Chego um pouco tarde, já que o Indie – Mostra de Cinema Mundial acaba, em São Paulo, nesta quinta-feira (29/9). Mesmo assim, não vou deixar de comentar um filme que a mostra trouxe, contando com o tesão dos leitores em buscar online o longa-metragem Flores do Mal (Fleurs du Mal).
É o primeiro filme que me agrada, de fato, na tentativa de incorporar a internet, as redes sociais e o compartilhamento na dramaturgia. Temos a história de uma jovem iraniana de 20 anos que é mandada a Paris pelos pais para fugir do perigo dos protestos. No hall do hotel, conhece Gecko, um rapaz que lá trabalha, e inicia uma amizade que, por ventura, pode se tornar algo mais.
Mas não é um filme sobre o amor, apesar de ele estar presente em sua forma mais bela (o companheirismo) e destrutiva (o ódio). Flores do Mal é um sintoma de pessoas cujo encontro é possível por conta de ferramentas virtuais. Também não decorre daí um discurso positivo e propagandístico de mundo conectado ou outros lugares-comuns que se recusam a reconhecer os estragos que a virtualidade também traz às relações humanas.
Anahita integra a elite intelectual de Teerã que, em 2009, foi às ruas, protestou e pediu o fim da era Ahmadinejad. A onda verde que terminou com a perpetuação dele no poder, muitas prisões, mais censura e repressão. Gecko é um tipo libertário meio perdido na vida que só consegue se expressar pela dança de rua, tentando interagir com a cidade e procurar nela o que há de seu.
Dois personagens muito interessantes, cujas histórias e segredos compartilhamos ao longo do filme. Mas gostaria de voltar à tecnologia. Enquanto está em Paris, Anahita acompanha pela internet o desenrolar dos protestos. Amigos seus estão na linha de frente por mudanças. O sangue das vítimas da polícia truculenta tomam de assalto a tela. Ela não tem certeza de sua coragem para a ação política.
Pelo YouTube, Anahita vê o que se passa. Pelo Twitter, busca notícias de seus amigos e os locais dos próximos protestos. Pelo Facebook, reencontra Rachid depois de um desencontro inicial.
É interessante e inteligente a maneira em que David Dusa consegue integrar as tais mídias sociais e a virtualidade no filme. Flores do Mal não seria tão instigante se não fosse por esse gesto. Enfatizo: não se trata de um filme de tese ou de uma propaganda travestida por um discurso fofinho, mas sim de colocar como esses dois interessantes personagens estão imbuídos desses modos de comunicação e articulação política.
Digamos que entre o discurso “quero ser engraçadinho” de Medianeiras e a constatação de como o Facebook foi uma ferramenta efetiva nos recentes protestos no Egito, Flores do Mal esteja mais perto da verdade do segundo.
É uma pena, porém, que o filme seja irregular e não consiga acompanhar, como cinema, a força de seus personagens. Por vezes, há um descompasso entre o que eles fazem e como se colocam corporalmente e o que a câmera consegue captar. Mas não deixa de ser interessante ver Rachid fazendo sua dança no meio da rua, metrô e museus, brincando de anarquia enquanto a verdadeira anarquia está a milhares de quilômetros dele, no Irã.
A descrição do filme no site do Indie é precisa: “uma moderna história de amor”. Não moderninha.
O trailer de Flores do Mal (Fleurs du Mal) está abaixo (garanto que o filme é mais interessante do que indicam as imagens):
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Ata-me! ou A Pele que Habito - Parte 3
Assim como A Pele que Habito, Ata-me! (1990) é uma história de amor. Mas também como muitos outros filmes de Almodóvar, o amor nem sempre é compartilhado pelas duas partes, ou melhor, passa por outros gestos bem menos nobres. A tortura, a prisão, o jogo de força e poder são alguns deles.
Ata-me! é legitimamente “um filme de Pedro Almodóvar”, uma daquelas histórias que viramos e dizemos: só ele poderia contá-la. Como chamá-lo, senão de inusitado, esse conto de fadas cômico-melodramático que começa com um crime, o sequestro da atriz Marina (Victoria Abril)?
Como os grandes autores no cinema, Almodóvar faz sempre o mesmo filme, com pequenas variações. A essência é a mesma: as ferramentas do cinema de gênero servem a um realizador cioso por dar um tapa na cara da sociedade (com charme, é claro). O tapa, em Ata-me!, é uma moça “respeitável” (a atriz) apaixonar-se por um seqüestrador amoral (Antonio Banderas, quando ainda queria ser ator de verdade, não um burocrata da atuação).
Nesse conto de fadas elegante, está em jogo não só o amor, mas também o cinema. Temos o longa que nos é mostrado e, dentro deste, outro que está sendo rodado, protagonizado por Marina Osorio e dirigido por Máximo Espejo (Francisco Rabal). Um filme de terror comandado por um diretor outrora respeitado, hoje paraplégico e decadente, filmando apenas pela ajuda dos amigos (quase como a Norma Desmond de Crepúsculo dos Deuses).
Todo o conteúdo humanista de Ata-me não está na belíssima e brega sequência final ou nos movimentos de câmera que ganham classe com a música de Ennio Morricone. O esforço humano de sair da perspectiva egoísta e colocar-se no lugar do outro está na cena em que Máximo, na cadeira de rodas, devora sua atriz-fetiche na tela de TV.
Sua mulher o espreita, mas não diz nada. Cala-se e entende. Como julgar um homem que não consegue mais fazer o que deu sentido à sua vida: dar vazão ao desejo e fazer cinema?
Mais do que no amor da atriz pelo sequestrador, Ata-me! representa o caráter humanista do cinema de Almodóvar nessa cena em que Máximo devora a imagem de sua atriz.
Não é coincidência que esse plano vá reverberar num dos planos mais bonitos de A Pele que Habito, na qual Antonio Banderas, cirurgião psicótico e traumatizado, imagina o sexo com sua cobaia, Vera, apenas mirando-a por uma imensa televisão.
Leia mais: A Pele que Habito é a maior frustração de 2011
Leia mais2: Maus Hábitos e o lado traiçoeiro do amor
Ata-me! é legitimamente “um filme de Pedro Almodóvar”, uma daquelas histórias que viramos e dizemos: só ele poderia contá-la. Como chamá-lo, senão de inusitado, esse conto de fadas cômico-melodramático que começa com um crime, o sequestro da atriz Marina (Victoria Abril)?
Como os grandes autores no cinema, Almodóvar faz sempre o mesmo filme, com pequenas variações. A essência é a mesma: as ferramentas do cinema de gênero servem a um realizador cioso por dar um tapa na cara da sociedade (com charme, é claro). O tapa, em Ata-me!, é uma moça “respeitável” (a atriz) apaixonar-se por um seqüestrador amoral (Antonio Banderas, quando ainda queria ser ator de verdade, não um burocrata da atuação).
Nesse conto de fadas elegante, está em jogo não só o amor, mas também o cinema. Temos o longa que nos é mostrado e, dentro deste, outro que está sendo rodado, protagonizado por Marina Osorio e dirigido por Máximo Espejo (Francisco Rabal). Um filme de terror comandado por um diretor outrora respeitado, hoje paraplégico e decadente, filmando apenas pela ajuda dos amigos (quase como a Norma Desmond de Crepúsculo dos Deuses).
