Falar de teatro neste blog? Geralmente, não, mas a peça Retábulo, que está em cartaz neste fim de semana aqui em Natal, merece, sim, que o Urso de Lata largue o cinema e vá para o tablado, ao menos por um post.
A direção é de Luiz Carlos Vasconcelos, palhaço de formação e ator que vai e volta ao cinema. O texto é baseado num livro de Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina. A interpretação – além da construção criativa – é do Piollin, trupe paraibana tradicional que tem alguns nomes com passagens marcantes pelo cinema (por exemplo, Everaldo Pontes, de SuperBarroco, e Nanego Lira, de O Grão).
O enredo nos traz a trajetória de uma mulher comum, do povo, Joana. Seguimos três gerações em sua família, com os mesmos atores e atrizes interpretando diversas personagens, com suaves transições de um para outro. Em última instância, extensões de um só personagem.
Fábula interessante, mas infinitamente inferior à arquitetura do texto e à mise-en-scène, características que justificam este comentário sobre Retábulo. Joana pouco fala, sua história é contada por quem está ao seu redor, recurso que me fez lembrar muito o esforço de polifonia do filme O Sol do Meio Dia. Na peça, não há um responsável único pelo discurso: todos que narram são determinantes para o andamento da vida de Joana, nossa heroína.
Fala-se muito, aliás. Mas movimenta-se muito também. Apesar de o espaço físico ser limitado ao tablado, o movimento em cena dos atores é continuo. Cada curva, rabeira, pedaço de madeira em forma de mala de viagem ou bambus espalhados pelos cantos são elementos cênicos. Seria muito difícil transformar Retábulo em filme: como estabelecer uma relação ator-câmera quando a interpretação é contínua e o corpo transborda a ausência de cenário? Jogo duro!
Tomando como exemplo os excertos do texto de Osman Lins presentes em Retábulo, parece ser uma experiência rígida a de ler Retábulo de Santa Joana Carolina – há um pouco da marcação musico-poética de João Cabral de Melo Neto. Mas, assistir a encenação é, digamos, oxigenar as vistas do que se pode fazer em termos de mise-en-scène, mesmo que, nesse caso, seja teatro, não cinema.
Em tempo 1: quem ficou curioso – e, por acaso, também está em Natal –, Retábulo fica em cartaz até este domingo (12/12), às 19 e 21h, no Barracão dos Clowns (Av. Amintas Barros, 4673, Nova Descoberta). R$10 (inteira) e R$5 (meia).
Em tempo 2: o começo do Piollin Grupo de Teatro data de 1976, com a montagem de Aborto, dirigida por... Luiz Carlos Vasconcelos. A cronologia da trupe pode ser conhecida aqui.
Em tempo 3: você sabe o que significa “retábulo”? Nosso amigo que tudo sabe sobre língua portuguesa vem ao nosso socorro, como não! “sm (cast retablo) 1 Trabalho de arquitetura, de pedra ou madeira, com lavores na parte posterior do altar, e em que se representa qualquer motivo religioso. 2 Painel ou quadro que decora um altar. 3 Painel.”
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