O que mais encanta em Cópia Fiel, o filme novo do Kiarostami que iria estrear aqui em 14 de janeiro, mas teve o lançamento adiado pela Imovision, é sua falsa simplicidade.
Aparentemente, trata-se apenas de uma historinha de amor entre dois adultos que se encontram nas deslumbrantes paisagens da Toscana, Itália. Que ilusão! Enquanto finge falar apenas desse encontro entre Juliette Binoche e William Schimell, Cópia Fiel vai se construindo em camadas que discutem o original/cópia, real/representação, anseios/frustrações. Discute-se questões humanas e das artes, especialmente do cinema.
Mas essa falsa aparência de simplicidade acompanha a obra de Kiarostami há tempos. Um exemplo é o curta-metragem Duas Soluções Para um Problema, filme de 1975, sexto curta do iraniano.
Dois amigos na sala de aula são nos apresentados de maneira didática. Um é Nader, outro é Dara. Dara pegou o livro emprestado de Nader, mas o devolveu amassado. A partir desse evento são quatro minutos de parábola que ilustram, por exemplo, como pequenos e localizados conflitos tornam-se guerras.
Aparentemente simples, didático até, artesanal. Não passam de aparências. Abaixo, a íntegra de Duas Soluções Para um Problema que, assim como muitos outros curtas de Kiarostami, está no YouTube.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Faye Dunaway, 70
14 de janeiro marcará o 70º aniversário de Faye Dunaway, atriz que personificou beleza, poder e personagens que marcaram tanto pela coragem, charme e falta de escrúpulos. Em sua homenagem, o canal TCM exibe três filmes com a atriz a partir das 22h. O primeiro deles é Rede de Intrigas.
É verdade que no filme Faye está espetacular. Afinal, trata-se de uma produção dirigida por Sidney Lumet, conhecido por arrancar grandes performances de seus elencos. A interpretação da atriz é de alto nível, como o é de William Holden, Robert Duval, Beatrice Straight e Peter Finch (os dois últimos premiados com o Oscar, assim como Faye).
Em Rede de Intrigas, Faye é diretora de programação do canal televisivo UBS sedenta para aumentar a audiência a qualquer preço. Como erva daninha convence Hackett (Duval), Howard (Finch) e derruba Max (Holden). É apaixonante sua entrada em cena, desestruturando o que está ao seu redor, fazendo com que todos sigam – ou se submetam – a ela.
Como Lumet trabalha com jogos de poder em seus filmes, dois grupos ideológicos que representam a transformação do jornalismo na televisão nos anos 70. No meio, o decadente apresentador Howard Beale. De um lado, o humano Max, do outro, a máquina Diana (Faye).
Como a super mulher feita de plástico que enxerga a vida como um episódio mal escrito de série televisiva, Faye Dunaway é precisa. Uma atriz do calibre de suas companheiras de geração como Mia Farrow, Ellen Burstyn, Julie Christie (britânica que fez muitos filmes nos EUA), Susan Sarandon, Sissy Spacek e Meryl Streep.
Na maratona do TCM, serão exibidos Rede de Intrigas (22h), Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (0h) e O Campeão (2h15). Falta sentida: Chinatown!
É verdade que no filme Faye está espetacular. Afinal, trata-se de uma produção dirigida por Sidney Lumet, conhecido por arrancar grandes performances de seus elencos. A interpretação da atriz é de alto nível, como o é de William Holden, Robert Duval, Beatrice Straight e Peter Finch (os dois últimos premiados com o Oscar, assim como Faye).
Em Rede de Intrigas, Faye é diretora de programação do canal televisivo UBS sedenta para aumentar a audiência a qualquer preço. Como erva daninha convence Hackett (Duval), Howard (Finch) e derruba Max (Holden). É apaixonante sua entrada em cena, desestruturando o que está ao seu redor, fazendo com que todos sigam – ou se submetam – a ela.
Como Lumet trabalha com jogos de poder em seus filmes, dois grupos ideológicos que representam a transformação do jornalismo na televisão nos anos 70. No meio, o decadente apresentador Howard Beale. De um lado, o humano Max, do outro, a máquina Diana (Faye).
Como a super mulher feita de plástico que enxerga a vida como um episódio mal escrito de série televisiva, Faye Dunaway é precisa. Uma atriz do calibre de suas companheiras de geração como Mia Farrow, Ellen Burstyn, Julie Christie (britânica que fez muitos filmes nos EUA), Susan Sarandon, Sissy Spacek e Meryl Streep.
Na maratona do TCM, serão exibidos Rede de Intrigas (22h), Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (0h) e O Campeão (2h15). Falta sentida: Chinatown!
domingo, 26 de dezembro de 2010
Ainda sobre O Bebê de Rosemary
Isso sim é trailer!
Um dos melhores da história. Talvez só perca para O Iluminado, de Stanley Kubrick.
Um dos melhores da história. Talvez só perca para O Iluminado, de Stanley Kubrick.
Ruth Gordon em O Bebê de Rosemary
“Um adolescente se apaixonando por uma senhora de 80 anos? Só uma atriz poderia fazer esse filme. Ela é Ruth Gordon”.
Dick Sylbert, desenhista de produção e diretor de arte, define assim Ruth Gordon, que ganhou o único Oscar de sua carreira em 1969 pelo papel coadjuvante em O Bebê de Rosemary, primeiro filme de Roman Polanski em Hollywood.
Ela vive uma intrometida vizinha que literalmente fala mais do que a boca. Ruth é tão marcante em cena que, mesmo não sendo o foco das atenções da câmera, não deixa de rivalizar em brilho com os outros atores. Ainda mais quando contracena com Mia Farrow, boa atriz, mas cuja personagem é introvertida. Quando o furacão Ruth entra em quadro na pele da vizinha Minnie Castevet não tem ninguém páreo a ela.
Irônica, ao ganhar a estatueta de Atriz Coadjuvante em 1969 aos 72 anos, Ruth Gordon fez o seguinte discurso: “Não dá para traduzir em palavras o quão encorajador é este prêmio para uma jovem atriz como eu... e gostaria de agradecer a todos que votaram em mim, e aos que não votaram: por favor, desculpe-me por ganhar”.
Em tempo: o tal filme que um adolescente se apaixona pela personagem de Ruth é Ensina-me a Viver, de Hal Ashby. No Chip Hazard, meu amigo Sérgio Alpendre fez dois breves comentários, um sobre o injustiçado Ashby e outro a respeito de Ensina-me a Viver (Harold and Maude no original).
sábado, 25 de dezembro de 2010
Dois atores não fazem um filme
A Hollywood dos estúdios construiu um star system de dar inveja. Até os anos 50, fixou-se no imaginário do público um grupo de atores inatingíveis, inalcançáveis. Solidificou-se o ato de ver ou não um filme por causa de certo ator ou atriz.
Cary Grant, Bette Davis, Spancer Tracy, Marlene Dietrich, Kirk Douglas, Vivian Leigh, Burt Lancaster, Greta Garbo, Gregory Peck, Katherine Hepburn, Rock Hudson, Clark Gable, Joan Crawford e muitos outros nomes vão ficar no imaginário de muitos espectadores para sempre.
Os produtores traziam uma ou duas estrelas para o filme e, pronto, o projeto saía do papel. Só tem um porém: é muito difícil fazer um filme apenas com dois atores. Um ótimo exemplo é A Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success no original), de Alexander Mackendrick, que teve uma exibição especial dia 20 no canal TCM – cópia, aliás, muito melhor do que a lançada em DVD, colorida posteriormente e com um som horrível.
Um filme de narrativa clássica cheio de altos e baixos. Um diretor habilidoso e apaixonado por travellings, dois atores fortes – Burt Lancaster e Tonny Curtis –, boa história etc. Elementos para tudo dar certo, né? Nem sempre. J.J. Hunsecker é um colunista social baseado na Broadway capaz de assustar até o presidente da república. Sidney Falco um assessor de imprensa desesperado por cavar notícias desde que não cumpriu uma promessa de favor a J.J. Aos poucos, entramos num mundo onde ter escrúpulos é moeda rara e, claro, possível ser adquirida com alguma barganha.
Há uma subtrama que envolve a irmã caçula de J.J., Susan (Susan Harrison), e seu namoradinho, o promissor músico Steve Dallas (Martin Milner). Aqui mora o problema: Milner e Susan são tão ruins, mas tão ruins, que, sem exageros, dá muita vergonha de vê-los naquelas situações. A expressão de Milner é tão significativa quanto a de uma tartaruga sonolenta. Enquanto seu colega baterista se esmera no instrumento, Steve toca guitarra como quem precisa matar o tempo.
Por outro lado Susan, seu par romântico, não fica atrás. Ela engata a marcha da “mulher sofredora que está a mercê dos homens” e vai nessa toada até o fim. Há um abismo entre esses dois com a dupla de protagonistas, Lancaster (perfeito e altivo) e Curtis (carismático e eficiente). O relacionamento do casal corre sérios riscos devido à manipulação de J.J., mas os atores não dão dimensão disso.
Com Milner e Susan, o trabalho de direção de Mackendrick parece inútil. De que adiantam travellings, decupagem, plongée e contra-plongée se parte fundamental de seu elenco é risonha? Nem a montagem plano/contraplano (câmera nele, câmera nela e assim por diante) alivia o incômodo.
A Embriaguez do Sucesso é um bom filme, que chega a seu objetivo (julgamento moral da desonestidade), mas seria assaz aprazível se Martin Milner e Susan Harrison tivessem um pouco mais de requebrado na interpretação.
Nem só com duas estrelas se faz um filme.
Cary Grant, Bette Davis, Spancer Tracy, Marlene Dietrich, Kirk Douglas, Vivian Leigh, Burt Lancaster, Greta Garbo, Gregory Peck, Katherine Hepburn, Rock Hudson, Clark Gable, Joan Crawford e muitos outros nomes vão ficar no imaginário de muitos espectadores para sempre.
Os produtores traziam uma ou duas estrelas para o filme e, pronto, o projeto saía do papel. Só tem um porém: é muito difícil fazer um filme apenas com dois atores. Um ótimo exemplo é A Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success no original), de Alexander Mackendrick, que teve uma exibição especial dia 20 no canal TCM – cópia, aliás, muito melhor do que a lançada em DVD, colorida posteriormente e com um som horrível.
Um filme de narrativa clássica cheio de altos e baixos. Um diretor habilidoso e apaixonado por travellings, dois atores fortes – Burt Lancaster e Tonny Curtis –, boa história etc. Elementos para tudo dar certo, né? Nem sempre. J.J. Hunsecker é um colunista social baseado na Broadway capaz de assustar até o presidente da república. Sidney Falco um assessor de imprensa desesperado por cavar notícias desde que não cumpriu uma promessa de favor a J.J. Aos poucos, entramos num mundo onde ter escrúpulos é moeda rara e, claro, possível ser adquirida com alguma barganha.
Há uma subtrama que envolve a irmã caçula de J.J., Susan (Susan Harrison), e seu namoradinho, o promissor músico Steve Dallas (Martin Milner). Aqui mora o problema: Milner e Susan são tão ruins, mas tão ruins, que, sem exageros, dá muita vergonha de vê-los naquelas situações. A expressão de Milner é tão significativa quanto a de uma tartaruga sonolenta. Enquanto seu colega baterista se esmera no instrumento, Steve toca guitarra como quem precisa matar o tempo.
Por outro lado Susan, seu par romântico, não fica atrás. Ela engata a marcha da “mulher sofredora que está a mercê dos homens” e vai nessa toada até o fim. Há um abismo entre esses dois com a dupla de protagonistas, Lancaster (perfeito e altivo) e Curtis (carismático e eficiente). O relacionamento do casal corre sérios riscos devido à manipulação de J.J., mas os atores não dão dimensão disso.
Com Milner e Susan, o trabalho de direção de Mackendrick parece inútil. De que adiantam travellings, decupagem, plongée e contra-plongée se parte fundamental de seu elenco é risonha? Nem a montagem plano/contraplano (câmera nele, câmera nela e assim por diante) alivia o incômodo.
A Embriaguez do Sucesso é um bom filme, que chega a seu objetivo (julgamento moral da desonestidade), mas seria assaz aprazível se Martin Milner e Susan Harrison tivessem um pouco mais de requebrado na interpretação.
Nem só com duas estrelas se faz um filme.
Os franceses e o sexo
Quarenta e quatro anos separam dois filmes que, apesar da distância temporal, aproximam-se pela temática que tanto encanta o cinema francês: aventuras sexuais de um casal ou de uma família. Um deles é é Amor Livre (L'eau À La Bouch, de 1960, no original), que integra o catálogo da Imovision com filmes menos conhecidos da Nouvelle Vague e chega às lojas em janeiro.
Jacques Doniol-Valcroze não é aquele nome que vem automaticamente à cabeça quando se fala de Nouvelle Vague. Enquanto Godard-Truffaut-Chabrol eram os que mais apareciam e traziam uma leva com Jacques Demy, Agnès Varda e Louis Malle, existiam aqueles por trás das cortinas, mais importantes como influências e apoiadores da Nouvelle do que propriamente realizadores proeminentes.
Porém, Amor Livre é um filme digno de destaque, uma chance para ampliar o leque do cinéfilo brasileiro em relação ao que se fazia na França na virada dos anos 50 para os 60.
Mas voltando ao que interessa neste texto, Valcroze fez um filme cuja premissa é muito parecida com muitos outras produções francesas: famílias/casais aparentemente banais e monótonos que, ou quando olhado de perto por uma câmera atenta ou na chegada de um elemento externo, deixam seus desejos aflorarem e, não raramente, costumam se machucar.
Em Amor Livre, a avó de uma família saudável financeiramente morre e deixa a herança, a ser dividida entre três netos: Miléna (Bernadette Lafont), que morava com ela, e os outros dois distantes, Jean-Paul (Paul Gers) e Fifine (Alexandra Stewart). Com a chegada deles, a casa – do ponto de vista sexual – começa a se desestruturar.
Pela construção de Doniol-Valcroze, aquela casa tinha uma lógica própria, a qual o espectador desconhecia antes do filme, mas tinha uma vaga ideia, já que se trata de uma família como qualquer outra. Quando a câmera segue uma simpática criança em direção à mansão, somos levados àquele universo onde os desejos deixam de ser internos para serem concretizados. Assim como entramos, saíamos repentinamente, novamente conduzidos pela mesma menina, após compartilharmos os desejos dos três netos, dum amigo próximo da família, do sócio de Jean-Paul e de dois criados da casa.
Pintar ou Fazer Amor
Uma vez mais no cinema francês, um elemento externo se aproxima de um casal ou uma família e desperta um vulcão adormecido pelo tempo e pela rotina da convivência. Assim é em Pintar ou Fazer Amor, espécie de neto cinematográfico de Amor Livre - curiosamente, os dois títulos são da Imovision.
No filme de Arnaud e Jean-Marrie Larrieu, temos um casal, William (Daniel Auteuil) e Madeleine (Sabine Azéma), juntos há muito. Eis que num cenário bucólico surgem o prefeito do local, Adam (Sérgi Lopez, com charme à flor da pele interpretando um cego), e sua mulher, Eva (Amira Casar). O resto... bem, está no filme.
A questão é que, mesmo com a diferença de tempo (e estilo cinematográfico) entre um filme e outro não os tiram de uma tradição do cinema francês em observar famílias que transparecem calmaria, mas basta uma faísca para ascender o que estava adormecido – geralmente, o sexo.
Ponto de partida que costuma dar bons filmes.
Em tempo: abaixo, imagens de Serge Gainsbourg trabalhando na canção-tema do filme.
Jacques Doniol-Valcroze não é aquele nome que vem automaticamente à cabeça quando se fala de Nouvelle Vague. Enquanto Godard-Truffaut-Chabrol eram os que mais apareciam e traziam uma leva com Jacques Demy, Agnès Varda e Louis Malle, existiam aqueles por trás das cortinas, mais importantes como influências e apoiadores da Nouvelle do que propriamente realizadores proeminentes.
Porém, Amor Livre é um filme digno de destaque, uma chance para ampliar o leque do cinéfilo brasileiro em relação ao que se fazia na França na virada dos anos 50 para os 60.
Mas voltando ao que interessa neste texto, Valcroze fez um filme cuja premissa é muito parecida com muitos outras produções francesas: famílias/casais aparentemente banais e monótonos que, ou quando olhado de perto por uma câmera atenta ou na chegada de um elemento externo, deixam seus desejos aflorarem e, não raramente, costumam se machucar.