Todo o conteúdo humanista de Ata-me não está na belíssima e brega sequência final ou nos movimentos de câmera que ganham classe com a música de Ennio Morricone. O esforço humano de sair da perspectiva egoísta e colocar-se no lugar do outro está na cena em que Máximo, na cadeira de rodas, devora sua atriz-fetiche na tela de TV.
Sua mulher o espreita, mas não diz nada. Cala-se e entende. Como julgar um homem que não consegue mais fazer o que deu sentido à sua vida: dar vazão ao desejo e fazer cinema?
Mais do que no amor da atriz pelo sequestrador, Ata-me! representa o caráter humanista do cinema de Almodóvar nessa cena em que Máximo devora a imagem de sua atriz.
Não é coincidência que esse plano vá reverberar num dos planos mais bonitos de A Pele que Habito, na qual Antonio Banderas, cirurgião psicótico e traumatizado, imagina o sexo com sua cobaia, Vera, apenas mirando-a por uma imensa televisão.
Leia mais: A Pele que Habito é a maior frustração de 2011
Leia mais2: Maus Hábitos e o lado traiçoeiro do amor
Festival de Brasília 2011
Começou ontem, segunda, 26, a 44ª edição do Festival de Brasília, o evento mais tradicional do cinema brasileiro, palco de discussões, lançamentos de filmes e propostas político-estéticas. Neste ano, muitas mudanças até difíceis de colocar só em um parágrafo: alteração da data, queda do ineditismo, fim da mostra digital (que encurtou a participação dos curtas), ampliação dos espaços de exibição...
Neste ano, vou acompanhar à distância: o cansaço bateu, o corpo pediu para continuar em São Paulo e o atendi, apesar da curiosidade em acompanhar a repercussão das mudanças.
Mas, para quem está interessado em acompanhar o debate, quatro indicações diferentes:
- matéria que publiquei ontem no Cineclick entrevistando diversos setores e tentando ampliar as discussões
- artigo do crítico Luiz Zanin Oricchio, de O Estado de S. Paulo, que aponta um apequenamento do festival com as decisões equivocadas de 2011.
- artigo do crítico Cid Nader, do Cinequanon, que pede uma certa prudência da crítica em já qualificar as mudanças como ruins (discordo de alguns pontos, mas acho válida a colocação).
- leitura integral do blog Festival de Brasília em Perigo, que recupera o processo de mudanças antes mesmo de elas serem anunciadas e explica todas as polêmicas dos bastidores.
Enfim, leituras obrigatórias para quem se interessa pelos rumos do mais tradicional festival de cinema brasileiro.
Neste ano, vou acompanhar à distância: o cansaço bateu, o corpo pediu para continuar em São Paulo e o atendi, apesar da curiosidade em acompanhar a repercussão das mudanças.
Mas, para quem está interessado em acompanhar o debate, quatro indicações diferentes:
- matéria que publiquei ontem no Cineclick entrevistando diversos setores e tentando ampliar as discussões
- artigo do crítico Luiz Zanin Oricchio, de O Estado de S. Paulo, que aponta um apequenamento do festival com as decisões equivocadas de 2011.
- artigo do crítico Cid Nader, do Cinequanon, que pede uma certa prudência da crítica em já qualificar as mudanças como ruins (discordo de alguns pontos, mas acho válida a colocação).
- leitura integral do blog Festival de Brasília em Perigo, que recupera o processo de mudanças antes mesmo de elas serem anunciadas e explica todas as polêmicas dos bastidores.
Enfim, leituras obrigatórias para quem se interessa pelos rumos do mais tradicional festival de cinema brasileiro.
sábado, 24 de setembro de 2011
Maus Hábitos ou A Pele que Habito - Parte 2
Acima do tom cômico, Maus Hábitos (Entre Tinieblas, 1983) é um filme sobre a fascinação do mal.
Esta, porém, é apenas um lado da moeda. Do outro, está o amor como dependência e abuso que dela convém. Esta é a natureza das personagens do quarto longa de Almodóvar: fascinadas pelo mal ou pelo pecado, mas também víboras que usam o amor do outro como chantagem. Freiras dúbias de nomes esquisitos – Irmã Esterco é uma delas.
A fascinação pelo mal e a chantagem da do desejo é uma dualidade que acompanharia o cinema do espanhol por muito tempo. Mais recentemente, reverberou em Má Educação (o padre que abusa de uma criança que, quando adulta, extorque o religioso, sedento de amor) e A Pele que Habito, seu filme mais recente que chega ao Brasil em novembro.
Maus Hábitos é um grande momento da carreira de Almodóvar, ainda em sua fase anarco-punk, que dura mais ou menos até 1984 com Que Fiz Eu Para Merecer Isto?. É o período que mais me seduz de seu cinema, dos tipos underground e viciados, inversão absurda dos valores, amoralidade no tratamento de temas clássicos, ares meio cafajeste.
É um momento em que ele investe muito numa postura iconoclasta. Como definir, senão assim, um filme que coloca a madre de um convento como uma viciada em heroína que mantém retratos de “pecadoras” (Brigitte Bardot entre elas) em seu escritório? Ou uma freira que, de tanto tomar ácido, vê a realidade adulterada em cores? Ou outra freira futriqueira que descobriremos ser autora de romances policialescos baratos?
Mesmo nesse cenário caótico, o desejo e o amor é quem mandam, e Almodóvar não tem perde o juízo. Luc Moullet, crítico francês e cineasta, do qual já falei nesse post aqui, definiu: “A moral é uma questão de travelling”. Godard, na época de crítico, inverteu e fez uma provocação: “O travelling é uma questão de moral”.
Sendo um ou outro, Pedro Almodóvar parece estar 100% consciente das decisões morais e de julgamento num mero movimento de câmera. No belíssimo plano final, quando compartilhamos da imensa dor de uma personagem, a câmera se afasta com profundo respeito.
Maus Hábitos é mais um exemplo de como A Pele que Habito deu errado. Ambos se dedicam a falar dos dois lados de uma moeda. A diferença é que em 1983 estava muito claro para o realizador qual era o tom que pretendia dar a seu filme. Em 2011, não está.
Em tempo: abaixo, uma grande cena do filme:
Esta, porém, é apenas um lado da moeda. Do outro, está o amor como dependência e abuso que dela convém. Esta é a natureza das personagens do quarto longa de Almodóvar: fascinadas pelo mal ou pelo pecado, mas também víboras que usam o amor do outro como chantagem. Freiras dúbias de nomes esquisitos – Irmã Esterco é uma delas.
A fascinação pelo mal e a chantagem da do desejo é uma dualidade que acompanharia o cinema do espanhol por muito tempo. Mais recentemente, reverberou em Má Educação (o padre que abusa de uma criança que, quando adulta, extorque o religioso, sedento de amor) e A Pele que Habito, seu filme mais recente que chega ao Brasil em novembro.
Maus Hábitos é um grande momento da carreira de Almodóvar, ainda em sua fase anarco-punk, que dura mais ou menos até 1984 com Que Fiz Eu Para Merecer Isto?. É o período que mais me seduz de seu cinema, dos tipos underground e viciados, inversão absurda dos valores, amoralidade no tratamento de temas clássicos, ares meio cafajeste.
