sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sean Penn e o sub-Miranda July

Sean Penn, o roqueiro em crise no filme de Sorrentino

Há algo irremediavelmente incômodo em Aqui é o Meu Lugar, meio viagem existencialista, meio feel good movie que Paolo Sorrentino propôs e que Sean Penn topou protagonizar.

Ora é possível acreditar no filme como exercício genuíno de revisão da vida de um personagem, apostando numa representação que quer mais do que respostas simples. Ora o filme banaliza movimentos de câmera (o que dizer do tesão incontrolável de Sorrentino pelas gruas na estrada?), apela para metáforas edificantes (o cigarro como atestado de crescimento), põe uma musiquinha do Talking Heads e acha que tudo está resolvido.

Dias depois de assisti-lo, não consegui me conciliar com o filme – mas o sentimento não é o mesmo da raiva com o novo Honoré. Percebe-se algumas sofisticações que refrescam o olhar e apontam um caminho mais inteligente do filme. Se Aqui é o Meu Lugar abandonasse as pretensões iniciais em detrimento de uma simplicidade ficaria mais simples de defini-lo. O que intriga neste longa de Sorrentino é que uma sacada vem quase que imediatamente acompanhada de uma bobagem.



Sorrentino mostra o apuro na escolha das locações, seja a casa do roteiro decadente, Cheyenne (Penn), ou na casa de sua vizinha e amiga, um local fechado, escuro e pequenino. Há também os trancos que o filme incorpora em seu fluxo, como que provocando o espectador para um personagem que não reage. Minutos depois, Sorrentino mergulha seu filme nuns ares de sub-Miranda July (o bizarro/fofo encontro do roqueiro maquiado com o vendedor de carros redneck).

O ápice dessa mistura é o ato final. Quando Cheyenne encontra o algoz de seu pai em Auschwitz, Sorrentino dá um show de encenação, recorre a um registro mais teatral, abrindo um confessionário ao algoz. Belíssimo momento que é soterrado quando, na volta à casa, o filme apela para os planos mais clichês imagináveis (o homem que para de se maquiar e “cresce”).

No fim, o que Aqui é o Meu Lugar é, de fato? Um sub-Miranda July ou cinema?

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