sábado, 7 de julho de 2012

Sangue do Meu Sangue: por que você não viu esse filme ainda?


A família que faz tudo em Sangue do Meu Sangue

A ausência de Sangue do Meu Sangue nas salas de cinema comerciais só comprova o pacto de covardia: do distribuidor, que não se arrisca a comprar um filme desses; do exibidor, que quando tem um filme desses em mão não o segura em cartaz para dar sobrevida com o boca a boca; e do público, cada vez mais acomodado, acostumado e viciado num cinema coxinha e bundão.

São dois basicamente os motivos que me levam a afirmar, com muita tranquilidade, que Sangue do Meu Sangue, é o melhor longa contemporâneo que assisti nesta primeira metade de 2012 -- A Cidade é Uma Só? vem atrás nesta lista.

Primeiro: vai filmar bem e com coerência lá longe! Todo o espaço claustrofógico, os planos que comportam simultaneamente dois ou três enredos distintos, os personagens que se amontoam um no outro e nos confundem, elementos que no começo causam transtorno, são inteiramente justificáveis. Não se incomoda por gratuidade: faz-se por coerência ao que se conta e como se conta.

Segundo: enquanto muito do que vemos no cinema é medroso em ir até o fim, em dizer o que precisa ser dito, em aproximar-se da merda e não fugir (não à toa uma personagem pisa na merda numa das cenas do filme), Sangue do Meu Sangue tem coragem. E coragem, convenhamos, falta à produção que entra em cartaz (se você dúvida, pegue no Filme B a relação de filmes lançados em 2012 e veja se estou exagerando).

O fato é que fazia tempo em que não via um filme contemporâneo que mantém a regularidade na qualidade de seu rigor cênico. Além de belos por si só, os enquadramentos divididos e, repito, o amontoamento de personagens (lembro-me de uma cena em que se trabalha três situações diferentes apenas com a profundidade de campo, e todas no mesmo nível de importância) numa casa pequena, estão unicamente a serviço do filme.

Se passou em branco no circuito comercial, sorte que mostras como a Olhar de Cinema (Curitiba) ou retrospectivas como Cinema Português Contemporâneo (São Paulo), que termina no domingo na Caixa Cultural, abriram janelas para o longa de João Canijo.

O que me leva a dizer que, se você passar 2012 sem se submeter à potência de Sangue do Meu Sangue, você é a mulher do padre. Mesmo que saia do filme sem gostar dele.

PS: com a estreia de O Incrível Homem Aranha nesta sexta (6/7) em 928 salas, o circuito está obstruído com este e com outro filme, A Era do Gelo 4. Apenas dois filmes ocupam quase todo o circuito exibidor brasileiro.

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