É um momento em que ele investe muito numa postura iconoclasta. Como definir, senão assim, um filme que coloca a madre de um convento como uma viciada em heroína que mantém retratos de “pecadoras” (Brigitte Bardot entre elas) em seu escritório? Ou uma freira que, de tanto tomar ácido, vê a realidade adulterada em cores? Ou outra freira futriqueira que descobriremos ser autora de romances policialescos baratos?
Mesmo nesse cenário caótico, o desejo e o amor é quem mandam, e Almodóvar não tem perde o juízo. Luc Moullet, crítico francês e cineasta, do qual já falei nesse post aqui, definiu: “A moral é uma questão de travelling”. Godard, na época de crítico, inverteu e fez uma provocação: “O travelling é uma questão de moral”.
Sendo um ou outro, Pedro Almodóvar parece estar 100% consciente das decisões morais e de julgamento num mero movimento de câmera. No belíssimo plano final, quando compartilhamos da imensa dor de uma personagem, a câmera se afasta com profundo respeito.
Maus Hábitos é mais um exemplo de como A Pele que Habito deu errado. Ambos se dedicam a falar dos dois lados de uma moeda. A diferença é que em 1983 estava muito claro para o realizador qual era o tom que pretendia dar a seu filme. Em 2011, não está.
Em tempo: abaixo, uma grande cena do filme:
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
A Pele que Habito, um filme de Almodóvar?
A prova cabal de que algo andou muito mal em A Pele que Habito está numa cena envolvendo a grande Marisa Paredes. À beira de um fogaréu ateado para queimar as provas de um crime, a atriz, encarnada da empregada Marília, conta a Vera uma desgraça que ocorrera anos antes naquela casa.
Nesta sequência de delicada execução e emotivo conteúdo, tinha-se uma grande atriz, a diva destrutiva de Tudo Sobre Minha Mãe. A cena começa e a câmera se aproxima vagarosamente fazendo um movimento lateral. A linda labareda ilumina os rostos dessas duas mulheres tão diferentes naquela noite. Quando, enfim, o plano começa a surtir efeito e sua emoção transparece, Almodóvar o interrompe para realizar um flashback completamente desnecessário.
Isso resume o filme: uma série de escolhas desnecessárias que resultam num conjunto equivocado que, apesar de já nos créditos anunciar “Um Filme de Almodóvar”, parece não ser um filme do grande realizador espanhol autor de algumas obras-primas desde os anos 80. Não faltam os códigos que sedimentaram seu estilo como a reviravolta do enredo, tons melodramáticos, personagens obsessivos etc.
Existe um pacto fundamental entre o tipo de adesão pedida por um filme de Almodóvar e o espectador. Dotado de sensibilidade única, ele vai ao mundo e o observa, devolvendo para nós a construção desse olhar. Nessa operação, o ignóbil (a paixão do estuprador Agrado em Fale Com Ela) torna-se lindo; o que merecia ser julgado (o crime e a mãe de Volver) é compreendido; o nobre (o amor de um homem em Carne Trêmula) revela-se podre e escuso; um ato criminoso (o sequestro de Ata-me) é observado numa ótica charmosa.
Por que? Porque o nível de identificação é tremendo, sempre vamos e voltamos, nos aproximamos e tomamos distâncias. Nos colocamos no lugar desses personagens, o que não nos permite adotar uma postura superior e arrogante. Nos enternecemos e solidarizamos. Nos identificamos. Somos eles.
Não dá para acreditar no cirurgião plástico e sua “cobaia” em A Pele que Habito, graças a uma direção excessivamente acadêmica e pomposa, trilha sonora nunca sutil e especialmente pela postura burocrática da direção de Almodóvar e da atuação de Antonio Bandeiras, que aparentam estar mais preocupados em serem profissionais do que artistas.
Infelizmente, Almodóvar quis fazer um filme de tese: a relação do amor e da dor ou de como a tortura leva a um prazer narcísico, passando também por comentários sobre a ética. Em vez do charme de Ata-me, cujo tema tem clara conexão com o novo longa, há as afirmações de A Pele que Habito. Almodóvar, um cineasta que sempre optou por mostrar e nos educou a não julgar, decidiu demonstrar desta vez. Deu errado.
Almodóvar me ensinou a gostar das inversões morais de seus filmes. Acompanhei com encantamento as várias fases de seus cinemas, que divido assim: a anarco-punk (até O Que eu Fiz Para Merecer Isto?, 1984); a cômica-melodramática (até A Flor do Meu Segredo, em 1995); e finalmente o período de amadurecimento como diretor, mais clássico (de Carne Trêmula, 1997, até Volver). Esta é uma tentativa de divisão didática e obviamente filmes não refletem uma postura estanque de um realizador, que só fala disso ou daquilo.
São momentos diferentes de seu cinema, cada um com um charme e sedução diferente, hábeis em cativar não apenas pelo tema, mas pelo estilo. Qual é a sedução de A Pele que Habito? Não há. E isso muito me preocupa.
O que ele ainda quer do cinema ou o que ele pode lhe dar? Qual fase inaugurar-se-á com dois filmes burocráticos como Abraços Partidos (que não é desastroso, apenas médio) e este longa que chegará aos cinemas em 4 de novembro.
A Pele que Habito não é um filme de Almodóvar, mas de Almodóvar querendo fazer um filme de Almodóvar. Um filme-almofadinha.
Antes da estreia voltarei algumas vezes a ele, abordando as questões que estão lá, mas não florescem no conjunto, e a outros momentos mais dignos da carreira de Pedro Almodóvar Caballero. Por ora, é isso: a maior frustração entre as estreias deste ano.
Em tempo: antes de chegar ao circuito comercial, será exibido no Festival do Rio, que terá a ilustre presença de Marisa Paredes, atriz de Almodóvar neste em outros filmes – se não me engano, o primeiro filme da dupla juntos foi Entre Tinielbas, de 1983.
Em tempo2: abaixo o trailer do filme:
Nesta sequência de delicada execução e emotivo conteúdo, tinha-se uma grande atriz, a diva destrutiva de Tudo Sobre Minha Mãe. A cena começa e a câmera se aproxima vagarosamente fazendo um movimento lateral. A linda labareda ilumina os rostos dessas duas mulheres tão diferentes naquela noite. Quando, enfim, o plano começa a surtir efeito e sua emoção transparece, Almodóvar o interrompe para realizar um flashback completamente desnecessário.
Isso resume o filme: uma série de escolhas desnecessárias que resultam num conjunto equivocado que, apesar de já nos créditos anunciar “Um Filme de Almodóvar”, parece não ser um filme do grande realizador espanhol autor de algumas obras-primas desde os anos 80. Não faltam os códigos que sedimentaram seu estilo como a reviravolta do enredo, tons melodramáticos, personagens obsessivos etc.
Existe um pacto fundamental entre o tipo de adesão pedida por um filme de Almodóvar e o espectador. Dotado de sensibilidade única, ele vai ao mundo e o observa, devolvendo para nós a construção desse olhar. Nessa operação, o ignóbil (a paixão do estuprador Agrado em Fale Com Ela) torna-se lindo; o que merecia ser julgado (o crime e a mãe de Volver) é compreendido; o nobre (o amor de um homem em Carne Trêmula) revela-se podre e escuso; um ato criminoso (o sequestro de Ata-me) é observado numa ótica charmosa.
