Divine, a drag criada por Harris Glenn Milstead, é a protagonista dos filmes mais radicais de John Waters |
Antes de falarmos se os filmes de John Waters são bons ou ruins, é necessário rumar a prosa para algo importante: são um tapa na cara do status quo. Filmes como Pink Flamingos, Cry-Baby e Multiple Maniacs são provocações contra a caretice e o bom-mocismo.
A Mostra John Waters – Papa do Trash, que ocupa parte da programação do CineSesc entre 24 de fevereiro a 1º de março, é uma chance de conhecer um cinema sem bons modos, mas também buscar quais pontos de contato ainda existem entre o pensamento cultural de hoje e as portas abertas pela contracultura, momento mais desavergonhado dos filmes de Waters.
Como nos afeta uma cena em que um homem transa com um mulher por cima de um monte de galinhas? Ou as relações bizarras de família? E os fetiches sexuais?
Mesmo datado, o cinema de John Waters não ficou velho. Ainda me parece necessário um personagem como a Divine, uma musa travesti de formas protuberantes e hábitos que testam a vergonha do espectador.
Vejo uma possibilidade aberta de diálogo entre o choque que uma mulher como Divine provoca e o embaraço dos entrevistadores do programa Roda Viva tentando dar conta da identidade do quadrinista Laerte, que recentemente passou a se vestir de mulher. O fato de Laerte ser pressionado para se posicionar (“você é homem ou mulher?”) indica que uma personagem como Divine continua mais que atual.
A diferença é que o cinema de John Waters vai até o fim e investe pesado no bizarro para fazer chacota especialmente da vida da classe média suburbana.
Com Mamãe é de Morte, o cinema de John Waters investe mais no sarcasmo |
A primeira parte de sua carreira concentra os clássicos do trash e da provocação sem limite. Nesse momento surgem Mondo Trash (1970), Pink Flamingos (1972) e Problemas Femininos (1974). São os filmes bem baratos e exemplos típicos do “mau gosto”.
Dos anos 1980 em diante, Waters sai do underground, reduz o que há de bizarro em seus filmes, aproxima-se de enredos mais comedidos e transforma a provocação em comentários críticos. Daí são a trinca Hairspray – Éramos Tão Felizes (1988), Cry-Baby (1990) e Mamãe é de Morte (1994), ou até mesmo Clube dos Pervertidos (2004).
A Mostra John Waters – Papa do Trash, que tem curadoria de Mario Abbade, trará os 12 longas-metragens do diretor (ficam de fora o média Eat Your Make up e os curtas Hag in a Black Leather Jacket, Roman Candles e The Diane Linkletter Story). Entrou na programação também a refilmagem Hairspray – Em Busca da Fama, que teve John Travolta no papel vivido por Divine em 1988.
Pena que apenas cinco das 14 sessões serão em película.
Serviço
Mostra John Waters – Papa do Trash
De 24/2 a 1º de março
CineSesc – Rua Augusta, 2075 – Telefone: 3087-0500
Programação da mostra
Sexta-feira (24/2)
19h30 – Mondo Trasho*** (18 anos)
21h30 – Hairspray – Éramos tão felizes*** (16 anos)
Sábado (25/2)
19h30 – Cry Baby* (14 anos)
21h30 – Pink Flamingos*** (18 anos)
Domingo (26/2)
19h30 – Mamãe é de Morte* (14 anos)
21h30 – Cecil Bem Demente* (18 anos)
Segunda-feira (27/2)
19h30 – O Preço da Fama*** (18 anos)
21h30 – Hairspray – Em busca da fama* (Livre)
Terça-feira (28/2)
19h30 – Problemas Femininos*** (18 anos)
21h30 – Desperate Living*** (18 anos)
Quarta-feira (29/2)
19h30 – Multiple Maniacs*** (18 anos)
21h30 – Clube dos Pervertidos* (18 anos)
Quinta-feira (1º de março)
19h30 – Hairspray – Éramos tão felizes*** (16 anos)
21h30 – Polyester* (18 anos)
*Exibição em 35mm
**Exibição em DVD
***Exibição em BetaDigital
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