Em Amor Livre, a avó de uma família saudável financeiramente morre e deixa a herança, a ser dividida entre três netos: Miléna (Bernadette Lafont), que morava com ela, e os outros dois distantes, Jean-Paul (Paul Gers) e Fifine (Alexandra Stewart). Com a chegada deles, a casa – do ponto de vista sexual – começa a se desestruturar.
Pela construção de Doniol-Valcroze, aquela casa tinha uma lógica própria, a qual o espectador desconhecia antes do filme, mas tinha uma vaga ideia, já que se trata de uma família como qualquer outra. Quando a câmera segue uma simpática criança em direção à mansão, somos levados àquele universo onde os desejos deixam de ser internos para serem concretizados. Assim como entramos, saíamos repentinamente, novamente conduzidos pela mesma menina, após compartilharmos os desejos dos três netos, dum amigo próximo da família, do sócio de Jean-Paul e de dois criados da casa.
Pintar ou Fazer Amor
Uma vez mais no cinema francês, um elemento externo se aproxima de um casal ou uma família e desperta um vulcão adormecido pelo tempo e pela rotina da convivência. Assim é em Pintar ou Fazer Amor, espécie de neto cinematográfico de Amor Livre - curiosamente, os dois títulos são da Imovision.
No filme de Arnaud e Jean-Marrie Larrieu, temos um casal, William (Daniel Auteuil) e Madeleine (Sabine Azéma), juntos há muito. Eis que num cenário bucólico surgem o prefeito do local, Adam (Sérgi Lopez, com charme à flor da pele interpretando um cego), e sua mulher, Eva (Amira Casar). O resto... bem, está no filme.
A questão é que, mesmo com a diferença de tempo (e estilo cinematográfico) entre um filme e outro não os tiram de uma tradição do cinema francês em observar famílias que transparecem calmaria, mas basta uma faísca para ascender o que estava adormecido – geralmente, o sexo.
Ponto de partida que costuma dar bons filmes.
Em tempo: abaixo, imagens de Serge Gainsbourg trabalhando na canção-tema do filme.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Retábulo, do Piollin, dá aula de mise en-scène
Falar de teatro neste blog? Geralmente, não, mas a peça Retábulo, que está em cartaz neste fim de semana aqui em Natal, merece, sim, que o Urso de Lata largue o cinema e vá para o tablado, ao menos por um post.
A direção é de Luiz Carlos Vasconcelos, palhaço de formação e ator que vai e volta ao cinema. O texto é baseado num livro de Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina. A interpretação – além da construção criativa – é do Piollin, trupe paraibana tradicional que tem alguns nomes com passagens marcantes pelo cinema (por exemplo, Everaldo Pontes, de SuperBarroco, e Nanego Lira, de O Grão).
O enredo nos traz a trajetória de uma mulher comum, do povo, Joana. Seguimos três gerações em sua família, com os mesmos atores e atrizes interpretando diversas personagens, com suaves transições de um para outro. Em última instância, extensões de um só personagem.
Fábula interessante, mas infinitamente inferior à arquitetura do texto e à mise-en-scène, características que justificam este comentário sobre Retábulo. Joana pouco fala, sua história é contada por quem está ao seu redor, recurso que me fez lembrar muito o esforço de polifonia do filme O Sol do Meio Dia. Na peça, não há um responsável único pelo discurso: todos que narram são determinantes para o andamento da vida de Joana, nossa heroína.
Fala-se muito, aliás. Mas movimenta-se muito também. Apesar de o espaço físico ser limitado ao tablado, o movimento em cena dos atores é continuo. Cada curva, rabeira, pedaço de madeira em forma de mala de viagem ou bambus espalhados pelos cantos são elementos cênicos. Seria muito difícil transformar Retábulo em filme: como estabelecer uma relação ator-câmera quando a interpretação é contínua e o corpo transborda a ausência de cenário? Jogo duro!
Tomando como exemplo os excertos do texto de Osman Lins presentes em Retábulo, parece ser uma experiência rígida a de ler Retábulo de Santa Joana Carolina – há um pouco da marcação musico-poética de João Cabral de Melo Neto. Mas, assistir a encenação é, digamos, oxigenar as vistas do que se pode fazer em termos de mise-en-scène, mesmo que, nesse caso, seja teatro, não cinema.
Em tempo 1: quem ficou curioso – e, por acaso, também está em Natal –, Retábulo fica em cartaz até este domingo (12/12), às 19 e 21h, no Barracão dos Clowns (Av. Amintas Barros, 4673, Nova Descoberta). R$10 (inteira) e R$5 (meia).
Em tempo 2: o começo do Piollin Grupo de Teatro data de 1976, com a montagem de Aborto, dirigida por... Luiz Carlos Vasconcelos. A cronologia da trupe pode ser conhecida aqui.
Em tempo 3: você sabe o que significa “retábulo”? Nosso amigo que tudo sabe sobre língua portuguesa vem ao nosso socorro, como não! “sm (cast retablo) 1 Trabalho de arquitetura, de pedra ou madeira, com lavores na parte posterior do altar, e em que se representa qualquer motivo religioso. 2 Painel ou quadro que decora um altar. 3 Painel.”
A direção é de Luiz Carlos Vasconcelos, palhaço de formação e ator que vai e volta ao cinema. O texto é baseado num livro de Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina. A interpretação – além da construção criativa – é do Piollin, trupe paraibana tradicional que tem alguns nomes com passagens marcantes pelo cinema (por exemplo, Everaldo Pontes, de SuperBarroco, e Nanego Lira, de O Grão).
O enredo nos traz a trajetória de uma mulher comum, do povo, Joana. Seguimos três gerações em sua família, com os mesmos atores e atrizes interpretando diversas personagens, com suaves transições de um para outro. Em última instância, extensões de um só personagem.
Fábula interessante, mas infinitamente inferior à arquitetura do texto e à mise-en-scène, características que justificam este comentário sobre Retábulo. Joana pouco fala, sua história é contada por quem está ao seu redor, recurso que me fez lembrar muito o esforço de polifonia do filme O Sol do Meio Dia. Na peça, não há um responsável único pelo discurso: todos que narram são determinantes para o andamento da vida de Joana, nossa heroína.
Fala-se muito, aliás. Mas movimenta-se muito também. Apesar de o espaço físico ser limitado ao tablado, o movimento em cena dos atores é continuo. Cada curva, rabeira, pedaço de madeira em forma de mala de viagem ou bambus espalhados pelos cantos são elementos cênicos. Seria muito difícil transformar Retábulo em filme: como estabelecer uma relação ator-câmera quando a interpretação é contínua e o corpo transborda a ausência de cenário? Jogo duro!
Tomando como exemplo os excertos do texto de Osman Lins presentes em Retábulo, parece ser uma experiência rígida a de ler Retábulo de Santa Joana Carolina – há um pouco da marcação musico-poética de João Cabral de Melo Neto. Mas, assistir a encenação é, digamos, oxigenar as vistas do que se pode fazer em termos de mise-en-scène, mesmo que, nesse caso, seja teatro, não cinema.
Em tempo 1: quem ficou curioso – e, por acaso, também está em Natal –, Retábulo fica em cartaz até este domingo (12/12), às 19 e 21h, no Barracão dos Clowns (Av. Amintas Barros, 4673, Nova Descoberta). R$10 (inteira) e R$5 (meia).
Em tempo 2: o começo do Piollin Grupo de Teatro data de 1976, com a montagem de Aborto, dirigida por... Luiz Carlos Vasconcelos. A cronologia da trupe pode ser conhecida aqui.
Em tempo 3: você sabe o que significa “retábulo”? Nosso amigo que tudo sabe sobre língua portuguesa vem ao nosso socorro, como não! “sm (cast retablo) 1 Trabalho de arquitetura, de pedra ou madeira, com lavores na parte posterior do altar, e em que se representa qualquer motivo religioso. 2 Painel ou quadro que decora um altar. 3 Painel.”
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
A Crítica está morta?
Estou de férias em Natal e, a convite da querida amiga Michelle Ferret, que dá aula de roteiro na Universidade Potiguar, fui bater um papo com seus alunos. É a primeira turma de cinema da faculdade, com um publico bem diverso. Tinha gente que arrisca a escrever, ou com cinefilia aguçada, ou sem papas na língua – ou com a única vontade de polemizar.
Enfim, umas quinze pessoas, número que considero ótimo. Quem escreve criticamente sobre o cinema tem a sensação de que a função da crítica foi jogada para escanteio desde o domínio maciço da tecnologia. Não só a de cinema, mas a produção de qualquer pensamento crítico sai em desvantagem para comentários rápidos que, mesmo indiretamente, estão mais aliados com a propaganda, não com a reflexão.
Mesmo que o espaço e a valoração da crítica tenha diminuído, enquanto a força do marketing e a venda da ideia do cinema como um “combo” de fast food, não deixou de existir. A conversa de ontem – posso ter me enchido de otimismo para afirmar isso – é uma das provas. Assim como uma pesquisa do Sindicato dos Distribuidores, que apontou um índice alto de espectadores que leem críticas antes de assistirem a um filme – não me lembro o número exato, mas chega perto de 40%.
Não dá para comparar o cenário para exercer a crítica hoje com o que encontraram Antonio Moniz Viana, Paulo Emílio Sales Gomes e companhia. Outros tempos, os de hoje indicam um refluxo, em diversas áreas. Mesmo assim, a crítica que não aceita ser apenas guia de consumo ainda tem espaço para existir.
Enfim, umas quinze pessoas, número que considero ótimo. Quem escreve criticamente sobre o cinema tem a sensação de que a função da crítica foi jogada para escanteio desde o domínio maciço da tecnologia. Não só a de cinema, mas a produção de qualquer pensamento crítico sai em desvantagem para comentários rápidos que, mesmo indiretamente, estão mais aliados com a propaganda, não com a reflexão.
Mesmo que o espaço e a valoração da crítica tenha diminuído, enquanto a força do marketing e a venda da ideia do cinema como um “combo” de fast food, não deixou de existir. A conversa de ontem – posso ter me enchido de otimismo para afirmar isso – é uma das provas. Assim como uma pesquisa do Sindicato dos Distribuidores, que apontou um índice alto de espectadores que leem críticas antes de assistirem a um filme – não me lembro o número exato, mas chega perto de 40%.
Não dá para comparar o cenário para exercer a crítica hoje com o que encontraram Antonio Moniz Viana, Paulo Emílio Sales Gomes e companhia. Outros tempos, os de hoje indicam um refluxo, em diversas áreas. Mesmo assim, a crítica que não aceita ser apenas guia de consumo ainda tem espaço para existir.
João Carlos Sampaio analisa bilheteria de "Tropa 2"
Meu amigo João Carlos Sampaio, que além de ser um torcedor tristonho a lamentar o rebaixamento do Vitória e, pior, a subida do Bahia para a primeira divisão, escreveu para o diário "A Tarde" uma análise dos porquês de "Tropa de Elite 2" ter ultrapassado "Dona Flor e Seus Dois Maridos" nas bilheterias da história do cinema brasileiro -- levando em conta que não existem estatísticas consolidads de um de nossos períodos férteis, os anos 50.
Aos que não são soteropolitanos e não têm acesso ao jornal impresso, abaixo vai a análise de João. Quem considerar a imagem abaixo pequena, é só abir em nova aba ou salvar no PC:
Aos que não são soteropolitanos e não têm acesso ao jornal impresso, abaixo vai a análise de João. Quem considerar a imagem abaixo pequena, é só abir em nova aba ou salvar no PC:
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Nas palavras de Antonio Moniz Vianna
Antonio Moniz Vianna foi um crítico de cinema que influenciou uma penca de outros críticos. Provavelmente a minha geração, formada pelo pessoal que nasceu nos anos 80 e está dando os primeiros passos, é influenciada por quem orbitou, ou se distanciou, dos textos de Moniz Vianna. Porém, difícil era ficar indiferente, já que nos autos cinematográficos, a opinião reinante é a de que “ninguém escreve sobre cinema como ele”.
O baiano que passou quase a vida toda no Rio publicou a primeira crítica em 1946. Quando John Ford morreu, em 1973, decretou que, para ele, o cinema tinha acabado. Por causa de um artigo de André Setaro, conterrâneo de Moniz Vianna, no ótimo livro “Escritos Sobre Cinema – Volume 3” (este merece um comentário posterior à parte), cheguei mais perto das ideias do carioca soteropolitano.
Eis que esbarro numa longa entrevista publicada, em 2006, no site “Críticos.com.br”. Fato notório era que Moniz Vianna não gostava de dar entrevistas, mas Evaldo Mocarzel, com a ajuda da filha e do neto do crítico, furou a barreira para conversar com um senhor de 81 anos já muito desiludido com o cinema.
Vale muito a pena conferir o que ele diz, mesmo que seja para ficar com vontade de atirar-lhe pedras. Moniz Vianna acha o Cinema Novo uma “palhaçada”, que “'Os Incompreendidos' é um filme plano, sem nada”, que gosta de “muito pouca coisa” do cinema brasileiro, “nenhum filme mudou a história do cinema”, que “não existe cinema sem história”.
Claro, opiniões de um senhor afeiçoado pelo grande cinema americano e muito resistente ao que vem depois das transformações dos anos 60, assim como as opiniões de quem veio depois geralmente olham com mais carinho para o caminho que o cinema tomou depois do fim da Era dos Estúdios.
OK, chega de falar. O link para a gostosa conversa com Antonio Moniz Vianna está aqui!
Em tempo: Antonio Moniz Vianna morreu em 2009, aos 84 anos.
Em tempo 2: Neste link, há a íntegra da crítica que ele escreveu, em 1957, para “O Homem Errado”, de Hitchcock.
Em tempo 3: Uma coletânea de 91 críticas de Moniz Vianna foi lançada sob o título “Um Filme Por Dia”. Saiba mais aqui.
O baiano que passou quase a vida toda no Rio publicou a primeira crítica em 1946. Quando John Ford morreu, em 1973, decretou que, para ele, o cinema tinha acabado. Por causa de um artigo de André Setaro, conterrâneo de Moniz Vianna, no ótimo livro “Escritos Sobre Cinema – Volume 3” (este merece um comentário posterior à parte), cheguei mais perto das ideias do carioca soteropolitano.
Eis que esbarro numa longa entrevista publicada, em 2006, no site “Críticos.com.br”. Fato notório era que Moniz Vianna não gostava de dar entrevistas, mas Evaldo Mocarzel, com a ajuda da filha e do neto do crítico, furou a barreira para conversar com um senhor de 81 anos já muito desiludido com o cinema.
Vale muito a pena conferir o que ele diz, mesmo que seja para ficar com vontade de atirar-lhe pedras. Moniz Vianna acha o Cinema Novo uma “palhaçada”, que “'Os Incompreendidos' é um filme plano, sem nada”, que gosta de “muito pouca coisa” do cinema brasileiro, “nenhum filme mudou a história do cinema”, que “não existe cinema sem história”.
Claro, opiniões de um senhor afeiçoado pelo grande cinema americano e muito resistente ao que vem depois das transformações dos anos 60, assim como as opiniões de quem veio depois geralmente olham com mais carinho para o caminho que o cinema tomou depois do fim da Era dos Estúdios.
OK, chega de falar. O link para a gostosa conversa com Antonio Moniz Vianna está aqui!
Em tempo: Antonio Moniz Vianna morreu em 2009, aos 84 anos.
Em tempo 2: Neste link, há a íntegra da crítica que ele escreveu, em 1957, para “O Homem Errado”, de Hitchcock.
Em tempo 3: Uma coletânea de 91 críticas de Moniz Vianna foi lançada sob o título “Um Filme Por Dia”. Saiba mais aqui.
domingo, 28 de novembro de 2010
O quadro não preenchido
Ivo Lopes Araújo já assinou alguns trabalhos notáveis como diretor de fotografia. Com Petrus Cariry, tem uma parceria criativa que resultou em “O Grão”, “Dos Restos e das Solidões” e “A Montanha Mágica”. Com a mineira Marília Rocha, cofotografou “A Falta que me Faz”. Com os colegas cearenses da Alumbramento, codirigiu “A Amiga Americana”.
Aqui no Festival de Brasília, o cearense participa do festival como fotógrafo do mineiro “O Céu Sobre os Ombros”. Um filme sobre três personagens de classe média baixa que buscam preencher suas vidas.
Esperava mais, confesso. Há cenas bonitas para os olhos, com a câmera parada congelando a presença dos atores no quadro como em uma pintura. Mas, poxa, o roteiro poderia avançar um pouco mais.