Por que? Porque o nível de identificação é tremendo, sempre vamos e voltamos, nos aproximamos e tomamos distâncias. Nos colocamos no lugar desses personagens, o que não nos permite adotar uma postura superior e arrogante. Nos enternecemos e solidarizamos. Nos identificamos. Somos eles.
Não dá para acreditar no cirurgião plástico e sua “cobaia” em A Pele que Habito, graças a uma direção excessivamente acadêmica e pomposa, trilha sonora nunca sutil e especialmente pela postura burocrática da direção de Almodóvar e da atuação de Antonio Bandeiras, que aparentam estar mais preocupados em serem profissionais do que artistas.
Infelizmente, Almodóvar quis fazer um filme de tese: a relação do amor e da dor ou de como a tortura leva a um prazer narcísico, passando também por comentários sobre a ética. Em vez do charme de Ata-me, cujo tema tem clara conexão com o novo longa, há as afirmações de A Pele que Habito. Almodóvar, um cineasta que sempre optou por mostrar e nos educou a não julgar, decidiu demonstrar desta vez. Deu errado.
Almodóvar me ensinou a gostar das inversões morais de seus filmes. Acompanhei com encantamento as várias fases de seus cinemas, que divido assim: a anarco-punk (até O Que eu Fiz Para Merecer Isto?, 1984); a cômica-melodramática (até A Flor do Meu Segredo, em 1995); e finalmente o período de amadurecimento como diretor, mais clássico (de Carne Trêmula, 1997, até Volver). Esta é uma tentativa de divisão didática e obviamente filmes não refletem uma postura estanque de um realizador, que só fala disso ou daquilo.
São momentos diferentes de seu cinema, cada um com um charme e sedução diferente, hábeis em cativar não apenas pelo tema, mas pelo estilo. Qual é a sedução de A Pele que Habito? Não há. E isso muito me preocupa.
O que ele ainda quer do cinema ou o que ele pode lhe dar? Qual fase inaugurar-se-á com dois filmes burocráticos como Abraços Partidos (que não é desastroso, apenas médio) e este longa que chegará aos cinemas em 4 de novembro.
A Pele que Habito não é um filme de Almodóvar, mas de Almodóvar querendo fazer um filme de Almodóvar. Um filme-almofadinha.
Antes da estreia voltarei algumas vezes a ele, abordando as questões que estão lá, mas não florescem no conjunto, e a outros momentos mais dignos da carreira de Pedro Almodóvar Caballero. Por ora, é isso: a maior frustração entre as estreias deste ano.
Em tempo: antes de chegar ao circuito comercial, será exibido no Festival do Rio, que terá a ilustre presença de Marisa Paredes, atriz de Almodóvar neste em outros filmes – se não me engano, o primeiro filme da dupla juntos foi Entre Tinielbas, de 1983.
Em tempo2: abaixo o trailer do filme:
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Cinema brasileiro 2: os curtas é que salvam
No texto abaixo sobre os postulantes a uma indicação brasileira ao Oscar, argumentei o baixo nível criativo dos longas-metragens de ficção lançados neste ano. Assim como o documentário tem proporcionado ótimas surpresas (Pacific e Diário de Uma Busca), existe um outro formato cuja média da produção é muito boa: os curtas-metragens.
Na terça-feira, o Canal Brasil anunciou o grande vencedor do prêmio de R$ 50 mil, escolhido pelos apresentadores. Deu uma obra-prima chamada Recife Frio, premiação merecida pelo diretor Kleber Mendonça Filho. O que encanta, porém, não é só o escolhido, mas os outros postulantes.
Cada um dos nove candidatos venceu, em um festival diferente, o Prêmio Aquisição do canal, cujo júri é sempre formado por jornalistas e críticos. Da lista, pelo menos quatro são grandes filmes: A Amiga Americana, de Ivo Lopes Araújo e Ricardo Pretti; Bailão, de Marcelo Caetano; Faço de Mim o que Quero, de Petrônio Lorena e Sergio Oliveira; Haruo Ohara, de Rodrigo Grota; além do próprio Recife Frio.
Outro curta-metragem é bom e tem charme, O Filme Mais Violento do Mundo, de Gilberto Scarpa. Infelizmente, não vi os outros três candidatos: Imagine uma Menina com Cabelos de Brasil..., de Alexandre Bersot; Magnífica Desolação, de Fernando Coimbra; e Mãos de Outubro, de Vitor Souza Lima.
De uma lista de nove filmes, cinco integram o time dos grandes, aquele que permite criar uma série de leituras, discussões. São aqueles que nos despertam paixões – já declarei meu amor aos cinco curtas em momentos diferentes. Mais da metade.
Acompanhando a produção brasileira deste ano, solidifica-se uma sensação de que existem muito mais curtas que permanecem após a sessão do que longas. Pretendo desenvolver essa comparação no fim do ano em textos de balanço, mas, por ora, compartilho essa sensação.
Com um porém: existe, sim, uma produção viva em longa-metragem, só que ela ainda passa à margem. São os filmes feitos por coletivos regionais, geralmente com poucos recursos etc. Muitos deles estrearam por meio da Sessão Vitrine. É esse escopo da produção brasileira que mais me interessa e, acredito, deveria ser mais observada não só pelo público, mas também pela crítica.
Se esse cinema florescer ainda mais e ampliar suas janelas de diálogo, aí sim a média da qualidade da produção em longa brasileiros vai dar orgulho.
Na terça-feira, o Canal Brasil anunciou o grande vencedor do prêmio de R$ 50 mil, escolhido pelos apresentadores. Deu uma obra-prima chamada Recife Frio, premiação merecida pelo diretor Kleber Mendonça Filho. O que encanta, porém, não é só o escolhido, mas os outros postulantes.
Cada um dos nove candidatos venceu, em um festival diferente, o Prêmio Aquisição do canal, cujo júri é sempre formado por jornalistas e críticos. Da lista, pelo menos quatro são grandes filmes: A Amiga Americana, de Ivo Lopes Araújo e Ricardo Pretti; Bailão, de Marcelo Caetano; Faço de Mim o que Quero, de Petrônio Lorena e Sergio Oliveira; Haruo Ohara, de Rodrigo Grota; além do próprio Recife Frio.
Outro curta-metragem é bom e tem charme, O Filme Mais Violento do Mundo, de Gilberto Scarpa. Infelizmente, não vi os outros três candidatos: Imagine uma Menina com Cabelos de Brasil..., de Alexandre Bersot; Magnífica Desolação, de Fernando Coimbra; e Mãos de Outubro, de Vitor Souza Lima.
De uma lista de nove filmes, cinco integram o time dos grandes, aquele que permite criar uma série de leituras, discussões. São aqueles que nos despertam paixões – já declarei meu amor aos cinco curtas em momentos diferentes. Mais da metade.
Acompanhando a produção brasileira deste ano, solidifica-se uma sensação de que existem muito mais curtas que permanecem após a sessão do que longas. Pretendo desenvolver essa comparação no fim do ano em textos de balanço, mas, por ora, compartilho essa sensação.
