A preparação do acasalamento cibernético em Holy Motors |
O maior desafio que Holy Motors pede a seu espectador é disposição para percorrer caminhos que não os considerados lógicos, explicáveis e naturais no cinema. Apenas com esse espírito, livre e corajoso, que será possível viver o filme, lidar com ele frontalmente, seja para exaltá-lo ou desmascará-lo.
O alicerce de Holy Motors é inserir-se no próprio cinema, oferecendo, entre as diferentes leituras possíveis, uma interpretação de que aborda, de maneira extasiante, a oportunidade única que o cinema dá de viver outras vidas e histórias que não as nossas, possibilidade compartilhada tanto por quem faz cinema quanto por quem vê cinema: reviver a cada filme, a cada cena, a cada plano, a cada gesto belo.
Mas até mesmo dentro dessa leitura não é aconselhável um olhar cartesiano. Pois essa chance de viver vidas outras pode ser tomada tanto como exaltação das possibilidades do cinema quanto como crítica a uma sociedade virtualizada e de avatares, que adota personagens diversos em diferentes momentos para recuperar o prazer do instante inicial.
Ou seja, se fecharmos uma única leitura do filme, um rio de possibilidades vai passar do lado, imperceptível. Mas não seria essa justamente a graça do cinema e da cinefilia, (re)descobrir um filme a cada revisão? Abrir outros canais de relacionamento com ele, expandindo ou negando os anteriores? Viver um filme além do esgotamento instantâneo do “gostei” ou “não gostei”?
Continue lendo a crítica de Holy Motors na Revista Interlúdio.
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