Selton Mello e Matheus Nachtergaele são dois atores com sangue nas veias, de personagens que rompem limites da interpretação. A mesma pulsão de ator está na estréia de ambos na direção de longas-metragens. Selton com “Feliz Natal” (premiado no Festival de Paulínia) e Matheus com “A Festa da Menina Morta” (exibido ontem à noite em Gramado).
Selton foi do transe de “Lavoura Arcaica” (“neste filme eu pude ser eu mesmo, me expressar”) ao idealista Dico de “Os Desafinados”. Em vez de aliviar ao estrear na direção de longas (já havia feito dois curtas), o ator-diretor mergulhou em “Feliz Natal” para mostrar a degradação de cada membro de uma família. Selton aposta na alma dos atores, cola a câmera no rosto para extrair sentimentos e explode na trilha para criar angústia.
Matheus, como ator, foi de releitura de Mazaroppi em “Tapete Vermelho” ao gay afetado Dunga (“Amarelo Manga”). Na direção, com “A Festa da Menina Morta”, mantém o movimento de mergulho profundo para falar de incesto, religiosidade, fé e limites humanos, ambientando a confusão em uma comunidade ribeirinha do Amazonas.
Corajoso dois atores consagrados agregar uma nova camada à carreira (a direção), abordando temas profundos. Ou, talvez, simplesmente um movimento natural e sincero com eles mesmos. Selton, por exemplo, declarou que, como ator, pode se expressar apenas duas vezes: em “Lavoura Arcaica” e “O Cheiro do Ralo”. A direção de “Feliz Natal” é a terceira.
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