domingo, 23 de maio de 2010

Ladrão de Casaca


Depois de me frustrar porque o aparelho de DVD simplesmente resolveu parar de rodar “Sangue de Heróis”, do John Ford, voltei pra estante e resolvi pegar algo que há muito ensaiava assistir, mas nunca tive coragem.

“Ladrão de Casaca”, de Hitchcock. Quer dizer, tem lá a assinatura do diretor e uma aparição dele em uma cena, mas está longe de ser um filme realmente pensado e conduzido como Hitchcock. Botando os pingos nos is, “Ladrão de Casaca” é um filme completamente trivial e igual a outras dezenas, um ponto muito baixo na carreira do cineasta. Trocando por miúdos, é chato mesmo!

É curioso como há pouquíssimas coisas no filme que podemos encontrar a marca dele. Por exemplo, a sequência inicial. Um filme de Hitchcock não apenas começa, mas já está a ponto de bala na partida. O grande mistério ou uma mudança abrupta da rotina de seus personagens (os “beats” que o guru de Hollywood Robert McKee tanto fala) ocorre na primeira cena, sem perda de tempo.

Outro detalhe que permite enxergar minimamente Hitchcock é a divisão do seu herói John Robie (Cary Grant, extremamente lindo). No passado, um ladrão de jóias. No presente do filme, um homem que precisa provar a sua inocência quando um imitador de seus métodos começa a atacar os ricaços. Ali está a divisão entre aparência (Robie é um ladrão) e essência (Robie está tentando pegar o ladrão).

Bom, acabam aí as características do mestre do suspense em “Ladrão de Casaca”. Um dos méritos de Hitchcock, como diretor, é justamente não se prender apenas em “quem é o criminoso?”, ou seja, no desfecho de “whodunnit?”. O suspense é sempre gancho pra ele falar de outras coisas, como da própria discussão sobre o cinema (“Janela Indiscreta”) ou na desunião/união entre corpo e alma (“Um Corpo que Cai”).

Mas o Hitchcock de “Ladrão de Casaca” está mais pra Aghata Christie. O mistério que se auto-alimenta. Tipo os filmes de M. Night Shyamalan.

Ah, pra que eu não seja chamado de chato, a dupla de protagonistas é mais bela do que toda a Riviera francesa. Cary Grant, o homem mais sexy de Hollywood nos anos 40 e 50, ao lado de Grace Kelly, de rosto inocente e feminilidade agressiva.

Fiquei até pensando no DVD especial que a Paramount lançou, sob o selo de “Edição de Colecionador”, com uma penca de extras. Jura mesmo que “Ladrão de Casaca” tem fãs fieis assim? Wow! Então quero uma edição especial para “Frenesi” também.

Em tempo: Ah, sim, “Ladrão de Casaca” tem locações turísticas, palacetes, figurino requintado e mansões. Preguiça.

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