sábado, 9 de julho de 2011

Público delira em O Palhaço Selton Mello

-- de Paulínia

Selton Mello apresentou ontem, sexta (8/7), seu segundo longa-metragem como diretor. O Palhaço superou expectativas de público, testou a organização do festival de cinema, já que cerca de duas mil pessoas foram ao Theatro Municipal para assistir ao filme. Por volta de 1.100 entraram e o restante aguardou para uma segunda sessão à meia-noite.

Como diretor, Selton Mello evoluiu e, acredito, superou a expectativa quanto à principal ressalva a Feliz Natal, seu primeiro filme: um punhado de referências cinematográficas não agrupadas organicamente a serviço de uma produção com alma própria. O Palhaço tem lá suas inspirações cinematográficas – eu enxerguei um Kaurismaki mais caliente, um pouco de Kusturica e até um outro tanto de Felini. Mas essas referências são mais do olhar de quem assiste do que um esforço do filme em citar escolas cinematográficas ou realizadores.

O Palhaço encontra sua verve, que é simpática. O humor sem piadas, o riso em cima do insólito. Piadas ou gags se fazem no picadeiro, pois, fora dele, o filme é sério, apresentando o cômico em associações inesperadas ou comentários deslocados de um contexto (daí enxergar Kaurismaki, exemplificado numa maravilhosa cena de Selton, o protagonista, com o ventilador).

O público delirou. Sem exageros. Riram demais da conta, como diriam os mineiros. O filme tem muito carisma e é solar, diferente de Feliz Natal – sem juízo de valor nessa colocação. Quando O Palhaço estrear no final de agosto, voltarei com mais calma ao filme, sem essa tradicional correria de festival e comentários apressados.

En passant, gosto muito da metáfora a que o filme recorre para existir: o desejo de um ventilador para amenizar o calor martirizante da estrada. Outro breve comentário: a trilha de Plínio Profeta, que já havia escrito as músicas de Feliz Natal, é bem interessante. Quando ouço as composições dele em ambos os filmes, penso na mesma pungência e lastro de trabalhar com amplos registros musicais que vejo em Alexandre Desplat. As elipses na parte do final do filme também são um ótimo recurso para falar muito e dizer pouco.

Em suma, O Palhaço tem alma.

*O repórter viajou a convite do Festival de Paulínia.

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