segunda-feira, 8 de abril de 2013

É Tudo Verdade - Breves Notas



A situação da Rússia, a julgar pelo retrato documental de Nascido na URSS – Geração de 28, em competição no É Tudo Verdade, está muito pior do que se imaginava. Nas três horas e meia de filme assistimos a dezenas de jovens de etnias distintas, mas que tem em comum a idade: estão com 28 anos, ou seja, tinham sete quando a União Soviética ruiu.

Os personagens foram filmados aos 7, aos 14, aos 21 e agora aos 28. Suas ideias mudam ao longo de cada ciclo, o que é normal. Agora, às portas da maturidade e apesar das diferenças étnicas, as dezenas de personagens pensam muito, mas muito parecido: olham para o passado com uma postura comme ci, comme ça, dizem não entender a liberdade – especialmente a sexual –, não guardam grandes aspirações com o futuro, parecem não enxergar o que se passa para fora dos muros russos.

Não necessariamente uma alienação, mas algo anterior: uma desorientação de quem decorou o que pensar a respeito de um mundo que, repentinamente, sumiu e foi substituído por outro híbrido, contraditório, em que água e óleo aparentemente se misturam. Sentimento que uma personagem ilustrou acidentalmente: “Fico feliz apenas que a Rússia exista”.

Costumo pensar no Brasil como uma tarefa complicada de se explicar. Após assistir a Nascido na URSS – Geração de 28 neste ano, além de ter visto dos os documentários de Marina Goldovskaya (que ganhou retrospectiva em 2011), saio com a sensação de que quanto mais filmes vejo sobre a realidade russa, menos a entendendo.

Constatação que vem acompanhada de outra, bizarra e talvez equivocada: que Vladimir Putin não é acidente de percurso, mas o reflexo de um povo. Se tomarmos o microcosmo de Nascido na URSS – Geração de 28 como parâmetro, a constatação é ainda mais desesperadora: que os russos, desorientados, merecem Putin.




Ozualdo Candeias e o Cinema não tem esse título à toa. Acho positivo como o filme se relaciona com as imagens dos filmes de Candeias com tanta propriedade e, além disso, afirme com veemência que Candeias vem de um lugar com nome, pessoas e dinâmica de socialização: Boca do Lixo.

Por investir basicamente em ricos materiais de arquivo e montagem, o documentário de Eugênio Puppo já demonstra aspirar um pouco mais que a média dos docs “sobre a obra de alguém”. Candeia – sua voz, pois raramente seu corpo é visto – fala, explica, contextualiza e problematiza. Mas o doc não perde de vista algo simples: as imagens feitas por Candeias são muito fortes. Ao vê-las em Ozualdo Candeias e o Cinema penso: deixe-as a falar. Felizmente o filme deixa.

E aí saltam a magnitude do plano, especialmente de A Margem, Meu Nome é Tonho e A Herança. Talvez acidentalmente, talvez propostialmente, o documentário, ao deixar as imagens de Candeias falarem, nos lembra: a imagem cinematográfica está aí para expressar, não para comunicar.

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