O filme parece ficar naquilo que o crítico baiano André Setaro identificou na dicotomia entre forma e conteúdo, “o que se conta” versus “como se conta”. O resultado de “O Céu Sobre os Ombros” dá a impressão de que o segundo é mais importante do que o primeiro.
Discordo que haja uma rivalidade entre as duas escolhas. Elas podem estar lado a lado tanto harmonicamente como opostamente. Exemplo: narra-se uma cena de amor com uma canção que remete à desilusão.
Talvez a forma ganhe muito mais importância do que o conteúdo quando se abdica inteiramente de se agarrar a uma história, a uma fábula, quando a proposta é construir sentido apenas com a associação de planos e montagem.
Como cinéfilo, gostaria de ter visto o esmero da câmera/fotografia/planificação refletido também na dramaturgia e no roteiro.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Para entender Xavier Dolan e “Os Amores Imaginários”
Depois de ter escrito sobre “Os Amores Imaginários” no Cineclick fiz uma rápida pesquisa na internet atrás de foto e me deparei com um texto da Carol Almeida, que escreve para o “Terra”, quando o filme de Xavier Dolan foi exibido no Rio.
Diz ela: “Pense num filme moderninho, casaquinhos da moda, vestidinhos retrô. Pensou? Agora duplique. Ou triplique. O fato é que o canadense 'Amores Imaginários', de Xavier Dolan, selecionado este ano da mostra Un Certain Regard, em Cannes, é certamente, entre todos os filmes do Festival do Rio, o título mais redondo para a turma que curte um combo cinema à noite + festa com trilha sonora indie na casa de algum conhecido (ou desconhecido) publicitário.”
Pimba, que capacidade de síntese. Ao ler isso entendi perfeitamente porque considero o filme de Dolan odioso, refrigerante de segunda linha que disfarça sua pobreza ao ser enlatado com uma pintura de Monet, filme pra ser consumido como se fosse combo de rede fast-food.
Pra começar, um esclarescimento: não acho o filme anterior de Dolan, “Eu Matei Minha Mãe”, uma lástima. Personagens histéricos, sim, mas de dores sinceras. No caso de “Os Amores Imaginários”, temos o suprassumo do cinema-consumo que se come e se bebe só na sala de cinema e, acabada a sessão, comenta-se com os amigos que é “legal”, “bonito”, “eu gostei”, “divertido”. Enfim, o cinema-nada.
Existem muitos filmes despretensiosos ou que almejam apenas divertir. Exemplo: “(500) Dias Com Ela”, mas com duas fortes diferenças: 1, tem-se personagens sinceros e espelhos de gente normal; 2, o diretor Marc Webb é tão sincero quanto seu filme, deixa claro que quer apenas divertir o espectador e não finge ser elaborado.
É odioso assistir a um filme como “Os Amores Imaginários”, cujos personagens saíram diretamente de páginas publicitárias, cuja narrativa depende de um irritante apêndice documental de tipos egoístas, cuja estética se apropria da vivacidade das cores pra vender ideias de plástico.
O filme de Dolan é tão falso quanto uma nota de três reais.
Diz ela: “Pense num filme moderninho, casaquinhos da moda, vestidinhos retrô. Pensou? Agora duplique. Ou triplique. O fato é que o canadense 'Amores Imaginários', de Xavier Dolan, selecionado este ano da mostra Un Certain Regard, em Cannes, é certamente, entre todos os filmes do Festival do Rio, o título mais redondo para a turma que curte um combo cinema à noite + festa com trilha sonora indie na casa de algum conhecido (ou desconhecido) publicitário.”
Pimba, que capacidade de síntese. Ao ler isso entendi perfeitamente porque considero o filme de Dolan odioso, refrigerante de segunda linha que disfarça sua pobreza ao ser enlatado com uma pintura de Monet, filme pra ser consumido como se fosse combo de rede fast-food.
Pra começar, um esclarescimento: não acho o filme anterior de Dolan, “Eu Matei Minha Mãe”, uma lástima. Personagens histéricos, sim, mas de dores sinceras. No caso de “Os Amores Imaginários”, temos o suprassumo do cinema-consumo que se come e se bebe só na sala de cinema e, acabada a sessão, comenta-se com os amigos que é “legal”, “bonito”, “eu gostei”, “divertido”. Enfim, o cinema-nada.
Existem muitos filmes despretensiosos ou que almejam apenas divertir. Exemplo: “(500) Dias Com Ela”, mas com duas fortes diferenças: 1, tem-se personagens sinceros e espelhos de gente normal; 2, o diretor Marc Webb é tão sincero quanto seu filme, deixa claro que quer apenas divertir o espectador e não finge ser elaborado.
É odioso assistir a um filme como “Os Amores Imaginários”, cujos personagens saíram diretamente de páginas publicitárias, cuja narrativa depende de um irritante apêndice documental de tipos egoístas, cuja estética se apropria da vivacidade das cores pra vender ideias de plástico.
O filme de Dolan é tão falso quanto uma nota de três reais.
Michel Ciment e a crítica de cinema
Interessantíssima a experiência de assistir a “Michel Ciment: A Arte de Compartilhar Filmes” na Mostra. Ciment tem 72 anos, quase a idade de meu pai (76), é editor da revista “Positf” – rival histórica da “Cahiers du Cinéma” – e uma espécie de patrimônio cultural e cinematográfico francês.
No média-metragem, temos pessoas falando sobre Ciment e Ciment falando sobre cinema. Nada muito elaborado do ponto de vista formal, mas um filme que apresenta e sintetiza os principais pensamentos do crítico.
As ideias de Ciment sobre passado, presente e futuro do cinema, mas especialmente sua posição quanto à crítica, são fundamentais. Ainda mais para alguém jovem (25 anos), cuja cinefilia consciente foi despertada tardiamente (há cinco anos) e ainda está formando o olhar para o cinema.
No meu caso, ter a chance de ser confrontado com o pensamento de Ciment é fundamental. Não por colocá-lo num pedestal da perfeição intelectual e do bom gosto. Mas por duas razões: além do óbvio rigor por um filme, o Ciment apresentado pelo filme é um crítico intenso tanto para o amor quanto pelo ódio, algo que costumo defender; segundo: como alguém tem uma relação tão viva com o cinema mesmo depois dos 70?
O vigor de Ciment me lembrou a definição de Manoel de Oliveira para a busca de um artista: “a esperança é o que mantém a chama na busca pelo absoluto, que só vem na morte. O artista, a cada trabalho, busca o absoluto”. Talvez essa busca é o que ainda o deixe interessado em buscar novos realizadores (apesar de, por exemplo, eu não achar necessariamente um mérito Ciment ter defendido Lars Von Trier) é o que mantém viva relação Ciment/Cinema.
Para um jovem crítico de cinema, nascido nos anos 80 – momento de refluxo, convenhamos – é indispensável ter Ciment no coração. Um cara que dá a certeza de que a crítica de cinema é o que deve salvar o jornalismo cultural da mediocridade indicadora de consu
No média-metragem, temos pessoas falando sobre Ciment e Ciment falando sobre cinema. Nada muito elaborado do ponto de vista formal, mas um filme que apresenta e sintetiza os principais pensamentos do crítico.
As ideias de Ciment sobre passado, presente e futuro do cinema, mas especialmente sua posição quanto à crítica, são fundamentais. Ainda mais para alguém jovem (25 anos), cuja cinefilia consciente foi despertada tardiamente (há cinco anos) e ainda está formando o olhar para o cinema.
No meu caso, ter a chance de ser confrontado com o pensamento de Ciment é fundamental. Não por colocá-lo num pedestal da perfeição intelectual e do bom gosto. Mas por duas razões: além do óbvio rigor por um filme, o Ciment apresentado pelo filme é um crítico intenso tanto para o amor quanto pelo ódio, algo que costumo defender; segundo: como alguém tem uma relação tão viva com o cinema mesmo depois dos 70?
O vigor de Ciment me lembrou a definição de Manoel de Oliveira para a busca de um artista: “a esperança é o que mantém a chama na busca pelo absoluto, que só vem na morte. O artista, a cada trabalho, busca o absoluto”. Talvez essa busca é o que ainda o deixe interessado em buscar novos realizadores (apesar de, por exemplo, eu não achar necessariamente um mérito Ciment ter defendido Lars Von Trier) é o que mantém viva relação Ciment/Cinema.
Para um jovem crítico de cinema, nascido nos anos 80 – momento de refluxo, convenhamos – é indispensável ter Ciment no coração. Um cara que dá a certeza de que a crítica de cinema é o que deve salvar o jornalismo cultural da mediocridade indicadora de consu
sábado, 23 de outubro de 2010
"Um Homem Chato" X "Vocês, os Vivos"
Conversando com meu amigo João Nunes, crítico do “Correio Popular”, reclamava como me repetia em alguns textos. Escrevendo hoje sobre o norueguês “Um Homem Chato”, que está na Mostra integrando a retrospectiva do cinema do país que põe traços no “o”, me peguei sendo repetitivo novamente.
Na minha leitura, “Um Homem Chato” usa os mesmos mecanismos cômicos do sueco “Vocês, Os Vivos”. Logo após a sessão, uma senhora disse à sua amiga: “É... um humor bem nórdico, né?”. Pois bem, ela tem razão.
Hoje percebi como esse tal “humor nórdico” me encanta! Tanto que todas as vezes que assisto a algum filme que tenha essa pegada (e geralmente eles falam do estado das coisas ou da condição humana), penso sempre em “Vocês, os Vivos” como medida de comparação.
No Festival de Curtas, em agosto, foi a mesma coisa. Numa sessão tinha a sequência “Eu Sou Helmut”, “Incidente no Banco” e “Esquerda Direita”. Advinha qual longa os três curtas me lembraram? Nem preciso falar!!!
Nenhum dos filmes com o tal “humor nórdico” (seja lá o que isso signifique) conseguiu superar a relação emocionante que tenho com “Vocês, os Vivos” – talvez porque o filme de Roy Anderson não é só engraçado, mas muito inventivo cinematograficamente, ousado na forma.
Mas, vira e mexe volto a “Vocês, os Vivos”. Que filmão!
Na minha leitura, “Um Homem Chato” usa os mesmos mecanismos cômicos do sueco “Vocês, Os Vivos”. Logo após a sessão, uma senhora disse à sua amiga: “É... um humor bem nórdico, né?”. Pois bem, ela tem razão.
Hoje percebi como esse tal “humor nórdico” me encanta! Tanto que todas as vezes que assisto a algum filme que tenha essa pegada (e geralmente eles falam do estado das coisas ou da condição humana), penso sempre em “Vocês, os Vivos” como medida de comparação.
No Festival de Curtas, em agosto, foi a mesma coisa. Numa sessão tinha a sequência “Eu Sou Helmut”, “Incidente no Banco” e “Esquerda Direita”. Advinha qual longa os três curtas me lembraram? Nem preciso falar!!!
Nenhum dos filmes com o tal “humor nórdico” (seja lá o que isso signifique) conseguiu superar a relação emocionante que tenho com “Vocês, os Vivos” – talvez porque o filme de Roy Anderson não é só engraçado, mas muito inventivo cinematograficamente, ousado na forma.
Mas, vira e mexe volto a “Vocês, os Vivos”. Que filmão!
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
A reconciliação com “Vincere”
Assisti a “Vincere” pela primeira em outubro de 2008, numa sessão no Estação Gávea do Festival do Rio. Não me lembro se estava cansado – acho que não –, mas não achei nada demais no filme. A não ser pelas inserções do material documental, não havia enxergado algo que justificasse uma histeria pelo filme.
Bom, isso rendeu algumas conversas com meu amigo Sergio Alpendre, que urgia para eu rever o filme do Bellochio, numa telona de cinema, em condições adequadas. “O filme merece”, dizia Sergio. Passou o tempo e fui rever o filme, na sala 4 do Reserva Cultural (aliás, o cinema do Jean Thomas Bernardini só passa filme em digital?!).
É sempre muito gostoso rever filmes, os que não gostamos ou os que idolatramos. Rever duas vezes “Tudo Sobre Minha Mãe” foi encontrar vários artifícios de Almodóvar, mas assistir novamente a “Volver” foi perceber que ali existe um filmão. No caso de “Vincere”, é isso: encontrar um filmão ali, na minha frente, que tinha passado despercebido da primeira vez.
Acho que há um fortíssimo diálogo entre o filme de Bellochio e “Katyn”, de Andrzej Wajda. Ambos falam de como personagens em situações ditatoriais optaram por bradar a verdade mesmo que isso custasse suas vidas. Bom, no caso de Wajda, é mais por ideal político, enquanto que em “Vincere” isso é misturado com a visão de uma mulher profundamente apaixonada, que sustenta a verdade inicialmente por um desejo de ter seu amor, Mussolini, de volta aos seus braços, mas posteriormente segue esse caminho porque é o único a ser seguido.
É isso, uma mulher contra todos, assim como em “Katyn” é um soldado contra todos. Mas Wajda é mais sério, seco, sereno. Bellochio é operístico, dramático, barroco. Como Orson Welles, torna o encontro entre Ida Dalser e Benito Mussolini a história de amor mais particular e importante do universo.
O que mais me chama atenção em “Vincere” é que, mesmo percebendo que o filme está a favor desde o começo a Ida Dalser, há muitíssimas portas de entrada. Não sei se necessariamente trata-se de uma polifonia narrativa, mas, acompanhamos com a mesma atenção o ponto de vista dos dois e, para tal, Bellochio usa muitas ferramentas.
A história de Ida, uma mulher apaixonada; a história de um homem que se excitava pelo comando supremo; o clima de ópera que existe na história de amor; a porção psicopata de Mussolini que não hesitou em destruir Ida; a música, um capítulo à parte, tão forte que, se passássemos duas horas na sala só escutando a trilha, saberíamos perfeitamente o que é “Vincere”; as inserções documentais que (quase) inserem um novo personagem (não o Benito, mas o Mussolini que conhecemos da História).
Existem vários filmes dentro de um só ali em “Vincere”. É só escolher qual você prefere e, pimba, boa viagem!
PS: “Vincere” é tão bom que até mesmo a projeção da Rain – quer dizer, agora Auwê – não impede que o filme chegue aos nossos corações.
Bom, isso rendeu algumas conversas com meu amigo Sergio Alpendre, que urgia para eu rever o filme do Bellochio, numa telona de cinema, em condições adequadas. “O filme merece”, dizia Sergio. Passou o tempo e fui rever o filme, na sala 4 do Reserva Cultural (aliás, o cinema do Jean Thomas Bernardini só passa filme em digital?!).
É sempre muito gostoso rever filmes, os que não gostamos ou os que idolatramos. Rever duas vezes “Tudo Sobre Minha Mãe” foi encontrar vários artifícios de Almodóvar, mas assistir novamente a “Volver” foi perceber que ali existe um filmão. No caso de “Vincere”, é isso: encontrar um filmão ali, na minha frente, que tinha passado despercebido da primeira vez.
Acho que há um fortíssimo diálogo entre o filme de Bellochio e “Katyn”, de Andrzej Wajda. Ambos falam de como personagens em situações ditatoriais optaram por bradar a verdade mesmo que isso custasse suas vidas. Bom, no caso de Wajda, é mais por ideal político, enquanto que em “Vincere” isso é misturado com a visão de uma mulher profundamente apaixonada, que sustenta a verdade inicialmente por um desejo de ter seu amor, Mussolini, de volta aos seus braços, mas posteriormente segue esse caminho porque é o único a ser seguido.
É isso, uma mulher contra todos, assim como em “Katyn” é um soldado contra todos. Mas Wajda é mais sério, seco, sereno. Bellochio é operístico, dramático, barroco. Como Orson Welles, torna o encontro entre Ida Dalser e Benito Mussolini a história de amor mais particular e importante do universo.
O que mais me chama atenção em “Vincere” é que, mesmo percebendo que o filme está a favor desde o começo a Ida Dalser, há muitíssimas portas de entrada. Não sei se necessariamente trata-se de uma polifonia narrativa, mas, acompanhamos com a mesma atenção o ponto de vista dos dois e, para tal, Bellochio usa muitas ferramentas.
A história de Ida, uma mulher apaixonada; a história de um homem que se excitava pelo comando supremo; o clima de ópera que existe na história de amor; a porção psicopata de Mussolini que não hesitou em destruir Ida; a música, um capítulo à parte, tão forte que, se passássemos duas horas na sala só escutando a trilha, saberíamos perfeitamente o que é “Vincere”; as inserções documentais que (quase) inserem um novo personagem (não o Benito, mas o Mussolini que conhecemos da História).
