domingo, 4 de abril de 2010

Ainda Pasolini com "Gaviões e Passarinhos"

“Gaviões e Passarinhos” é realmente uma ótima parábola sobre a dominação. O que me espanta no filme do Pasolini é o pessimismo. Ele simplesmente trucida o marxismo para reafirmar, no fim, “assim começa, assim termina, assim continua essa história de gaviões e passarinhos.

Os gaviões são os mais fortes e devoram os passarinhos que se aproximam. É interessante observar o filme, compará-lo com a visão de mundo do neo-realismo e colocar “Gaviões e Passarinhos” ao lado de “Accattone – Desajuste Social”.

Para falar de realidade, Pasolini fez o movimento inverso e foi buscar na alegoria o seu filme. Lá, descobriu que uma parábola é tão poderosa para explicar a humanidade quanto a mitologia. Dali, saiu uma dupla, pai e filho, numa viagem de busca guiados por um corvo, chamado Ideologia, filho da Dúvida e da Consciência.

Não é fácil sair do mundo real pra falar de realidade. Precisa de uma dose louca de imaginação e os pés bem fincados no chão para não perder as afirmações nas quais o filme pretende chegar.

O tema do homem que não se redime e vai sempre destroçar o menor já havia surgido em “Accattone”. Mas, no filme de 1961, Pasolini ainda respirava demais o neo-realismo. Ou seja, planos panorâmicos, locações reais debaixo de muito sol, pouca música, personagens marginais, periferia. Em quase duas horas de filme, o sonho e o incerto aparecem só na última parte do filme, quando o cafetão imagina como será sua morte.

Já em “Gaviões e Passarinhos”, de 1966, o papo é diferente. O começo é quadradinho, comportado e indicaria que Pasolini pediria benção ao neo-realismo. Mas logo depois dos primeiros 15 minutos ele já embarca na parábola.

A realidade não deixou de existir. O filme apenas foi buscar outros instrumentos pra chegar onde queria: reafirmar o pessimismo com a possibilidade de mudança. Melhor: qualquer mudança está travestida em nova forma de dominação.

Discordo e concordo. Mas, não dá pra fugir: o cara sabia filmar e contar uma história, caramba! Só sinto falta de uma coisa: saber mais sobre o momento político italiano para entender por que ele deu uma resposta sem salvação e a atribuiu à essência da humanidade.

Aqui do meu lado, o Gerry diz, “off top of my head”, que a resolução do filme pode ser uma resposta ao momento político italiano, extremamente instável, país fragmentado, uma disputa alucinada de poderes e governos que não duravam. Afinal, a Itália teve 11 primeiros-ministros de 1953 a 1966

Como esse filme desceu no estômago dos italianos na época do lançamento? Como o Glauber de “Barravento” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” reagiria a um filme deste?

Acho que, mesmo com pegadas de direção diferentes (sendo Glauber muito mais teatral), o pessimismo com a ideologia está impregnado nos dois filmes. Em “Terra em Transe”, a esquerda não presta e a direita muito menos. O intelectual é um banana cooptado. O povo está lá para ser explorado.

Eita!

Em tempo: o DVD que tenho aqui em mãos foi lançada pelo Multimedia Group Promoções LTDA. O site indicado na contracapa não funciona. Alguém com mais tempo de estrada conhece essa trupe?

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