quarta-feira, 28 de abril de 2010

A história do cinema chileno I

Numa viagem a Campinas em 2008, passei por um restaurante que tinha uma livraria na saída. Comprei dois livros: a biografia de Truffaut e um outro livro bem baratinho e destruído. “Historia del Cine Chileno – 1902/1966”.

Mario Godoy Quezada realizou o primeiro trabalho confiável de compilação de todos os filmes produzidos no Chile até metade da década de 60. Infelizmente, não analisa as produções ou procura aproximações estéticas entre elas. Seu objetivo é levantar tudo que foi feito ano a ano, quem dirigiu, quem estrelou, qual foi a repercussão.

No meio disso, há umas histórias divertidas que ilustram uma mistura de amadorismo e vontade de fazer cinema – especialmente no período mudo, o mais prolífico no Chile. Um dos causos ocorreu em 1924, que transcrevo, com tradução livre, aqui:

“QUANDO LUIZ ROMERO PEDIU AJUDA

Luis Romero y Z protagonizou um episódio curioso em Valparaíso quando decidiu tornar-se produtor e filmar “La Tarde era Triste”, baseada na popular canção cujos primeiros versos dizem: La tarde era triste, la nieve caía, un blanco sudario los campos cubría. Ao terminar de filmar o segundo rolo, já não tinha mais dinheiro para filmar. Então, anunciou a estreia e, ao final da projeção do segundo rolo, ele subiu ao palco e surpreendeu ao público, que havia ido ao cinema assistir a uma película completa. Romero y Z explicou as dificuldades econômicas que tinham que vencer os cineastas chilenos, utilizando sua própria história como exemplo. Disse que naquele exato momento não tinha mais nenhum peso para continuar a rodar, que só tinha conseguido filmar o que o público acaara de ver e que, para terminar, precisaria de financiamento. Há versões diferentes. Uns dizem que ele encontrou o rico necessário para soltar a verba, enquanto outros dizem que ele desceu do palco e passou o chapéu para os espectadores, disposto a receber de imediato a colaboração de um público ainda espantado com o que tinha acabo de acontecer”.

domingo, 25 de abril de 2010

Santo André e Santos

Deixo para o PVC fazer sua prancheta, o Juca escrever um texto de frases curtas e potentes, ou o Xico Sá comentar com aquele ar de inusitado que lhe é característico ou o Zanin - santista roxo - buscar o gancho mais inusitado.

Em relação ao primeiro jogo da final do Paulistão, só posso dizer "muito obrigado" a Santo André e ao Santos pelo futebol. Um dos melhores jogos que já tive oportunidade de assistir.

O que será da Espanha?

Entre as seleções que irão à Copa deste ano, minha torcida é para a Espanha. Simplesmente, pelo bonito futebol que apresentou tanto nas Eliminatórias quanto na Eurocopa, com um toque de bola claramente inspirado no Barcelona.

Não só torço, como acho que ela já está madura o suficiente para não amarelar novamente. Mas, para um time que pareceria chegar 100% na competição, a luz amarela está acesa.

Torres, que já não vinha fazendo uma grande temporada o Liverpool, está lesionado e, se voltar, será às pressas justamente para a Copa.

Fábregas, em ótima temporada com o médio Arsenal, também está machucado.

Iniesta, que jogou um bolão na Eurocopa, agora é banco de Busquets no Barcelona.

Com o camisa 9 machucado, provavelmente a Fúria jogaria só com um centroavante, David Villa.

O meio-campo teria cinco homens, a critério de Vicente Del Bosque. Marcos Senna na proteção à zaga, Busquets e Xavi Alonso marcando e apoiando, com Xavi Hernandez e Silva na armação - na hipótese de não poder contar com Torres ou Fábregas.

Não deixa de ser um grade meio-campo. Nenhum dos cinco tem medo de trabalhar a bola, sabem marcar - à exceção de Silva - e lançar. Mas só um deles, o baixinho do Valência, tem o recurso do drible.

Não sei se o Torres de hoje seria uma grande ausência do time. Agora, o Fábregas, versão mais jovem de Xavi Hernandez, seria uma baita perda para esse meio-campo técnico.

Recuperação a ele.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pássaros conversam


Estou aqui na redação do Cineclick, neste fim de tarde de quinta. Aqui tem um baita gramado e a janela da redação dá de frente para umas árvores. De repente, vários pássaros começam a piar. A Ana Paula comenta: "poxa, eles estão batendo o maior papo".

Ela tem razão, eles parecem conversar. Um deve estar dizendo que prefere o cinema marginal, o outro o cinema novo.

Mas, no fim, me lembrei novamente do filme do Pasolini, "Gaviões e Passarinhos", nas cenas que Toto (que é um padre em parte do filme) conversa com os voadores. Momentos de poesia do longa, momentos de poesia da vida.

domingo, 4 de abril de 2010

Ainda Pasolini com "Gaviões e Passarinhos"

“Gaviões e Passarinhos” é realmente uma ótima parábola sobre a dominação. O que me espanta no filme do Pasolini é o pessimismo. Ele simplesmente trucida o marxismo para reafirmar, no fim, “assim começa, assim termina, assim continua essa história de gaviões e passarinhos.

