Uma das cenas sublimes de O Som ao Redor |
Estreia hoje O Som ao Redor, após um ano de viagens por festivais, elogios e, quem diria, presença na lista de melhores do ano de A.O Scott (um dos únicos, ao lado de Kenneth Turan, críticos americanos de cinema a escrever regularmente para o impresso que vale ler).
Quando assisti a Recife Frio pela primeira vez há uns três anos defendi que esse curta seria o que Ilha das Flores representou no começo da década retrasada. Alguns amigos viram exagero nisso, mas mantenho a convicção [leia aqui o porquê].
Sobre O Som ao Redor, simplesmente acho que estamos diante de um momento ímpar, paradigmático talvez. Vejo nessa estreia de Kleber Mendonça Filho como diretor de longa-metragem de ficção um avanço gigantesco sobre as possibilidades de um cinema político no contexto da produção brasileira.
Explico os meus porquês na crítica publicada hoje na Revista Interlúdio [clique aqui e leia]. Um trecho do texto: “Pois aí está a maestria de O Som ao Redor como crônica de um estado de coisas: abandonar a tradição didática catequizante que historicamente ronda a produção brasileira e devotar-se ao cinema de gênero como manancial de possibilidades para falar sobre o presente, quebrar expectativas. Ao dar essa escapulida, O Som ao Redor torna-se profundamente político.”
Dito isso e reiterado como vejo o filme num amplo contexto, caminho agora para o outro lado. Quando o assisti pela primeira vez no Festival do Rio, o longa já vinha bastante comentado e praticamente blindado. O prêmio da crítica em Roterdã jogou o filme para cima, assim como a presença em diversos outros festivais internacionais.
Desde então, tenho conversado com amigos também da crítica de cinema – especialmente com Cid Nader, do Cinequanon – sobre como seria maravilhoso que, no momento da estreia, em que o filme finalmente tomaria contato com um público um pouco maior, houvesse o embate, um questionamento qualificado e franco do filme. Seria bom para o debate intelectual e também para os próximos filmes de Kleber.
Não serei eu a reduzir o tamanho do filme, pois, como já reiterei, penso que ele merece ocupar um lugar nobre. Mas gostaria de ver colegas da crítica que desgostam do filme ou que não veem nele nada demais saindo da toca e participando do debate. Há um esboço desse gesto: Miguel Barbieri, da Veja São Paulo, com o qual discordo na preferência de filmes mais do que corinthiano e são-paulino discutindo a legitimidade do Mundial da Fifa de 2000, é o único que, até agora, vi indo contra a corrente [leia aqui]. Pena que o tamanho de sua resenha (1.398 toques) não seja suficiente para um aprofundamento mínimo.
O barco na direção oposta fez muita falta na estreia de Holy Motors, de Leos Carax, em que o debate ficou esvaziado. Os que amaram o filme deram a cara a tapa, fizeram textos a defender seus pontos. Os que o acharam um embuste ficaram ou quietos ou recorreram a frases clichês em textos en passant. Não vi ninguém indo na jugular do filme.
Espero que o barco da discussão não se acanhe agora na estreia de O Som ao Redor.
5 comentários:
Quem odiou o Holy Motors saiu da sala com 15 minutos... e ainda se orgulha disso.
Oi Heitor, adorei ser citado no seu texto (João Sampaio me passou o link). Realmente, como disse no Face, acho o filme superestimado. Não vejo nada de excepcional. Aliás, nem isso. Não gosto mesmo. Os motivos, como você bem leu, estão no meu curto texto. Infelizmente é o tamanho que eu tenho na Vejinha. Poderia até fazer algo maior no meu blog, mas não vou perder meu tempo com isso. Abração
Miguel Barbieri
Você é um covarde. Covarde porque sua postura de não gostei é de um vassalo assalariado da Veja, segundo porque seu comentário aqui vacila, vai de um "superestimado", passando pelo "nada de excepcional" para chegar a um "não gosto mesmo".
Covarde também porque foge do debate porque não tem argumentos, como seu "textículo" e seu comentário provaram.
José Almeida Conçalves
~vassalo assalariado da Veja~
Taí um argumento rico, despido de preconceito e patrulhamento, isento de sabe-se lá quantas mágoas e recalques pessoais... #sóquenão.
Gostando ou não do filme, achei a resenha do Miguel sucinta e muito clara: ele aponta as razões pelas quais não gostou do filme - longo demais, cenas desnecessárias, pouco ou nenhum aprofundamento de várias subtramas interessantes, atuações canhestras etc. Essa é a opinião dele como crítico - e, se bem o conheço, como espectador comum também.
Não vi covardia nenhuma. Esse tipo de ataque, José, me lembra briga de fãs de Lady Gaga, quando alguém fala mal de um CD da cantora: não interessa o que a pessoa disse; ela não passa de uma imbecil e desclassificada apenas por não concordar com o que a maioria diz.
Que tal ampliarmos o debate, e não baixá-lo ao rés-do-chão?
Junior Ferraro
Ok.
Sábio Júnior Ferraro, onde disse que eu era fã do filme? Devo ter batido a cabeça e me esquecio desse detalhe.
O problema não é o filme, mas o tipo de postura do senhor Miguel Barbieri. Chauvinista.
Tudo que ele disse no textinho "claro e suscinto" não é justificativa. Longo demais? Cenas desnecessárias? Como crítico, a opinião ("acho longo...") não vale, mas sim o argumento ("essa cena é desnecessária PORQUE...").
Junior Ferraro, achou a resenha suscinta e clara? É mesmo, mas argumentação não chega nem a ser medíocre. Se alguém, que se acha crítico, expõe seus juízos, eles deveriam vir acompanhado de suas razões. Agora, se ele não é crítico, realmente não dá pra cobrar nada dele e eu estou redondamente errado e me desculpo.
Isso não é patrulhamento, pois sequer sou fã incondicional do filme. O que eu esperava do senhor Miguel Barbieri era uma postura mais honesta e menos óbvia. Mas ele se limita a fazer esse papelzinho de "não vou perder meu tempo com isso". Direito dele, mas os homens que fogem das implicações de seus atos é um covarde. Ele, ao escrever em uma revista, deveria responder menos por ela e mais por suas posturas que creio pessoais (mesmo a vassalagem).
Se ele tivesse escrito um texto que não fosse tão superficial - calcado no gosto, sem motivos e sem razões - que "argumentasse" ao invés de fazer juizinhos categóricos, provavelmente eu não teria entrado nessa conversa.
Mas ele se esconde atrás do nome Veja SP que o faz se legitimar sem precisar assumir responsabilidades.
Eu não conheço o sr Miguel Barbieri, nem tenho mágoa ou "recalque pessoal", mas desprezo pelo tipo de postura, insegura e covarde.
Se ele é só resenhista, alguém que indica "o que ver", ou avalia somente a "qualidade do produto" para o "público alvo" ele o faz mal e porcamente. Mesmo para um consumidor que se guia pela leitura de textos como o do Miguel, deve haver razões, não juízos de "achei longo demais e ponto final".
Se eu fosse um "consumidor" da revista eu me sentiria enganado e iria ao Procon reclamar. Por que? Porque é francamente incompetente no que se propõe a fazer. Pior pra ele, não pra mim, não pro filme.
José Almeida Gonçalves
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