segunda-feira, 30 de julho de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge - Crítica

Christian Bale é o Homem-Morcego que sai da reclusão para salvar Gotham City

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma frustração para quem viu O Cavaleiro das Trevas como uma possibilidade em se fazer cinema no seio de uma indústria medíocre, usando das convenções do gênero de ação para oferecer leituras sobre o herói em conflito, deixando abertas as portas para diálogos entre a natureza de Bruce Wayne, sua máscara de Homem-Morcego e os arquétipos do herói da Tragédia.


O Cavaleiro das Trevas é um filme que dá vontade de falar sobre, de dividir leituras. Para o novo Batman, porém, uma prosa curta basta. Irônico isso porque o filme que chega agora aos cinemas é mais grandiloquente que seu antecessor. Pena que é só mais um filme de ação, não transcende.

A natureza do conflito do Homem-Morcego é uma possível explicação. Em O Cavaleiro das Trevas, o herói nos mostra que não existe o heroísmo puro e íntegro, que a escuridão/maldade faz parte de todos nós. Por trás das explosões e aparatos tecnológicos, estava um filme que flertava a todo momento com a loucura, o desequilíbrio e o caos – cujo motor era o Coringa de Heath Ledger. O filme é um mergulho no que há de pior, no que a máscara esconde.

No novo filme, o que guia a história é o senso de dever de proteger Gotham, mesmo que isso signifique renunciar à própria felicidade. Para compensar, o roteiro dos irmãos Nolan investe num arsenal de subtramas. Pior: filma tudo isso tentando fazer jus ao prometido antes mesmo de filme existir, um “desfecho épico”.

Continue lendo a crítica de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge na Revista Interlúdio.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O que Honoré quis com Bem Amadas?

Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve: filha e mãe em Bem Amadas

Vi Bem Amadas ontem. Até agora não entendi o que Christophe Honoré quis com esse filme. Até a primeira metade, estava achando tudo uma imensa bobagem. Na outra metade, achei as escolhas de direção de Honoré um acúmulo de equívocos.

Primeiro: filmar em scope. Não me lembro de nenhum plano em que o scope se justificasse. OK, existem alguns close ups, mas outro formato daria conta. O fato é que não vejo a horizontalidade do scope sendo aproveitada com decência, muito menos a profundidade de campo.

Segundo: músicas. Por que os personagens se comportam como num musical? Qual é o por quê? Em Jacques Demy, há toda uma composição de mise-en-scène e os números musicais “felizes” se contrapõem com a tristeza latente dos personagens. Em Ozon, especialmente em Potiche, é um comentário sobre o próprio ar pastiche do filme, mais um elemento de “falsidade” num filme “falso”. E em Bem Amadas qual é o propósito? Atenuar o conflito? Mas atenuar o que se o filme sequer permite um conflito, de fato?

Alguém me conta o porquê?

Terceiro: a subtrama dos sapatos. Honoré gasta um tempo precioso do Ato I mostrando como os sapatos novos de Madeleine são elementos constituidores da personagem. Mas depois de reforçar isso, os abandona inteiramente no desenvolvimento do filme e só retoma na rabeira da resolução?

Quarto: o blasé. Por que busca-se um tom blasé nas personagens? Supostamente, há uma certa profundidade nas relações humanas que o filme traça, mas os atores se portam como se tudo aquilo fosse uma bobagem despretensiosa. Se é uma bobagem, por que pôr o rosto de Catherine Deneuve ou Chiara Mastroianni em primeiríssimo plano denotando uma tristeza? Se é despretensioso, por que tenta ser sério em certos momentos (como nos diálogos “profundos” de Catherine Deneuve com Louis Garrel)?

Quinto: Louis Garrel. Por que apenas nos filmes em que Louis é dirigido pelo pai, Philippe, dá para acreditar em seus personagens? Por que Honoré ou Xavier Dolan (Amores Imaginários) só dão a ele personagens que se escondem atrás de uma máscara “não estou nem aí para a vida”?

Sexto: por que parte da trama se passa na antiga Tchecoslováquia? Por que não no Turcomenistão? Ou na Ucrânia? Por um desejo de trabalhar com Milos Forman? Estou implicando com isso como birra, mas é só um questionamento a mais das escolhas do filme que não se justificam – porque ocupação comunista ocorreu em vários outros países, não?

Bem Amadas é mais um filme de Honoré que eu saio da sessão apenas com uma pergunta: por quê?