Os gaviões são os mais fortes e devoram os passarinhos que se aproximam. É interessante observar o filme, compará-lo com a visão de mundo do neo-realismo e colocar “Gaviões e Passarinhos” ao lado de “Accattone – Desajuste Social”.

Para falar de realidade, Pasolini fez o movimento inverso e foi buscar na alegoria o seu filme. Lá, descobriu que uma parábola é tão poderosa para explicar a humanidade quanto a mitologia. Dali, saiu uma dupla, pai e filho, numa viagem de busca guiados por um corvo, chamado Ideologia, filho da Dúvida e da Consciência.

Não é fácil sair do mundo real pra falar de realidade. Precisa de uma dose louca de imaginação e os pés bem fincados no chão para não perder as afirmações nas quais o filme pretende chegar.

O tema do homem que não se redime e vai sempre destroçar o menor já havia surgido em “Accattone”. Mas, no filme de 1961, Pasolini ainda respirava demais o neo-realismo. Ou seja, planos panorâmicos, locações reais debaixo de muito sol, pouca música, personagens marginais, periferia. Em quase duas horas de filme, o sonho e o incerto aparecem só na última parte do filme, quando o cafetão imagina como será sua morte.

Já em “Gaviões e Passarinhos”, de 1966, o papo é diferente. O começo é quadradinho, comportado e indicaria que Pasolini pediria benção ao neo-realismo. Mas logo depois dos primeiros 15 minutos ele já embarca na parábola.

A realidade não deixou de existir. O filme apenas foi buscar outros instrumentos pra chegar onde queria: reafirmar o pessimismo com a possibilidade de mudança. Melhor: qualquer mudança está travestida em nova forma de dominação.

Discordo e concordo. Mas, não dá pra fugir: o cara sabia filmar e contar uma história, caramba! Só sinto falta de uma coisa: saber mais sobre o momento político italiano para entender por que ele deu uma resposta sem salvação e a atribuiu à essência da humanidade.

Aqui do meu lado, o Gerry diz, “off top of my head”, que a resolução do filme pode ser uma resposta ao momento político italiano, extremamente instável, país fragmentado, uma disputa alucinada de poderes e governos que não duravam. Afinal, a Itália teve 11 primeiros-ministros de 1953 a 1966

Como esse filme desceu no estômago dos italianos na época do lançamento? Como o Glauber de “Barravento” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” reagiria a um filme deste?

Acho que, mesmo com pegadas de direção diferentes (sendo Glauber muito mais teatral), o pessimismo com a ideologia está impregnado nos dois filmes. Em “Terra em Transe”, a esquerda não presta e a direita muito menos. O intelectual é um banana cooptado. O povo está lá para ser explorado.

Eita!

Em tempo: o DVD que tenho aqui em mãos foi lançada pelo Multimedia Group Promoções LTDA. O site indicado na contracapa não funciona. Alguém com mais tempo de estrada conhece essa trupe?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Trailer de "Accattone - Desajuste Social"

No fim de uma sexta-feira extremamente morna, de lojas fechadas e pouquíssima gente na cidade, decidi, depois de descobrir que uma sessão do Reserva Cultural estava lotada, voltar para casa e me enfiar na minha videoteca.

Peguei “Accattone – Desajuste Social”, de 1961, primeiro filme de Pasolini cuja versão em DVD foi lançada em uma cópia bonita da Versátil. Antes de assistir, deixei o trailer rolando e fui jantar. Foi um dos trailers mais estranhos que já vi.

Bem diferente do mar de sangue de “O Iluminado” ou da verborragia e falta de surpresa de qualquer filme comercial contemporâneo – parece até que, em breve, o trailer vai substituir a própria obra, tamanha a quantidade de detalhes revelados em um minuto e meio.

O que me espantou no trailer do filme do Pasolini é o tempo gasto apenas para falar como o filme foi bem recebido pela crítica. Nas palavras do vídeo, “um filme que não precisa de propaganda porque os críticos já o recomendam”.

Wow! Então quer dizer que a função da crítica de cinema é recomendar filmes em vez de debatê-los e despertar olhares? O espectador deve assistir ao filme só porque o crítico disse “amém”? Propaganda e crítica se confundem? Crítica é só mais um elemento na máquina do consumo?

Vejam bem, questões que surgiram a partir de um filme que está mais para “filme de arte” do que “cinema comercial”.

Hoje o tom, me parece, é outro. Excertos de críticas – geralmente os trechos com adjetivos – são apropriados em trailers e materiais de divulgação, porém de maneira mais tímida que em “Accattone – Desajuste Social”.

Porém, não acho que estejamos melhores atualmente. A crítica apenas perdeu força (mas não importância) seja para instigar a discussão ou para orientar o consumo. A propaganda está muito mais sofisticada e diluída e cabe à crítica posicionar-se fora da máquina do marketing de um filme.

Em tempo: como o Youtube não me deixou incorporar o vídeo, o link do trailer está aqui.