domingo, 18 de novembro de 2012

Louis Malle e Eduardo Coutinho: o teatro

Tio Vânia em Nova York, de Louis Malle

Eduardo Coutinho permanece como o nome brasileiro mais conhecido entre os que investigaram as possibilidades de o cinema lidar com o teatro para além do registro da peça em imagem, do teatro filmado.

O resultado de Jogo de Cena é consenso, encantou espectadores, seduziu a crítica. Moscou, por outro lado, dividiu, carregando o séquito de defensores e detratores. Justifica-se: é um filme-impasse que versa mais sobre o que há no ator antes de existir, ou melhor, ao lado da existência do personagem que acompanhamos numa encenação. Parte-se do personagem para chegar no ator.

Lançado em 2009, Moscou talvez seja o último filme brasileiro a gerar um debate interessante envolvendo setores distintos. De lá para cá, tivemos uma breve discussão em torno de O Palhaço, se o filme de Selton Mello seria de fato uma alternativa para conciliar cinema e público, arte e bilheteria. Esqueci de algo ou foi só isso?

Moscou, de Eduardo Coutinho

Mas falo de Coutinho para chegar em Louis Malle e seu Tio Vânia em Nova York (Vanya on 42nd Street), programado na retrospectiva do diretor que acontece simultaneamente no CCBB-SP e no Cinusp [programação aqui]. A cópia, aliás, fornecida pela Pandora, está bastante castigada, comendo pedaços de diálogos.

Malle, sabe-se, é bastante versátil no tratamento dos gêneros. Foi da sátira Zazie no Metrô para o erótico Perdas e Danos. Já havia jogado com as fronteiras do ator e personagem em Meu Jantar com André. Mas esse Tio Vânia de Malle não me atrai quase nada.

Especialmente porque, à exceção dos primeiros minutos, quando os atores estão misturados na paisagem da cidade, embaralhando o ponto inicial da peça, o filme se assume um teatro filmado. Decupado, é verdade, mas ainda assim mero registro de temas elementares do texto de Chekhov.



Entre o que Malle fez em 1994 no seu derradeiro filme (morreria em 1995) e Coutinho em 2009, fico com Moscou, pois este bagunça o lugar do espectador.

Para retomar o que o antepenúltimo filme de Coutinho fornece à discussão – viriam ainda Um Dia na Vida e As Canções – vale recuperar alguns textos.

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