Textos relacionados:
Lola, de Jacques Demy

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Festival de Brasília 2012, os selecionados



Tremenda surpresa a seleção do Festival de Brasília de 2012, que acaba de ser anunciada. Após uma edição desinteressante como a do ano passado, em que se mudou o rumo apontado em 2011, Brasília apresenta um conjunto filmes -- especialmente os longas -- com um potencial que faz jus à importância do festival candango.

Destaque para a presença maciça de produções pernambucanas na seleção: três longas de ficção (metade da competição), um longa documental e outros três curtas. Gabriel Mascaro (Avenida Brasília Formosa, Um Lugar ao Sol), por exemplo, emplacou um longa e um curta na seleção.

O potencial tanto da seleção do Festival de Brasília quanto o de Gramado (que surpreendentemente também voltou a despertar algum interesse apenas pelos filmes exibidos, não pelo frio, turismo etc) refletem, suponho, a saída do Festival de Paulinia do calendário. Brasília e Gramado, que andavam na berlinda, de repente voltam a chamar a atenção.

Abaixo, a seleção do Festival de Brasília 2012:


‎45º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO

FILMES SELECIONADOS

Mostra competitiva de longa-metragem ficção
Comissão de seleção:
Cibele Amaral - diretora, atriz, roteirista e produtora.
José Geraldo Couto - Jornalista, crítico de cinema e tradutor.
Marcio Curi - cineasta e produtor de cinema.
Pedro Butcher - jornalista e crítico de cinema e editor do site Filme B.
Sérgio Borges - cineasta

LONGAS-METRAGENS DE FICÇÃO SELECIONADOS:

1. A memória que me contam, de Lucia Murat, 95min, RJ
2. Boa sorte, meu amor, de Daniel Aragão, 95min, PE
3. Eles voltam, de Marcelo Lordello, 100min, PE
4. Era uma vez eu, Verônica, de Marcelo Gomes, 90min, PE
5. Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro, 80min, RJ
6. Noites de Reis, de Vinicius Reis, 93min, RJ

Mostra competitiva de longa-metragem documentário
Comissão de seleção:
Ana Paula Sousa - jornalista especializada em cultura e crítica de cinema.
André Luiz Oliveira - cineasta e músico.
Guto Pasko - cineasta e roteirista de cinema e TV.
João Jardim - cineasta
Leonardo Sette – cineasta

A comissão de seleção gostaria de registrar que um dos critérios utilizados para a seleção dos seis filmes foi privilegiar o ineditismo.

LONGAS-METRAGENS DE DOCUMENTÁRIO SELECIONADOS:

1. Doméstica, de Gabriel Mascaro, 85min, PE
2. Elena, de Petra Costa, 82min, SP
3. Kátia, de Karla Holanda, 74min, PI
4. Olho nu, de Joel Pizzini, 101min, RJ/MT
5. Otto, de Cao Guimarães, 70min, MG
6. Um filme para Dirceu, de Ana Johann, 80min, PR



Mostra competitiva de curta ficção e Mostra competitiva de curta Animação
Comissão de seleção:
Felipe Joffily - cineasta
Fernando Mourão Gutiérrez – diretor de filmes de animação e professor do IESB
Marcya Reis – jornalista, roteirista e documentarista na TV Câmara.
Rafael Urban - cineasta, roteirista e produtor.
Thomas Larson - chargista e ilustrador e diretor de desenho animado.

CURTAS-METRAGENS DE FICÇÃO SELECIONADOS:

1. A Mão que afaga, de Gabriela Amaral Almeida, 19min, SP
2. Canção para minha irmã, de Pedro Severien, 18min, PE
3. Eu nunca deveria ter voltado, de Eduardo Morotó, Marcelo Martins Santiago e Renan Brandão, 15min, RJ
4. Menino peixe, de Eva Randolph, 17min, RJ
5. Vereda, de Diego Florentino, 20min, PR
6. Vestido de Laerte, de Claudia Priscilla e Pedro Marques, 13min, SP


CURTAS-METRAGENS DE ANIMAÇÃO SELECIONADOS:

1. Destimação, de Ricardo de Podestá, 13min, GO
2. Linear, de Amir Admoni, 6min, SP
3. Mais Valia, de Marco Túlio Ramos Vieira, 4min22, MG
4. O Gigante, de Luís da Matta Almeida, 10min35, SC
5. Phantasma, de Alessandro Corrêa, 10min20, SP
6. Valquíria, de Luiz Henrique Marques, 8min32, MG

Mostra competitiva de curta-metragem documentário
Comissão de seleção:
Beth Formaggini - documentarista, pesquisadora e produtora audiovisual.
Caio Cavechini - jornalista e documentarista.
Ciro Inácio Marcondes - crítico e professor de cinema

