quarta-feira, 27 de julho de 2011

A censura de A Serbian Film - Terror Sem Limites

Na semana passada, já havia comentado a censura à produção A Serbian Film - Terror sem Limites que, após ter sua exibição vetada no Rio teve a única cópia em 35mm disponível no Brasil apreendida pela Justiça [entenda o caso aqui].

É um caso grave de censura calcada em argumentos falaciosos. Não se trata de defender esse ou aquele filme, mas sim o direito de escolha do espectador em assistir ou deixar de assistir o que lhe aprazir. Quando temos um filme que não comete filme algum, é o espectador o senhor da decisão.

Como esse episódio não pode passar em branco, teci um comentário um pouco mais aprofundado sobre a censura ao A Serbian Film - Terror Sem Limites. O texto está no Cineclick [leia aqui a íntegra].

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Associação Brasileira de Críticos de Cinema repudia veto a filme sérvio de terror

Criada há uma semana, após um ano e meio de discussões e reuniões com profissionais de todo o Brasil, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) tem como primeiro gesto a divulgação de uma nota de repúdio ao veto à exibição de A Serbian Film – Terror Sem Limites, que tinha uma sessão marcada para o próximo sábado (23/7) no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal no Rio de Janeiro.

“A Abraccine defende a liberdade de expressão cinematográfica e o direito de os espectadores interessados assistirem aos filmes que lhes convêm, acreditando não caber a instituições públicas ou privadas a definição sobre o que deve ou não ser visto.

A responsabilidade sobre programação e observação à classificação etária de filmes apresentados num festival de cinema é da organização do evento, devendo a ela serem dirigidas eventuais questões controversas, sem, para isso, ser utilizado o ato de censura prévia (inexistente no país) a um determinado trabalho artístico”, diz um trecho do texto da Abraccine.

A Serbian Film – Terror Sem Limites foi exibido no sábado passado aqui no I Festival Internacional Lume de Cinema, em São Luís do Maranhão. Antes disso, passou também nos Estados Unidos (South by Southwest), Canadá (Fantasia), Espanha (Festival de Sitges) e Portugal (Fantasporto).

Saiba mais sobre o veto ao filme neste link e leia abaixo a íntegra da nota da Abraccine:

A Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema repudia o veto à projeção do longa-metragem A Serbian Film – Terror sem Limites, do diretor sérvio Srdjan Spasojevic, presente na programação do RioFan – Festival de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro.

O filme seria exibido pelo RioFan na sala Caixa Cultural. Porém, os organizadores do festival foram obrigados a retirá-lo da programação por decisão da diretoria da Caixa Econômica Federal, conforme nota divulgada pela assessoria de imprensa do banco, sob alegação de que a instituição “entende que a arte deve ter o limite da imaginação do artista, porém nem todo produto criativo cabe de forma irrestrita em qualquer suporte ou lugar”.

Em resposta, a organização do RioFan se disse “contra qualquer forma de censura” e informou que todos os filmes selecionados para o festival foram avaliados por órgãos oficiais competentes e têm classificação etária de 18 anos.

A Abraccine defende a liberdade de expressão cinematográfica e o direito de os espectadores interessados assistirem aos filmes que lhes convêm, acreditando não caber a instituições públicas ou privadas a definição sobre o que deve ou não ser visto.

A responsabilidade sobre programação e observação à classificação etária de filmes apresentados num festival de cinema é da organização do evento, devendo a ela serem dirigidas eventuais questões controversas, sem, para isso, ser utilizado o ato de censura prévia (inexistente no país) a um determinado trabalho artístico.

Registramos ainda que A Serbian Film já teve pelo menos outras duas exibições anteriores ao RioFan: no I Festival Internacional Lume de Cinema (São Luís, no Maranhão) e no VII Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico (Porto Alegre, no Rio Grande do Sul).

Por esta nota, deixamos ainda claro que a Abraccine não está defendendo um trabalho ou um festival em específico, mas um princípio: o de um filme poder ser assistido e avaliado pelo espectador com liberdade.

ABRACCINE
Associação Brasileira de Críticos de Cinema

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Febre do Rato vence Paulínia; O Palhaço come pelas bordas

-- de Paulínia

Podemos não concordar que Febre do Rato é o Melhor Filme do Festival de Paulínia. É meu preferido, mas concordo que tanto O Palhaço quanto Trabalhar Cansa também mereciam o prêmio de R$ 250 mil.

Mas certamente o filme de Claudio Assis foi o grande acontecimento de Paulínia. No final, levou oito estatuetas Menina de Ouro. Já a produção de Selton Mello venceu quatro, sendo em duas categorias vitais (Direção e Roteiro).

No geral, a premiação surpreendeu. Não imaginava que a produção de Recife levaria quase tudo. Mas os comentários ficam para amanhã, com mais serenidade. Por enquanto, vale o registro com a lista de todos os vencedores, disponível neste link.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Os curtas publicitários de Paulínia

-- de Paulínia

Três dias de competição e uma das mais mal sucedidas seleções de curtas-metragens entre os grandes festivais de cinema nos últimos anos. Após a exibição de seis produções, digo que temos apenas um Filme em letra maiúscula: Tela, de Carlos Nader, interessante ponto de interrogação no próprio formato e em como colocá-lo para o público na sala de cinema, não só em festivais.