Existem vários filmes dentro de um só ali em “Vincere”. É só escolher qual você prefere e, pimba, boa viagem!
PS: “Vincere” é tão bom que até mesmo a projeção da Rain – quer dizer, agora Auwê – não impede que o filme chegue aos nossos corações.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Eric Roth sobre filme noir: “eles te levam para becos que você não iria”
A seção de vídeos do site do Oscar costuma ter vídeos curtos, mas bons, sobre temas do fazer cinematográfico, como roteiro de filmes de gênero e montagem na era digital. Neste momento, a home page tem treze vídeos de roteiristas diversos falando sobre o filme noir.
O destaque desta sexta-feira é Eric Roth, que escreveu muitos filmes nos últimos vinte anos, entre eles “O Curioso Caso de Benjamin Button”, “O Bom Pastor”, “Munique”, “Ali”, “Forrest Gump” etc.
Por quase dois minutos, Roth dá algumas opiniões sobre o filme noir:
“Eles te levam para um mundo de sonhos, sonhos obscuros, de certa maneira. Os melhores conduzem para os obscuros, eu acho”.
“O filme noir apela para um tipo de mundo visual que não existe, becos, vielas, lugares nos quais você teria medo de ir”.
“São concisos, visuais, de certa forma. Não há muita reflexão no texto, em outras palavras, os personagens não falam de si mesmos. São mais pró-ativos do que reativos”.
“Pelo menos nos filmes mais antigos, o ‘storytelling’ é mais melodramático, só que ficou mais sofisticada com o tempo”.
Esse monte de entrevistas sobre o filme noir não é à toa. A Academia começa, em 13 de setembro, a série “Oscar® Noir: 1940s Writing Nominees from Hollywood’s Dark Side”. Advinha quem começa? “O Falcão Maltês”, noir de 1941 com Humphrey Bogart.
Imagina assistir no Samuel Goldwin Theatre um dos melhores filmes noir (por que não o melhor?) a US$ 5? Confesso que não é o meu gênero favorito no cinema, mas existem duas razões para não fugir jamais do filme de John Huston:
1: assim como a maioria dos noir, explica muito do momento dos Estados Unidos durante ou imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, além de ser ajudar a entender onde estava Hollywood naquele momento.
2: a personagem de Brigid O'Shaughnessyé. Vivida por Mary Astor (atriz muito requisitada na era do cinema mudo), a personagem é impossível de confiar. Não sabemos de que lado ela está, que jogo está fazendo, se é inocente, culpada ou os dois! Brigid é tão desestabilizadora quanto Candy (Jean Peters) de “Anjo do Mal”, filme de Samuel Fueller.
O destaque desta sexta-feira é Eric Roth, que escreveu muitos filmes nos últimos vinte anos, entre eles “O Curioso Caso de Benjamin Button”, “O Bom Pastor”, “Munique”, “Ali”, “Forrest Gump” etc.
Por quase dois minutos, Roth dá algumas opiniões sobre o filme noir:
“Eles te levam para um mundo de sonhos, sonhos obscuros, de certa maneira. Os melhores conduzem para os obscuros, eu acho”.
“O filme noir apela para um tipo de mundo visual que não existe, becos, vielas, lugares nos quais você teria medo de ir”.
“São concisos, visuais, de certa forma. Não há muita reflexão no texto, em outras palavras, os personagens não falam de si mesmos. São mais pró-ativos do que reativos”.
“Pelo menos nos filmes mais antigos, o ‘storytelling’ é mais melodramático, só que ficou mais sofisticada com o tempo”.
Esse monte de entrevistas sobre o filme noir não é à toa. A Academia começa, em 13 de setembro, a série “Oscar® Noir: 1940s Writing Nominees from Hollywood’s Dark Side”. Advinha quem começa? “O Falcão Maltês”, noir de 1941 com Humphrey Bogart.
Imagina assistir no Samuel Goldwin Theatre um dos melhores filmes noir (por que não o melhor?) a US$ 5? Confesso que não é o meu gênero favorito no cinema, mas existem duas razões para não fugir jamais do filme de John Huston:
1: assim como a maioria dos noir, explica muito do momento dos Estados Unidos durante ou imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, além de ser ajudar a entender onde estava Hollywood naquele momento.
2: a personagem de Brigid O'Shaughnessyé. Vivida por Mary Astor (atriz muito requisitada na era do cinema mudo), a personagem é impossível de confiar. Não sabemos de que lado ela está, que jogo está fazendo, se é inocente, culpada ou os dois! Brigid é tão desestabilizadora quanto Candy (Jean Peters) de “Anjo do Mal”, filme de Samuel Fueller.
domingo, 25 de julho de 2010
Para onde irão os diretores de “5x Favela – Agora Por Nós Mesmos”
O Festival de Paulínia deste ano teve dois filmes/eventos marcantes: “5x Favela – Agora Por Nós Mesmos”, longa coletivo que retoma a experiência do Cinema Novo de 1961, e “Bróder”, a estreia do ótimo curta-metragista Jeferson De na direção de um longa-metragem.
Pelo júri, deu o carioca. Pela crítica, deu o paulista. Que bom que a escolha foi dividida e ambos os filmes ganharam os merecidos destaques. Aliás, corajosa a decisão do júri de premiar “5x Favela – Agora Por Nós Mesmos”, filme que, pelo seu próprio formato (cinco curtas metragens agrupados), é irregular – e, no conjunto, inferior a “Bróder”. Mas, mesmo assim, tem ótimos momentos e soluções muito criativas.
Agora que “5x Favela” ganhou sete prêmios em Paulínia, o que acontecerá com seus diretores? O filme estreia em circuito em 27 de agosto – com promessa da produtora Renata de Almeida de colocar o longa nos cinemas da zona sul carioca!
O cinema brasileiro, assim como o chileno e o uruguaio, vive de ciclos. Desde 1994 estamos baseados na dinâmica de produção do incentivo fiscal – com a ressalva do momento pós-Ancine. Ou seja, estamos na marca de 70, 80 filmes produzidos por ano há cerca de quatro anos. Mas, a distribuição e exibição para longas nacionais ainda é ridícula e profundamente injusta.
Então, a pergunta é: o que acontecerá com Manaíra Carneiro e Wagner Novais (episódio “Fonte de Renda), Rodrigo Felha e Cacau Amaral (episódio “Arroz com Feijão”), Luciano Vidigal (episódio “Concerto Para Violino”), Cadu Barcelos (episódio “Deixa Voar”) e Luciana Bezerra (episódio “Acende a Luz”)?
Quando o cinema não consegue receber atores revelações, eles vão para a televisão. O que acontecerá com os diretores? O cinema brasileiro precisa encontrar espaço para que eles façam o segundo, o terceiro...o décimo longa-metragem.
Pelo júri, deu o carioca. Pela crítica, deu o paulista. Que bom que a escolha foi dividida e ambos os filmes ganharam os merecidos destaques. Aliás, corajosa a decisão do júri de premiar “5x Favela – Agora Por Nós Mesmos”, filme que, pelo seu próprio formato (cinco curtas metragens agrupados), é irregular – e, no conjunto, inferior a “Bróder”. Mas, mesmo assim, tem ótimos momentos e soluções muito criativas.
Agora que “5x Favela” ganhou sete prêmios em Paulínia, o que acontecerá com seus diretores? O filme estreia em circuito em 27 de agosto – com promessa da produtora Renata de Almeida de colocar o longa nos cinemas da zona sul carioca!
O cinema brasileiro, assim como o chileno e o uruguaio, vive de ciclos. Desde 1994 estamos baseados na dinâmica de produção do incentivo fiscal – com a ressalva do momento pós-Ancine. Ou seja, estamos na marca de 70, 80 filmes produzidos por ano há cerca de quatro anos. Mas, a distribuição e exibição para longas nacionais ainda é ridícula e profundamente injusta.
Então, a pergunta é: o que acontecerá com Manaíra Carneiro e Wagner Novais (episódio “Fonte de Renda), Rodrigo Felha e Cacau Amaral (episódio “Arroz com Feijão”), Luciano Vidigal (episódio “Concerto Para Violino”), Cadu Barcelos (episódio “Deixa Voar”) e Luciana Bezerra (episódio “Acende a Luz”)?
Quando o cinema não consegue receber atores revelações, eles vão para a televisão. O que acontecerá com os diretores? O cinema brasileiro precisa encontrar espaço para que eles façam o segundo, o terceiro...o décimo longa-metragem.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Paulínia ainda não acabou...
- De Paulínia
Paulínia ainda não acabou, mas tem coisas que já marcaram. Rapidinho, vamos a elas:
- a exibição e coletiva de "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos".
- a exibição de "Eu Não Quero Voltar Sozinho", uma semente no diálogo.
- a frustração, seguida de catárse, com "Lixo Extraordinário".
- a força de "Bróder", exibido num teatro abarrotado.
E a premiação nesta quinta, como será?
Paulínia ainda não acabou, mas tem coisas que já marcaram. Rapidinho, vamos a elas:
- a exibição e coletiva de "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos".
- a exibição de "Eu Não Quero Voltar Sozinho", uma semente no diálogo.
- a frustração, seguida de catárse, com "Lixo Extraordinário".
- a força de "Bróder", exibido num teatro abarrotado.
E a premiação nesta quinta, como será?
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Os mitos do cinema jovem
De Paulínia
Em Paulínia, até agora tivemos dois filmes que podem ser facilmente considerados jovens, “Desenrola” e “Eu Não Quero Voltar Sozinho”. O primeiro se parece com “High School Musical”, enquanto o segundo é popular e mais cerebral. Ambos foram exibidos ontem, domingo (18/7), aqui em Paulínia.
Quando olhei a programação, achei que o curta-metragem de Daniel Ribeiro (por ser um diretor de filmes mais sofisticados) teria uma recepção morna e o longa-metragem de Rosane Svartman iria criar uma catarse no cinema repleto de jovens. Engano, ledo engano.
Ambos foram fortemente aplaudidos. Claro que “Desenrola” tem mais apelo e elenco televisivo, sequencias musicais intermináveis etc. Mas, para o “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, que é 1-curta-metragem; 2-temática gay; 3-tem mais cara de “filme de arte”, a recepção foi muito calorosa, mesmo.
Essa recepção põe um bem-vindo ponto de interrogação sobre o que é um filme popular jovem. “Desenrola” aposta na estética da televisão. “Eu Não Quero Voltar Sozinho” usa o cinema. E ambos dialogam abertamente com o público.
Só para ter um exemplo: Bia, 14 anos, a super simpática filha da Flávia Arruda, uma das assessoras do Festival de Paulínia (ao lado da Carol e da Margô), disse ter gostado de “Desenrola”. Mas, em comparação com “As Melhores Coisas do Mundo”, prefere o filme da Laís Bodanzky. Porém, o que ela “amou” foi “Eu Não Quero Voltar Sozinho”.
A juventude ainda tem salvação ;)
Em Paulínia, até agora tivemos dois filmes que podem ser facilmente considerados jovens, “Desenrola” e “Eu Não Quero Voltar Sozinho”. O primeiro se parece com “High School Musical”, enquanto o segundo é popular e mais cerebral. Ambos foram exibidos ontem, domingo (18/7), aqui em Paulínia.
Quando olhei a programação, achei que o curta-metragem de Daniel Ribeiro (por ser um diretor de filmes mais sofisticados) teria uma recepção morna e o longa-metragem de Rosane Svartman iria criar uma catarse no cinema repleto de jovens. Engano, ledo engano.
Ambos foram fortemente aplaudidos. Claro que “Desenrola” tem mais apelo e elenco televisivo, sequencias musicais intermináveis etc. Mas, para o “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, que é 1-curta-metragem; 2-temática gay; 3-tem mais cara de “filme de arte”, a recepção foi muito calorosa, mesmo.
Essa recepção põe um bem-vindo ponto de interrogação sobre o que é um filme popular jovem. “Desenrola” aposta na estética da televisão. “Eu Não Quero Voltar Sozinho” usa o cinema. E ambos dialogam abertamente com o público.
Só para ter um exemplo: Bia, 14 anos, a super simpática filha da Flávia Arruda, uma das assessoras do Festival de Paulínia (ao lado da Carol e da Margô), disse ter gostado de “Desenrola”. Mas, em comparação com “As Melhores Coisas do Mundo”, prefere o filme da Laís Bodanzky. Porém, o que ela “amou” foi “Eu Não Quero Voltar Sozinho”.
A juventude ainda tem salvação ;)
sexta-feira, 16 de julho de 2010
O Beijo da Mulher Aranha
De Paulínia
Pena que não tenho tanto tempo para falar sobre “O Beijo da Mulher Aranha”. Festival é sempre uma correria e sempre fica aquela sensação de que você está perdendo alguma coisa. Mas o filme de Hector Babenco, exibido com uma cópia restaurada ontem à noite, pede um comentário à cada camada. Fala-se de muita coisa naquele filme. Vou pegar apenas uma.
Méritos sejam divididos à direção de Babenco, ao texto original do livro de Manuel Puig e à adaptação do roteiro de Leonard Scharader, “O Beijo da Mulher Aranha” tem a maestria de captar a dificuldade de social de ser gay entre os anos 70 e 80.
William Hurt interpreta Luis Molina, preso por ter feito sexo com um adolescente, que divide cela com Vicente Arregui, preso político. O personagem de Molina transpira dignidade, mas se afasta da representação idealizada.
Em linhas muito rápidas, um dos aspectos brilhantes do filme está na feitura do personagem homossexual. O filme de Babenco é irmão de “Romance”, de Sérgio Bianchi (no sentido de falar da impossibilidade do amor), da canção “Ideologia”, de Cazuza (“o meu prazer/agora é risco de vida), e do curta-megragem “Bailão”, de Marcelo Caetano (que reconta a história da famosa boate paulistana sob uma perspectiva política).
Existe muita coisa para se falar de “O Beijo da Mulher Aranha”, seja pelo olhar onírico ou pelo realista. Mas, só para começar a conversa, o personagem gay merece o registro pela habilidade do filme em entender uma época.
Pena que não tenho tanto tempo para falar sobre “O Beijo da Mulher Aranha”. Festival é sempre uma correria e sempre fica aquela sensação de que você está perdendo alguma coisa. Mas o filme de Hector Babenco, exibido com uma cópia restaurada ontem à noite, pede um comentário à cada camada. Fala-se de muita coisa naquele filme. Vou pegar apenas uma.
Méritos sejam divididos à direção de Babenco, ao texto original do livro de Manuel Puig e à adaptação do roteiro de Leonard Scharader, “O Beijo da Mulher Aranha” tem a maestria de captar a dificuldade de social de ser gay entre os anos 70 e 80.
William Hurt interpreta Luis Molina, preso por ter feito sexo com um adolescente, que divide cela com Vicente Arregui, preso político. O personagem de Molina transpira dignidade, mas se afasta da representação idealizada.
Em linhas muito rápidas, um dos aspectos brilhantes do filme está na feitura do personagem homossexual. O filme de Babenco é irmão de “Romance”, de Sérgio Bianchi (no sentido de falar da impossibilidade do amor), da canção “Ideologia”, de Cazuza (“o meu prazer/agora é risco de vida), e do curta-megragem “Bailão”, de Marcelo Caetano (que reconta a história da famosa boate paulistana sob uma perspectiva política).
Existe muita coisa para se falar de “O Beijo da Mulher Aranha”, seja pelo olhar onírico ou pelo realista. Mas, só para começar a conversa, o personagem gay merece o registro pela habilidade do filme em entender uma época.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Lola, de Jacques Demy
Devo ao montador e documentarista Emmanuel Laurent, que lançou agorinha no Brasil “Godard, Truffaut e Nouvelle Vague”, a descoberta do cinema de Jacques Demy, de “Lola” e “Duas Garotas Românticas”.
Na entrevista que fiz há mais de um mês, não resisti em perguntar quem era seu preferido, Godard ou Truffaut? Nenhum dos dois, era justamente o Demy. “Pelo uso extraordinário da música em seus filmes”. Peguei “Lola, A Flor Proibida”, lançada numa cópia captrichada, pra ver.
Pois é, o uso da música é realmente extraordinário. Não exatamente pela seleção de canções, mas como elas não só dão o clima da cena, mas expõem as sensações e humores dos personagens. É mais um mecanismo narrativo, que substitui diálogos e complementa a câmera.
