Ganhar Cannes com dois atores muito populares (Brad Pitt e Sean Penn) é uma faca de dois gumes para o filme de Terrence Malick. O lado bom é a visibilidade excessiva para A Árvore da Vida. O lado ruim é a mesma visibilidade excessiva.
Se não fosse a Palma de Ouro e a dupla de atores, o filme ficaria restrito ao círculo de cinéfilos que já conhece os outros quatro longas de Malick, a um público interessado pela pretensão filosófica e metafísica do filme ou a leitores que acompanharam críticas favoráveis e decidiram dar uma chance ao introvertido cineasta texano. Porém, a visibilidade excessiva tem criado, ao menos em São Paulo, uma onda de “cidadãos indignados” que se sentiram traídos por seus dois atores-fetiche.
Comentários no Twitter, Facebook, blogs ou em críticas deixam transparecer, nas entrelinhas, a sensação de “comprei gato por lebre”. Esperavam um “filme de arte” como O Curioso Caso de Benjamin Button ou Milk – A Voz da Igualdade e levaram uma tijolada na cabeça que obriga ao espectador a articular pensamentos para defender uma opinião de qualidade.
As reações animalescas ao filme e aos críticos que o defendem (me incluo no grupo) são sintoma do que o crítico de cinema Inácio Araújo já apontara: não temos leitores de cinema, mas consumidores. Nada contra á existência de uma fatia de pessoas que vão às críticas para decidir assistir ou não a um filme.
O problema é encarar a análise de cinema apenas como guia de consumo, posição que permite os comentários arrogantes e ofensivos. Opera-se da seguinte maneira: se eu, espectador, gosto do filme, mas o crítico não, o escriba é um burro; se a operação é inversa, o crítico também é um burro.
Como costuma dizer Julio Bressane, é o reino da mediocridade, da falta de entusiasmo do ser humano em sair do lugar naturalmente mediano que todos nós dividimos e caminhar em direção a algo que não compreendemos. Cada vez mais esse movimento tem parecido um esforço penoso para muita gente.
Por isso, a reação animalesca de leitor/consumidor que se sente traído e roubado por quem apontou méritos em A Árvore da Vida: “O pior filme que vi na minha vida”, “uma merda”, “fiquei feliz quando acabou”, “o diretor se perdeu na história”, “idiota”. Idiota, pois, é quem, no anonimato da internet, xinga em vez de articular, ofende em vez de defender posicionamentos com ideias.
A “maldição” de Terrence Malick é ter dois medalhões no elenco e ter ganho uma Palma de Ouro. Com isso, será metralhado por espectadores/consumidores que se sentiram traído por seus atores terem embarcado num projeto “sem pé nem cabeça”, “uma viagem”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Abrir espaço na mídia (sim, internet é mídia, não é?) para qualquer um publicar o que quer, do jeito que quer, sem que seja necessário nenhum tipo de identificação, está longe de ser "liberdade de expressão". É pura idiotice e irresponsabilidade de quem abre e - pior - mantém estes espaços abertos. Idiotice pode ser uma palavra forte, mas é a mais apropriada. Sim, os portais que fazem isto, sem controle ou mediação, são idiotas, irresponsáveis, e no afã da "audiência" a qualquer preço, se afastam totalmente daquilo que conhecíamos por Jornalismo.
Postar um comentário