O cinema não foi muito grato com Nildo Parente. Ator com tantos recursos, ficou renegado a filmes menores ou a personagens coadjuvantes. Trabalho constante mesmo só na televisão, onde é mais lembrado pelas novelas Pai Herói, Guerra dos Sexos e Vereda Tropical.
Marcelo Miranda, colega de crítica de Minas Gerais, é certeiro ao dizer que Nildo “era aquele rosto que todo mundo conhecia, mas poucos sabiam dizer seu nome de primeira”. Nildo se foi aos 76 anos, vítima de AVC.
No cinema, participou de uma obra-prima: S. Bernardo, de Leon Hirszman, feito em 1972. Naquela época, Nildo tinha apenas sinais de calvície e ainda conservava a barba que o marcaria nos papeis da televisão. No filme, ele é o contraponto perfeito da dureza, poder e agressividade de Othon Bastos. Um intelectual meio de fachada, meio preguiçoso, que sucumbe ao controle do bruto Paulo Honório.
De cabeça, a última vez que lembro ter visto Nildo Parente num filme foi em Depois de Tudo, curta-metragem de Rafael Saar. Um triste filme sobre um casal com o peso de décadas de opressão nas costas. Ney Matogrosso, gay assumido, interpreta um homossexual enrustido de vida dupla. Nildo vive seu contraponto, disposto a assumir a relação.
Guardo três imagens do filme na cabeça: uma discussão na cozinha, bem na hora de preparar o jantar; o casal assistindo a um filme junto; a dura despedida após a terna noite. Depois de Tudo é o contraponto ficcional do documentário Bailão, um olhar microscópico sobre dois personagens de uma geração que hoje tem entre 60 e 70 anos e enxerga à distância a liberação sexual.
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