quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Riscado, um filme que merecia mais que silêncio

Estreia nesta sexta-feira (9/9), quase de mansinho, Riscado, grande filme que passou pela primeira vez no Festival do Rio em outubro do ano passado, entrou em Tiradentes em janeiro de 2011 e arrebatou mais cinco prêmios em Gramado há um mês.

Mesmo com uma trajetória bem sucedida em festivais e com a Variety dizendo que “há muito não víamos um filme que tenha captado com inteligência e criatividade o mundo de uma atriz”, o primeiro longa de ficção de Gustavo Pizzi será apenas arremessado no circuito comercial.

O filme merecia mais. Por si só, suas imagens e encenação, o trabalho da atriz Karina Teles e o olhar terno com os nossos sonhos e desejos, são suficientes para se encantar. Saber, após a sessão, que o filme custou bem pouco e se manteve com um baixíssimo orçamento, as peripécias de Riscado ficam ainda mais louváveis.

Tudo é muito colorido neste filme. Belo contraste com a situação de Bianca (Karina Teles), talentosa e promissora atriz que ainda não conseguiu se consolidar. Nas aparências, um lindo rosto que maquiado à Marilyn Monroe, imitação que Bianca faz de personalidades em festas para ganhar o pão. Por trás da maquiagem, uma mulher que compartilha sua intimidade com o espectador por meio de diários em imagem.

Não há como não se enternecer pela personagem. Suas questões primordiais são, sim, sobre o ofício de atriz, mas não se restringem a isso. Brigar por um sonho e se encantar por uma fresta que aparece no caminho são situações pelas quais todos nós passamos.

Mas isso faria de Riscado apenas um bom filme. O que o torna um louvável filme cheio de ternura é certamente a encenação. Conhecemos Bianca por três instâncias diferentes: a personagem que se fantasia de Marilyn Monroe em festas, a atriz que participa de um filme compartilhando experiências pessoas e a mulher que se permite filmar num registro íntimo, “verdadeiro”, sem supostas interpretações.

Isso dá uma gostosa sensação de vida se desenrolando e descortinando continuamente no cinema, efeito que vem do cruzamento dessas três instâncias e prolongamentos da vida de uma mulher.

Enfim, Riscado, que deve entrar na minha lista de melhores filmes brasileiros deste ano, merecia mais do que ser arremessado nas salas de cinema.

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