O testamento cinematográfico de Claude Lelouch está prestes a ser compartilhado com o público brasileiro. Esses Amores (Ces Amours-là), que estreia dia 26 de agosto, é a síntese da paixão de um realizador pelo cinema. Mais: uma carta de apresentação (ou despedida) do por que Lelouch faz filmes.
Os que não associam o nome à pessoa, Lelouch é o resmungão que se diz subestimado porque a exibição e discussão maciça da Nouvelle Vague soterrou o reconhecimento que o cineasta acha merecido. Sempre que pode, ele, que até Oscar venceu, reclama que tem muito mais talento do que aceitam admitir as más línguas.
O crítico André Setaro, no fim do ano passado, ao publicar um maravilhoso pequeno perfil do cineasta, ainda considerou que há um desrespeito da crítica. “Há, por parte da crítica, uma total indiferença diante dos filmes de Claude Lelouch, um certo preconceito em relação a este brilhante realizador do cinema francês (...). Talvez a explicação para a marginalização do autor de Um homem, uma mulher esteja no fato dele falar mal da nouvelle vague e, apesar do seu público fiel, a chamada intelligentzia o colocou no índex”.
Grosso modo, o cineasta vive às turras com a crítica: ele a acusa de ter apenas a nouvelle vague como farol do grande cinema, enquanto ela acusa Lelouch de fazer cinema “fru-fru”. Tirando o ti-ti-ti, Lelouch é o diretor de Um Homem, Uma Mulher (Oscar de Filme Estrangeiro e Palma de Ouro em Cannes), Viver por Viver (de 1967, muito interessante e no mesmo nível do filme que deu estatueta a ele), A Nós Dois e, mais recentemente, Amantes & Infiéis e Crimes de Autor.
Se depois de cinquenta anos de carreira, ainda não está claro para os fãs do cineasta suas motivações cinematográficas ou o por quê da insistência em filmar histórias de amor, Esses Amores dá a resposta: para Lelouch, só o amor pode salvar a humanidade. Por isso que, desde o começo da década de 1960, seja num curta alucinante como C'était un rendez-vous ou no longa mais famoso dele, tudo é sobre o amor.
Para ele, trata-se do único sentimento capaz de limpar toda a sujeira inerente à humanidade, a ferramenta primordial para superar traumas e construir pontes.
O que um cineasta que escolheu o seu grande tema e já o abordou de diversas maneiras – narrativa poética como Um Homem, Uma Mulher ao suspense de Crimes de Autor – ainda pode querer do cinema após Esses Amores? Após atravessar a história do Século XX, colocar nas entrelinhas suas motivações artísticas e escrever a história de uma personagem cujo amor incondicional a levou do céu ao inferno pode querer do cinema?
Esses Amores não é o melhor filme de Lelouch, mas é seu definitivo. Seu testamento.
Em tempo: leia neste link a íntegra do perfil de Claude Lelouch escrito por André Setaro.
Em tempo2: em 2009, o crítico Sérgio Alpendre acompanhou a passagem de Lelouch pelo Amazonas Film Festival e relatou algumas das alfinetadas do cineasta.
Assista ao trailer do longa-metragem:
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