No começo do filme, não sabemos sobre o que é a história e quem é a tal Lola. Pois bem, numa magnífica sequência, somos levados por um marinheiro ao cabaré El Eldorado. Lá ele (quer dizer, nós) encontra Lola. Numa música, que a atriz Anouk Aimée rebola e mexe com sensualidade, descobrimos inteiramente a essência daquela mulher.
Pronto! Sem muito esforço, bla bla bla ou enrolação. Mensagem dada que justifica os acontecimentos da moça ao longo do filme.
Só que não para por aí. Na verdade, a sensação é a de que a mise en scène se constroi toda baseada nas músicas – nem sempre cantadas. As entradas e saídas dos personagens, sua relação com o espaço e com outros personagens seguem o som que está ao fundo. Isso dá um ar de leveza (ou tristeza) pra temas sérios (ou frívolos).
“Lola” é um filme triste, pois a felicidade não se oferece a todos. A alegria de uns causa a tristeza de outros tantos. Mas no fim do filme, não parece que assistimos a algo triste... Fala-se de abandono e amor sem adotar um tom catastrófico.
Uma última observação: No filme, Lola é vivida por Anouk Aimée. Ela é extremamente sensual, independente, altiva, altiva, amorosa, uma mulher com vida e real. Completamente o oposto de quando faz os filmes de amor de Claude Lelouch, como “Um Homem e uma Mulher”. Impressionante como um diretor pode despertar muitas coisas numa atriz.
Em tempo: Na aula do Inácio, vimos “Ganga Bruta”, com seus problemas e qualidades. Mas, como a cena no filme de Humberto Mauro se organizava a partir da música me fez pensar muito em “Lola”. Preciso desenvolver isso melhor.
Na entrevista que fiz há mais de um mês, não resisti em perguntar quem era seu preferido, Godard ou Truffaut? Nenhum dos dois, era justamente o Demy. “Pelo uso extraordinário da música em seus filmes”. Peguei “Lola, A Flor Proibida”, lançada numa cópia captrichada, pra ver.
Pois é, o uso da música é realmente extraordinário. Não exatamente pela seleção de canções, mas como elas não só dão o clima da cena, mas expõem as sensações e humores dos personagens. É mais um mecanismo narrativo, que substitui diálogos e complementa a câmera.
No começo do filme, não sabemos sobre o que é a história e quem é a tal Lola. Pois bem, numa magnífica sequência, somos levados por um marinheiro ao cabaré El Eldorado. Lá ele (quer dizer, nós) encontra Lola. Numa música, que a atriz Anouk Aimée rebola e mexe com sensualidade, descobrimos inteiramente a essência daquela mulher.
Pronto! Sem muito esforço, bla bla bla ou enrolação. Mensagem dada que justifica os acontecimentos da moça ao longo do filme.
Só que não para por aí. Na verdade, a sensação é a de que a mise en scène se constroi toda baseada nas músicas – nem sempre cantadas. As entradas e saídas dos personagens, sua relação com o espaço e com outros personagens seguem o som que está ao fundo. Isso dá um ar de leveza (ou tristeza) pra temas sérios (ou frívolos).
“Lola” é um filme triste, pois a felicidade não se oferece a todos. A alegria de uns causa a tristeza de outros tantos. Mas no fim do filme, não parece que assistimos a algo triste... Fala-se de abandono e amor sem adotar um tom catastrófico.
Uma última observação: No filme, Lola é vivida por Anouk Aimée. Ela é extremamente sensual, independente, altiva, altiva, amorosa, uma mulher com vida e real. Completamente o oposto de quando faz os filmes de amor de Claude Lelouch, como “Um Homem e uma Mulher”. Impressionante como um diretor pode despertar muitas coisas numa atriz.
Em tempo: Na aula do Inácio, vimos “Ganga Bruta”, com seus problemas e qualidades. Mas, como a cena no filme de Humberto Mauro se organizava a partir da música me fez pensar muito em “Lola”. Preciso desenvolver isso melhor.
sábado, 5 de junho de 2010
Shadows e Veludo Azul ou os filmes em seu tempo
Dizer que certos filmes são datados pode ser bom e pode ser ruim. Peguei dois filmes para ver em sequência, “Veludo Azul” (de David Lynch) e “Sombras” (de John Cassavettes), num momento que estou lendo “Como a Geração Sexo-Drogas-Rock’n’roll Salvou Hollywood”, de Peter Biskind. Muito legal ter feito as três coisas juntas.
Lá no livro, Biskind faz um histórico do grupo Penn-Scorsese-Coppola-Hopper-Fonda-Nicholson-Lucas-Spielberg-Altman e alguns coadjuvantes. No ponto da leitura que estou, fala sobre essa Nova Hollywood, que criou novos meios de produção burlando o esquema de estúdios.
Biskind diz que Easy Rider (Sem Destino) escancarou a passagem pela qual Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas já havia atravessado. Mas a experiência mais remota de filme independente desde que a produção dos estúdios se consolidara, segundo os próprios cineastas, é o filme de Cassavetes.
Creio que ele, quando fez Sombras, em 1959, não estava pagando tributo à teoria do auteur criada pelos franceses da Carrier du Cinéma. Mas o filme é completamente autoral.
Cassavetes responde ao cinema de seu tempo. Nos anos 50, Hollywood ainda estava empolada e creio que seus grandes diretores eram Alfred Hitchcock, John Ford e Howard Hawks. Diretores sofisticados, que criaram convenções (especialmente o Senhor Suspense), mas também presos ao começo, meio e fim. De repente, vem um cara falando de uns freaks de Manhattan, sem uma história muito definida ou diálogos estabelecidos, improvisando do começo ao fim, a ponto de, numa cena em que o irmão vai viajar e se despede da irmã, assistimos à seguinte conversa:
- Hey, what’s the matter?
- Hmm... I forgot your toothbrush
Tá na cara que a atriz chutou esse “eu esqueci sua escova de dentes” com a primeira coisa que veio à mente. Assim é Sombras: cenas que servem de metáfora sobre o velho cinema correndo atrás do novo, mas perdendo o fôlego no meio do caminho. Filmes baratíssimos, com gente sem muita experiência.
Sombras é sim uma resposta ao seu tempo, um filme que, mesmo sem ser explicitamente metaliguístico, também o é a partir que se posiciona, na forma, em relação ao que vinha sendo feito. Só que o filme de Cassavetes fica, não apenas como puro exercício de cinefilia, mas pela surpresa de um filme que busca a força dos sketchs – algo que hoje existe no cinema de Elia Suleimani.
O que tem David Lynch a ver com tudo isso? Voltando ao cinema de autor, Veludo Azul saiu em 1987. O sonho da Nova Hollywood já tinha acabado, cineastas tentavam sobreviver sem perder seu toque no filme, enquanto a indústria produzia uma enxurrada de musicais sem graça, a gangue dos “Flashdance”.
De repente, vem um cara fissurado em meditação falar de imperfeições, rodar com pouco dinheiro e, de quebra, dizer ao produtor que queria controle total no corte final do filme. Parece história da Nova Hollywood, né? Mas não, é isso que está por trás do filme de David Lynch.
Eu acho Veludo Azul um porre, simplesmente porque é um filme que não sai do estágio de um plot. Numa cidade pacata, um jovem descobre uma orelha cortada que, acidentalmente, o leva a descobrir que, por trás da calmaria, está um mundo perverso e pervertido.
E daí? Por 121 minutos, o filme ameaça sair de seu ponto inicial, mas não avança. Tem lá sua estrutura, diálogos completamente banais e corre atrás de seu próprio rabo o tempo todo. Eis que chega Pauline Kael, da revista New Yorker, pra resgatar o filme e apontar como havia ali a marca de um diretor e a busca por um cinema mais provocador.
O que me leva a pensar o seguinte: em termos de cinema americano, os anos 80 estavam tão pobre assim a ponto de Veludo Azul ser saudado como uma obra de arte sobre as taras humanas? As opções eram tão poucas que, só pelo fato de Lynch ter arriscado, já merecia rios de elogios?
Pô, então o auteur dos anos 80 é infinitamente inferior ao dos anos 60 e 70! Porque, falar que Veludo Azul é bem filmado não é elogio, mas obrigação de Lynch. Falar que a fotografia está bonita ou a trilha bem escolhida também é obrigação de quem quer contar uma história. Talvez a marca de Lynch esteja justamente no veludo azul vestido pela bela Isabella Rossellini: lindo e completmente vazio, mesmo que tenha tentado falar de gente real.
Em tempo: voltando a Cassavetes e a cena de despedida dos dois irmãos na estação de ônibus, não consigo responder em cima do que ele improvisou, qual foi o clima da cena que ele propôs aos atores. Não é um plano-sequência, mas sim vários planos cortados, que dão a impressão de que a cena foi refeita.
Lá no livro, Biskind faz um histórico do grupo Penn-Scorsese-Coppola-Hopper-Fonda-Nicholson-Lucas-Spielberg-Altman e alguns coadjuvantes. No ponto da leitura que estou, fala sobre essa Nova Hollywood, que criou novos meios de produção burlando o esquema de estúdios.
Biskind diz que Easy Rider (Sem Destino) escancarou a passagem pela qual Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas já havia atravessado. Mas a experiência mais remota de filme independente desde que a produção dos estúdios se consolidara, segundo os próprios cineastas, é o filme de Cassavetes.
Creio que ele, quando fez Sombras, em 1959, não estava pagando tributo à teoria do auteur criada pelos franceses da Carrier du Cinéma. Mas o filme é completamente autoral.
Cassavetes responde ao cinema de seu tempo. Nos anos 50, Hollywood ainda estava empolada e creio que seus grandes diretores eram Alfred Hitchcock, John Ford e Howard Hawks. Diretores sofisticados, que criaram convenções (especialmente o Senhor Suspense), mas também presos ao começo, meio e fim. De repente, vem um cara falando de uns freaks de Manhattan, sem uma história muito definida ou diálogos estabelecidos, improvisando do começo ao fim, a ponto de, numa cena em que o irmão vai viajar e se despede da irmã, assistimos à seguinte conversa:
- Hey, what’s the matter?
- Hmm... I forgot your toothbrush
Tá na cara que a atriz chutou esse “eu esqueci sua escova de dentes” com a primeira coisa que veio à mente. Assim é Sombras: cenas que servem de metáfora sobre o velho cinema correndo atrás do novo, mas perdendo o fôlego no meio do caminho. Filmes baratíssimos, com gente sem muita experiência.
Sombras é sim uma resposta ao seu tempo, um filme que, mesmo sem ser explicitamente metaliguístico, também o é a partir que se posiciona, na forma, em relação ao que vinha sendo feito. Só que o filme de Cassavetes fica, não apenas como puro exercício de cinefilia, mas pela surpresa de um filme que busca a força dos sketchs – algo que hoje existe no cinema de Elia Suleimani.
O que tem David Lynch a ver com tudo isso? Voltando ao cinema de autor, Veludo Azul saiu em 1987. O sonho da Nova Hollywood já tinha acabado, cineastas tentavam sobreviver sem perder seu toque no filme, enquanto a indústria produzia uma enxurrada de musicais sem graça, a gangue dos “Flashdance”.
De repente, vem um cara fissurado em meditação falar de imperfeições, rodar com pouco dinheiro e, de quebra, dizer ao produtor que queria controle total no corte final do filme. Parece história da Nova Hollywood, né? Mas não, é isso que está por trás do filme de David Lynch.
Eu acho Veludo Azul um porre, simplesmente porque é um filme que não sai do estágio de um plot. Numa cidade pacata, um jovem descobre uma orelha cortada que, acidentalmente, o leva a descobrir que, por trás da calmaria, está um mundo perverso e pervertido.
E daí? Por 121 minutos, o filme ameaça sair de seu ponto inicial, mas não avança. Tem lá sua estrutura, diálogos completamente banais e corre atrás de seu próprio rabo o tempo todo. Eis que chega Pauline Kael, da revista New Yorker, pra resgatar o filme e apontar como havia ali a marca de um diretor e a busca por um cinema mais provocador.
O que me leva a pensar o seguinte: em termos de cinema americano, os anos 80 estavam tão pobre assim a ponto de Veludo Azul ser saudado como uma obra de arte sobre as taras humanas? As opções eram tão poucas que, só pelo fato de Lynch ter arriscado, já merecia rios de elogios?
Pô, então o auteur dos anos 80 é infinitamente inferior ao dos anos 60 e 70! Porque, falar que Veludo Azul é bem filmado não é elogio, mas obrigação de Lynch. Falar que a fotografia está bonita ou a trilha bem escolhida também é obrigação de quem quer contar uma história. Talvez a marca de Lynch esteja justamente no veludo azul vestido pela bela Isabella Rossellini: lindo e completmente vazio, mesmo que tenha tentado falar de gente real.
Em tempo: voltando a Cassavetes e a cena de despedida dos dois irmãos na estação de ônibus, não consigo responder em cima do que ele improvisou, qual foi o clima da cena que ele propôs aos atores. Não é um plano-sequência, mas sim vários planos cortados, que dão a impressão de que a cena foi refeita.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Easy Rider e Dennis Hopper
Dennis Hopper se foi. Não dá nem para lamentar muito porque, como ele estava brigando com um câncer há tempos, a morte é alívio. Sem contar que ele aproveitou, e muito, a liberdade da vida.
Falando em liberdade, peguei “Easy Rider”, co-protagonizado, co-roteirizado e dirigido por ele. No Brasil, saiu como “Sem Destino”, para assistir. Uma edição linda, comemorativa do 30º aniversário do longa, lançada pela Columbia, com direito a legendas em tailandês, chinês e coreano – alguém se aventura nessas línguas?.
Sim, liberdade é o assunto, mas não está nas palavras, nem nos diálogos. Está sim nos gestos, mas não só. Está principalmente pela não necessidade de causa e efeito, ou da explicação de onde os personagens vieram. The ride is easy, é isso que Denis Hopper quer com o filme.
“Easy Rider” é de 1969 e só poderia ter sido feito como um road movie. No vazio das estradas, nas imensidões das paisagens do Arizona ou do Novo México, na imprevisível aparição de novos personagens no caminho da dupla.
Só que o filme tem várias portas que permanecem abertas após o fim. Frases que indicam algo muito sério, mas que está extremamente imbuído no subtexto, como um “We blew it” que sai do nada, logo antes da grande última sequência, ou a própria conclusão do filme, um grande ponto interrogação digno de fazer os irmãos Coen tirarem o chapéu.
Como, para mim, o grande assunto do filme é a liberdade – tratada sob a perspectiva da contracultura e da mistura entre drogas, política e sexo –, chuto um significado para o final. Para mim, o roteiro de Hopper, Peter Fonda e Terry Southern previu o que se tornaria os Estados Unidos dos anos 70.
O espaço para os hippies e para a liberdade sem controle estava indo para o saco. O país “entrou na ordem”, embarcou em suas guerras e foi caindo cada vez mais à direita na esfera política. A resposta à contracultura foi um crescimento do conservadorismo que só viria a pisar no freio em meados dos anos 90, com Clinton, e sair de cena (ao menos, temporariamente) com Obama.
Mesmo sendo um filme que responde efetivamente à sua época, “Easy Rider” fica impregnado, viu? Hopper dirige como se fosse Scorsese e ainda se inspira em Hitchcock para filmar um assassinato.
Falando em Scorsese, me veio um livro que finalmente começo a ler hoje à noite, “Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’roll Salvou Hollywood”, cuja edição brasileira foi traduzida por Ana Maria Bahiana.
O subtítulo fala justamente de “Easy Riders, Ranging Bulls”, em referência tanto ao filme de Hopper como o “Touro Indomável” de Scorsese. Ouvi coisas maravilhosas do livro e, só pelo título, me fez pensar o seguinte: dá pra pensar o cinema americano dos anos 70 em diante sem Scorsese e sem Coppola? Difícil, né?
Se essa geração salvou Hollywood do marasmo, quem é que irá salvá-la agora? As adaptações de quadrinhos? Como tem ficado cada vez mais difícil se surpreender com um filme americano contemporâneo. Por isso que, a cada novo longa do Clint Eastwood, a expectativa vai lá em cima.
PS: chamada da primeira página da “Folha de S. Paulo” neste domingo: “O astro de cinema Dennis Hopper, 74, morreu em sua casa em Venice, na Califórnia. Americano, ele sofria de câncer de próstata. Hopper ficou mundialmente famoso como ator e diretor do filme “Sem Destino” (“Easy Rider”), de 1969, em que contracenou com Peter Fonda”.
Chamada preguiçosa que ainda perdeu a chance de contar que o filme revelou um tal de Jack Nicholson. Já a matéria de dentro, provavelmente escrita às pressas, é irritantemente burocrática e presa a um infográfico com uma linha do tempo com os principais trabalhos do ator.
