Scorsese participando de cena de A Invenção de Hugo Cabret, favorito ao Oscar |
A cerimônia de premiação do Oscar acontece na noite deste domingo (26/2). Para mim só existe um grande filme na lista de indicados e este é A Árvore da Vida (já vejo algumas caras emburradas para essa afirmação). Existem filmes bons, e aí entra A Invenção de Hugo Cabret. É uma produção encantadora, sem dúvidas, e apaixonante por articular comentários sobre o próprio cinema. Melhor: esse filme de Scorsese é um parque de diversão cinéfilo. Mas não é um grande filme.
Scorsese é realmente um cara que faz um bem danado ao cinema. Conseguir colocar num filme caríssimo como Hugo os filmes de George Méliès feito no comecinho do século 20 é para poucos.
No afã de criar diálogos entre os filmes, temos dito que tanto Scorsese quanto O Artista são filmes nostálgicos e que falam do cinema. Espera aí, Pedro Bó, pois existe uma diferença crucial. Cinéfilo até o último fio de cabelo e sempre se posicionando na História do Cinema, Scorsese faz um filme sobre cinema, enquanto Hazanavicius fala de Hollywood. A maneira em que Hugo dialoga com outros filmes (como Safety Last!, a cena que Harrol Lloyd se pendura no relógio) é bem mais interessante.
Hugo custou US$ 150 milhões, mesma faixa de outros filmes cheio de efeitos visuais como Velozes e Furiosos 5 (US$ 125 milhões), Missão Impossível: Protocolo Fantasma (US$ 145 milhões) e Thor. Ao contrário desses blockbusters, o filme de Scorsese não chegou nem perto de arrecadar nos EUA o valor de seu orçamento. Isso não é surpresa alguma: Hugo é primeiramente um filme sobre um cinema pouco conhecido (o mudo em sua primeiríssima fase). Quem vai buscando uma grande aventura irá se decepcionar – apesar de ela estar lá, no filme, mas não é o que mais encanta.
O uso do 3D não como ferramenta tecnológica, mas sim como elemento narrativo, faz os outros filmes feitos ou convertidos para o formato parecerem brincadeira de criança. Conseguiu ser até melhor do que a viagem sensorial de Werner Herzog em Caverna dos Sonhos Esquecidos.
Na tentativa de dar conta do que é esse filme de Scorsese, existe uma frase especial: “é por vezes desconjuntado, inflado, no limite perigoso da prostituição hollywoodiana, mas sempre apaixonado”. O autor é o crítico Sérgio Alpendre, editor da Revista Interlúdio. João Nunes, crítico do Correio Popular, também coloca uma questão muito interessante: "Estará o espectador atual, repleto de informações tecnológicas interessado em saber como se fazia cinema mudo e, no caso de Méliès, cinema de fantasia no longínquo final de século 19?"
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