CURTAS-METRAGENS DE DOCUMENTÁRIO SELECIONADOS:

1. A cidade, de Liliana Sulzbach, 15min, RS
2. A ditadura da especulação, de Zé furtado, 10min20, DF
3. A guerra dos gibis, de Thiago Brandimarte Mendonça e Rafael Terpins, 19min30, SP
4. A onda traz, o vento leva, de Gabriel Mascaro, 24min47, PE
5. Câmara escura, de Marcelo Pedroso, 25min, PE
6. Empurrando o dia, de Felipe Chimicatti, Pedro Carvalho e Rafael Bottaro, 25min, MG


sábado, 14 de julho de 2012

Na Estrada, de Walter Salles - Crítica

Kristen Stewart em uma das raras cenas libertárias de Na Estrada, de Walter Salles


Há um descompasso entre o que Na Estrada é e o que ele descreve. Isso porque Walter Salles optou por uma abordagem mais sóbria para um momento, e uma geração, que representa o oposto da sobriedade, do controle, do estar contido. Essa disritmia faz com que o filme seja sonolento e artificial.

Adaptar On The Road, de Jack Kerouac, obviamente não é fácil. Não apenas porque o livro ganhou um status de obra-prima, mas principalmente por ser paradigmático como linguagem. Falar de On The Road é acessar um universo simbólico que toca muita gente. Pensar numa leitura cinematográfica do livro é lembrar também das tentativas frustradas, incluindo a que seria feita por Coppola, Gus Van Sant e Johnny Depp no começo dos anos 1990.

Pois bem, a memória que se tem do livro de Kerouac é de uma obra libertária. E o filme de Walter Salles tem qualidades, mas “libertário” não está entre elas. Esse é o mais sério ruído.

Continue lendo a crítica de Na Estrada na Revista Interlúdio.

sábado, 7 de julho de 2012

Sangue do Meu Sangue: por que você não viu esse filme ainda?


A família que faz tudo em Sangue do Meu Sangue

A ausência de Sangue do Meu Sangue nas salas de cinema comerciais só comprova o pacto de covardia: do distribuidor, que não se arrisca a comprar um filme desses; do exibidor, que quando tem um filme desses em mão não o segura em cartaz para dar sobrevida com o boca a boca; e do público, cada vez mais acomodado, acostumado e viciado num cinema coxinha e bundão.

São dois basicamente os motivos que me levam a afirmar, com muita tranquilidade, que Sangue do Meu Sangue, é o melhor longa contemporâneo que assisti nesta primeira metade de 2012 -- A Cidade é Uma Só? vem atrás nesta lista.

Primeiro: vai filmar bem e com coerência lá longe! Todo o espaço claustrofógico, os planos que comportam simultaneamente dois ou três enredos distintos, os personagens que se amontoam um no outro e nos confundem, elementos que no começo causam transtorno, são inteiramente justificáveis. Não se incomoda por gratuidade: faz-se por coerência ao que se conta e como se conta.

Segundo: enquanto muito do que vemos no cinema é medroso em ir até o fim, em dizer o que precisa ser dito, em aproximar-se da merda e não fugir (não à toa uma personagem pisa na merda numa das cenas do filme), Sangue do Meu Sangue tem coragem. E coragem, convenhamos, falta à produção que entra em cartaz (se você dúvida, pegue no Filme B a relação de filmes lançados em 2012 e veja se estou exagerando).

O fato é que fazia tempo em que não via um filme contemporâneo que mantém a regularidade na qualidade de seu rigor cênico. Além de belos por si só, os enquadramentos divididos e, repito, o amontoamento de personagens (lembro-me de uma cena em que se trabalha três situações diferentes apenas com a profundidade de campo, e todas no mesmo nível de importância) numa casa pequena, estão unicamente a serviço do filme.

Se passou em branco no circuito comercial, sorte que mostras como a Olhar de Cinema (Curitiba) ou retrospectivas como Cinema Português Contemporâneo (São Paulo), que termina no domingo na Caixa Cultural, abriram janelas para o longa de João Canijo.

O que me leva a dizer que, se você passar 2012 sem se submeter à potência de Sangue do Meu Sangue, você é a mulher do padre. Mesmo que saia do filme sem gostar dele.

PS: com a estreia de O Incrível Homem Aranha nesta sexta (6/7) em 928 salas, o circuito está obstruído com este e com outro filme, A Era do Gelo 4. Apenas dois filmes ocupam quase todo o circuito exibidor brasileiro.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Gilda, a diva - em vídeo

Rita Hayworth como Gilda: "Are you Decent, Gilda?". "Me?".