Com um porém: existe, sim, uma produção viva em longa-metragem, só que ela ainda passa à margem. São os filmes feitos por coletivos regionais, geralmente com poucos recursos etc. Muitos deles estrearam por meio da Sessão Vitrine. É esse escopo da produção brasileira que mais me interessa e, acredito, deveria ser mais observada não só pelo público, mas também pela crítica.
Se esse cinema florescer ainda mais e ampliar suas janelas de diálogo, aí sim a média da qualidade da produção em longa brasileiros vai dar orgulho.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Brasil (provavelmente) fora do Oscar. De novo
O Ministério da Cultura divulgou ontem, terça-feira (13/9), os pré-selecionados que postulam à indicação do MinC para ser o representante brasileiro por uma vaga de Melhor Filme em Língua Estrangeira do Oscar. Apenas 15 longas-metragens se inscreveram, diz o site do Ministério.
Acho improvável que queime a língua: mais um ano sem representante tupiniquim na cerimônia da Academia. A não ser que o escolhido seja Tropa de Elite 2 que, para mim, não é o melhor da lista, mas pode ter lá suas chances por ser minimamente conhecido lá fora e por conta do diretor, José Padilha, premiado em Berlim em 2008 com o primeiro filme e que foi para Hollywood dirigir uma nova versão de Robocop.
Mas não vou investir em futurologia de Oscar, pois não tenho talento para Mãe Diná, e nem buscar tendências, já que meu know how da rotina da Academia não chega nem perto do faro de Ana Maria Bahiana, hoje blogueira do UOL. Vou me concentrar no nível da lista, independente de ser para Oscar ou para um troféu de esquina.
O nível está muito baixo. Muito. Risível. Uma pena, já que sou um crítico comprometido a refletir especialmente com o passado, presente e futuro com o cinema daqui. Dos 15 pré-selecionados, sete não se sustentam após o primeiro argumento. Vou nominá-los, em ordem alfabética: A Antropóloga, As Mães de Chico Xavier, Assalto ao Banco Central, Família Vende Tudo, Federal, Mulatas! Um Tufão nos Quadris e Quebrando o Tabu. Estes são os medonhos.
Dos restantes, cinco são medianos: em alguns momentos interessantes, mas não têm fôlego para competir com o que há (supostamente) de melhor nas cinematografias mundiais. São eles: Bruna Surfistinha, Estamos Juntos, Vips, Histórias Reais de um Mentiroso – Vips e Lope.
Sobram três. Malu de Bicicleta é bom, mas carece de grandes aspirações como cinema. É modesto, mas honesto. Digno.
Sobram Tropa de Elite 2 e Trabalhar Cansa, os quais só assisti uma vez e achei grandes filmes. Dois longas de verve diferente, mas porretas – a diferença é que o longa de Juliana Rojas e Marco Dutra não sofre do maniqueísmo do filme de Padilha.
Até semana passada, comecinho de setembro, estrearam 55 longas brasileiros que poderiam ter se inscrito no MinC. Entre setembro e dezembro de 2010, período que também tornariam elegíveis outras onze ficções, destaco apenas Meu Mundo em Perigo e O Sol do Meio Dia.
Desse bolo de 66 ficções, apenas quinze se inscreveram. Por quê? Por que os produtores de Transeunte, Natimorto, Não se Pode Viver Sem Amor, Riscado, interessantes e com algo a dizer, não entraram? Para evitar a fadiga? Qual é o resultado dessa equação que não percebo?
A coisa não está boa
No começo da redação deste artigo, pensei que a tal lista dos 15 não refletisse os filmes lançados neste ano. O problema seria dos produtores de boas ficções (fazendo esse corte já que raramente a Academia escolhe um documentário na categoria de Filme Estrangeiro) que não inscreveram seus longas.
O triste fato é que a lista dos 15 reflete, sim, o que foi feito até o momento entre as ficções. À exceção das quatro ficções já citadas que mereciam estar na lista, e de Estrada Para Ythaca, lançado pela Sessão Vitrine, não existem filmes que me provoquem alguma paixão, gana por discuti-las e ouvir opiniões contrárias.
Não existem ficções para se colocar na mesa, esta é a verdade. Com documentários, o papo é outro.
Quando olho para o escolhido da Hungria, O Cavalo de Turim, de Béla Tarr (não sou louco pelo filme, mas não dá para negar sua força como cinema e a maravilhosa encenação), fico com muita vergonha da lista. Suponho uma embaraçosa situação: para começar o dia, um membro da Academia assiste ao filme de Tarr. Em seguida, a Assalto ao Banco Central.
É ou não de doer?!
Entre esse suposto cinema de qualidade e do bom gosto como Lope e as limitações técnicas e orçamentais de Os Monstros, fico com este: não tem dinheiro, mas esbanja verdade cinematográfica.
É esta segunda linhagem de cinema brasileiro que precisa tomar dimensões maiores, contaminar o espectador, não a outra.
Por isso discordo do senso comum: o cinema brasileiro não vai de vento em popa.
Acho improvável que queime a língua: mais um ano sem representante tupiniquim na cerimônia da Academia. A não ser que o escolhido seja Tropa de Elite 2 que, para mim, não é o melhor da lista, mas pode ter lá suas chances por ser minimamente conhecido lá fora e por conta do diretor, José Padilha, premiado em Berlim em 2008 com o primeiro filme e que foi para Hollywood dirigir uma nova versão de Robocop.
Mas não vou investir em futurologia de Oscar, pois não tenho talento para Mãe Diná, e nem buscar tendências, já que meu know how da rotina da Academia não chega nem perto do faro de Ana Maria Bahiana, hoje blogueira do UOL. Vou me concentrar no nível da lista, independente de ser para Oscar ou para um troféu de esquina.
O nível está muito baixo. Muito. Risível. Uma pena, já que sou um crítico comprometido a refletir especialmente com o passado, presente e futuro com o cinema daqui. Dos 15 pré-selecionados, sete não se sustentam após o primeiro argumento. Vou nominá-los, em ordem alfabética: A Antropóloga, As Mães de Chico Xavier, Assalto ao Banco Central, Família Vende Tudo, Federal, Mulatas! Um Tufão nos Quadris e Quebrando o Tabu. Estes são os medonhos.
Dos restantes, cinco são medianos: em alguns momentos interessantes, mas não têm fôlego para competir com o que há (supostamente) de melhor nas cinematografias mundiais. São eles: Bruna Surfistinha, Estamos Juntos, Vips, Histórias Reais de um Mentiroso – Vips e Lope.
Sobram três. Malu de Bicicleta é bom, mas carece de grandes aspirações como cinema. É modesto, mas honesto. Digno.
Sobram Tropa de Elite 2 e Trabalhar Cansa, os quais só assisti uma vez e achei grandes filmes. Dois longas de verve diferente, mas porretas – a diferença é que o longa de Juliana Rojas e Marco Dutra não sofre do maniqueísmo do filme de Padilha.
Até semana passada, comecinho de setembro, estrearam 55 longas brasileiros que poderiam ter se inscrito no MinC. Entre setembro e dezembro de 2010, período que também tornariam elegíveis outras onze ficções, destaco apenas Meu Mundo em Perigo e O Sol do Meio Dia.