O texto complementar de André Barcinski ainda tenta salvar a colheita, lembrando que Hopper foi um símbolo de rebeldia dentro dos estúdios e um dependente de cocaína por muitos anos. E só.
Já o “Estado de S. Paulo”, ao menos no Caderno2, não publicou sequer uma linha.
domingo, 23 de maio de 2010
Ladrão de Casaca
Depois de me frustrar porque o aparelho de DVD simplesmente resolveu parar de rodar “Sangue de Heróis”, do John Ford, voltei pra estante e resolvi pegar algo que há muito ensaiava assistir, mas nunca tive coragem.
“Ladrão de Casaca”, de Hitchcock. Quer dizer, tem lá a assinatura do diretor e uma aparição dele em uma cena, mas está longe de ser um filme realmente pensado e conduzido como Hitchcock. Botando os pingos nos is, “Ladrão de Casaca” é um filme completamente trivial e igual a outras dezenas, um ponto muito baixo na carreira do cineasta. Trocando por miúdos, é chato mesmo!
É curioso como há pouquíssimas coisas no filme que podemos encontrar a marca dele. Por exemplo, a sequência inicial. Um filme de Hitchcock não apenas começa, mas já está a ponto de bala na partida. O grande mistério ou uma mudança abrupta da rotina de seus personagens (os “beats” que o guru de Hollywood Robert McKee tanto fala) ocorre na primeira cena, sem perda de tempo.
Outro detalhe que permite enxergar minimamente Hitchcock é a divisão do seu herói John Robie (Cary Grant, extremamente lindo). No passado, um ladrão de jóias. No presente do filme, um homem que precisa provar a sua inocência quando um imitador de seus métodos começa a atacar os ricaços. Ali está a divisão entre aparência (Robie é um ladrão) e essência (Robie está tentando pegar o ladrão).
Bom, acabam aí as características do mestre do suspense em “Ladrão de Casaca”. Um dos méritos de Hitchcock, como diretor, é justamente não se prender apenas em “quem é o criminoso?”, ou seja, no desfecho de “whodunnit?”. O suspense é sempre gancho pra ele falar de outras coisas, como da própria discussão sobre o cinema (“Janela Indiscreta”) ou na desunião/união entre corpo e alma (“Um Corpo que Cai”).
Mas o Hitchcock de “Ladrão de Casaca” está mais pra Aghata Christie. O mistério que se auto-alimenta. Tipo os filmes de M. Night Shyamalan.
Ah, pra que eu não seja chamado de chato, a dupla de protagonistas é mais bela do que toda a Riviera francesa. Cary Grant, o homem mais sexy de Hollywood nos anos 40 e 50, ao lado de Grace Kelly, de rosto inocente e feminilidade agressiva.
Fiquei até pensando no DVD especial que a Paramount lançou, sob o selo de “Edição de Colecionador”, com uma penca de extras. Jura mesmo que “Ladrão de Casaca” tem fãs fieis assim? Wow! Então quero uma edição especial para “Frenesi” também.
Em tempo: Ah, sim, “Ladrão de Casaca” tem locações turísticas, palacetes, figurino requintado e mansões. Preguiça.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Ugo Giorgetti dispara
Existe um adjetivo mais forte do que "minúsculo"? "Diminuto", "ínfimo", "miúdo"? Para um cineasta bom como Ugo Giorgetti, infelizmente são esses os adjetivos justos para definir o tamanho do lançamento de "Solo", seu filme mais recente, que estreia nesta sexta, 14 de maio.
Na verdade, estrear já é uma vitória para o filme, já que o Adhemar do Espaço de Cinema foi resgatá-lo do limbo iminente. Confesso que ainda não assisti ao filme, mas tenho um baita respeito por outras coisas que o Giorgetti já fez, como "Festa" e "Sábado".
O cineasta deu uma entrevista séria ao Mauricio Stycer, publicada lá no UOL Cinema (o link está aqui). Um misto de sinceridade, decepção, raiva, resignação, crítica. Pulando os adjetivos e indo pra onde realmente interessa, Giorgetti questiona: pra onde vai o cinema brasileiro?
Só pra ter uma ideia:
- "E também o fato de que não é o seu roteiro, a sua ideia ou o seu valor pessoal que transforma você num candidato forte a fazer um filme, mas os seus contatos sociais. Formou-se uma cadeia que não tem nada a ver com o cinema."
- "Eu tinha o roteiro deste novo filme antes mesmo do “Boleiros 2”. Inscrevi na Ancine com outro título, “Abaixo a Ditadura”. Começamos a trabalhar e eu percebi que “Boleiros 2” era mais fácil de viabilizar em termos de dinheiro. Mas eu tinha que cancelar este projeto na Ancine – você não pode ter dois filmes ao mesmo tempo. Aí o burocrata na Ancine falou: “Esse filme é muito mais legal que o ‘Boleiros 2’. Não cancela”."
- "Fui no “pitching” (uma audição para seleção de projetos) em Paulínia. O cara que ia julgar os projetos logo falou: “Eu queria dizer que nós não entramos no mérito dos roteiros”. Eu falei: “Desculpe te interromper, mas você não entra no mérito dos roteiros?” Ele: “Não. O nosso critério é o quanto o filme vai ser rodado em Paulínia, quanto dinheiro vai ficar aqui, quantos empregos ele vai gerar”."
A entrevisa na íntegra ainda traz mais coisas para pensar e discutir, afirmar e desmetir. Algo que precisa ser lido.
Na verdade, estrear já é uma vitória para o filme, já que o Adhemar do Espaço de Cinema foi resgatá-lo do limbo iminente. Confesso que ainda não assisti ao filme, mas tenho um baita respeito por outras coisas que o Giorgetti já fez, como "Festa" e "Sábado".
O cineasta deu uma entrevista séria ao Mauricio Stycer, publicada lá no UOL Cinema (o link está aqui). Um misto de sinceridade, decepção, raiva, resignação, crítica. Pulando os adjetivos e indo pra onde realmente interessa, Giorgetti questiona: pra onde vai o cinema brasileiro?
Só pra ter uma ideia:
- "E também o fato de que não é o seu roteiro, a sua ideia ou o seu valor pessoal que transforma você num candidato forte a fazer um filme, mas os seus contatos sociais. Formou-se uma cadeia que não tem nada a ver com o cinema."
- "Eu tinha o roteiro deste novo filme antes mesmo do “Boleiros 2”. Inscrevi na Ancine com outro título, “Abaixo a Ditadura”. Começamos a trabalhar e eu percebi que “Boleiros 2” era mais fácil de viabilizar em termos de dinheiro. Mas eu tinha que cancelar este projeto na Ancine – você não pode ter dois filmes ao mesmo tempo. Aí o burocrata na Ancine falou: “Esse filme é muito mais legal que o ‘Boleiros 2’. Não cancela”."
- "Fui no “pitching” (uma audição para seleção de projetos) em Paulínia. O cara que ia julgar os projetos logo falou: “Eu queria dizer que nós não entramos no mérito dos roteiros”. Eu falei: “Desculpe te interromper, mas você não entra no mérito dos roteiros?” Ele: “Não. O nosso critério é o quanto o filme vai ser rodado em Paulínia, quanto dinheiro vai ficar aqui, quantos empregos ele vai gerar”."
A entrevisa na íntegra ainda traz mais coisas para pensar e discutir, afirmar e desmetir. Algo que precisa ser lido.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Jafar Panahí: preso no Irã
Juliette Binoche chorou na coletiva sobre “Copie Conforme”. Jafar Panahí, cineasta iraniano premiado tanto em Cannes como em Veneza, foi preso pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad. A razão oficial, nenhuma. Trata-se de mais uma tentativa de impedir os cineastas de falar, assim como o governo chinês fizera no fim dos anos 90 – lá, ou os diretores se submetiam ou não conseguiam mais filmar, como lembra Jia Zhang-ke.
Pois bem, Jafar está preso e, como protesto, o Festival de Cannes o escolheu como jurado. Cadeira vazia nas reuniões do júri. O que levanta duas questões:
1) A força do cinema. Filmes já foram usados como propaganda, combustível militante, reafirmação do imaginário de um povo, uniu tribos sob identidades. Mas, qual a força do cinema hoje? Se pensarmos sobre a vitória de “Guerra ao Terror” no Oscar, filmes continuam com impacto, já que a Academia deu seu prêmio a uma produção que ressalta os valores bélicos norte-americanos.
Mas, se pensarmos na prisão de Jafar Panahí, parece nenhuma. Ao mesmo tempo que prender um cineasta pode significar o medo de um governo pelo poder dos filmes, isso mostra também que a capacidade de mobilização é mínima. O que aconteceu, desde então? Cannes o colocou como júri para protestar e alguns cineastas assinaram um manifesto.
Qual a pressão que as associações de roteiristas e diretores fizeram sobre os governos de seus países? Cadê protesto nas ruas? Por que não se faz filmes que tenham a censura iraniana como tema? Nenhuma pressão sobre as relações comerciais entre os países e o Irã?
O que leva a uma segunda ideia:
2) Manter desocupada a cadeira de Jafar Panahí é o protesto mais efetivo? Que tal Thierry Fremaux, o diretor do festival, parar Cannes? Por que é muito radical? Vai se perder muito dinheiro? Por que artista não interfere na vida, apenas fala dela?
Fico pensando em Jean-Luc Godard e François Truffaut que, ao lado de outros cineastas, implodiram Cannes em 1968. Claro, outro momento, mas, como lembra o documentário “Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague”, havia algo mais importante que o cinema naquele momento: a vida.
Por isso, Godard, que se tornou uma figura completamente esquisita, questionava: pra quê discutir plano geral, plano médio ou qualquer outra coisa se o mundo está fervendo lá fora do Palais des Festivals? Como se furtar à vida quando ela pede urgência?
Pois bem, Jafar está preso e, como protesto, o Festival de Cannes o escolheu como jurado. Cadeira vazia nas reuniões do júri. O que levanta duas questões:
1) A força do cinema. Filmes já foram usados como propaganda, combustível militante, reafirmação do imaginário de um povo, uniu tribos sob identidades. Mas, qual a força do cinema hoje? Se pensarmos sobre a vitória de “Guerra ao Terror” no Oscar, filmes continuam com impacto, já que a Academia deu seu prêmio a uma produção que ressalta os valores bélicos norte-americanos.
Mas, se pensarmos na prisão de Jafar Panahí, parece nenhuma. Ao mesmo tempo que prender um cineasta pode significar o medo de um governo pelo poder dos filmes, isso mostra também que a capacidade de mobilização é mínima. O que aconteceu, desde então? Cannes o colocou como júri para protestar e alguns cineastas assinaram um manifesto.
Qual a pressão que as associações de roteiristas e diretores fizeram sobre os governos de seus países? Cadê protesto nas ruas? Por que não se faz filmes que tenham a censura iraniana como tema? Nenhuma pressão sobre as relações comerciais entre os países e o Irã?
O que leva a uma segunda ideia:
2) Manter desocupada a cadeira de Jafar Panahí é o protesto mais efetivo? Que tal Thierry Fremaux, o diretor do festival, parar Cannes? Por que é muito radical? Vai se perder muito dinheiro? Por que artista não interfere na vida, apenas fala dela?
Fico pensando em Jean-Luc Godard e François Truffaut que, ao lado de outros cineastas, implodiram Cannes em 1968. Claro, outro momento, mas, como lembra o documentário “Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague”, havia algo mais importante que o cinema naquele momento: a vida.
Por isso, Godard, que se tornou uma figura completamente esquisita, questionava: pra quê discutir plano geral, plano médio ou qualquer outra coisa se o mundo está fervendo lá fora do Palais des Festivals? Como se furtar à vida quando ela pede urgência?
terça-feira, 4 de maio de 2010
Damas do Prazer 2
Há umas duas semanas atrás, escrevi sobre “Damas do Prazer”, considerado um dos filmes mais sofisticados da Boca do Lixo, lá pro Cineclick (o link está aqui). O filme faz parte da mostra Clássicos e Raros, cuja seleção está ótima, atualmente rolando no CCBB e na Cinemateca.
Além da falta de pudor que o diretor/fotógrafo Antonio Meliande tem não só com o sexo, mas com se aproximar (e não se esconder) dos temas que surgem ao longo do filme, faltou mais um detalhe que eu só percebi hoje, na aula do Inácio, quando se falou de Emile Zola e a adaptação de Jean Renoir para “A Besta Humana”.
Pois bem, “Damas do Prazer” é inspirado em alguns contos do Zola, em especial "Nana". Eu não conheço absolutamente nada de sua literatura, mas na aula de hoje discutimos sobre como ele dá um ar heróico a operários. Como ele posiciona seu olhar dando aos pobres do cotidiano a mesma importância dada pela literatura clássica aos ricos. É um olhar social, mas também humano. É afirmar que a rotina deles é tão merecedora de atenção artística quanto a de seus patrões.
Quando assisti a “Damas do Prazer”, simplesmente não saquei, por desconhecer Zola, de onde vinha a inspiração do escritor no filme. Pimba, a ficha caiu: está no tratamento dado às prostitutas!
No filme, produzido em 1979, são cinco mulheres. Umas na flor da idade, caso da Japa, outras virando a curva, como Cora. O que a direção e o argumento escrito por Ody Fraga fazem? Antes de serem taxadas como mulheres da vida, sedutoras, imorais, sofredoras bla bla bla, “Damas do Prazer” coloca um elemento fundamental: trabalhadoras. Sem juízo de valor. Não são mais ou menos trabalhadoras pelo fato de serem prostitutas. Apenas operárias – no caso, do sexo.
Passando o filme na cabeça depois de ter um mais que rápido contato com as ideias de Zola, fica muito claro isso como textura. Claro que pintam umas aventuras, dramas, amores, felicidades e etc no caminho das cinco mulheres. Só que, antes de tudo isso, o filme as colocas como operárias que batem cartão – rodam a bolsinha, digamos –, toda noite no ponto.
É só um comentário que achei necessário acrescentar para ampliar um olhar de quem assistiu ao filme trinta anos depois de ser feito e sem um contato íntimo com o sistema da Boca do Lixo.
Além da falta de pudor que o diretor/fotógrafo Antonio Meliande tem não só com o sexo, mas com se aproximar (e não se esconder) dos temas que surgem ao longo do filme, faltou mais um detalhe que eu só percebi hoje, na aula do Inácio, quando se falou de Emile Zola e a adaptação de Jean Renoir para “A Besta Humana”.
Pois bem, “Damas do Prazer” é inspirado em alguns contos do Zola, em especial "Nana". Eu não conheço absolutamente nada de sua literatura, mas na aula de hoje discutimos sobre como ele dá um ar heróico a operários. Como ele posiciona seu olhar dando aos pobres do cotidiano a mesma importância dada pela literatura clássica aos ricos. É um olhar social, mas também humano. É afirmar que a rotina deles é tão merecedora de atenção artística quanto a de seus patrões.
Quando assisti a “Damas do Prazer”, simplesmente não saquei, por desconhecer Zola, de onde vinha a inspiração do escritor no filme. Pimba, a ficha caiu: está no tratamento dado às prostitutas!
No filme, produzido em 1979, são cinco mulheres. Umas na flor da idade, caso da Japa, outras virando a curva, como Cora. O que a direção e o argumento escrito por Ody Fraga fazem? Antes de serem taxadas como mulheres da vida, sedutoras, imorais, sofredoras bla bla bla, “Damas do Prazer” coloca um elemento fundamental: trabalhadoras. Sem juízo de valor. Não são mais ou menos trabalhadoras pelo fato de serem prostitutas. Apenas operárias – no caso, do sexo.
Passando o filme na cabeça depois de ter um mais que rápido contato com as ideias de Zola, fica muito claro isso como textura. Claro que pintam umas aventuras, dramas, amores, felicidades e etc no caminho das cinco mulheres. Só que, antes de tudo isso, o filme as colocas como operárias que batem cartão – rodam a bolsinha, digamos –, toda noite no ponto.
É só um comentário que achei necessário acrescentar para ampliar um olhar de quem assistiu ao filme trinta anos depois de ser feito e sem um contato íntimo com o sistema da Boca do Lixo.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A história do cinema chileno I
Numa viagem a Campinas em 2008, passei por um restaurante que tinha uma livraria na saída. Comprei dois livros: a biografia de Truffaut e um outro livro bem baratinho e destruído. “Historia del Cine Chileno – 1902/1966”.