Momento autojabá: para os que não tiveram a oportunidade de assistir a Série Divas sobre Rita Hayworth, que foi ao ar com minha participação na sexta-feira (29), abaixo o vídeo com a entrevista que dei a Ronnie Von sobre a atriz de Gilda, Vidas Separadas, A Dama de Xangai...

Parte I:



Parte II:



Textos relacionados:Marilyn Monroe, adorável pecadora?Elizabeth Taylor, a última das estrelas inalcançáveis

terça-feira, 3 de julho de 2012

Dossiê Maurice Pialat na Revista Interlúdio

Sandrine Bonnaire em Aos Nossos Amores, filme que fez dela uma atriz

A Revista Interlúdio, projeto que colaboro com o maior carinho, acaba de publicar um completo dossiê da obra de Maurice Pialat (Aos Nossos Amores, Sob o Sol de Satã, Polícia).

São quatro análises amplas, além de filmografia completa comentada. Ensaios de Bruno Cursini, Cléber Eduardo, Calac Nogueira, Cesar Zamberlan, Fernando Oriente, Fernando Watanabe, Francis Vogner dos Reis, Leandro Cesar Caraça, Luis Carlos Oliveira Jr., Paulo Santos Lima e Sergio Alpendre.

O Dossiê Pialat está tão lindo e rico quanto os de Coppola e Hitchcock.

Convido vocês à leitura! O link: http://www.revistainterludio.com.br/?p=3549

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Filme Demência, Fausto e Sokúrov

Ênio Gonçalves, o Fausto de Filme Demência

Num gesto interessante, a Imovision e a Reserva Cultural, de Jean Thomas Bernardini, programaram uma brevíssima retrospectiva de filmes que adaptam ou se inspiram no mito de Fausto, consolidado na obra de Göethe. O gancho é o lançamento em circuito de Fausto, de Sokúrov.

O longa que abriu a retrospectiva na noite deste domingo (será por uma semana em horário fixo, 21h20) foi Filme Demência, de Carlão Reichenbach, que como vocês sabem morreu em 14 de junho.

São 25 anos deste filme. Há aspectos que parecem datados -- por exemplo, a ambientação do próprio mito do homem que flerta com o diabo num momento de crise profunda da economia brasileira, os tempos de inflação astronômica.

Por outro lado, algo de muito especial ainda sobrevive: a habilidade que Carlão tinha para aliar sofisticação cinematográfica, citações eruditas e comédia simples e pura, pá-pum, sem enrolação. E como o cinema nunca deixa de bater ponto em seus filmes! Jairo Ferreira encorporando Dreyer é de lascar de rir.

Foi gostoso ver o filme na pequena sala 4 do Reserva. Creio que a Lygia, sua esposa, tenha gostado de ver o lugar cheio.

Para Roma com Amor - Crítica

Alec Baldwin, o anjo do novo filme do Woody Allen


Para Roma com Amor é o reflexo invertido de Meia-noite em Paris. Porém, menos inspirado. Muito menos. Talvez o mais fraco filme de Woody Allen desde que começou a filmar na Europa com Match Point.

Seu cinema continua falando do diapasão entre o que desejamos ter, mas o que temos de fato; o que queremos ser contraposto ao que somos; o que sonhamos comparado com aonde podemos chegar. Entre o encantamento da fantasia e o concreto da vida real.

A solução, desta vez, é outra. O protagonista solitário de Meia-Noite em Paris “inventou” uma cidade paralela onde conseguisse exercer a fantasia de seu desejo – “ir” ao passado e dialogar com os verdadeiros criadores, Dalí, Buñuel, Fitzgerald. Depois de materializar seu desejo, Gil, o protagonista, descobre o óbvio: toda fantasia da realidade jamais irá corresponder à realidade. Com isso, ele, o personagem, e nós, os espectadores, aprendemos uma lição no cinema.

A lição em Para Roma com Amor é a mesma: que a projeção jamais será igual ao que existe de fato, ao verdadeiro. Mas se no seu filme anterior havia uma escapatória (a fantasia de uma outra cidade e a invenção de um tempo passado interferindo no presente), já em Para Roma com Amor a Cidade Eterna não oferece encantamento como elemento cênico. A paisagem italiana no filme não passa de cartão-postal, fornecedora de desculpas no roteiro para justificar certos personagens.

Continue lendo a crítica de Para Roma com Amor na Revista Interlúdio.