“Eu não gosto de westerns. É por isso que gosto de Rio Bravo”. O autor da frase é o crítico e cineasta Luc Moullet, que eu não conhecia (nem a ele, nem a frase) até ser devidamente apresentado pelo meu amigo Sérgio Alpendre.
Felizmente, existe a mostra “Luc Moullet – O Cinema de Contrabando”, acontecendo até dia 20 no CCBB de São Paulo, organizada por Xiquinho, Rafael Sampaio, Maria Clara Escobar, Remier Lion e Anne Fryszman. Retrospectiva integral de uma pessoa provocadora.
Provocações fora do parâmetro, do esperado. Diz-se que Moullet é um dos filhos da Nouvelle Vague. Porém, realiza filmes que funcionam como resposta a quem aprisiona os cineastas de hoje aos cânones do passado. Diz-se também que Godard está na lista de fãs do cineasta, mas aí Moullet faz filmes que ironizam ou contestam o peso de Godard para o cinema de hoje.
O fato é que Moullet é um provocador, não um polemista. Suas piadas e filmes que sinceramente assumem sua precariedade criam um desconforto no espectador. É difícil ser a mesma pessoa depois de assistir a um filme dele.
Por exemplo, em O Prestígio da Morte (2007). Nele, Moullet interpreta um cineasta que bola um super plano para conseguir financiamento para seu próximo filme: forjar a própria morte, por que não? Assim, a televisão que sumariamente o ignora daria visibilidade à sua obra e o colocaria no panteão dos imortais. Os produtores que tantas vezes lhe bateram a porta na cara enalteceriam sua obra. Moullet voltaria depois do golpe, e voilá, show time!
Uma piada muito séria sobre o sistema de produção, o conceito de cineasta irretocável que só interessa como integrante de um passado ao qual acessamos como se estivéssemos abrindo uma gaveta de um museu. Sobre os mitos, as obras-primas, os deuses do cinema. Moullet cutuca aos outros e não se leva a sério jamais: qual é o prestígio trazido pela morte?
Ainda não li os escritos de Luc Moullet como crítico de cinema. Mas, em relação aos seus filmes, após ter assistido a quatro deles, fico com a sensação de que, além da ótima verve cômica, são imprescindíveis para qualquer espectador que queira tirar a bunda de sua confortável cadeira intelectual.
Em tempo: falando em ironizar Godard – cineasta, vejam bem, pela qual tenho apreço –, me lembro de um outro curta divertidíssimo, brasileiro, de Paulo Gregori, o JLG/PG. Não me esqueço de uma sequência com uns dizeres na tela: “Um filme sobre o desprezo do homem que fez um filme sobre o desprezo... GODARD... GOD?”. Aos curiosos, o curta-metragem de Gregori está aí embaixo:
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário