Porém, antes do coração-de-pedra Plainview, o ator inglês havia se destacado em outro trabalho, há 23 anos, interpretando o também durão Johhny – este, porém, era bravo só na aparência.
O ano é 1985 e o filme é Minha Adorável Lavanderia (My Beautiful Laundrette), de Stephen Frears, mostrando a cena punk da Inglaterra bem diferente da pompa de A Rainha. O filme se passa em tempos de Tatcher no Reino Unido e Reegan nos EUA. Ou seja, neoliberalismo em alta, qualquer outro pensamento político em baixa.
O diretor usou os diferentes rumos tomados por dois irmãos paquistaneses para mostrar o confronto entre capitalismo e comunismo. Papa (Roshan Seth), socialista, foi jornalista e publicou diversos livros no Paquistão. Também foi um apoiador de Zulfikar Ali Bhuto, morto em 1979 após golpe de Estado dois anos antes. Hoje está numa pior, desiludido e afogado no álcool.
Seu irmão, Nasser (Saeed Jafrey), é rico e mantém a rédeas curtas um grupo de paquistaneses que se organizam à maneira das famiglias italianas. Nasser aproveita os tempos de domínio no mercado na Inglaterra para fazer dinheiro. Com dó de seu irmão, dá um emprego ao sobrinho Omar (Gordon Warneck), um dos milhares de jovens desempregados na Inglaterra, dá a ele um emprego em seu estacionamento.
Omar é ambicioso, quer fazer dinheiro. Seu pai quer que ele estude, vá para a universidade. Sua história se cruza com a de Johnny (Daniel Day-Lewis), antigo amigo de colégio que já na adolescência se juntara aos hoolingans.
Os dois reatam a amizade e Johnny passa a trabalhar para Omar. Mais que isso: se apaixonam. Os conflitos surgem porque a família paquistanesa quer que Omar se casa. Os amigos fascistas de Johnny não admitem que ele se uma a um “paki”.
Qual o mérito do filme? Abarcar várias faces da década de 80. Minha Adorável Lavanderia tem a cena homossexual desabrochando com mais liberdade em relação às décadas anteriores. Tem o princípio de desilusão com o comunismo. Tem o desemprego causado pela destruição do Estado de bem estar social. Tem a xenofobia europeia.
A frase-chave do filme: depois de meses sem sair de casa, Papa vai a inauguração da lavanderia do filho e lá encontra Johnny, que conhecia desde a infância. Depois de uma rápida conversa, pede para que use sua influência junto ao filho para demove-lo da idéia de ser dono de uma lavanderia. E sentencia para Johnny: “Você também tem de ir para a universidade. Todos nós temos de ter conhecimento para entender o que está sendo feito, e para quem, neste país”.
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