Desse bolo de 66 ficções, apenas quinze se inscreveram. Por quê? Por que os produtores de Transeunte, Natimorto, Não se Pode Viver Sem Amor, Riscado, interessantes e com algo a dizer, não entraram? Para evitar a fadiga? Qual é o resultado dessa equação que não percebo?
A coisa não está boa
No começo da redação deste artigo, pensei que a tal lista dos 15 não refletisse os filmes lançados neste ano. O problema seria dos produtores de boas ficções (fazendo esse corte já que raramente a Academia escolhe um documentário na categoria de Filme Estrangeiro) que não inscreveram seus longas.
O triste fato é que a lista dos 15 reflete, sim, o que foi feito até o momento entre as ficções. À exceção das quatro ficções já citadas que mereciam estar na lista, e de Estrada Para Ythaca, lançado pela Sessão Vitrine, não existem filmes que me provoquem alguma paixão, gana por discuti-las e ouvir opiniões contrárias.
Não existem ficções para se colocar na mesa, esta é a verdade. Com documentários, o papo é outro.
Quando olho para o escolhido da Hungria, O Cavalo de Turim, de Béla Tarr (não sou louco pelo filme, mas não dá para negar sua força como cinema e a maravilhosa encenação), fico com muita vergonha da lista. Suponho uma embaraçosa situação: para começar o dia, um membro da Academia assiste ao filme de Tarr. Em seguida, a Assalto ao Banco Central.
É ou não de doer?!
Entre esse suposto cinema de qualidade e do bom gosto como Lope e as limitações técnicas e orçamentais de Os Monstros, fico com este: não tem dinheiro, mas esbanja verdade cinematográfica.
É esta segunda linhagem de cinema brasileiro que precisa tomar dimensões maiores, contaminar o espectador, não a outra.
Por isso discordo do senso comum: o cinema brasileiro não vai de vento em popa.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
A falsa inclusão dos gordinhos e gays de Glee 3D – O Filme
Na próxima sexta-feira (16/9), estreia nos cinemas brasileiros um produto audiovisual que me recuso a chamar de filme, mesmo o título local sendo Glee 3D – O Filme. Trata-se de uma sacada do produtor e roteirista Ryan Murphy para expandir os dividendos da série.
Um musical com números dos principais atores da série que conheço apenas de nome, intercalado com depoimentos de fãs que ilustram o suposto porquê da importância social da série: ela teria ensinado os adolescentes americanos a se aceitar melhor e a respeitar as diferenças.
Daí surgem a gordinha e negra cheia de orgulho próprio (Amber Riley), o estiloso gay assumido (Chris Colfer) e o nerd (Kevin McHale).
A priori, e tomando apenas como base o “filme” e as canções nele interpretadas – que lidam com autoestima, aceitação, diferença e amor, na maioria –, fico muito feliz em ver que a televisão americana botou dinheiro e acolheu um produto que trabalharia fora dos padrões tradicionais.
Mas esse otimismo não se sustenta após uma análise minimamente aprofundada. Pelo seguinte: os protagonistas continuam sendo o mesmo estereótipo de sempre: jovem, branco e popular.
O que me leva à conclusão: não passa de acomodação, em vez de rompimento, uma esperteza de mercado de ir em direção a um público que, por diferir do padrão vendido pela televisão americana (jovem branco, bonito e popular na escola), não mais se identificaria com a lógica de sempre.
Os gordinhos, negros, homossexuais, nerds e outras “minorias” (não em quantidade, mas na possibilidade de exercer plenamente sua cidadania), são apenas instrumentos para dar uma “cor local”, roubando Jorge Amado, diferente. Quem protagoniza e estabelece o padrão mantém a lógica heteroxista de mundo.
Ou seja, não passa de uma concessão da televisão, e não uma mudança radical de postura. Um redirecionamento do timão mercadológico para “minorias” antes ignoradas, para as quais se direciona a desculpa “agora vocês podem se ver refletido na tela”.
Em parte, cara pálida, pois o superficial discurso de autoajuda e orgulho próprio está longe de colocar na mesa uma real discussão sobre os conflitos e acomodações das diferenças. Trata-se apenas de um gesto inclusivo de mercado, não humano.
Um musical com números dos principais atores da série que conheço apenas de nome, intercalado com depoimentos de fãs que ilustram o suposto porquê da importância social da série: ela teria ensinado os adolescentes americanos a se aceitar melhor e a respeitar as diferenças.
Daí surgem a gordinha e negra cheia de orgulho próprio (Amber Riley), o estiloso gay assumido (Chris Colfer) e o nerd (Kevin McHale).
A priori, e tomando apenas como base o “filme” e as canções nele interpretadas – que lidam com autoestima, aceitação, diferença e amor, na maioria –, fico muito feliz em ver que a televisão americana botou dinheiro e acolheu um produto que trabalharia fora dos padrões tradicionais.
Mas esse otimismo não se sustenta após uma análise minimamente aprofundada. Pelo seguinte: os protagonistas continuam sendo o mesmo estereótipo de sempre: jovem, branco e popular.
O que me leva à conclusão: não passa de acomodação, em vez de rompimento, uma esperteza de mercado de ir em direção a um público que, por diferir do padrão vendido pela televisão americana (jovem branco, bonito e popular na escola), não mais se identificaria com a lógica de sempre.
Os gordinhos, negros, homossexuais, nerds e outras “minorias” (não em quantidade, mas na possibilidade de exercer plenamente sua cidadania), são apenas instrumentos para dar uma “cor local”, roubando Jorge Amado, diferente. Quem protagoniza e estabelece o padrão mantém a lógica heteroxista de mundo.
Ou seja, não passa de uma concessão da televisão, e não uma mudança radical de postura. Um redirecionamento do timão mercadológico para “minorias” antes ignoradas, para as quais se direciona a desculpa “agora vocês podem se ver refletido na tela”.
Em parte, cara pálida, pois o superficial discurso de autoajuda e orgulho próprio está longe de colocar na mesa uma real discussão sobre os conflitos e acomodações das diferenças. Trata-se apenas de um gesto inclusivo de mercado, não humano.
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Riscado, um filme que merecia mais que silêncio
Estreia nesta sexta-feira (9/9), quase de mansinho, Riscado, grande filme que passou pela primeira vez no Festival do Rio em outubro do ano passado, entrou em Tiradentes em janeiro de 2011 e arrebatou mais cinco prêmios em Gramado há um mês.
Mesmo com uma trajetória bem sucedida em festivais e com a Variety dizendo que “há muito não víamos um filme que tenha captado com inteligência e criatividade o mundo de uma atriz”, o primeiro longa de ficção de Gustavo Pizzi será apenas arremessado no circuito comercial.
O filme merecia mais. Por si só, suas imagens e encenação, o trabalho da atriz Karina Teles e o olhar terno com os nossos sonhos e desejos, são suficientes para se encantar. Saber, após a sessão, que o filme custou bem pouco e se manteve com um baixíssimo orçamento, as peripécias de Riscado ficam ainda mais louváveis.
Tudo é muito colorido neste filme. Belo contraste com a situação de Bianca (Karina Teles), talentosa e promissora atriz que ainda não conseguiu se consolidar. Nas aparências, um lindo rosto que maquiado à Marilyn Monroe, imitação que Bianca faz de personalidades em festas para ganhar o pão. Por trás da maquiagem, uma mulher que compartilha sua intimidade com o espectador por meio de diários em imagem.