Mario Godoy Quezada realizou o primeiro trabalho confiável de compilação de todos os filmes produzidos no Chile até metade da década de 60. Infelizmente, não analisa as produções ou procura aproximações estéticas entre elas. Seu objetivo é levantar tudo que foi feito ano a ano, quem dirigiu, quem estrelou, qual foi a repercussão.
No meio disso, há umas histórias divertidas que ilustram uma mistura de amadorismo e vontade de fazer cinema – especialmente no período mudo, o mais prolífico no Chile. Um dos causos ocorreu em 1924, que transcrevo, com tradução livre, aqui:
“QUANDO LUIZ ROMERO PEDIU AJUDA
Luis Romero y Z protagonizou um episódio curioso em Valparaíso quando decidiu tornar-se produtor e filmar “La Tarde era Triste”, baseada na popular canção cujos primeiros versos dizem: La tarde era triste, la nieve caía, un blanco sudario los campos cubría. Ao terminar de filmar o segundo rolo, já não tinha mais dinheiro para filmar. Então, anunciou a estreia e, ao final da projeção do segundo rolo, ele subiu ao palco e surpreendeu ao público, que havia ido ao cinema assistir a uma película completa. Romero y Z explicou as dificuldades econômicas que tinham que vencer os cineastas chilenos, utilizando sua própria história como exemplo. Disse que naquele exato momento não tinha mais nenhum peso para continuar a rodar, que só tinha conseguido filmar o que o público acaara de ver e que, para terminar, precisaria de financiamento. Há versões diferentes. Uns dizem que ele encontrou o rico necessário para soltar a verba, enquanto outros dizem que ele desceu do palco e passou o chapéu para os espectadores, disposto a receber de imediato a colaboração de um público ainda espantado com o que tinha acabo de acontecer”.
Mario Godoy Quezada realizou o primeiro trabalho confiável de compilação de todos os filmes produzidos no Chile até metade da década de 60. Infelizmente, não analisa as produções ou procura aproximações estéticas entre elas. Seu objetivo é levantar tudo que foi feito ano a ano, quem dirigiu, quem estrelou, qual foi a repercussão.
No meio disso, há umas histórias divertidas que ilustram uma mistura de amadorismo e vontade de fazer cinema – especialmente no período mudo, o mais prolífico no Chile. Um dos causos ocorreu em 1924, que transcrevo, com tradução livre, aqui:
“QUANDO LUIZ ROMERO PEDIU AJUDA
Luis Romero y Z protagonizou um episódio curioso em Valparaíso quando decidiu tornar-se produtor e filmar “La Tarde era Triste”, baseada na popular canção cujos primeiros versos dizem: La tarde era triste, la nieve caía, un blanco sudario los campos cubría. Ao terminar de filmar o segundo rolo, já não tinha mais dinheiro para filmar. Então, anunciou a estreia e, ao final da projeção do segundo rolo, ele subiu ao palco e surpreendeu ao público, que havia ido ao cinema assistir a uma película completa. Romero y Z explicou as dificuldades econômicas que tinham que vencer os cineastas chilenos, utilizando sua própria história como exemplo. Disse que naquele exato momento não tinha mais nenhum peso para continuar a rodar, que só tinha conseguido filmar o que o público acaara de ver e que, para terminar, precisaria de financiamento. Há versões diferentes. Uns dizem que ele encontrou o rico necessário para soltar a verba, enquanto outros dizem que ele desceu do palco e passou o chapéu para os espectadores, disposto a receber de imediato a colaboração de um público ainda espantado com o que tinha acabo de acontecer”.
domingo, 25 de abril de 2010
Santo André e Santos
Deixo para o PVC fazer sua prancheta, o Juca escrever um texto de frases curtas e potentes, ou o Xico Sá comentar com aquele ar de inusitado que lhe é característico ou o Zanin - santista roxo - buscar o gancho mais inusitado.
Em relação ao primeiro jogo da final do Paulistão, só posso dizer "muito obrigado" a Santo André e ao Santos pelo futebol. Um dos melhores jogos que já tive oportunidade de assistir.
Em relação ao primeiro jogo da final do Paulistão, só posso dizer "muito obrigado" a Santo André e ao Santos pelo futebol. Um dos melhores jogos que já tive oportunidade de assistir.
O que será da Espanha?
Entre as seleções que irão à Copa deste ano, minha torcida é para a Espanha. Simplesmente, pelo bonito futebol que apresentou tanto nas Eliminatórias quanto na Eurocopa, com um toque de bola claramente inspirado no Barcelona.
Não só torço, como acho que ela já está madura o suficiente para não amarelar novamente. Mas, para um time que pareceria chegar 100% na competição, a luz amarela está acesa.
Torres, que já não vinha fazendo uma grande temporada o Liverpool, está lesionado e, se voltar, será às pressas justamente para a Copa.
Fábregas, em ótima temporada com o médio Arsenal, também está machucado.
Iniesta, que jogou um bolão na Eurocopa, agora é banco de Busquets no Barcelona.
Com o camisa 9 machucado, provavelmente a Fúria jogaria só com um centroavante, David Villa.
O meio-campo teria cinco homens, a critério de Vicente Del Bosque. Marcos Senna na proteção à zaga, Busquets e Xavi Alonso marcando e apoiando, com Xavi Hernandez e Silva na armação - na hipótese de não poder contar com Torres ou Fábregas.
Não deixa de ser um grade meio-campo. Nenhum dos cinco tem medo de trabalhar a bola, sabem marcar - à exceção de Silva - e lançar. Mas só um deles, o baixinho do Valência, tem o recurso do drible.
Não sei se o Torres de hoje seria uma grande ausência do time. Agora, o Fábregas, versão mais jovem de Xavi Hernandez, seria uma baita perda para esse meio-campo técnico.
Recuperação a ele.
Não só torço, como acho que ela já está madura o suficiente para não amarelar novamente. Mas, para um time que pareceria chegar 100% na competição, a luz amarela está acesa.
Torres, que já não vinha fazendo uma grande temporada o Liverpool, está lesionado e, se voltar, será às pressas justamente para a Copa.
Fábregas, em ótima temporada com o médio Arsenal, também está machucado.
Iniesta, que jogou um bolão na Eurocopa, agora é banco de Busquets no Barcelona.
Com o camisa 9 machucado, provavelmente a Fúria jogaria só com um centroavante, David Villa.
O meio-campo teria cinco homens, a critério de Vicente Del Bosque. Marcos Senna na proteção à zaga, Busquets e Xavi Alonso marcando e apoiando, com Xavi Hernandez e Silva na armação - na hipótese de não poder contar com Torres ou Fábregas.
Não deixa de ser um grade meio-campo. Nenhum dos cinco tem medo de trabalhar a bola, sabem marcar - à exceção de Silva - e lançar. Mas só um deles, o baixinho do Valência, tem o recurso do drible.
Não sei se o Torres de hoje seria uma grande ausência do time. Agora, o Fábregas, versão mais jovem de Xavi Hernandez, seria uma baita perda para esse meio-campo técnico.
Recuperação a ele.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Pássaros conversam
Estou aqui na redação do Cineclick, neste fim de tarde de quinta. Aqui tem um baita gramado e a janela da redação dá de frente para umas árvores. De repente, vários pássaros começam a piar. A Ana Paula comenta: "poxa, eles estão batendo o maior papo".
Ela tem razão, eles parecem conversar. Um deve estar dizendo que prefere o cinema marginal, o outro o cinema novo.
Mas, no fim, me lembrei novamente do filme do Pasolini, "Gaviões e Passarinhos", nas cenas que Toto (que é um padre em parte do filme) conversa com os voadores. Momentos de poesia do longa, momentos de poesia da vida.
domingo, 4 de abril de 2010
Ainda Pasolini com "Gaviões e Passarinhos"
“Gaviões e Passarinhos” é realmente uma ótima parábola sobre a dominação. O que me espanta no filme do Pasolini é o pessimismo. Ele simplesmente trucida o marxismo para reafirmar, no fim, “assim começa, assim termina, assim continua essa história de gaviões e passarinhos.
Os gaviões são os mais fortes e devoram os passarinhos que se aproximam. É interessante observar o filme, compará-lo com a visão de mundo do neo-realismo e colocar “Gaviões e Passarinhos” ao lado de “Accattone – Desajuste Social”.
Para falar de realidade, Pasolini fez o movimento inverso e foi buscar na alegoria o seu filme. Lá, descobriu que uma parábola é tão poderosa para explicar a humanidade quanto a mitologia. Dali, saiu uma dupla, pai e filho, numa viagem de busca guiados por um corvo, chamado Ideologia, filho da Dúvida e da Consciência.
Não é fácil sair do mundo real pra falar de realidade. Precisa de uma dose louca de imaginação e os pés bem fincados no chão para não perder as afirmações nas quais o filme pretende chegar.
O tema do homem que não se redime e vai sempre destroçar o menor já havia surgido em “Accattone”. Mas, no filme de 1961, Pasolini ainda respirava demais o neo-realismo. Ou seja, planos panorâmicos, locações reais debaixo de muito sol, pouca música, personagens marginais, periferia. Em quase duas horas de filme, o sonho e o incerto aparecem só na última parte do filme, quando o cafetão imagina como será sua morte.
Já em “Gaviões e Passarinhos”, de 1966, o papo é diferente. O começo é quadradinho, comportado e indicaria que Pasolini pediria benção ao neo-realismo. Mas logo depois dos primeiros 15 minutos ele já embarca na parábola.
A realidade não deixou de existir. O filme apenas foi buscar outros instrumentos pra chegar onde queria: reafirmar o pessimismo com a possibilidade de mudança. Melhor: qualquer mudança está travestida em nova forma de dominação.
Discordo e concordo. Mas, não dá pra fugir: o cara sabia filmar e contar uma história, caramba! Só sinto falta de uma coisa: saber mais sobre o momento político italiano para entender por que ele deu uma resposta sem salvação e a atribuiu à essência da humanidade.
Aqui do meu lado, o Gerry diz, “off top of my head”, que a resolução do filme pode ser uma resposta ao momento político italiano, extremamente instável, país fragmentado, uma disputa alucinada de poderes e governos que não duravam. Afinal, a Itália teve 11 primeiros-ministros de 1953 a 1966
Como esse filme desceu no estômago dos italianos na época do lançamento? Como o Glauber de “Barravento” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” reagiria a um filme deste?
Acho que, mesmo com pegadas de direção diferentes (sendo Glauber muito mais teatral), o pessimismo com a ideologia está impregnado nos dois filmes. Em “Terra em Transe”, a esquerda não presta e a direita muito menos. O intelectual é um banana cooptado. O povo está lá para ser explorado.
Eita!
Em tempo: o DVD que tenho aqui em mãos foi lançada pelo Multimedia Group Promoções LTDA. O site indicado na contracapa não funciona. Alguém com mais tempo de estrada conhece essa trupe?
Os gaviões são os mais fortes e devoram os passarinhos que se aproximam. É interessante observar o filme, compará-lo com a visão de mundo do neo-realismo e colocar “Gaviões e Passarinhos” ao lado de “Accattone – Desajuste Social”.
Para falar de realidade, Pasolini fez o movimento inverso e foi buscar na alegoria o seu filme. Lá, descobriu que uma parábola é tão poderosa para explicar a humanidade quanto a mitologia. Dali, saiu uma dupla, pai e filho, numa viagem de busca guiados por um corvo, chamado Ideologia, filho da Dúvida e da Consciência.
Não é fácil sair do mundo real pra falar de realidade. Precisa de uma dose louca de imaginação e os pés bem fincados no chão para não perder as afirmações nas quais o filme pretende chegar.
O tema do homem que não se redime e vai sempre destroçar o menor já havia surgido em “Accattone”. Mas, no filme de 1961, Pasolini ainda respirava demais o neo-realismo. Ou seja, planos panorâmicos, locações reais debaixo de muito sol, pouca música, personagens marginais, periferia. Em quase duas horas de filme, o sonho e o incerto aparecem só na última parte do filme, quando o cafetão imagina como será sua morte.
Já em “Gaviões e Passarinhos”, de 1966, o papo é diferente. O começo é quadradinho, comportado e indicaria que Pasolini pediria benção ao neo-realismo. Mas logo depois dos primeiros 15 minutos ele já embarca na parábola.
A realidade não deixou de existir. O filme apenas foi buscar outros instrumentos pra chegar onde queria: reafirmar o pessimismo com a possibilidade de mudança. Melhor: qualquer mudança está travestida em nova forma de dominação.
Discordo e concordo. Mas, não dá pra fugir: o cara sabia filmar e contar uma história, caramba! Só sinto falta de uma coisa: saber mais sobre o momento político italiano para entender por que ele deu uma resposta sem salvação e a atribuiu à essência da humanidade.
Aqui do meu lado, o Gerry diz, “off top of my head”, que a resolução do filme pode ser uma resposta ao momento político italiano, extremamente instável, país fragmentado, uma disputa alucinada de poderes e governos que não duravam. Afinal, a Itália teve 11 primeiros-ministros de 1953 a 1966
Como esse filme desceu no estômago dos italianos na época do lançamento? Como o Glauber de “Barravento” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” reagiria a um filme deste?
Acho que, mesmo com pegadas de direção diferentes (sendo Glauber muito mais teatral), o pessimismo com a ideologia está impregnado nos dois filmes. Em “Terra em Transe”, a esquerda não presta e a direita muito menos. O intelectual é um banana cooptado. O povo está lá para ser explorado.
Eita!
Em tempo: o DVD que tenho aqui em mãos foi lançada pelo Multimedia Group Promoções LTDA. O site indicado na contracapa não funciona. Alguém com mais tempo de estrada conhece essa trupe?
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Trailer de "Accattone - Desajuste Social"
No fim de uma sexta-feira extremamente morna, de lojas fechadas e pouquíssima gente na cidade, decidi, depois de descobrir que uma sessão do Reserva Cultural estava lotada, voltar para casa e me enfiar na minha videoteca.
Peguei “Accattone – Desajuste Social”, de 1961, primeiro filme de Pasolini cuja versão em DVD foi lançada em uma cópia bonita da Versátil. Antes de assistir, deixei o trailer rolando e fui jantar. Foi um dos trailers mais estranhos que já vi.
Bem diferente do mar de sangue de “O Iluminado” ou da verborragia e falta de surpresa de qualquer filme comercial contemporâneo – parece até que, em breve, o trailer vai substituir a própria obra, tamanha a quantidade de detalhes revelados em um minuto e meio.
O que me espantou no trailer do filme do Pasolini é o tempo gasto apenas para falar como o filme foi bem recebido pela crítica. Nas palavras do vídeo, “um filme que não precisa de propaganda porque os críticos já o recomendam”.
Wow! Então quer dizer que a função da crítica de cinema é recomendar filmes em vez de debatê-los e despertar olhares? O espectador deve assistir ao filme só porque o crítico disse “amém”? Propaganda e crítica se confundem? Crítica é só mais um elemento na máquina do consumo?
Vejam bem, questões que surgiram a partir de um filme que está mais para “filme de arte” do que “cinema comercial”.
Hoje o tom, me parece, é outro. Excertos de críticas – geralmente os trechos com adjetivos – são apropriados em trailers e materiais de divulgação, porém de maneira mais tímida que em “Accattone – Desajuste Social”.
Porém, não acho que estejamos melhores atualmente. A crítica apenas perdeu força (mas não importância) seja para instigar a discussão ou para orientar o consumo. A propaganda está muito mais sofisticada e diluída e cabe à crítica posicionar-se fora da máquina do marketing de um filme.
Em tempo: como o Youtube não me deixou incorporar o vídeo, o link do trailer está aqui.
Peguei “Accattone – Desajuste Social”, de 1961, primeiro filme de Pasolini cuja versão em DVD foi lançada em uma cópia bonita da Versátil. Antes de assistir, deixei o trailer rolando e fui jantar. Foi um dos trailers mais estranhos que já vi.
Bem diferente do mar de sangue de “O Iluminado” ou da verborragia e falta de surpresa de qualquer filme comercial contemporâneo – parece até que, em breve, o trailer vai substituir a própria obra, tamanha a quantidade de detalhes revelados em um minuto e meio.
O que me espantou no trailer do filme do Pasolini é o tempo gasto apenas para falar como o filme foi bem recebido pela crítica. Nas palavras do vídeo, “um filme que não precisa de propaganda porque os críticos já o recomendam”.
Wow! Então quer dizer que a função da crítica de cinema é recomendar filmes em vez de debatê-los e despertar olhares? O espectador deve assistir ao filme só porque o crítico disse “amém”? Propaganda e crítica se confundem? Crítica é só mais um elemento na máquina do consumo?
