Brasília, a terra que não chove |
-- Brasília --
Do calor e falta de chuva de São Paulo para o calor e a falta de chuva de Brasília. Cá estou para mais um Festival de Cinema de Brasília: esta é a 45ª edição e os textos mais elaborados, em forma de diário, ficam para a cobertura na Revista Interlúdio [leia aqui a página de festivais].
De tudo que aconteceu na abertura ontem, uma coisa me chamou atenção, mais até do que A Última Estação, o longa que iniciou os trabalhos: o Secretário de Estado de Cultura, Hamilton Pereira da Silva.
Normais são as participações de políticos, discursos inflados etc. Até aí nada demais, Brasília é igual a Tiradentes, que é igual a Recife. Não conheço de perto o trabalho dele, mas fiquei com um pé atrás ao ouvir alguém da plateia protestando contra o que chamou de não desvio dos recursos do FAC.
Me chamou atenção o tom inadequado, oficioso além da conta, enaltecendo o cinema, mas aparentemente distante dele. Aí eu entendi o que pegou: a pessoa que vi subindo no palco é muito, mas muito semelhante ao personagem comunista do grande filme de Ugo Giorgetti, Cara ou Coroa.
Está lá o personagem, no filme, do diretor de teatro falando de vanguarda, de arte e tal, mas esbarra no entendimento burocrático que o membro do partidão tem acerca da cultura, sua função para o povo. Mais conversa sobre a vanguarda, o Living Theater, a juventude, o trabalho de corpo. Mas o burocrata não entende, só quer saber de algo: vai ou não vai funcionar para a conscientização política a tal peça de teatro que o diretor está montando?
Vendo o secretário ontem -- que, repito, não acompanho o trabalho de perto -- pensei no filme de Giorgetti. Mesmo se passando em 1971 o delineamento que ele faz de certos personagens é tão preciso que permite essa conversa rápida entre o ontem e o hoje.
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