Os refés e sequestradores do filme de Brillante Mendoza |
Os filmes de Brillante Mendoza já me causaram raiva – não por seus temas, mas pela esquizofrenia no trato da câmera. Por isso me surpreendi ao ver Em Nome de Deus (Captive), que ainda resiste em apenas dois horários em São Paulo, ambos no CineSesc.
Mas da raiva fui para outra relação bastante incômoda: a indiferença. O que é bastante estranho para um filme com tiros, pipocos, sobe selva, desce selva, mortos, deterioração física e tudo mais de um filme sobre reféns e sequestradores ambientado na mata.
Aquela câmera que não para quieta, tão típica dos filmes de Mendoza, encaixa-se melhor neste filme. Há um clima de tensão que só faz crescer, investidas constantes do exército atirando contra qualquer um que se move. Então o tal balancê se justifica pelo realismo de Mendoza, em que a ficção precisa ser mais assustadora que a realidade – não atende ao meu gosto, mas não me parece uma escolha inteiramente equivocada.
Depois de duas horas de filme, não saquei o que Mendoza queria afirmar, para além de mostrar, com Em Nome de Deus. Ilustrar o que resta de humanidade (os afetos entre as enfermeiras, a relação da personagem de Isabelle Huppert com Ahamed)? Questionar o desinteresse do Estado para resgatar os reféns? Sobrevoar uma questão de difícil resolução política? Comentar como tem se tornado cada vez mais inseparável a religião da guerra?
Que o filme é OK, correto, com uma noção aguçada de ritmo, isso se atesta, não questiono – mas também isso é obrigação para um diretor alçado num lugar de prestígio por Cannes. Mas o algo a mais, aquilo que causa a permanência do filme, aquilo que vai à realidade para devolver o espectador algo diferente, que exorcize, nem de longe Em Nome de Deus o é.
Por vezes senti que Mendoza fazia um especial de televisão bem produzido, com uma ou outra passagem próxima do cinema.
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