No fim de uma sexta-feira extremamente morna, de lojas fechadas e pouquíssima gente na cidade, decidi, depois de descobrir que uma sessão do Reserva Cultural estava lotada, voltar para casa e me enfiar na minha videoteca.
Peguei “Accattone – Desajuste Social”, de 1961, primeiro filme de Pasolini cuja versão em DVD foi lançada em uma cópia bonita da Versátil. Antes de assistir, deixei o trailer rolando e fui jantar. Foi um dos trailers mais estranhos que já vi.
Bem diferente do mar de sangue de “O Iluminado” ou da verborragia e falta de surpresa de qualquer filme comercial contemporâneo – parece até que, em breve, o trailer vai substituir a própria obra, tamanha a quantidade de detalhes revelados em um minuto e meio.
O que me espantou no trailer do filme do Pasolini é o tempo gasto apenas para falar como o filme foi bem recebido pela crítica. Nas palavras do vídeo, “um filme que não precisa de propaganda porque os críticos já o recomendam”.
Wow! Então quer dizer que a função da crítica de cinema é recomendar filmes em vez de debatê-los e despertar olhares? O espectador deve assistir ao filme só porque o crítico disse “amém”? Propaganda e crítica se confundem? Crítica é só mais um elemento na máquina do consumo?
Vejam bem, questões que surgiram a partir de um filme que está mais para “filme de arte” do que “cinema comercial”.
Hoje o tom, me parece, é outro. Excertos de críticas – geralmente os trechos com adjetivos – são apropriados em trailers e materiais de divulgação, porém de maneira mais tímida que em “Accattone – Desajuste Social”.
Porém, não acho que estejamos melhores atualmente. A crítica apenas perdeu força (mas não importância) seja para instigar a discussão ou para orientar o consumo. A propaganda está muito mais sofisticada e diluída e cabe à crítica posicionar-se fora da máquina do marketing de um filme.
Em tempo: como o Youtube não me deixou incorporar o vídeo, o link do trailer está aqui.
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