “e” do “Mickey Mouse”) de O Vencedor sofre com quem está por detrás de sua vida: a família. Se fosse só pelo boxeador, o futuro lhe sorriria. Porém, no meio do caminho, existe um irmão que lhe ensinou tudo, mas hoje é uma âncora a impedir seu crescimento, e uma mãe, que usa Micky como fonte de renda.
Aronofsky é destrutivo, O. Russell é redentor. O primeiro é agressivo, o segundo é tranquilizador. Mas ambos, à sua maneira, fizeram ótimos filmes que parecem se dedicar à luta para falar sobre dramas humanos. O Lutador encerra, O Vencedor prossegue a vida de seus personagens.
Assistir a O Vencedor me vez pensar nas aproximações e diferenças de outro filme aparentemente sobre luta que foi preterido pela Academia há dois anos, O Lutador. Ironicamente, Darren Aronofsky chega a 2011 como um candidato fortíssimo ao Oscar por Cisne Negro.
Aronofsky propôs uma narrativa cíclica sem escapatória para o combalido Randy “The Ram” Robinson, que conseguiu no máximo prolongar sua desastrosa existência. Já O. Russell se dispôs a realizar um filme sobre a segunda chance de um personagem – numa primeira leitura – e, um pouco mais fundo, sobre o quão complicadas são as relações familiares.
Randy é vítima de suas próprias fragilidades e inaptidões. Encarnado por Mickey Rourke, ele se parece com um elefante tentando manusear uma taça de cristal. Destrói o que resta do amor de sua filha e perde a chance de viver com a mulher de sua vida. O que restava, até então, era lutar,honrar o apelido de “O Carneiro” no ringue, mas nem isso a vida lhe permitiu: o corpo o abandona nas horas em que ele precisa, deixando Randy sem o único que ainda fazia sentido.
Já o Micky (isso, sem “e” do “Mickey Mouse”) de O Vencedor sofre com quem está por detrás de sua vida: a família. Se fosse só pelo boxeador, o futuro lhe sorriria. Porém, no meio do caminho, existe um irmão que lhe ensinou tudo, mas hoje é uma âncora a impedir seu crescimento, e uma mãe, que usa Micky como fonte de renda.
Aronofsky é destrutivo, O. Russell é redentor. O primeiro é agressivo, o segundo é tranquilizador. Mas ambos, à sua maneira, fizeram ótimos filmes que parecem se dedicar à luta para falar sobre dramas humanos. O Lutador encerra, O Vencedor prossegue a vida de seus personagens.
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