Cada Um Vive como Quer foi indicado a quatro Oscar em 1971 |
Cada Um
Vive como Quer, clássico de 1970 produzido no auge da
Nova Hollywood e estrelado por Jack Nicholson, reestreia nesta
sexta-feira (24/2) no Cine Olido, centro de São Paulo. Os ingressos
custam R$ 1.
O tempo e a revisão
fazem bem ao filme de Bob Rafelson. Cada Um Vive como
Quer (Five Easy Pieces) é
tão datado quanto seu contemporâneo Sem Destino
(Easy Rider). Falo de ser datado no bom sentido,
pois é praticamente irresistível não cair na tentação de buscar
pontos de diálogos dos filmes da Nova Hollywood e perceber como eles
refletem um certo humor dos Estados Unidos.
Muito comum naquele
momento do cinema, em que os estúdios estavam em crise, tentando
entender o que a juventude queria ver na telona e como tirar o
público de frente da telinha, os personagens que embarcam numa
jornada de busca tomam o lugar dos homens cheios de certeza. Saem os
grandes eventos, entram os detalhes dos cotidianos. Pessoas normais,
gente como a gente, de questões comuns.
Em Cada
Um Vive como Quer, Robert (Jack Nicholson), que
prefere a alcunha de Bobby, largou para trás sua família
aristocrata e de músicos para viver de bicos. Quando o conhecemos,
no começo do filme, ele trabalha como peão de obra. Logo
descobriremos que, assim como a de seus irmãos, sua trajetória
estava moldada para tornar-se um grande pianista.
O
encontro com Scorsese e Coppola
Filme de incertezas,
cortes secos, personagens comuns, finais abertos, recusa em mastigar
a história ao espectador, atuações fortes, a estrada como o espaço
dos acontecimentos... Cada Um Vive Como Quer
compartilha uma série de características de outras produções da
Nova Hollywood, aquela geração que se forma em cinema em meados dos
anos 1960 e aproveita esse hiato na indústria para tornarem-se
diretores.
Em Coppola, uma jovem
mulher recém-casada não aguenta a pressão do cotidiano e entra
numa aventura sem rumo definido (Caminhos Mal
Traçados). Em Scorsese, uma viúva na casa dos 30 pega a
estrada com o filho e tenta bancar o sonho de viver como cantora
(Alice Não Mora Mais Aqui). Em Dennis Hopper,
dois arquétipos da contracultura viajam de cabo a rabo pelos Estados
Unidos (Sem Destino). Em Ashby, um jovem amplia
sua perspectiva com o mundo ao conviver com uma septuagenária
(Ensina-me a Viver).
De maneira alguma
trata-se de cópia. Temos ali refletido um mood
de uma nação. Continua sendo um prazer olhar para o conjunto desses
filmes e criar leituras entre eles. A descoberta é um tema comum a
todos os personagens.
Karen Black (à esquerda), namorada de Nicholson no filme, é um dos destaques |
Redescobrir
filmes
É muito bem-vinda a
reestreia promovida pelo Cine Olido, pois na produção da Nova
Hollywood ele se tornou um filme bem menos comentado que seus
contemporâneos. Cada Um Vive Como Quer
é menor que um Taxi Driver, mas é bem melhor
do que a gente costuma lembrar.
Além do dialogo com um
momento de um país, ainda encanta neste filme de Bob Rafelson o
equilíbrio entre cinismo, humor e melancolia. Há um vazio imenso
nos personagens do enredo, encoberto pelas situações cômicas que
aparecem pelo caminho (o irmão com o pescoço quebrado, a namorada
histérica, as caroneiras que querem se mudar para o Alasca etc).
Outro mérito é ter
Jack Nicholson em grande forma – entre 1969 (Sem
Destino) e 1980 (O Iluminado), ele
emendou uma sequência de grandes filmes e algumas obras-primas.
Quando o filme confia na força do personagem, no talento de seu ator
e investe no aspecto à deriva daquele momento, surgem uma porção
de boas sequências. Entre elas, o piano sendo tocado no meio da
estrada em cima de um caminhão, a cena de encerramento, a reunião
dos amigos da família de Bobby e por aí vai.
A melhor sequência do
filme é a carona para as duas mulheres (um casal?) que decide
mudar-se para o Alasca. Por que? “Porque lá é limpo e não tem
essa sujeira toda”. São quase dez minutos de diálogos fenomenais
e politicamente incorretos. Uma personagem que tem tanto uma porção
de Travis Bickle quanto do personagem do marido traído que Martin
Scorsese faz em Taxi Driver.
Cada Um
Vive Como Quer sobrevive porque é peça importante
para entender o quebra-cabeça comportamental e cinematográfico do
início dos anos 1970, mas também pelo puro e simples prazer que ele
proporciona a quem o assiste – prazer estético, o que não
significa dizer que o enredo não seja cheio de desconforto.
Serviço
Reestreia de Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces)
Reestreia de Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces)
Cine Olido – Avenida
São João, 473
Ingressos: R$ 1
(inteira) e R$ 0,50 (meia-entrada)
Horários
Sexta-feira (24/02), às
19h30
Sábado (25/02), às
19h30
Domingo (26/02), às
17h30
Terça-feira (28/02),
às 19h30
Quarta-feira (29/02),
às 19h30
Quinta-feira (01/03),
às 19h30
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