Não há como não se enternecer pela personagem. Suas questões primordiais são, sim, sobre o ofício de atriz, mas não se restringem a isso. Brigar por um sonho e se encantar por uma fresta que aparece no caminho são situações pelas quais todos nós passamos.
Mas isso faria de Riscado apenas um bom filme. O que o torna um louvável filme cheio de ternura é certamente a encenação. Conhecemos Bianca por três instâncias diferentes: a personagem que se fantasia de Marilyn Monroe em festas, a atriz que participa de um filme compartilhando experiências pessoas e a mulher que se permite filmar num registro íntimo, “verdadeiro”, sem supostas interpretações.
Isso dá uma gostosa sensação de vida se desenrolando e descortinando continuamente no cinema, efeito que vem do cruzamento dessas três instâncias e prolongamentos da vida de uma mulher.
Enfim, Riscado, que deve entrar na minha lista de melhores filmes brasileiros deste ano, merecia mais do que ser arremessado nas salas de cinema.
Mesmo com uma trajetória bem sucedida em festivais e com a Variety dizendo que “há muito não víamos um filme que tenha captado com inteligência e criatividade o mundo de uma atriz”, o primeiro longa de ficção de Gustavo Pizzi será apenas arremessado no circuito comercial.
O filme merecia mais. Por si só, suas imagens e encenação, o trabalho da atriz Karina Teles e o olhar terno com os nossos sonhos e desejos, são suficientes para se encantar. Saber, após a sessão, que o filme custou bem pouco e se manteve com um baixíssimo orçamento, as peripécias de Riscado ficam ainda mais louváveis.
Tudo é muito colorido neste filme. Belo contraste com a situação de Bianca (Karina Teles), talentosa e promissora atriz que ainda não conseguiu se consolidar. Nas aparências, um lindo rosto que maquiado à Marilyn Monroe, imitação que Bianca faz de personalidades em festas para ganhar o pão. Por trás da maquiagem, uma mulher que compartilha sua intimidade com o espectador por meio de diários em imagem.
Não há como não se enternecer pela personagem. Suas questões primordiais são, sim, sobre o ofício de atriz, mas não se restringem a isso. Brigar por um sonho e se encantar por uma fresta que aparece no caminho são situações pelas quais todos nós passamos.
Mas isso faria de Riscado apenas um bom filme. O que o torna um louvável filme cheio de ternura é certamente a encenação. Conhecemos Bianca por três instâncias diferentes: a personagem que se fantasia de Marilyn Monroe em festas, a atriz que participa de um filme compartilhando experiências pessoas e a mulher que se permite filmar num registro íntimo, “verdadeiro”, sem supostas interpretações.
Isso dá uma gostosa sensação de vida se desenrolando e descortinando continuamente no cinema, efeito que vem do cruzamento dessas três instâncias e prolongamentos da vida de uma mulher.
Enfim, Riscado, que deve entrar na minha lista de melhores filmes brasileiros deste ano, merecia mais do que ser arremessado nas salas de cinema.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Werner Herzog, 69 anos
Paulo Gadioli, amigo de redação aqui no Cineclick, me lembra que hoje, segunda-feira, 5 de setembro, é o aniversário de Werner Herzog Stipetić, o Herzog, cineasta do novo cinema alemão.
Conheço bem pouco de seus filmes, apenas os básicos: O Enigma de Kaspar Hausen, Fitzcarraldo, Cobra Verde e, mais recentemente, Vício Frenético – metralhado injustamente por amigos da crítica.
Em junho, descobri um Herzog que não conhecia, o documentarista radical. O Festival Internacional Lume de Cinema, coordenado por Frederico Machado, organizou uma mostra com os documentários do alemão. Lá vi Fata Morgana, que ele fez em 1971.
Sai-se de uma sessão desse filme com aquela sensação de não ter entendido muita coisa, mas mesmo assim maravilhado. Pela beleza das imagens e pelo discurso desvairado de desconfiar no próprio discurso da imagem.
Existem diferenças de propostas e especialmente de pretensão, mas relembrando de Fata Morgana (que significa algo como “miragem”) o aproximo de Árvore da Vida. Não esperneie: Malick busca o diálogo do homem com Deus, é verdade, mas as imagens de ambos os filmes pedem muito da contribuição da leitura do espectador. Sem ele, não há filme.
Feliz aniversário, Werner Herzog!
Conheço bem pouco de seus filmes, apenas os básicos: O Enigma de Kaspar Hausen, Fitzcarraldo, Cobra Verde e, mais recentemente, Vício Frenético – metralhado injustamente por amigos da crítica.
Em junho, descobri um Herzog que não conhecia, o documentarista radical. O Festival Internacional Lume de Cinema, coordenado por Frederico Machado, organizou uma mostra com os documentários do alemão. Lá vi Fata Morgana, que ele fez em 1971.
Sai-se de uma sessão desse filme com aquela sensação de não ter entendido muita coisa, mas mesmo assim maravilhado. Pela beleza das imagens e pelo discurso desvairado de desconfiar no próprio discurso da imagem.
Existem diferenças de propostas e especialmente de pretensão, mas relembrando de Fata Morgana (que significa algo como “miragem”) o aproximo de Árvore da Vida. Não esperneie: Malick busca o diálogo do homem com Deus, é verdade, mas as imagens de ambos os filmes pedem muito da contribuição da leitura do espectador. Sem ele, não há filme.
Feliz aniversário, Werner Herzog!
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Quem é Ricardo Darín?
É quase lei na crítica de cinema brasileira reforçar um lugar-comum que, em parte, procede: o cinema argentino sabe contar pequenos dramas humanos geralmente centrados na família. O grande protagonista desse estilo narrativo tem sido Ricardo Darín.
Fui aos números: em dez anos, os 14 filmes nos quais Darín participou levaram 10,2 milhões de espectadores às salas de cinema da Argentina. Por quê? O que o público enxerga nele? Qual é a imagem masculina que seus personagens transpiram? Tê-lo em uma produção é realmente garantia de sucesso?
Pedi auxílio de dois especialistas argentinos para encontrar respostas: Mariano Oliveiros, do blog Taquilla Argentina, que se concentra em bilheterias, e Clara Krieger, pesquisadora que escreveu vários livres sobre cinema latino. Como o tempo está apertado, não consegui traduzir a tempo a íntegra da entrevista com Clara, que dá um interessante panorama não só de Darín, mas da produção contemporânea argentina.
Quem tiver paciência e compreender um pouco o castelhano não terá dificuldades em acompanhar o raciocínio da pesquisadora. A íntegra do papo vai abaixo:
Urso de Lata: O que Darín tem em diferença a outros atores? Tê-lo em um filme é garantia de sucesso comercial?
Clara Krieger: Las preguntas que me hacés son difíciles de responder. Aunque no existe la fórmula del éxito creo que existen tres elementos que deben convivir en toda película que pretenda el éxito de público. En primer lugar, tocar algún tema que de alguna manera esté presente en el discurso social, en segundo lugar en el filme debe prevalecer el lenguaje cinematográfico clásico y finalmente la puesta en escena debe poner el acento en lo emocional. Si a eso le sumamos un actor tan carismático como Darín, el público está garantizado.