Vejam bem, questões que surgiram a partir de um filme que está mais para “filme de arte” do que “cinema comercial”.
Hoje o tom, me parece, é outro. Excertos de críticas – geralmente os trechos com adjetivos – são apropriados em trailers e materiais de divulgação, porém de maneira mais tímida que em “Accattone – Desajuste Social”.
Porém, não acho que estejamos melhores atualmente. A crítica apenas perdeu força (mas não importância) seja para instigar a discussão ou para orientar o consumo. A propaganda está muito mais sofisticada e diluída e cabe à crítica posicionar-se fora da máquina do marketing de um filme.
Em tempo: como o Youtube não me deixou incorporar o vídeo, o link do trailer está aqui.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Ronaldinho Gaúcho
A seleção tem claras chances de ganhar o hexa neste ano. Parte disso se deve ao processo de renovação no qual Dunga é uma das peças. Mas, ainda concordo com o que Milton Leite diz: em todas as copas que o Brasil saiu como campeão, os jogadores que decidiram.
Clara também é a falta que Ronaldinho Gaúcho faz à seleção. Sim, com a amarelinha - à exceção da Copa de 2002 -, ele sempre rendeu menos no que nos times. Só que, hoje, a seleção tem um problema sério: não sabe o que fazer quando enfrenta um time fechado.
O toque de bola da seleção é de alta qualidade - é só lembrar do segundo gol. Mas, apenas Robinho tem o recurso do drible que, em jogo apertado, pode ser a única saída para marcar.
Com o que temos hoje, imagino que, taticamente, a seleção, que tem uma dupla de zaga fenomenal, não vai sofrer nem com a Costa do Marfim, nem com Portugal. São times ofensivos (especialmente o segundo), que jogam com três atacantes ou um meio-campo mais devoto em armar do que marcar.
E na segunda fase? Supondo que o Brasil termine em primeiro na primeira fase, vai pegar o segundo colocado do grupo H. Ou seja, Suíça ou Chile. Será que o toque de bola e as ultrapassagens dos laterais serão suficientes para suprir a deficiência de dois volantes burocráticos, um único meia de criação (Kaká) e um jogador-correria pela direita (Ramires/Elano/Daniel Alves)?
Palpite: ainda acho que o Brasil vai sentir falta de Ronaldinho Gaúcho.
Clara também é a falta que Ronaldinho Gaúcho faz à seleção. Sim, com a amarelinha - à exceção da Copa de 2002 -, ele sempre rendeu menos no que nos times. Só que, hoje, a seleção tem um problema sério: não sabe o que fazer quando enfrenta um time fechado.
O toque de bola da seleção é de alta qualidade - é só lembrar do segundo gol. Mas, apenas Robinho tem o recurso do drible que, em jogo apertado, pode ser a única saída para marcar.
Com o que temos hoje, imagino que, taticamente, a seleção, que tem uma dupla de zaga fenomenal, não vai sofrer nem com a Costa do Marfim, nem com Portugal. São times ofensivos (especialmente o segundo), que jogam com três atacantes ou um meio-campo mais devoto em armar do que marcar.
E na segunda fase? Supondo que o Brasil termine em primeiro na primeira fase, vai pegar o segundo colocado do grupo H. Ou seja, Suíça ou Chile. Será que o toque de bola e as ultrapassagens dos laterais serão suficientes para suprir a deficiência de dois volantes burocráticos, um único meia de criação (Kaká) e um jogador-correria pela direita (Ramires/Elano/Daniel Alves)?
Palpite: ainda acho que o Brasil vai sentir falta de Ronaldinho Gaúcho.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Semelhanças entre "Avatar" e "O Nascimento de uma Nação"
Estou lendo talvez o melhor livro sobre “O Nascimento de Uma Nação”, filme do D.W. Grifith que, além de racista, condensou uma série de técnicas apresentadas em outros filmes e revolucionou o cinema do ponto de vista comercial.
Deixo para falar do primeiro em uma outra hora. Há um trecho do livro que o autor, Melvyn Stokes, fala apenas sobre o inovador esquema de distribuição do filme que, grosso modo, foi o primeiro a organizar exibições em uma escala nacional e a munir a imprensa (resumida a revistas semanais nacionais e jornais diários locais) de “informações”.
Stokes diz assim: “Quase tudo relacionado a ‘O Nascimento de Uma Nação’ era notícia: o custo para os exibidores manterem a cópia segura, as paradas que aconteceram antes da primeira exibição no local (muitas delas organizadas pela Ku Klux Kan), a presença de personalidades locais na première”, entre outras.
Esse trecho me fez pensar como a trajetória comercial de “O Nascimento de Uma Nação” e “Avatar” se parecem, mesmo com os 94 anos que separam os filmes. Na produção de James Cameron, também praticamente tudo vira notícia:
Como os Na’vi foram idealizados, os featurettes do tipo “conheça Pandora”, a corrida para derrubar “Titanic” do posto de maior arrecadação da história, se os atores vão voltar para a sequência, se esta será um prelúdio, se Cameron vai dirigir "Homem Aranha 4"...
Com isso, a curiosidade do público continua atiçada.
Ambas as produções também ocupam o assento de “ponto de virada da história do cinema”. O filme de Grifith não inventou a roda, mas reuniu diversas inovações estéticas que já tinha frequentado filmes do George Meliès e uma série de curtas-metragens produzidos para os Nickelodeons (entre os quais os próprios filmes de Grifith).
Cameron também não inventou a roda, já que “Avatar” senta sua estrutura no ser humano descobrindo e desbravando/destruindo o desconhecido (conquista do Oeste?). Por outro lado, proporciona uma nova experiência visual e ilusória.
É exatamente nessa curva que ambos os filmes se encontram: são revolucionários do ponto de vista do espetáculo e como produto de entretenimento. Produções que tentam neutralizar a crítica e usar a imprensa como reprodutora de elogios.
Deixo para falar do primeiro em uma outra hora. Há um trecho do livro que o autor, Melvyn Stokes, fala apenas sobre o inovador esquema de distribuição do filme que, grosso modo, foi o primeiro a organizar exibições em uma escala nacional e a munir a imprensa (resumida a revistas semanais nacionais e jornais diários locais) de “informações”.
Stokes diz assim: “Quase tudo relacionado a ‘O Nascimento de Uma Nação’ era notícia: o custo para os exibidores manterem a cópia segura, as paradas que aconteceram antes da primeira exibição no local (muitas delas organizadas pela Ku Klux Kan), a presença de personalidades locais na première”, entre outras.
Esse trecho me fez pensar como a trajetória comercial de “O Nascimento de Uma Nação” e “Avatar” se parecem, mesmo com os 94 anos que separam os filmes. Na produção de James Cameron, também praticamente tudo vira notícia:
Como os Na’vi foram idealizados, os featurettes do tipo “conheça Pandora”, a corrida para derrubar “Titanic” do posto de maior arrecadação da história, se os atores vão voltar para a sequência, se esta será um prelúdio, se Cameron vai dirigir "Homem Aranha 4"...
Com isso, a curiosidade do público continua atiçada.
Ambas as produções também ocupam o assento de “ponto de virada da história do cinema”. O filme de Grifith não inventou a roda, mas reuniu diversas inovações estéticas que já tinha frequentado filmes do George Meliès e uma série de curtas-metragens produzidos para os Nickelodeons (entre os quais os próprios filmes de Grifith).
Cameron também não inventou a roda, já que “Avatar” senta sua estrutura no ser humano descobrindo e desbravando/destruindo o desconhecido (conquista do Oeste?). Por outro lado, proporciona uma nova experiência visual e ilusória.
É exatamente nessa curva que ambos os filmes se encontram: são revolucionários do ponto de vista do espetáculo e como produto de entretenimento. Produções que tentam neutralizar a crítica e usar a imprensa como reprodutora de elogios.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Seleção de 82 e o Santos do domingo
No último parágrafo do conto de abertura de “As Mãos de Pelé e outros contos de futebol”, meu grande amigo crítico de cinema João Nunes diz o seguinte sobre um padre que amargurava a derrota do Brasil em 1982:
“A realidade era diferente do sonho, mas eu estava bem. Percebi que a alegria não nasce somente da vitória. A mim bastava, naquele instante, a lembrança da beleza daquelas jogadas para me sentir feliz”.
Pensei exatamente no jogaço entre São Paulo e Santos no domingo quando li esse parágrafo, especialmente sobre “a lembrança da beleza daquelas jogadas”. Desta vez o Santos venceu, mas, mesmo que não o tivesse feito, bastava ver as brincadeiras do alvi-negro praiano para se sentir feliz.
Não falo apenas pelo gol de Robinho – de letra, sim. Falo também da agressividade de Neymar, da falta de pudor de Paulo Henrique Ganso, do dedicado Léo, da ousadia de Arouca de subir ao ataque a toda hora – e forçar Miranda a cometer um pênalti. Falo do bom futebol.
Como corinthiano, acho que fará um bem danado se o Santos ganhar o Paulista. Será um ponto a mais na história do futebol jogado, não brigado e corrido. É muito talento individual junto para ser desperdiçado e penalizado com a perda de um título, de um clássico importante ou algo que o valha. Se esse time não pegar o caneco, é bem provável que surjam cobranças e Dorival Júnior vá parar na cruz.
Por isso, acho simbólica a vitória justamente em cima do São Paulo. Baluarte do pragmatismo, depende demais da visão de jogo de Hernanes e dos dribles do fominha Dagoberto. De resto, é um time de conjunto, que vai precisar de muito entrosamento para suprir a falta de talento individual.
Que venham mais Santos e outros times ousados. Isso faz um bem danado para o futebol.
“A realidade era diferente do sonho, mas eu estava bem. Percebi que a alegria não nasce somente da vitória. A mim bastava, naquele instante, a lembrança da beleza daquelas jogadas para me sentir feliz”.
Pensei exatamente no jogaço entre São Paulo e Santos no domingo quando li esse parágrafo, especialmente sobre “a lembrança da beleza daquelas jogadas”. Desta vez o Santos venceu, mas, mesmo que não o tivesse feito, bastava ver as brincadeiras do alvi-negro praiano para se sentir feliz.
Não falo apenas pelo gol de Robinho – de letra, sim. Falo também da agressividade de Neymar, da falta de pudor de Paulo Henrique Ganso, do dedicado Léo, da ousadia de Arouca de subir ao ataque a toda hora – e forçar Miranda a cometer um pênalti. Falo do bom futebol.
Como corinthiano, acho que fará um bem danado se o Santos ganhar o Paulista. Será um ponto a mais na história do futebol jogado, não brigado e corrido. É muito talento individual junto para ser desperdiçado e penalizado com a perda de um título, de um clássico importante ou algo que o valha. Se esse time não pegar o caneco, é bem provável que surjam cobranças e Dorival Júnior vá parar na cruz.
Por isso, acho simbólica a vitória justamente em cima do São Paulo. Baluarte do pragmatismo, depende demais da visão de jogo de Hernanes e dos dribles do fominha Dagoberto. De resto, é um time de conjunto, que vai precisar de muito entrosamento para suprir a falta de talento individual.
Que venham mais Santos e outros times ousados. Isso faz um bem danado para o futebol.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Estão me xingando!
Coloquei lá no Cineclick a crítica de "High School Musical: O Desafio", a versão brasileira da franquia da Disney. Deixando de lado que é claramente um produto, antes de ser cinema (tanto que a direção de arte das versões brasileiras, mexicanas e argentinas são muito parecidas), acho que há uma tremenda sensação de descolamento com o que vemos.
Os Estados Unidos dominam a cultura e o pessoal da minha geração cresceu com um monte de símbolos norte-americanos na cabeça. O pop como a música que massacra nas rádios, os filmes dublados da TV, os blockbusters que dominam 450, 550 salas de cinema no Brasil etc.
Nesse imaginário, um filme como "High School Musical" é algo "natural". Por tudo isso, como premissa, é estranho ver o mundo colorido da Disney, que associamos especialmente aos contos de fadas, adaptados ao português, ao "samba" e ao Brasil, como ocorre em O" Desafio".
Confesso que, desde o início, já me sinto descolado. Como se fosse uma imagem e atmosfera que vejo há anos, mas com um som e língua que não pertencem a elas.
Hey, isso não significa que High School Musical é Cinema e nem que a versão brasileira não deveria ter sido feita. Se fizer bilheteria, melhor, porque é um pequeno passo a mais para movimentar a proto-indústria brasileira - supondo que isso ajude abrir espaço para filmes que não se colocam como produto.
Minha questão é: como ver um produto que automaticamente associo a outro momento? Será que trocar só basquete por futebol já muda a chave de leitura?
Ah, e por curiosidade, quem quiser ver os xingamentos dos leitores do Cineclick, leia a crítica. Já fui chamado de ridículo, que não deveria cobrar tanto de atores iniciantes, idiota, imbecil. Adoro.
Os Estados Unidos dominam a cultura e o pessoal da minha geração cresceu com um monte de símbolos norte-americanos na cabeça. O pop como a música que massacra nas rádios, os filmes dublados da TV, os blockbusters que dominam 450, 550 salas de cinema no Brasil etc.
Nesse imaginário, um filme como "High School Musical" é algo "natural". Por tudo isso, como premissa, é estranho ver o mundo colorido da Disney, que associamos especialmente aos contos de fadas, adaptados ao português, ao "samba" e ao Brasil, como ocorre em O" Desafio".
Confesso que, desde o início, já me sinto descolado. Como se fosse uma imagem e atmosfera que vejo há anos, mas com um som e língua que não pertencem a elas.
Hey, isso não significa que High School Musical é Cinema e nem que a versão brasileira não deveria ter sido feita. Se fizer bilheteria, melhor, porque é um pequeno passo a mais para movimentar a proto-indústria brasileira - supondo que isso ajude abrir espaço para filmes que não se colocam como produto.
Minha questão é: como ver um produto que automaticamente associo a outro momento? Será que trocar só basquete por futebol já muda a chave de leitura?
Ah, e por curiosidade, quem quiser ver os xingamentos dos leitores do Cineclick, leia a crítica. Já fui chamado de ridículo, que não deveria cobrar tanto de atores iniciantes, idiota, imbecil. Adoro.
A Todo Volume
Nunca fui um conhecedor de rock'n roll. Na adolescência, enquanto meus futuros amigos conheciam o metal, os Beatles e, no meio disso, um monte de porcaria, eu estava em Caetano, Cartola e um monte de outras porcarias também.
Digo isso para justificar minha imensa distância com A Todo Volume, doc de Guggeinheim sobre The Edge, Page e J. White. Gostei muito do filme, especialmente de descobrir como cada um deles elabora sua música. Pelo menos para mim, ficou claro porque, entre os três, sempre coloquei Page em primeiro, White em segundo e Edge em terceiro.
Aí vem meu grande amigo Sérgio Alpendre a falar sobre o filme e abrir mais uma porta para entendê-lo, a partir da história do rock.
"Esse é um mérito inegável do filme, deixar as coisas bem evidentes, além de estabelecer a devida filiação: The Edge é o irmão mais velho, rebelado pelo punk, que nega o pai para reencontrá-lo no futuro. Jack White é o irmão mais novo, também muito influenciado pelo punk, mas de uma maneira que só o aproxima do pai, porque ambos nutrem uma extrema paixão por rockabilly, blues rústico e rock distorcido e contagiante. O pai Jimmy Page, bonachão, se diverte com a paixão de um e a racionalidade de outro, mas todos ganham algo com esse encontro."
O texto completa está no chip hazard.
Em tempo: quer saber onde está passando?
Digo isso para justificar minha imensa distância com A Todo Volume, doc de Guggeinheim sobre The Edge, Page e J. White. Gostei muito do filme, especialmente de descobrir como cada um deles elabora sua música. Pelo menos para mim, ficou claro porque, entre os três, sempre coloquei Page em primeiro, White em segundo e Edge em terceiro.
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"Esse é um mérito inegável do filme, deixar as coisas bem evidentes, além de estabelecer a devida filiação: The Edge é o irmão mais velho, rebelado pelo punk, que nega o pai para reencontrá-lo no futuro. Jack White é o irmão mais novo, também muito influenciado pelo punk, mas de uma maneira que só o aproxima do pai, porque ambos nutrem uma extrema paixão por rockabilly, blues rústico e rock distorcido e contagiante. O pai Jimmy Page, bonachão, se diverte com a paixão de um e a racionalidade de outro, mas todos ganham algo com esse encontro."
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