Na próxima sexta-feira (16/9), estreia nos cinemas brasileiros um produto audiovisual que me recuso a chamar de filme, mesmo o título local sendo Glee 3D – O Filme. Trata-se de uma sacada do produtor e roteirista Ryan Murphy para expandir os dividendos da série.
Um musical com números dos principais atores da série que conheço apenas de nome, intercalado com depoimentos de fãs que ilustram o suposto porquê da importância social da série: ela teria ensinado os adolescentes americanos a se aceitar melhor e a respeitar as diferenças.
Daí surgem a gordinha e negra cheia de orgulho próprio (Amber Riley), o estiloso gay assumido (Chris Colfer) e o nerd (Kevin McHale).
A priori, e tomando apenas como base o “filme” e as canções nele interpretadas – que lidam com autoestima, aceitação, diferença e amor, na maioria –, fico muito feliz em ver que a televisão americana botou dinheiro e acolheu um produto que trabalharia fora dos padrões tradicionais.
Mas esse otimismo não se sustenta após uma análise minimamente aprofundada. Pelo seguinte: os protagonistas continuam sendo o mesmo estereótipo de sempre: jovem, branco e popular.
O que me leva à conclusão: não passa de acomodação, em vez de rompimento, uma esperteza de mercado de ir em direção a um público que, por diferir do padrão vendido pela televisão americana (jovem branco, bonito e popular na escola), não mais se identificaria com a lógica de sempre.
Os gordinhos, negros, homossexuais, nerds e outras “minorias” (não em quantidade, mas na possibilidade de exercer plenamente sua cidadania), são apenas instrumentos para dar uma “cor local”, roubando Jorge Amado, diferente. Quem protagoniza e estabelece o padrão mantém a lógica heteroxista de mundo.
Ou seja, não passa de uma concessão da televisão, e não uma mudança radical de postura. Um redirecionamento do timão mercadológico para “minorias” antes ignoradas, para as quais se direciona a desculpa “agora vocês podem se ver refletido na tela”.
Em parte, cara pálida, pois o superficial discurso de autoajuda e orgulho próprio está longe de colocar na mesa uma real discussão sobre os conflitos e acomodações das diferenças. Trata-se apenas de um gesto inclusivo de mercado, não humano.
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