quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Clint Eastwood e Dustin Lance Black tiram J. Edgar do armário

Leonardo DiCaprio deve ser indicado ao Oscar


Há muito o que dizer sobre J. Edgar, o filme que Clint Eastwood fez sobre John Edgar Hoover, o inventor do FBI em 1935, personagem mítico da cultura norte-americana. Profundamente conservador, entre 1924 e 1972 dividiu o mundo entre o Bem (nós) e o Mal (eles, os comunistas), espionou um mundaréu de desafetos, aplicou um amplo leque de métodos ilegais.

Antes de assistir ao filme, que será lançado pela Warner Bros. no Brasil na outra sexta-feira (27/1), temia por uma abordagem coxa de suas contradições – Hoover merece tanto ser admirado quanto esculachado. Receio de que o patriotismo se sobrepusesse à complexidade de seu caráter ou que J. Edgar fosse apenas um filme de época que não permitisse diálogo algum com questões contemporâneas.

Os medos não se justificam, já que o filme decide ir a fundo e colocar em xeque o personagem, inclusive num tema polêmico: a homossexualidade de Hoover. Enquanto vivo, ameaçou quem tornasse pública sua relação com Clyde Tolson. Hoje, quase 40 anos após sua morte, sua homossexualidade é notória – mesmo que tenha ficado por debaixo do pano por tantos anos durante o reinado no FBI.

Numa das cenas mais lindas do filme, Hoover, interpretado por Leonardo DiCaprio, briga consigo mesmo de frente ao espelho. Lindo jogo de sombras. Ou em outras duas sequências de um amor desesperado e dolorido. Muito feliz a escolha de Dustin Lance Black, homossexual assumido e roteirista de Milk – A Voz da Igualdade, personagem ícone dos gays, para escrever o filme de Clint: há um desenho muito interessante da personalidade e do conflito.

Mas não dá para limitar J. Edgar à sexualidade do protagonista. O filme estabelece um diálogo aberto com o momento mais recente dos Estados Unidos, em que os fins justificaram os meios na Era Bush.

Há mais o que dizer sobre o filme de Clint. Por enquanto, fiquemos com esse breve comentário do conflito entre o sentir e o agir, o desejo e as expectativas, a dureza e a ternura, a necessidade de ordem e o fascínio por se perder.

Clint Eastwood, cuja regularidade é impressionante, fez mais um filme bom.

Em tempo: o site da Amazon.com lista ao menos 12 livros sobre J. Edgar ou escritos por ele. Com destaque para J. Edgar Hoover: The Man and the Secrets.

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