Fora esse, restam boas intenções (A Grande Viagem e O Cão) que não escapam de um discurso moralista, ou conteúdo audiovisual regado de toques menos (Trocam-se Bolinhos por Histórias de Vida) ou mais (Café Turco e Polaroid Circus) publicitários. Vendem-se ideias simpáticas, no caso do primeiro filme, ou superficialmente políticas, no caso do segundo.

À exceção do filme de Nader, todos contam histórias com começo, meio e fim, sem percalços, terminando com uma lição de moral. Todos com tique da publicidade, enquadramentos simétricos, montagem esperta, iluminação horrivelmente asséptica (que em Trocam-se Bolinhos é berrante). O mais estranho é certamente Polaroid Circus [foto] em que uma belíssima mulher passeia pelas ruas de Paris tirando fotos e se relacionando com a cidade.

No papel, parece até interessante, mas na telona torna-se um longo comercial de vários produtos: lingerie, cartão postal de uma cidade, fotografia de moda, maquiagem, da modelo e por aí vai. É realmente estranho um filme como esse num festival de cinema como o de Paulínia, que atrai tantas atenções.

Se até a quinta-feira a seleção de curtas-metragens continuar tão inferior à de longas, algo precisará ser repensado em 2012 em relação à curadoria. No ano passado, Paulínia exibiu grandes curtas (Tempestade e Eu Não quero Voltar Sozinho são alguns deles). Não pode ser problema de safra: desde Tiradentes, que inaugura o calendário de festivais, temos assistido a bons filmes.

Não dá para exibir longas do nível de O Palhaço ou Uma Longa Viagem, que possibilitam várias possibilidades de leitura, ao lado de curtas pífios Polaroid Circus, uma sub-versão marqueteira de A Bela Junie.

*Heitor Augusto viajou à Paulínia a convite do festival e também realiza a cobertura para o Cineclick.

sábado, 9 de julho de 2011

Público delira em O Palhaço Selton Mello

-- de Paulínia

Selton Mello apresentou ontem, sexta (8/7), seu segundo longa-metragem como diretor. O Palhaço superou expectativas de público, testou a organização do festival de cinema, já que cerca de duas mil pessoas foram ao Theatro Municipal para assistir ao filme. Por volta de 1.100 entraram e o restante aguardou para uma segunda sessão à meia-noite.

Como diretor, Selton Mello evoluiu e, acredito, superou a expectativa quanto à principal ressalva a Feliz Natal, seu primeiro filme: um punhado de referências cinematográficas não agrupadas organicamente a serviço de uma produção com alma própria. O Palhaço tem lá suas inspirações cinematográficas – eu enxerguei um Kaurismaki mais caliente, um pouco de Kusturica e até um outro tanto de Felini. Mas essas referências são mais do olhar de quem assiste do que um esforço do filme em citar escolas cinematográficas ou realizadores.

O Palhaço encontra sua verve, que é simpática. O humor sem piadas, o riso em cima do insólito. Piadas ou gags se fazem no picadeiro, pois, fora dele, o filme é sério, apresentando o cômico em associações inesperadas ou comentários deslocados de um contexto (daí enxergar Kaurismaki, exemplificado numa maravilhosa cena de Selton, o protagonista, com o ventilador).

O público delirou. Sem exageros. Riram demais da conta, como diriam os mineiros. O filme tem muito carisma e é solar, diferente de Feliz Natal – sem juízo de valor nessa colocação. Quando O Palhaço estrear no final de agosto, voltarei com mais calma ao filme, sem essa tradicional correria de festival e comentários apressados.

En passant, gosto muito da metáfora a que o filme recorre para existir: o desejo de um ventilador para amenizar o calor martirizante da estrada. Outro breve comentário: a trilha de Plínio Profeta, que já havia escrito as músicas de Feliz Natal, é bem interessante. Quando ouço as composições dele em ambos os filmes, penso na mesma pungência e lastro de trabalhar com amplos registros musicais que vejo em Alexandre Desplat. As elipses na parte do final do filme também são um ótimo recurso para falar muito e dizer pouco.

Em suma, O Palhaço tem alma.

*O repórter viajou a convite do Festival de Paulínia.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Serge Gainsbourg, heroica trajetória

Estreia na próxima sexta-feira (8/7) a cinebiografia de Serge Gainsbourg. "Cinebiografia" não é uma classificação condizente com este filme, sejamos sinceros. Trata-se de um filme que, em vez de privilegiar os fatos, prefere a fantasia, a transposição de um universo mítico e imaginário para o cinema.

Prevejo que o público que gostou de filmes como Piaf - Um Hino ao Amor ou Ray não deverá simpatizar com Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres. Os dois primeiros flertam com o registro trágico: a francesa viveu uma torrente de desgraças, enquanto o norte-americano se encaixou, no cinema, como uma história de superação.

Gainsbourg é um devasso, boêmio. Joann Sfar, o diretor que sobrevive como quadrinista e estreou na direção de cinema, fez um filme sobre projeções, especialmente a do medo de um menino judeu na França ocupada pelos nazistas e um fantasioso alter-ego que o atira em direção às mulheres. Procurar por uma referência ao legado de Gainsbourg para a cultura pop no filme de Sfar é um erro.

Já tem até leitor do IMDB reclamando disso. Desculpe-me, mas Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres não é matéria jornalística, mas cinema. E felizmente temos um filme que não tenta enquadrar o artista, mas deixá-lo escapar pelas bordas, transbordar a caretice.

Como au revoir, deixo Serge Gainsbourg cantando Aux Armes et caetera, sua versão em reggae para A Marselhesa, o hino francês.