Um dos filmes quentes da temporada pré-Oscar é o drama O Vencedor, de David O. Russell, baseado na vida de Micky Ward, boxeador vindo de uma família neurótica que conseguiu tornar-se campeão do mundo em idade avançada.
Assistir a O Vencedor me vez pensar nas aproximações e diferenças de outro filme aparentemente sobre luta que foi preterido pela Academia há dois anos, O Lutador. Ironicamente, Darren Aronofsky chega a 2011 como um candidato fortíssimo ao Oscar por Cisne Negro.
Aronofsky propôs uma narrativa cíclica sem escapatória para o combalido Randy “The Ram” Robinson, que conseguiu no máximo prolongar sua desastrosa existência. Já O. Russell se dispôs a realizar um filme sobre a segunda chance de um personagem – numa primeira leitura – e, um pouco mais fundo, sobre o quão complicadas são as relações familiares.
Randy é vítima de suas próprias fragilidades e inaptidões. Encarnado por Mickey Rourke, ele se parece com um elefante tentando manusear uma taça de cristal. Destrói o que resta do amor de sua filha e perde a chance de viver com a mulher de sua vida. O que restava, até então, era lutar,honrar o apelido de “O Carneiro” no ringue, mas nem isso a vida lhe permitiu: o corpo o abandona nas horas em que ele precisa, deixando Randy sem o único que ainda fazia sentido.
Já o Micky (isso, sem “e” do “Mickey Mouse”) de O Vencedor sofre com quem está por detrás de sua vida: a família. Se fosse só pelo boxeador, o futuro lhe sorriria. Porém, no meio do caminho, existe um irmão que lhe ensinou tudo, mas hoje é uma âncora a impedir seu crescimento, e uma mãe, que usa Micky como fonte de renda.
Aronofsky é destrutivo, O. Russell é redentor. O primeiro é agressivo, o segundo é tranquilizador. Mas ambos, à sua maneira, fizeram ótimos filmes que parecem se dedicar à luta para falar sobre dramas humanos. O Lutador encerra, O Vencedor prossegue a vida de seus personagens.
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