Darín es un muy buen actor y podríamos pensar que representa al porteño promedio, es decir que los espectadores lo viven como un par. A eso debemos agregar que muchas de las películas que hizo trajeron a la pantalla algún problema en el que los espectadores pueden verse involucrados. Un ejemplo es Luna de Avellaneda que puso sobre la mesa el problema de las asociaciones intermedias en un marco de crisis.
La Argentina es un país en el que las asociaciones intermedias ya eran muy fuertes y numerosas en la década del 30, y consolidaron una red social que tuvo mucha presencia (clubes deportivos, sociedades de fomento, etc.etc.). En la década del 90 esas asociaciones estuvieron a punto de extinguirse y la película se sitúa en ese terreno. Lo hace con una mirada siempre esperanzadora que al espectador le permite salir con una sonrisa y pensar que todavía existen los tipos buenos como el personaje de Darín.
Qual é o tipo de imagem masculina que ele passa?
Darín es un hombre atractivo sin dudas, pero aquí no es un sex symbol. En mis viajes a San Pablo encontré comentarios sobre la belleza de Darín que aquí no se encuentran tan facilmente.
Darín es un actor con un bajo perfil y la gente lo ve más como un amigo que como una estrella. En los reportajes siempre se presenta como una persona normal que trabaja de actor. No se le conocen escándalos, no hace publícidad de sus bienes materiales, no permite que hagan un culto de su figura. Por ejemplo, no fue a recibir el Oscar porque ese tipo de situaciones no le gustan. No usa posturas artificiales, no da lecciones de moral. Es muy gracioso, parece buena gente y tiene una gran virtud: no se la cree (es una expresión porteña que significa que no cree que el exito y él son sinónimos y además conoce sus limitaciones).
Creo que tiene cosas muy representativas de los porteños: el tipo de humor irónico, la picardía, una forma de ser varonil y tierno al mismo tiempo. Quizá eso pueda parecer como un Humphrey Bogart, en muchos personajes es duro y tierno a la vez.
Qual sua avaliação geral sobre a produção contemporânea na Argentina? Aqui no Brasil é um lugar-comum afirmar que o cinema de vocês está indo de vento em polpa...
Con respecto a nuestro cine actual, yo creo que lo más interesante pasa por el documental. Las producciones de ficción son más desparejas. Hace bastante que no veo películas de ficción argentinas que me llamen la atención. Por suerte tenemos más cantidad de películas de ficción que son buenas y para público masivo, pero no veo nada innovador o realmente interesante.
La trayectoria del documental es más rica desde fibnales de los 90s hasta aquí. Siempre aparecen ejemplos destacables. Solo cito dos de los últimos que vi: Familia tipo, de Cecilia Priego (2009) y la nueva película de Andres Di tella, Hachazos (2011). La primera cuenta una historia familiar y la segunda gira en torno del artista Claudio Caldini, ambas sorprenden por el enfoque, las formas narrativas, la poética general.
Fui aos números: em dez anos, os 14 filmes nos quais Darín participou levaram 10,2 milhões de espectadores às salas de cinema da Argentina. Por quê? O que o público enxerga nele? Qual é a imagem masculina que seus personagens transpiram? Tê-lo em uma produção é realmente garantia de sucesso?
Pedi auxílio de dois especialistas argentinos para encontrar respostas: Mariano Oliveiros, do blog Taquilla Argentina, que se concentra em bilheterias, e Clara Krieger, pesquisadora que escreveu vários livres sobre cinema latino. Como o tempo está apertado, não consegui traduzir a tempo a íntegra da entrevista com Clara, que dá um interessante panorama não só de Darín, mas da produção contemporânea argentina.
Quem tiver paciência e compreender um pouco o castelhano não terá dificuldades em acompanhar o raciocínio da pesquisadora. A íntegra do papo vai abaixo:
Urso de Lata: O que Darín tem em diferença a outros atores? Tê-lo em um filme é garantia de sucesso comercial?
Clara Krieger: Las preguntas que me hacés son difíciles de responder. Aunque no existe la fórmula del éxito creo que existen tres elementos que deben convivir en toda película que pretenda el éxito de público. En primer lugar, tocar algún tema que de alguna manera esté presente en el discurso social, en segundo lugar en el filme debe prevalecer el lenguaje cinematográfico clásico y finalmente la puesta en escena debe poner el acento en lo emocional. Si a eso le sumamos un actor tan carismático como Darín, el público está garantizado.
Darín es un muy buen actor y podríamos pensar que representa al porteño promedio, es decir que los espectadores lo viven como un par. A eso debemos agregar que muchas de las películas que hizo trajeron a la pantalla algún problema en el que los espectadores pueden verse involucrados. Un ejemplo es Luna de Avellaneda que puso sobre la mesa el problema de las asociaciones intermedias en un marco de crisis.
La Argentina es un país en el que las asociaciones intermedias ya eran muy fuertes y numerosas en la década del 30, y consolidaron una red social que tuvo mucha presencia (clubes deportivos, sociedades de fomento, etc.etc.). En la década del 90 esas asociaciones estuvieron a punto de extinguirse y la película se sitúa en ese terreno. Lo hace con una mirada siempre esperanzadora que al espectador le permite salir con una sonrisa y pensar que todavía existen los tipos buenos como el personaje de Darín.
Qual é o tipo de imagem masculina que ele passa?
Darín es un hombre atractivo sin dudas, pero aquí no es un sex symbol. En mis viajes a San Pablo encontré comentarios sobre la belleza de Darín que aquí no se encuentran tan facilmente.
Darín es un actor con un bajo perfil y la gente lo ve más como un amigo que como una estrella. En los reportajes siempre se presenta como una persona normal que trabaja de actor. No se le conocen escándalos, no hace publícidad de sus bienes materiales, no permite que hagan un culto de su figura. Por ejemplo, no fue a recibir el Oscar porque ese tipo de situaciones no le gustan. No usa posturas artificiales, no da lecciones de moral. Es muy gracioso, parece buena gente y tiene una gran virtud: no se la cree (es una expresión porteña que significa que no cree que el exito y él son sinónimos y además conoce sus limitaciones).
Creo que tiene cosas muy representativas de los porteños: el tipo de humor irónico, la picardía, una forma de ser varonil y tierno al mismo tiempo. Quizá eso pueda parecer como un Humphrey Bogart, en muchos personajes es duro y tierno a la vez.
Qual sua avaliação geral sobre a produção contemporânea na Argentina? Aqui no Brasil é um lugar-comum afirmar que o cinema de vocês está indo de vento em polpa...
Con respecto a nuestro cine actual, yo creo que lo más interesante pasa por el documental. Las producciones de ficción son más desparejas. Hace bastante que no veo películas de ficción argentinas que me llamen la atención. Por suerte tenemos más cantidad de películas de ficción que son buenas y para público masivo, pero no veo nada innovador o realmente interesante.
La trayectoria del documental es más rica desde fibnales de los 90s hasta aquí. Siempre aparecen ejemplos destacables. Solo cito dos de los últimos que vi: Familia tipo, de Cecilia Priego (2009) y la nueva película de Andres Di tella, Hachazos (2011). La primera cuenta una historia familiar y la segunda gira en torno del artista Claudio Caldini, ambas sorprenden por el enfoque, las formas narrativas, la poética general.
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